terça-feira, 15 de abril de 2008

Adiós Teléfono



Uma amiga minha de longa data, a Rafaela, trocava – e ainda continua trocando – de celular assim como trocava de roupa, isso em 2001. Se bobear, naquele ano, ela chegou a ter sete celulares. Sete! O primeiro estragou. O segundo ficou fora de moda. O terceiro, quarto e quinto celular preferiu trocar porque as teclas eram pequenas ou os aparelhos eram grandes demais. Já o sexto tinha a famosa câmera digital acoplada! Não deu nem um mês e lançaram aqui no Brasil um celular com mp3 player. E a Rafaela, o que fez? O óbvio: comprou aquele celular. Vinha completinho, com mensagem de texto em formato de escrita inteligente (T9), internet WAP e capacidade de memória para 1000 telefones; câmera 1.3 megapixels, jogos em Java e gravador de voz ainda e já estava integrado à tecnologia de chip GSM. Completinho.

Ela ficava pendurada no celular assim como todas as mulheres fazem em qualquer aparelho telefônico. Diziam a ela que o uso demais do aparelho celular poderia gerar um câncer no tímpano ou no cérebro. “Bobagem isso, nunca vi ninguém com isso por causa do celular” – dizia ela. Até poderia ser bobagem, mas não era um falso alerta nem exagero. Ela ficava grudada mesmo. Como se o telefone tivesse um chiclete ou um cola-tudo em sua estrutura. Ela achava assunto do além e tudo era motivo para telefonar, mandar mensagem e bipar as pessoas.

Lá em aula, poucos tinham celulares. Estudávamos em um colégio particular, mas em 2001 a onda não era ter um celular moderno e sim dinheiro para viajar para o exterior nas férias ou fazer intercâmbio. O básico TDMA já nos servia, até porque usávamos apenas em necessidades mesmo, ao menos, nós, os guris. Necessidade de chamar nossos pais no final da aula ou das festas; para avisar um colega de que iríamos matar aula e copiar a matéria e também para mandar uma mensagem para as paquerinhas de colégio. Já as gurias, faziam as mesmas coisas que os guris, exceto duas ou três delas, incluindo a Rafaela, que adoravam ficar até tirando fotos durante as aulas.

O Tio Dadá, pai da Rafaela, não entendia o porquê do alto valor da conta da filha. Teve mês que ela chegou perto dos R$ 400 reais. O motivo? A organização da festa de aniversário de 15 anos dela. Ele perdoou, mas pediu que ela maneirasse nas próximas, pois era inadmissível uma guria de 15 anos com um celular de conta gastando aquela quantia que nem ele gastara mensalmente. R$ 400 reais era o valor que ele, a mãe (dona Rogéria) e o outro irmão, o Juliano, gastavam em dois ou três meses.

Com as trocas incessantes de aparelhos de celular ninguém conseguia achá-la quando necessário. A partir da troca dos aparelhos, ela trocava também de número – pela obrigatoriedade da operadora telefônica. Era um dilema de encontrá-la. O celular que até então seria a ferramenta comunicativa tornou-se um problema na vida dela. A solução era manter o número, mas como se as operadoras não permitiam? Só lá pelo sétimo celular naquele ano, a operadora dela lançou a nova tecnologia de chip GSM. A solução perfeita de Rafaela. Poderia trocar de aparelho e poderia manter o número tranqüilamente a partir do chip sem ter a obrigação de trocá-lo.

Não posso falar da Rafaela porque também me tornei um fanático por celulares, talvez por conviver anos com ela na época de colégio e de internet no famoso e lendário mIRC (Internet Relay Chat). A partir do sétimo celular ela voltou a ter estabilidade comunicativa com os amigos e até com os pais. Começou a moderar também nas ligações e mensagens, mas não por causa somente dela e sim por causa das promoções de falar de graça em um determinado período do dia e da redução de tarifas para números favoritos. Aos poucos tudo foi voltando ao normal, até o meu toque diário, às 7h38, na hora que saísse de casa para que ela me esperasse na esquina da casa dela para rumarmos ao colégio.

A situação tecnológica no Brasil, EUA, Europa, China e, especialmente, no Japão permite a abertura das portas para a inserção de novas tecnologias de telefonia, fazendo despontar sem rumos no nicho de mercado da telefonia celular. Aqui no Brasil recentemente chegou a tecnologia 3G, trazendo a possibilidade de comunicação direta com a pessoa do outro lado da linha através do vídeo. Ou seja, a privacidade acabou até via celular – mesmo que haja a possibilidade de optarmos por enviar ou não a nossa imagem. Tecnologias mil que a Rafaela já deve estar estralando os dedos e apontando com o dedo em riste nas lojas de Rio Grande, escolhendo o novo modelo do seu aparelho celular. Ao menos agora o número do celular é o mesmo desde 2001 e conta é ela quem paga, a enfermeira Rafaela, uma professora de sucesso profisional e tecnológico.

Se aqui no Brasil e em outros países rumamos a passos largos às novas tecnologias, assim como também já acontece no ar através da empresa aeronáutica Emirates que já disponibiliza o serviço telefônico, o paradoxo aparece em Cuba. Lá, recentemente foi liberada por Raúl Castro a compra de aparelhos celulares para os cubanos depois de décadas com regras que limitavam o acesso da população e somente permitia aparelhos aos funcionários de empresas estrangeiras, funcionários do governo comunista e turistas. Porém, o valor para ativar a linha ainda é salgado, cerca de US$ 120 dólares enquanto o salário médio dos cubanos não ultrapassa 410 pesos (o equivalente a US$ 20 dólares)assim como foi aqui no Brasil e em outros países, a tecnologia no começo acaba custando caro. Perseverem cubanos! Sorte da Rafaela que tem condições financeiras e mora aqui no Brasil, senão:

- ¡Adiós teléfono!

2 comentários:

Amanda Lopes disse...

Agora estou deixando só este lembrete p/ te dizer q estou fazendo o folhetim por uma sugestão tua, e adianto: é são fatos reais utilizados no mesmo...
qdo voltar da facul comento teu texto em si...bjus

Anônimo disse...

adorei!
parei com essas funções de celular agora é pro necessario como diz a minha mãe!
beeeijo ki
saudadona! :~