sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ela Sabia de Tudo - Capítulo XIV


- Tô na casa do Jorginho mãe, aqui na esquina!
- Tá bem então, não vem muito tarde porque tens aula amanhã!
- Tá mãe, não começa...
- Sabes onde anda a tua irmã que não atende o celular?
- Acho que na casa da Júlia, liga pra casa dela mãe... ah, vou pegar uma jantinha aqui no Jorginho, não precisa fazer nada pra mim, tá?
- Juízo por ai...
- Tchau mãe!

Pronto. O Tales estava na casa do amigo, mas e Carolina? A cabeça de Adelaide começou a pensar mil coisas. Juntou as ameaças do homem mascarado mais o sumiço da filha com o telefone celular desligado de Carolina. Mais uma preocupação daquelas para a médica branquear umas dezenas de cabelos.

Ligou para a casa da amiga da filha, Júlia, para saber se Carolina estava por lá:

- Alô?
- Alô, gostaria de falar com quem?
– uma voz infantil feminina, muito educada, retrucou lá do outro lado da linha.
- Aqui é a mãe da Carolina, amiga da Júlia, será que por acaso a minha filha está por ai, querida?
- Só um pouquinho tia que eu vou passar para a minha avó!
- Alô? Pronto? Quem fala?
- Oi, aqui é a mãe da Carol...
– a velhota interrompeu:
- Quem? – Adelaide aumentou a voz e repetiu:
- Aqui é a mãe da Carolina, amiga da Júlia! Será que a minha filha está aí?
- Ahh! Desculpa minha filha! É que eu sou um pouquinho surda! Vou ali dar uma olhadinha...

Adelaide esperou quase cinco minutos do outro lado da linha. Escutou a vinheta de abertura da novela das oito, soube das manchetes do Jornal da Globo e ali ficou. Até que de repente, quase já na vontade de desligar o telefone:

- Tiaaaa! A vó falou que elas estão no treino de vôlei, no colégio delas e que o meu pai vai buscar! – respondeu
- Obrigado querida!

Resolvido. Os filhos estavam com os amigos e nenhum problema a mais apareceria. Nenhum seqüestro relâmpago ou assalto ou estupro ou coisa pior que isso. Os sumiços não eram relativos às ameaças. Mas agora ainda faltava um: Francisco.

Quase 21h e 30 e nada do marido em casa. Não era um dia de trabalho até tarde. Será que alguma explicação seria cabível ao chegar em casa? Eu tenho que me manter neutra e descobrir isso sozinha. Não posso mudar meu comportamento senão ele vai descobrir alguma coisa e aí sim eu não vou conseguir me segurar e vou acabar soltando as patas – pensava.

Já que os filhos ainda estavam na rua e o marido não dava sinal de vida teria tempo de ir ao supermercado fazer umas compras rápidas e uma ração para o novo cão da família. Abriria o portão da garagem, embarcaria no carro, daria ré, desceria do carro, fecharia o portão e coisa e tal.

Mas não.

Pegou a bolsa, verificou a carteira, alguns reais e os cinco cartões. Rumou até a garagem. Colocou a mão para dentro da peça escura à procura do interruptor da luz. Premeu os botões todos e não repetiu o ritual de sempre. Avistou preso ao pára-brisa esquerdo do Astra um bilhete, uma folha de caderno dobrada. Ficou receosa, claro, mas depois de tudo que havia passado aquilo não seria nada. Desceu os dois degraus, driblou o skate de Tales e algumas bolinhas de tênis no chão da garagem, esticou a mão, gadunhou o papel como quem abre a conta da luz e leu:

“Eu até posso não ser a tua saudade, mas sou alguém que certamente não irás mais esquecer! Tua SS”

Um bilhetinho de amor.




Depois de umas férias bem tiradas o folhetim continua! Algumas tensões e muitas surpresas... muitas! Confira nos próximos capítulos a seqüência desta história - agora novamente publicados diariamente.