quarta-feira, 30 de março de 2011

Ele não tinha medo


Se fosse contar nos dedos todas as vezes que fiquei com medo de morrer, em determinada situação de minha vida, precisaria de mais dedos, de mais mãos e até de mais pés. Não sei o porquê de tanto medo, mas depois que se recebe uma arma na cabeça em virtude de um assalto, se escapa de um acidente por um fio ou ainda por algum tipo de procedimento que envolva a saúde, realmente, é pertinente sentir medo.

Talvez não em demasia, talvez não em diminuto. Já presenciei pessoas que tanto amei - e amo - passarem por situações bem complicadas, especialmente no que tange a temática saúde. Muito já andei pelos corredores de alguns hospitais. Em Rio Grande e em Porto Alegre, na grande maioria das vezes. Também morei com elas e senti na pele o medo de que essas pessoas me deixassem. Poderia ser em virtude de minha idade: 9 anos na primeira vez e 17 anos na segunda.

Sei da necessidade da crença e fé de muitos para aliviar a tensão e o medo da morte. Ao mesmo tempo, sei também dos assombros que essas pessoas enfermas sentem nas mais diversas fases da doença a qual estão acometidas. Sei o quanto sofrem em determinados momentos. Por muitas vezes senti a dor da agulha em minha veia, enquanto que ela, na verdade, nem tocava em mim. Tocava no meu ente querido, tocava em um dos meus amores. Tocava em meu pai, tocava em meu avô.

Durante a noite, o barulho do soro gotejando, a tosse carregada e os pequenos ressonos seguidos de ronquinhos. Quaisquer barulhos mais fortes já me faziam sair correndo de meu quarto, cerca de quinze metros do quarto dele, para ver como estava a situação. Se ele precisava de uma mão, de um abraço ou tão somente do carinho de seu filho. Oito anos depois, a mesma coisa, mas troquei da figura de filho para a figura de neto.

Perdi duas pessoas para o câncer. Todavia, sei que elas tanto lutaram por suas vidas, dentro de suas naturais teimosias. No intervalo de oito anos, percebi o quão leves, singelos; quebráveis e nada imortais que somos. Tornamo-nos fortes diante de desafios em vida, para alcançar uma meta, riscar mais um objetivo em nossa lista de vida. Simultaneamente não saberemos se o dia se amanhã irá ter sol, pois a única certeza da vida é que ela terminará um dia. Amanhã ou depois, tanto faz. Porém, torcemos para que nossos dias, na verdade, não terminem nunca mais, independente da pressa que vivemos.

Depois de sete anos de minha última perda, meus achismos e medos começaram a ser diminuídos. Certamente por causa de minha maturidade e experiência adquirida. Contudo, entre diversas fontes cujas forças me foram passadas, desde 2004, passei a beber da fonte da coragem de José Alencar. Não me importava o seu partido, assim como gostaria que você, caro leitor, deixasse de lado, neste momento, suas ideologias políticas. Considere apenas o exemplo de ousadia, com jeitinho mineirinho, para enfrentar os desafios e medos desta vida, inclusive para com o maior de todos os medos, a morte.

Em algum lugar desconhecido por mim e por você, ao lado dos nossos que já se foram, Alencar está contando suas boas histórias e comendo saborosos pães-de-queijo com doce de leite por cima. Afinal, desta vez, ao menos com este guerreiro, a vida política não acabou em pizza. Ficou a lembrança de um ser humano vitorioso, um exemplo a ser seguido por cada um de nós. Assim como enxerguei nele a figura bondosa, forte e, claro, saudosa, de meu avô Ernani.