sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Bissexto

De quatro em quatros é a mesma história: fevereiro ganha um dia a mais. Vivemos um dia a mais a cada quatro anos? Sim, mas torna-se um dia normal. Fazem disso um feito. Tudo culpa e balela dos historiadores, dos matemáticos e dos reis apaixonados. Por isso que gosto do Einstein. Para ele o tempo não passa de uma mera invenção, em que o espaço e o tempo são apenas modos pelos quais o homem pensa o mundo, e não as condições sob as quais ele vive.

O nosso calendário é proveniente da invenção dos romanos. Tudo começou lá na antiga Roma. Senhores de barbas cumpridas, ouvidos entupidos de cera e parte íntimas fétidas pela falta banho de mais de semanas. Eram eles. Preocupavam-se em fazer contas e esqueciam-se das mulheres italianas, as quase primeirinhas da civilização. Enquanto elas, virgens, quase intocadas, desfilavam em trajes cumpridos provocando-os. Repito: eles preferiam ficar calculando e inventando regrinhas para definir o tempo. Pobres maledetos!

O culpado de o nosso calendário ter um dia a mais em fevereiro foi do tal Numa Pompílio (715-673 a.C), o queridão era o rei da cocada preta. Segundo o historiador latino Tito Lívio (c. 59 a.C.-17 d.C) o Numa foi um sabino eleito o segundo rei dos sete da história de Roma. Além do calendário reformulado, ficava dando leis à cidade, tipo um prefeito em época de eleição, enquanto a pobre Théris o cercava, fazendo de tudo para ele a notar. Sem sucesso.

Numa nunca. Sim, nunca. Ele era um religioso, aliás, um agricultor religioso. Conversava com as sementes que plantava fazia preces para que a chuva chegasse, trazendo abundância não só para os mais de 300 homens de seu mando, mas para todos que podia e conseguia ajudar. Era bondoso o Numa. Menos com a Théris.

Quando Numa assumiu, ainda estava em vigor o antigo calendário criado por Rômulo (753 a.C. - 716 a.C.)o fundador de Roma, aquele mesmo que fora amamentado por uma loba – que era baseado no calendário lunar grego. Apenas dez meses. Decerto, era por isso que àquele povo envelhecia mais rápido e morria tão cedo. É óbvio, ao menos psicologicamente. Mas o Numa, querendo mostrar serviço para seu querido povo e ainda mais para os desconfiados sacerdotes, resolveu criar um novo calendário. Dois meses a mais com possíveis variações de tempo, de quatro em quatro anos.

O novo calendário romano fora inaugurado no réveillon. Um réveillon humilde, apenas comemorado com uvas e vinho. De quebra, os novos dois meses já iniciariam no dia seguinte: Ianuarius e Februarius. A partir daí, a vida de Numa não seria mais a mesma. Depois de muito vinho na mente de todos, especialmente na de Théris, a moçoila ninfeta apaixonada pelo barbudo do Numa.

- Vem cá, eu sou muito feia para ti? Porque não me olhas? Não me desejas, caspita? – intimou a embriagada virgem. Numa, sem saber o que fazer, numa sinuca de bico respondeu:

- És bela Théris! És tudo que um rei gostaria de ter, mas...
- Mas? És tão somente bom com os números e leis? Esqueces das palavras e das mulheres?
- Deixas-me sem ar. Sem fôlego, Théris...
- Deixo-te assim e não tens coragem e ousadia de possuir-me?
- Vontades aparecem de repente, Théris. Mas, preciso dar tempo ao tempo para com minhas decisões.
- Então far-lhe-ei uma proposta, sem relutas e sem choramingos: tens estes dois meses novos para decidir se me queres ao teu lado, caso contrário, esquecer-te-ei e entregar-me-ei ao primeiro ousado homem em qualquer arruela de Roma. Tenho dito. – propôs Théris com o fura-bolos apontado para o rei Numa. E ainda ressaltou:

- Dois meses! Se de ti partiu esta idéia, de mim partiu este acordo. No dia 1° de março quero a tua resposta. Não quero mais ser qualquer uma nesta Roma. Desejo-te dia e noite. Quero ser a tua rainha! Numa ficara intimidado, paralisado com os braços retraídos para trás. Como forma de proteção apenas balançou a cabeça, vendo Théris virar as costas e sair em passos firmes em direção à festa de réveillon. Théris era objetiva, uma mulher à frente do seu tempo.

Numa havia criado um problema dos grandes. Quis inventar uma nova forma de prolongar o tempo, modernizar alguma coisa e pelos seus cálculos malucos, dar mais vida aos próximos romaninhos já que em Roma a expectativa média de vida não passava dos 50 anos naquele período. Mexer com uma mulher e fazê-la tomar a iniciativa não era muito comum. Mas, Numa Pompílio, o segundo rei de Roma, podia honrar-se desse feito. Homem tímido, com o cabelo comprimido, assaz ensebado pela falta de banho, lambido para trás e preso com um trançado de plantas e com hábitos de higiene contestáveis. Tão igual aos outros homens do reinado. Théris, gostava daquele cabelinho e do olhar tímido de Numa. Gosto é gosto, não se discute.

18 de fevereiro do ano novo, o primeiro mês de fevereiro da história já passava da sua metade. Faltavam 11 dias para o primeiro ano bissexto da história. Clima de suspense! Que nada, o Numa não saía de suas contas intermináveis e da criação de novas leis para Roma. Nem sinal de Théris. Depois do réveillon, sumira. Talvez quisesse fazer Numa sentir saudade ou ficar com vontade de vê-la. Apenas mandava recados pelos corneteiros do rei. Mulheres fazem isso e fazem muito bem, sempre surte resultado. Os números e o lado politiqueiro eram os amigos inseparáveis de Numa. Perdia noites e dias apontando tudo que lhe vinha à cabeça nos seus diversos alfarrábios - ou não.

Durante mais um dia de muitas escrevinhadas, estava lá, debruçado sobre seu púlpito, preparando mais uma solenidade regada a vinhos e muito pão. Seria uma comemoração alusiva ao primeiro ano bissexto da história – véspera do prazo de Théris a resposta de Numa quanto ao futuro dos dois. Numa nem pensava nisso aparentemente. Estava mais preocupado em acertar os últimos detalhes para seu discurso em praça aberta.

Aos poucos o povo se aglomerava lá embaixo, enquanto os corneteiros sopravam toques de aviso de que o rei se aproximaria em breve para começar o discurso. A população idolatrava Numa Pompílio. Era um rei sabino, jovem e sabido. 38 anos. Gostava de ajudar o próximo, bastante solidário. Fazia de tudo para agradar o povo, não tinha aquele ar fechado e carrancudo dos líderes. Cumprimentava a todos pelo nome. Mas, tamanha bondade para com os outros não seria recompensada pelo tempo, tempo que Numa havia tentado alterar.

Depois da décima cornetada o povo calava-se. Esperavam a entrada triunfante de Numa Pompílio. Quando os quatro corneteiros abandonavam suas posições e recolhiam-se ao lado do trono do rei, era uma espécie de sinal: todos começavam a bater palmas. Incessantes palmas para que Numa avançasse, dessa vez de banho tomado devido à circunstância, estufasse o peito e pronunciasse:

- Povo de Roma! Estive, estou e estarei sempre com vocês!
E uma multidão respondia em sabino, com os dois braços levantados em direção a Numa:

- Nós estamos com o rei! Numa, Numa, Numa, o rei de Roma!

Era afinado, muito bonito de ouvir e ver aquela manifestação. Numa agradecia batendo com o cajado no chão por três vezes, fazendo reverência em seguida ao seu povo e começava a falar:

“Povo de Roma! Hoje é um grande dia para nós. Estamos vivendo pela primeira vez um novo modelo de calendário. Mais dias foram adicionados. A lua nos guiará até o sol, que brilhará mais em nossas vidas e nos trará mais saúde. Será visto pelos nossos rostos, pela nossa aparência. Hoje, também estamos vivendo um dia a mais no mês de Februarius, dia 29, o qual sempre acontecerá a cada quatro anos para suprir a perda de seis horas anuais! É motivo de festa saber que os tenho ao meu lado, por isso, hoje o dia será diferente das outras comemorações anteriores. Haverá bebida e comida para todos!” – anunciava Pompílio, já sendo aclamado pela multidão:

- “Numa! Numa! Numa!”

- “Acalmem-se todos! A comemoração não pára por ai!” – interrompeu o rei. “– Far-lhe-ei-os um comunicado muito importante para o futuro de Roma: Irei casar!” E a multidão batia palmas em som crescente, que aos poucos seria um som ensurdecedor, por saber que o rei iria ter uma companheira, uma rainha.
- “Peço à moçoila que há dois meses intimou-me com a promessa de entregar-se a mim que suba aqui para ser apresentada ao povo como a nova rainha de Roma!”

Uma decepção. Théris parecia não estar na multidão. Numa chamara os corneteiros para perguntar se sabiam por onde andava àquela moça que vivia pelos corredores do reino atrás de Numa, nenhum dos três sabia do paradeiro de Théris. Eu disse três? É falei e o sabido do Numa também havia notado...

“- Três corneteiros? Onde está o número quatro?” – perguntava o rei aos outros restantes. Olharam-se entre si com as cornetas escorregando das mãos suadas pelo questionamento do rei e um deles tivera a coragem de dizer:

- “O número quatro fugiu com a Théris, Rei Numa. Peço perdão pela ousadia de falar-lhe a verdade.” – disse o corneteiro número dois.

Théris havia fugido com o corneteiro número quatro enquanto Numa fazia o discurso do primeiro ano com o mês de fevereiro e bissexto da história. Fugiu para outro lugar, cansada de esperar pela timidez e exatidão do comportamento de Numa. O tempo havia passado a rasteira no pobre coitado do rei Numa, de apenas 38 anos. Havia feito cálculos intermináveis. Diminuiu, somou e conseguiu criar mais dois meses e até um dia a mais a cada quatro anos por causa do sol e da lua. Numa morreria quatro anos depois, com 42 anos, antes de 29 de fevereiro, mas morrera na sua própria criação, talvez por desilusão da fuga de Théris – óbito que talvez fosse confirmado mais tarde em apontamentos descobertos nas últimas folhas rabiscadas de um alfarrábio e divulgado por Túlio Hostílio (673 a.C. - 641 a.C.), sucessor de Numa, o terceiro rei de Roma:

“Uns acham que passo as noites a contar números e realizar contas. Outros acham que sou indeciso por não me entregar a qualquer moçoila apaixonada. Sou tímido. Este é meu jeito. Ainda acharei melhor solução para isso. (...) Vou inventar uma maneira de estender o tempo para criar coragem de declarar-me a Théris. (...) Ainda me faltam números querido e amarelado alfarrábio, mas hei de conseguir fazer o tempo prolongar-se. Por hoje é isso, entregar-me-ei aos braços de Morpheu por hoje e retomarei amanhã o cálculo de novos tempos, de novos dias, dias de amor ao lado de Théris.” – palavras de Numa Pompílio (716 a.C. - 673 a.C), um rei soberano, tímido, apaixonado, desiludido, mas que conseguiu estender o tempo por causa da crença em um futuro e tranqüilo amor. De certa forma, fevereiro ter um dia a mais a cada quatro anos é culpa também das mulheres, mas só um pouquinho.

5 comentários:

Anônimo disse...

Jura que é essa a história do ano bissexto!? Oo
Mazá, eu viajei lendo isso! aHOUAIhiaHAuh
Tadinho do Numa... Ficou 'numa' merda... ahOIAOHiaU
Muito interessante isso xD
Poizeh, homens fazem coisas quase inacreditáveis pelas mulheres mesmo... :)
Beijooo kito!!
=***
Boa sexta guri ;)

Anônimo disse...

Eu fiquei triste! :/ aeiuhieuahae
Mas eu nao quis dizer q era ruim, Marcos, é bom! Só é triste :/ ehaiuehaiuae
E já te aviso que se eu tiver no cassino, nao tenho como me comunicar contigo..
Meu celular resolveu nao funcionar mais depois do tombo :(
Bjooooos

Anônimo disse...

ahhhhhhh não.. que droga, pq que ela fez isso com ele?!?
Ele ainda estava no prazo, ela se antecipou e acabou ferrando os dois..
Por isso já dizia o velho ditado, "apressado come cru"....
E a Théres comeu mesmo, podia ser rainha e por não ter esperado um dia, acabou com um simples corneteiro... ¬¬

Bom, a lição que eu tiri deste texto, foi a seguinte:
Sempre que se quiser alguma coisa, por mais tímida que a pessoa seja, tem q falar na bucha, ainda mais se fou pressionada por alguém. Não se deve fazer c# doce..
auhiauhaiua

beijinhos minha estrelinha

Anônimo disse...

viajei muiiito lendo esse!
fiquei com pena dele tadinho, oi tenta acerta e nao se deeu...
gostei muito, fiquei pensando aqui, é melhor as vezes que as coisas nao sejam como a gente quer,vale a pena espera um pouquinho!
beeeijos namoradeiro do lodo

Anônimo disse...

Aii n que triste; ou nem tanto.. Ela fugiu com o quarto soldado? Hum .Ele nao era O Rei mas soube dar valor aos seus sentimentos.. por isso nao acho que esteja completamente errada,pois cansou de esperar.. e ele esperou ate o ultimo momento, talvez ele quizesse ver se ela realmente o esperava e quem sabe ela poderia ter esperado aquele prazo terminar mas ai ja vira o meu ponto de vista.. e eu começo a viajar e daqui a pouco vou estar criando um outro fim aqui... Aquele lindo fim juntos em um cavalo branco né? hahah beijo Kinhos !