sábado, 16 de fevereiro de 2008

D.T.F. - Parte I

O Gustavo era mais conhecido pelo sobrenome do que pelo próprio nome. “Nogueirão”. Não era alto, muito menos gordo. O cara era brincalhão, daqueles bem engraçados. Fazia uma brincadeira com qualquer frase ou palavra. Segundo o próprio, perdia o amigo, mas não perdia a piada. Mal sabia ele que a vingança vinha a passos largos com o passar do tempo - ou não.

Trabalhava numa agência de seguros e vivia muito bem disso. No trabalho era só alegria. Quando tinha de fazer os relatórios e entrar em contato com os fornecedores, o Nogueirão era mestre, dois minutinhos e pa-pum, tudo resolvido. Ensinava os novos estagiários e quebrava o galho dos colegas de trabalho que penavam para acabar um cadastro de adesão. Faz assim, faz assado e o problema já estava resolvido.

Era casado com Lúcia, uma dedicada professora de inglês. Oito anos de casamento e o fruto disso viria em breve. Nunca havia traído. Mantinham uma relação baseada no diálogo – mesmo depois de oito anos casados. Criaram o cantinho da conversa, um lugar reservado onde os dois estabeleciam os temidos D.R.’s, mais conhecidos por discutir a relação. Entravam os dois no banheiro e lá falavam durante horas. Normalmente o diálogo acontecia na parte da noite, já que os dois trabalhavam o dia inteiro. Porém, as coisas não andavam como de costume. Oito anos tranqüilos, claro, com aquelas brigas de marido e mulher que acabavam em pizzas e vinho, mas nada de tão grave a ponto dos diálogos acabarem. Chegavam do trabalho e as únicas palavras, depois de um rápido beijo eram:


- Como foi teu dia, Gu?
- Puxado...
- Não vais perguntar como foi o meu?
- Claro... como foi o teu dia, querida?
- Humpf... – e lá saía ela ao norte, em direção ao banheiro.



Os D.R.’s não estavam mais acontecendo. Os diálogos foram diminuindo e as pulgas atrás das orelhas de Lúcia surgindo. O Nogueirão continuava o mesmo no trabalho, até mais disposto e mais alegre - talvez para esquecer os problemas em casa. A Lúcia, como a grande maioria das mulheres, resolveu ir atrás e saber o que estava acontecendo com o marido. Afinal, oito anos de casamento não poderiam ter escondido alguma coisa errada do passado, um desvio de conduta.

Depois de mais um dia de trabalho, plena sexta-feira, Lúcia chegou mais cedo em casa, vestiu uma linda lingerie, daquelas vermelhas, bem sedutoras e esperou o marido no quarto, tapada apenas pelo lençol. Quando o Nogueirão chegou em casa, largou a maleta do trabalho, afrouxou a gravata e foi direto para o escritório verificar os e-mails e completar os novos cadastros da semana. A esposa ficou lá, durante meia-hora e não se conteve, desceu as escadas da casa, procurou na sala, na garagem e nada do Nogueirão. Foi até a cozinha, nada. Até que viu a luz do escritório ligada com a porta entreaberta e a voz do marido falando ao telefone. Sem pensar duas vezes, colou o ouvido na porta e escutou:

- Claro, com certeza, vou fazer isso então! Afinal, tantos anos sendo fiel, preciso te retribuir também, né?!

A Lúcia ficou apavorada, subindo pelas paredes de raiva pela possível traição do marido. Tanta raiva que a vontade dela, naquela hora, era de correr até a cozinha pegar a maior faca e correr até o escritório para fazer o crime. Uma esposa sempre dedicada, tanto no trabalho quanto em casa que ainda fazia surpresas colocando a lingerie preferida do marido, mereceria um tratamento à altura, exclusivo.

Deu meia volta, caminhou lentamente em direção às escadas, subiu pé por pé sem fazer nem um barulho. Tirou a lingerie, colocou o pijama de costume e deitou-se. Ligou a luz, arrumou os travesseiros, pegou um livro e recostou-se para ler. “Eu sei que vou te amar”, de Arnaldo Jabor – um dos livros mais recentes de Jabor que conta a história de um casal baseada em um “D.R.” que dura praticamente todo o livro, leitura de uma hora. Esperou mais uns 20 minutos e de canto de olho viu o Nogueirão chegar pé por pé no quarto, e aí:

- Eu ainda estou acordada! – disparou Lúcia.
- Oi querida, estava no escritório resolvendo uns problemas! – explicou o marido
- E conseguiu?
- Mais ou menos, vou tentar concluir amanhã o negócio.
- Que bom, que bom...
- Sabe o que eu estou lendo?
- É sobre casais, não?
- Um do Jabor, “Eu sei que vou te amar”, muito bom!
- Eu também vou sempre te amar, querida!
- Ah, é? Não parece, faz mais de dias que não és o mesmo.
- Como não? É tanta coisa do trabalho que eu fico estressado! Desculpa, vai?
- Traz um copo d’água para mim? Gelada!
- Desculpa, amor!
- Aham, traz a água enquanto eu escovo os dentes...


E lá desceu a escada o Nogueirão. Agora, com a pulga atrás da orelha. “Porque ela falou desse jeito comigo? Ela nunca agiu assim comigo! Será que tem outro?”, ficava perguntando-se internamente. Um marido dedicado no trabalho, mais no trabalho atualmente, mas que havia sido tão fiel quanto uma mãe é ao seu filho. De certo, a falta de tempo com a esposa ou o stress do trabalho poderia ter lhe dado um belo presente: um chapéu de alce.

- Bem geladinha, amor!
- Glup, glup, glup... Apaga a luz quando deitares. Boa noite!
- De nada, viu?
E ele ficou sem resposta.

Escovou os dentes, apagou a luz e deitou ao lado de Lúcia mansamente, sem mexer nas cobertas. Foi se chegando para dar um beijo de boa noite e escutou:

- Boa noite! - seco, sem beijo algum.

Voltou a posição totalmente horizontal, virou para a esquerda e dormira em cinco minutos, mesmo com as dúvidas e perguntas. Igualmente foi com Lúcia. Mais um dia terminava ali, sem um diálogo convincente e sem nenhum dos dois entender o que estava acontecendo.



p.s.: Usarei de uma técnica Coimbrística: Quer saber o que aconteceu na manhã seguinte e o desfecho desta história? Mais no post de amanhã! Ou se os comentaristas deste blog quiserem muito, mais de dez comentários pagam a continuação da história. Caso passe de dez, publico a continuação ainda hoje.

5 comentários:

Mirela disse...

Fio da vutaaaaaaaaa!!
E eu louca pra saber se tudo ia se resolver e tu resolve publicar o fim amanhã? Vai te catar neh. aHOIUAhiaHIAoahIUHAiu
Perdi o sono por causa da curiosidade ahiuhaIUOAHihiau
Beijoo Markito!
=***

Lídia disse...

Oh Céus!!!

Ahhh não, Marquinhos!! Publica logo o desfecho!!! Não gostei dessa técnica!!rsrs ;P

To torcendo pra que eles entrem no banheiro qdo o dia amanhecer... E conversem entre uma escovada de dentes e uma passada de creme de barbear!! D.R. urgente!!! heheheh Eles pareciam um casal bem legal, não podem se desencontrar assim!

=)

Bjooo

Anônimo disse...

Ahhhhhhhhh
Eu quero saber o resto hehehe

A vida de casal é algo extremamente complicado nao é mesmo?! Uma conversa é muito importante pra nao causar um fim na relação .Acontece que , muitas vezes as pessoas deixam essas conversas tao importantes pra depois e quando se dao conta tudo se foi ladeira abaixo.
Conversas sao sempre importantes , ainda mais quando se trata de um casal :)
Bom , agora é só esperar o desenrolar da historia :P

Beijo

Mirela disse...

'¬¬
Publicar o resto tu não quer neh? ahuiaohiuIUHiu
Tô esperando!
=*
;)

Anônimo disse...

volteeeei ;)
ainda nao li o resto, prefiro fazer o mesmo suspense, como se tivesse lido tudo em dia.
Visto de fora dá a maior vontade de dizer: SE LIGUEM!! não percam tempo com as pulguinhas, e EXPLIQUEM-SE. Ele, diz pra ela O QUE era aquele telefonema. Ela, diz pra ele PQ ta encomodada. :) Mas nunca. A gente nunca se explica. Depois aguenta o bucho. hehe... vo lá correndo ler o que aconteceu!! Beijo Markitu ;)