sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Encontro Marcado



O Vinícius, mais conhecido por “Pinto”, é daqueles amigos que mais parecem irmãos, mesmo não sendo de sangue. Chega à minha casa, cumprimenta a todos da melhor maneira possível. Chama minhas avós de avó, meus tios de tio fulano, tio cicrano e minhas tias e mãe de tia. Claro! Porque se chamasse de mãe, aí eu iria ter um irmão de verdade e acabaria suspeitando que minha mãe houvesse pulado a cerca um dia. Mesmo assim, o cara é meu irmão, não adianta.
Ele é calculista, eu sou teimoso. Ele é gremista, eu sou colorado. Ele gosta de dançar pagode, eu prefiro um reggae. Ele adora chimarrão, eu opto por um suco bem gelado. Ele já dançou ballet, eu já fiz aula de dança de rua. Ele prefere as mulheres, eu também. Glória aos céus! Ao menos uma coisa temos em comum. Entretanto, as diferenças não nos separam e nem estragam a nossa amizade. É um consenso perfeito. Às vezes uma cara amarrada aqui, um beiço botocudo lá, mas já se passaram quase 13 anos de amizade e o laço cada vez é mais forte. Então ele não vai se importar se eu falar um pouco dele – talvez se importe um pouco – neste texto.

Depois de levantar a moral dele, acho que já posso falar um pouco de uma obsessão que ele tem. Ele atrai mulheres. Até aí perfeito! Agora começa a estranheza: mulheres com os nomes mais estranhos ou exóticos da terra. Não que os nomes sejam feios, mas são extremamente incomuns. Sabe quando sai um listão de vestibular no jornal? Quando pegamos a lista e procuramos por nome de pessoas conhecidas e vamos analisando nome por nome e, entre uma Bianca e uma Daniela, aparece uma Charlise? O Vinícius parece que escolhe a dedo essas mulheres. Não adianta. Ele parece ter um imã ou talvez a falta de um Aurélio em casa. Deve ser algum trauma de infância.

Nos tempos do ensino médio do saudoso Colégio Santa Joana d’Arc ele superava todos os limites. Quando participávamos do Grêmio Estudantil do colégio, tínhamos um mural na sala do Grêmio onde eram colocados os recados, as atividades do mês e sempre alguma brincadeira. Passávamos as tardes dentro daquela sala. Idéias brotavam e sempre eram decididas com democracia. Fazer um coração e colocar o nome das gurias que o Vinícius se envolvia em pequenos papéis foi a única idéia que teve 100% de aprovação dos membros do Grêmio e dos infiltrados que lá ficavam descansando depois das aulas de educação física. Um coração cheio de papéis – 15! – com os nomes das moçoilas que já haviam feito parte da vida conjugal do Vinícius. Catrines, Damianas, Cerulhas e outros 12 nomes que vão ficar sob sigilo devido a possibilidade de linchamento de minha pessoa.

Muitas eram as histórias em que o Vinícius se metia. Enquanto ele saía de aula, o nosso grupo, a G.M. (Gurizada Medonha) raptava o celular dele e começava a dar toques para as gurias. Sempre aquelas com os nomes mais exóticos. Mas um dia, o Werner resolveu mandar uma mensagem de texto para uma delas marcando um encontro após a educação física de uma sexta-feira. Estávamos na véspera, teríamos tempo para armar o flagra e ver de perto o Vinícius agindo. Depois de cinco minutos fora de aula, o Vinícius chegara em aula e tudo continuara como se nada tivesse acontecido. O estojo, caderno e caneta em cima da mesa com o celular ao lado do estojo sem nenhuma alteração – até porque o Werner havia apagado a mensagem de texto enviada para a tal de Charlise.

Sexta-feira, mais um dia de aula. Todos da G.M. se olhavam e ficavam quietos, rindo internamente da brincadeira que tínhamos arranjado para o Vinícius. No intervalo, pedimos para o Júnior abrir a sala de controle da informática para mandarmos uma mensagem de texto do site da operadora de celular na web para combinar o tal encontro, como se fosse a tal Charlise que tivesse tomado a iniciativa:

“Oi Vini! Tudo bem? Só para te dizer que vou te esperar hoje, às 16h30, na esquina do Joana com a Duque de Caxias. Beijinhos, Char.”

O golpe havia sido aplicado. Mas um golpe em alto estilo, solidário, que só iria ajudar o nosso amigo a sair da ré.

Minutos depois, o Vinícius chegou para mim e disse:

- Cara, nem sabes! A Thaís ficou solteira!
- A tua ex-namorada? – perguntei.
- Sim! Acabou com o cara faz dois dias!
- Vais ir atrás dela? Vais procurar?
- Acho que não, vou deixar dar um tempo!
- É fazes bem! Quem sabe aparece outra guria, não é?
- Pois é...
- Malandrão! Bate aqui!
- Pode crê Marquinhos!

Reproduzi o mesmo diálogo para o restante da G.M. enquanto o Vinícius comprava o lanche na fila do bar. Plano combinado. Faltavam menos de cinco horas para o tal encontro. Tínhamos a possibilidade de que ela não viesse ou de que até o próprio Vinícius furasse. Mesmo assim, ficamos confiantes e fomos para nossas casas, almoçamos, descansamos e fomos para a educação física. Corremos, jogamos futsal e, sem querer, fizemos o Vinícius jogar. O maledeto suou às cantaras. Não queria ir encontrar a guria daquele jeito. Porque além de suado, ele estava todo sujo, o danado era goleiro. E ficou teimando:

- Cara! Não posso ir falar com ela desse jeito!
- Mas meu, ela sabia que tu irias para a educação física!
– alertou o Werner.
- Só que vocês me fizeram jogar bola!
- Já sei, pára tudo! Tira essa camiseta aí agora!
– interrompeu o Guilherme.
- Tirar? Por que?
- Tira e troca comigo!
– propôs o Guilherme.
- Mas vai ficar enorme em mim essa camiseta!
- Vai logo Pinto!
– insistiu o Bruno.
- É a única que não molhou! Não reclama e tira logo!
- Me dá aqui...

- Toma...

O Vinícius ficou boiando dentro daquela camiseta. O Guilherme tinha 1,87m de altura e pesava já seus 90kg. Já o Don Juan não passava dos 1,65m e dos 52kg. Teimou, teimou e até que foi ao encontro da guria, mas antes alertou:

- O “meus”, não inventem de fazer coisinha, hein?!

E nós claro que concordamos para não deixar o nosso amigo nervoso:

- Sim, nem te preocupa! A gente vai ficar lá pela sala do Grêmio...

Uma mentira deslavada de quatro marmanjões que queriam tirar uma com a cara do pobre Vinícius, só por causa dos nomes exóticos das gurias que ele tanto prezava em se envolver. Alguma conseqüência desajustada ainda estaria por acontecer.

Depois de cinco minutos, lá estávamos nós escondidos atrás da escada principal da frente do colégio cuidando o Vinícius com o pé para traz, encostado na parede e assoviando, fazendo tempo até a tal guria chegar. Deu pena. Será mesmo que ela viria? Corríamos esse risco. Mais 15 minutos e o Vinícius ia até a esquina: olhava para um lado, olhava para o outro e nada da tal Charlise. Até que o bom samaritano do Bruno quis contar a verdade:

- Eu vou lá contar para ele que é armação nossa!
- Não vai nada meu! Espera mais um pouco!
– falou o Guilherme.
- Imagina só se fosse tu ali na esquina esperando uma guria? Irias gostar?
- É, não iria não...
- Então! Eu vou lá...
- Calma, calma
– interrompeu o Werner.
- Por que calma? – retrucou o Bruno.
- Enquanto vocês ficam conversando, chegou uma guria lá, olha! – falou e apontou o Guilherme.

Era verdade. Uma loirinha de cabelo na metade das costas com o uniforme do Juvenal Miller. Aquela guria não nos era desconhecida. Tudo bem, estávamos há uns 20 metros de onde eles estavam conversando, mas não era suficiente para dizer se a conhecíamos. Quando de repente, o Bruno matou a charada:

- “Meus”, é a ex-namorada dele, a Thaís! Tenho certeza!

Ninguém acreditou. Depois de dois anos separados, a Thaís seria a Charlise? Será que o Werner teria mandado a mensagem de texto para a pessoa errada? Nada disso. O Vinícius era mais malandro que guri de bota nova. Enquanto ficamos questionando se era ou não a ex-namorada, mais uma vez o Guilherme nos interrompeu dizendo:

- Tá beijando! Tá beijando!
- Capaz... Wow... É verdade...

Bruno, Guilherme, Marcos e Werner. Quatro marmanjões de cara no chão. Primeiro que tentamos pregar uma no nosso amigo com uma das pessoas de nome estranho do celular dele. Tiro na água. Segundo, tentamos arranjar uma nova guria para ele, apareceu a ex-namorada, Thaís, um guria de nome comum e, de quebra, bonito – a que se admira, a que completa, da origem grega – no lugar da tal Charlise. Terceiro, perdemos o jogo para o Vinícius, mas o fizemos feliz em ao menos ter marcado o encontro dos dois. Até porque o Vinícius e a Charl... ou melhor, a Thaís acabaram voltando a namorar dias depois por causa do nosso plano mequetrefe.

Algumas semanas depois, o Vinícius nos contou a coincidência das mensagens de texto e o que ele fazia para evitar tocar no nome da ex- e atual namorada. Acabamos entregando o jogo e contando todos os detalhes. Ele também nos contou a verdade. No celular dele, o nome Charlise era um pseudônimo para o nome dela – Thaís. Mas o porquê de Charlise ele não quis nos explicar. Talvez no celular dela o nome dele estivesse alterado para Robcleison. Apelidos carinhosos dos dois? Nunca se sabe e nem queremos mais saber.
Sobre nomes exóticos de gurias, pseudônimos e apelidos meigos, os quatro membros da G.M. chegaram a uma conclusão: em alguns casos o nome não vale absolutamente nada quando existe um sentimento vivo escondido atrás de um pseudônimo.

Amigos são assim. Tentam arrumar, ajeitar e até aprontar, mas no final tudo acaba dando certo. Mesmo com aquelas caras amarradas de quando em vez. O sem querer faz parte do acaso da vida, independente das ajudinhas de uns e de outros amigos malucos. Cada um tem as suas preferências. Mas não é por isso que devemos achar o próximo estranho por ser um tanto quanto exótico em relação aos nomes das mulheres. Ou ao pseudônimo que deu para esconder o nome da ex-namorada no celular. Há uma palavra muito importante entre nós que resume tudo: respeito.

E é com respeito que ele vai ser não só o meu eterno irmão que chega à minha casa e arranca facilmente vários sorrisos das pessoas daqui. Ele também sempre será irmão do Bruno, do Guilherme e do Werner. Porque afinal de contas, ele também pode abrir a geladeira na casa de qualquer um deles e pegar um refrigerante ou fazer uma pizza. Ele é de casa, ele faz parte das nossas famílias.

Isso tudo chama-se amizade.

8 comentários:

Anônimo disse...

sim, esse é um dos teus verdadeiros amigos, que podes confiar cegamente...

Coitado do vínicius, sofreu um bucado nas mãos de vcs...
Mas amigos são p horas boas, ruins e de diversão..

amigos assim devemos levar pra vida tda e conservar para q nada nem ngm separe esse amor q existe :D

beijoss queridão

Anônimo disse...

E o tiro saiu pela culatra!! ahaiuoHAauIH Ia rir muito da cara de vocês se a ex dele fosse uma guria medonha, daquelas que qualquer amigo de verdade quer ver longe dos que gosta. Aí sim, de cortar os pulsos! aHOUAIauhuihUIU
Poizeh, muita gente abre a geladeira na minha casa, e graças a deus eu também abro na delas. E ser aquela 'amiga-irmã' é muito bom realmente... Amizade, de berço ou não, que vale ouro. :)
Beijo Markito!!
=**

Estrela disse...

É verdade. Amigo mesmo é aquele que não só abre a geladeira da tua casa, mas tbem o armário, o guarda-roupa e até o fogão, pra ver se tem algo de bom. Como diz Martha Medeiros: "Só mesmo amando um amigo pra permitir que ele se atire no seu sofá, e chore todas as dores dele, sem que você nao se encomode nem um pouco com isso." E em relação à história, vcs inconsciente, ou conscientemente queriam ajudar o amigo, e no fim, tenho certeza que fizeram muito mais do que isso. Com uma ajudinha do destino tbem, é claro!! ;)

Jennifer Azambuja de Morais disse...

As surpresas e pegadinhas podem ser a verdadeira conquista na vida de alguém. Tudo é um destino que vcs fizeram para ele.

Anônimo disse...

Pô, só quer saber de rua esse guri... atualizar o bog nada neh?! :D
ahUIAHuiaoHIuhaIU

Anônimo disse...

seguinte..
cada palavra que eu lia, me lembrava das gurias e das nossas mirabolâcias e até de ti...

tens uma certa vocação pra cupido né?
se não tem, pelo menos tenta...

HIAOHEIOAHEIOHAEIHAOIEHOA

imagino a cena de vocês escondidos na frente do joana...

AHEOIHAEOIHOIAHOIAHEOIHAOE

beijo kinhos. (:

Gabriela Torales disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Boa noite.

Venho manifestar meu posicionamento diante das declarações do Sr. Marcos Leivas d'Silva. Classifico as informações aqui redigidas são completamente VERDADEIRAS.

Hahahahaha!! Esses garotos sempre aprontando alguma, e como diz o meu habitual jargão "PINTO SÓ SE F...", entretanto, porém, todavia desta vez eles fizeram algo que naquele momento foi muito bom pra mim!
Realmente apesar das diferenças, somos amigos inseparáveis e estes garotos são os irmãos que eu não tenho. Amo eles como se fossem da minha família, apesar de me deicharem acordado até às 04:00 horas de segunda-feira deitado em baixo de um carro tirando LODO e tendo que acordar às 06:30 para ir trabalhar. Mas, o que não fazemos pelos AMIGOS.

Bem, para encerrar quero deixar aqui uma releitura de uma música de um famoso cantor - "você é meu amigo, com você EU CORRO perigo" - mas com muito gosto! como sempre digo, sou movido por desafios e perigos por isso, estou sempre disposto a tudo por quem eu amo, e meus amigos fazem parte destas pessoas.

Brother! Forte abraço!! E valeu pela lembraça, foi um bom momento da minha vida! Abração negão e sucesso!! \o/ ;D