sábado, 19 de fevereiro de 2011

Nossas mãos


Recebi um e-mail. Dizia "Fátima" em seu remetente. Não era a Nossa Senhora da religião católica, nem a sua vizinha do 5° andar ou ainda a mulher do cara do gás. Ela também não era a minha mãe de sangue, mas a mãe de meu colega - que virou meu amigo e que ganhou, com o tempo, a alcunha de meu irmão. Mas, a mãe dele, essa mesma do e-mail, virou minha professora no ano seguinte. Professora de Ensino Religioso. Dois, três meses depois ela havia se tornado, para mim, uma amiga, uma conselheira, uma fiel e sincera escudeira.

Passei a tê-la, também, como mãe.

Na época do colégio, em suas aulas, sempre segui o rumo das orientações. É claro que como qualquer aluno conversava um pouco, mandava bilhetinhos para cá e para lá, mas me comportava. Quando o assunto era demais, ela virava o pescoço na velocidade cinco, como se fosse uma gansa, e de imediato, já me lançava um olhar atravessado por cima do óculos de grau que ficava quase na ponta de seu nariz. Se eu não parasse, sabia que um "psiu!" - repleto de muitos u's - viria. Porém, não apenas ele... mas também uma bela frase sarcástica seria emitida para mim na frente dos meus outros 27 ou 28 colegas.

A aula começava com a nossa oração. Achava muito bonito, um costume muito simples e necessário. Logo após, ela escrevia no quadro-negro com giz branco. Normalmente o tema da aula ou a orientação de alguma atividade em nossa revista Tribo Jovem. Suas mãos empunhavam o giz e uma folha de ofício. Na direita o giz; na esquerda, normalmente, a tal folha, dobrada ao meio e com alguns tópicos na horizontal, ladeados por diversas anotações que ela iria colocando durante o andamento da aula - assim como os nomes dos que a estavam perturbando.

Se você está pensando que ela era uma carrasca, um general ou coisa parecida, engano seu. Ela era apenas uma professora a qual gostava de levar seus alunos na linha, com ética e atitude. E eu gostava e aprendi a gostar dela, mais ainda, ao decorrer destes doze anos de convívio de trocas sinceras de aprendizado, de carinho e de amizade verdadeira.

Já dormi no sofá de sua casa, já almocei, lanchei e jantei diversas vezes lá; já rezamos juntos, já tomamos banho em piscina de mil litros na companhia de um sapo, já limpamos os sete anões de seu jardim; já viajamos de Besta, instalamos antenas parabólicas, fizemos homenagens aos "galinhados" e fizemos churrascos na praia com a ajuda de tijolos; já recebi uma massagem sua com extrato de cânfora em meu peito, já ouvi conselhos amorosos, fizemos algumas mudanças de casas e também concursos de comida; já trocamos presentes, comemos baurus, pulamos corda e nos abraçamos por muitas vezes; já dançamos música gaúcha e imitamos o rei Roberto Carlos com o seu clássico bordão, "São muitas emoções, bicho!"; já choramos com perdas, debatemos assuntos bem cabeludos e nos demos as mãos em momentos bem diferentes e mais complicados ainda, entre outros tantos e tantos eventos.

Sei que tenho as tuas mãos e te ofereço as minhas para quaisquer momentos de nossas vidas. Esta é você, Fátima. A Professora Fátima. Minha Amiga Fátima. A Tia Fátima de tantos e tantas e, desde 2000, a minha mãe emprestada, que homenageio com este simples e sincero texto. A nossa estrada segue e andaremos nela sempre de mãos dadas para não nos percamos em algum atalho ou ainda em tentação. Sempre nos livraremos de todo e qualquer mal. Ele, lá de cima, sabe o que faz e quer tudo assim, por enquanto, do jeito que está.

Me dá a tua mão, me conta a tua nova história.

Ele é o nosso guia, é a nossa estrela.

É a hora do nosso amém.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Os empurrões


Enviei um e-mail aos meus dois amigos, André Zenobini e Bruno Kairalla. O motivo? Agradecer pela atenção e carinho para comigo e também para com o lançamento do meu livro. Mais ainda, agradecer pela divulgação que fizeram, no Jornal Agora, no caderno "O Peixeiro", destacando meu trabalho, meus achismos e teorias sobre os livros x digitabilidade x novos formatos de leitura.

No e-mail, após escrever um pequeno parágrafo, pensei que seria legal não somente agradecer mas também oferecer a minha mão a fim de que possam contar comigo. "Empurrão" - foi essa a palavra que surgiu em meus pensamentos. Ato de empurrar, dar início, dar uma força. Dá uma força aí?! Dá um empurrão aí?!

Escutei essa palavra, muito bem colocada nos períodos citados, pelo patrono da 38ª Feira do Livro da Praia do Cassino, Marcos Costa Filho, em uma conversa que tive com ele. Uma conversa de mais de 25 minutos, ao celular, na última semana.

- Basta alguém vir e dar um empurrão, um empurrãozinho! - disse ele, se referindo aos projetos que ganham força pela ajuda de outra pessoa.

E é verdade.

Lá pelos meus cinco anos, apareceu a vontade de andar de bicicleta. Meu pai disse sim depois de muitas negativas. Fiquei feliz. Dei pulos de alegria. Então, quis ter uma bicicleta nova. Agora, sem as rodinhas auxiliares dos lados das rodas traseiras. Que emoção! Então, ganhei uma bicicleta. Era uma BMX Superstar. Ela era azul marinho com os detalhes em amarelo, nas manetes dos freios, no disco da correia e também nos adesivos do quadro.

Desembrulhei-a do plástico bolha, tirei as proteções de isopor, enchi os pneus com uma bomba de ar manual, meu pai arrumou o banco na altura mais correta e lá estava eu. Todo feliz, todo pimpão com o meu presente. Novinha em folha! Já planejava colocar alguns pedaços de tampa de margarina na roda a fim de fazer uns barulhos do tipo: "tac tac tac!" - era a moda da época, todos os guris da Rua Alegrete utilizavam essa "técnica".

Dei algumas voltas dentro do pátio. Os primeiros foram desastrosos, pois por mais que colocasse o banco em uma altura bem baixa meus pés ainda não encostavam no chão. Algumas dúzias de tombos. Então, para preservar meus joelhos das cicatrizes, meu pai, Marco Antônio, ía ao meu lado com uma mão em minhas costas e a outra segurando o meu braço. A mão que segurava o braço, me dava estabilidade. Já a sua mão em minhas costas, dava o empurrão, o embalo para que eu pudesse ir em frente.

E fui. Estou indo. E irei.

Aprendi a andar de bicicleta com os empurrões iniciais do meu saudoso pai. Sigo por aí a receber os empurrões de minha família, de meus amigos e ainda de pessoas valiosas que estão a entrar para o meu seleto e precioso grupo de queridões. Contem, todos vocês, também, com os meus empurrões.

Afinal, um empurrãozinho faz toda a diferença.