quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Um Dia de Cachorro


Acordei após uma pesada noite de sono e me deparei com a televisão ligada em um programa relacionado à vida animal, na "RedeTV!". Pensei: “Poxa, já são 17h!”. Deparo-me, meio sonolento ainda, com aproximados dez minutos de uma reportagem sobre um cão da raça poodle, que fora abandonado por sua família que mudara de país e o deixara no pátio de sua residência, sem água ou alimento. Nenhum tratamento.

A primeira coisa que fiz, em seguida do término da reportagem, foi procurar uma garrafa de água que sempre deixo em minha cabeceira. Por algum motivo, não a achei. Procurei, também, como de costume, o meu celular para ver as ligações não atendidas ou mensagens recebidas. Idem, não o achei.

Sentei na cama, e comecei a me questionar onde eu havia deixado esses dois objetos que tanto dou atenção ao acordar e também no dia-a-dia. Tentei refazer meu caminho, os meus passos da noite passada e lembrei que garrafa de água estava vazia, e, eu, por preguiça, não a enchi e não a levei para o quatro. Já o celular, lembrei que estava dentro do carro, que o tinha esquecido na noite passada, ao chegar de uma partida de futebol, com a imensa vontade de um banho, de uma janta e da minha bela cama.

A relação que aparece entre objetos e o animal acima não é nada mais, nada menos do que o valor que atribuímos a eles. Alguns pequenos no tamanho – ou nem isso – mas grandes no seu significado e na falta que fazem quando não os achamos.

Para fazer essa relação, inverti os papéis: transferi-me para a pele de um cachorro e vi quanto o mundo, visto de uma altura bem mais baixa do que a nossa, é imenso. Cachorros, melhores amigos do homem. Mas homens melhores amigos dos cachorros? Alguma coisa anda errada.

Imagine o quanto seria bom receber um assovio de seu dono? Ou quem sabe carinho? Ah, se eu fosse um cachorro... eu iria pular, latir, lamber o meu dono ou qualquer pessoa que estivesse perto de mim! Mesmo eu não falando, eu iria tentar gritar gol dessa maneira, afinal, eu não faria essas coisas só por um punhado de ração ou uma tigela com água. Eu só queria ter mesmo é um pouquinho de atenção. Que eles olhassem para baixo e vissem que eu também me importo com o joguinho deles, com suas estranhas manias e comemorações que, daqui debaixo, são bem estranhas.

Ah vida! Eu vejo como ser humano racional, que muitas pessoas não sabem dar valor a esses pequenos animais. Nesse meio tempo, fiquei relacionando coisas do meu dia-a-dia e percebi o quanto não se dá valor a pequenas coisas. Eu, por exemplo, senti a vontade imensa de um gole de água ao acordar e de verificar o meu celular para saber de alguém lembrou ou precisou de mim. Imagine agora você no lugar do pequeno poodle: o quanto ele não se sentiu abandonado durante esse tempo sem sua família? Em um estado irreconhecível, praticamente de pele e osso, sem quase nenhum pêlo em seu corpo...

Quando o acharam escondido em um canto de um abandonado jardim de grama alta e sem nenhuma fonte de alimento, conseguiu abrir os olhos. Grandes, arregalados de desespero e ao mesmo tempo de maneira tão meiga para que, através daquele olhar, conseguisse dizer o quanto ele esperava a ajuda de alguém, ainda mais dessa mocinha que tanto adorava animais, a tal de Luísa Mel.

Passei praticamente um dia deitado. Entre um abrir e fechar de olhos, tentei acompanhar os jogos do Campeonato Europeu e torcer pelo time mais fraco. Não sei se indiretamente acabei torcendo pelo mais fraco por causa do tal cachorrinho abandonado, mas sei que entre um cochilo e outro, tive vários sonhos. Em um deles, lembro vagamente de um passeio na praia, em que eu estava correndo na praia e um cachorrinho pequenino cheio de bolinhas coloridas me acompanhava - engraçado até certo ponto, era um sonho -, então... lembro que ele pulava na altura dos meus braços, passava entre minhas pernas e cutucava conchinhas abertas na beira-mar. Não sei por que motivo ele latia e pulava, com certeza, devia ser porque queria atenção e viu que eu tinha coração porque parei a minha corrida e fiquei brincando com ele - tristemente não lembro como o sonho acabou.

A melhor razão da vida é agir com respeito, afeto, dignidade e humildade. O que você quer para você é exatamente como você deve tratar os outros. O valor que pretendemos receber é justamente aquele que devemos passar. Demonstre com atitudes, seja o professor da situação. Antes de agir no impulso, se coloque no lugar da outra pessoa e pense bem se você gostaria de ser tratado daquele jeito. Seja com o seu patrão, com a sua vizinha rabugenta ou com aquele maltratado cachorrinho de rua. Atribua valores às pessoas e aos animais, pois os objetos mesmo que necessários em nossas vidas tornam-se descartáveis com o passar dos anos. Preserve os seus valores. Seja o exemplo e sempre tenha muito cuidado com o coração dos outros, inclusive com o dos cachorros.

9 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo Marquinhos.
Como pode alguem maltratar animais indefesos que na verdade só fazem o bem a nós seres humanos.
Se pararmos para perceber nossos animais logo veremos que eles tem um imenso carinho conosco , claro eles se manifestam das mais variadas formas , mas cabe a NÓS percebemos isso e além de perceber ,dar valor.
A última parte é o que resume o qual deveria ser o carater de todo o ser humano e não apenas os que tem um bom coração : "Antes de agir no impulso, se coloque no lugar da outra pessoa e pense bem se você gostaria de ser tratado daquele jeito." Muitas vezes nao pensamos nisso ,mas nunca é tarde pra sempre , em todos os momentos de nossas vidas pensarmos nesse detalhe , que nao é mais um detalhe , já toma proporçoes maiores ,imensas antes de agirmos com todos que nos rodeiam.
Beijao amado , adorei.

Estrela disse...

Cada texto novo, me surpreendo mais. :) Quando eu perguntei sobre o que seria esse, tu me dissesse: sobre se colocar na pele dos outros. Além de ter feito isso, mais uma vez, tu faz com que os teus leitores se coloquem também. Adorei a tradução da forma como nossas estranhas loucuras RACIONAIS podem ser entendidas pelos "irracionais", que aliás, não sei da onde tiraram isso, de os cães não terem a capacidade de pensar. Só pra quem convive, conhece de verdade um cachorro, que pode entender que ele sofre, sente, PENSA. E imagino a dor desse poddle. Só, simplesmente, parabéns, Marcos. Tais a cada texto, melhor. Continua assim, e sempre causarás orgulho a quem te ama. ;)

jurema disse...

Ah! Marquinhos tô te conhecendo hoje. Falo conhecendo porque o escritor revela sua alma ao leitor e, a mim revelaste uma alma nobre, ser humano superior ao demonstrar que respeitas as outras formas de vida tal qual respeitas a forma humana! Esse foi o artício que DEUS usou pra mostrar quem somos!
Fico feliz por sentir que tu, tão jovem e sábio, trarás muita LUZ ao mundo, transformando-o!
Já sou tua fã!

Secéu disse...

"Preserve os seus valores. Seja o exemplo e sempre tenha muito cuidado com o coração dos outros, inclusive com o dos cachorros."

Cada dia que passa que leio os teus textos, te admiro ainda mais. São em pessoas como tu, que dão tanto brilho ao jornalismo, que eu me inspirei na hora de responder pro meu pai o que eu queria da vida, qual faculdade pretendia. ;)
Um dia seremos colegas de profissão, assim espero, mas com certeza, eu vou ser sempre a fãzinha do Kinhus, que de guri safado do flash, se tornou tudo isso que és hoje, que com certeza, dispensa comentários! Lindo texto, muito bom pra refletir. Beijo graaaaaaaande!

Dani disse...

nao me sensibilizei tanto pela parte do cachorro, mas sim pelo ensinamento ao final do texto. tomara que consigamos seguir essa ideia, apesar daqueles que insistem em se aproveitar das boas pessoas...
bjosss "keep writing" auhahu

Lídia disse...

Isso aí!
Eu confesso que nunca gostei muito de cachorro...prefiro gatos, são mais independentes, e nos dias de hoje até os animais precisam ser assim, já que não temos "tempo" ou paciência sequer pra cuidar de nós mesmos, não é assim??? a cada dia que passa vamos desaprendendo a respeitar o próximo e demonstrar afeto a qualquer ser vivo, porque é mais fácil ser indiferente ou agir de forma 'alternativa'... Importante repensar essas coisas!!! Adorei teu blog, vou passar aqui sempre! Beijos!

Jennifer Azambuja de Morais disse...

Imaginas o tamanho da tristeza do cachorrinho??? Ainda mais que eles se apegam rápido e são super dependentes. Isso se vê em qualque canto da cidade, principalmente a minha querida Pelotas, onde tu ve os cães sarnentos e delgados no calçadão e muitos passam e ainda chutam os coitadinhos. Eu recriminava quem dava injeção ou cuidava as cadelas para não darem cria, hoje já não faço mais isso, pois é melhor que cuidem dela com amor do que depois ela dê filhotes e os joguem fora por não poderem cuidar de todos. Cachorros, pessoas e outros animais merecem respeito mesmo.
Ah! E eu sei como é ver a vida daqui de baixo tá...Heheheheheh...

Mirela disse...

Bah, pra variar um texto muito bom vindo da mente brilhante :D
É, eu não conseguiria ver a reportagem que tu viu... Eu sairia chorando com toda a certeza. Não é a toa que tenho 15 gatos e 3 cachorros. Apenas um dos gatos eu peguei, o resto apareceu, ou machucado, ou com fome, ou nem isso. Alguns apareceram nenês ainda porque tinham jogado eles fora. 'Jogar fora' um aninal? Poizeh, em que mundo estamos? Recém-nascidos, sem dentes pra conseguir mastigar alguma comida que encontrassem, sem pêlos pra se aquecer. Mas acontece, e não é difícil de ser ver.
Pobre os espíritos que se intitulam 'humanos' e fazem isso com a vida de qualquer bixinho.
Tem uma cachorra daqui que é 'da quadra'. Uma mulher veio veraniar no Cassino e quando foi embora deixou a cadela presa e sem comida também. Obviamente, meus vizinhos soltaram ela e ela ficou aqui. Todo mundo dá comida e água e ela retribui isso com muito carinho e preocupação. Toda vez que alguém da quadra vai na avenida, ela vai do lado pra cuidar a pessoa. Acaba sempre passeando comigo na avenida. Me pega e me deixa na porta de casa toda vez, e aí se vê o reconhecimento daquele animal tão dócil e sedento de carinho. Tudo de bom!
Espero que um dia tu conheça ela quando vieres tomar um chimas comigo. :)
Beijo Markito!
Bom Larus!
=***

Anônimo disse...

Maaarcos...
Que triste, mas eu fiz uma relaçãozinha com a minha vida no dia de hoje.
Hoje eu sou um bad dog! hehehe Um cãozinho revoltado que quer mais é ficar na caminha roendo aquele osso velho e 'passado' ou rusnando e destruindo aquele bixinho de pelúcia atééé cansarrr... hehehheihie
Enquanto isso as pessoas querem fazer festa na minha volta...
Contrastes da vida, né?
Se o Nicky estivesse por aqui hoje, eu ia me 'vingar' nele. Puxar ele pra minha cama e enxer de abraço até ele sufocar e esquecer que existe qualquer pessoa lá fora... Triste é saber que existe gente que me levou meu bixinho. E eu nem sei se ele tá sendo bem cuidado... ;~
Beijosss!