terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O Vai e Vem das Ondas

O mar ensina a viver e é um ótimo exemplo do andar vida. As ondas vêm e vão. A lua e o sol guiam as marés. As estrelas, lá de cima, cuidam do ciclo dos animais lá embaixo da água. São guias, são calendários. Você vai entender mais adiante. Com o Pedro, não era diferente disso. Surfista de carteirinha, todos os dias na praia procurando onda. Rezava sempre para ter boas ondas e proteção de Iemanjá e Netuno. Era apaixonado pelo surfe. Mas, naquele carnaval, tudo seria bem diferente. O inesquecível verão de 2005.

Acordou cedinho, seis e pouquinho da manhã. Tomou um café caprichado regado a mamão e granola. Passou o protetor, colocou as pranchas no deck e correu para a praia. Um dia de ondas perfeitas, tubulares, redondinhas, sem caixotes. O mar lisinho, o vento soprando na direção certa. O surfe era seu esporte, o seu hobby. Mas neste dia, era a fuga de Pedro: esquecer os problemas da vida pessoal, especialmente o “Dossiê Mariana”. A paz que Pedro conseguia tirar das ondas era descontada pelo comportamento de Mariana. Acharam que eu estava filosofando ou falando bonito sobre o mar no começo do texto? Enganam-se. Mariana era o mar de Pedro, a lua e o sol. Guiava a vida de Pedro, era como se fosse um cão policial, cuidava e ordenava até como Pedro se vestia ou penteava o cabelo. Estipulava horários, era a senadora de Pedro. Dava até medo. Havia dias que Mariana proibia Pedro de ir surfar. Ele respeitava. Ficava arredio, triste, mas respeitava. Afinal, quem não obedeceria uma mulher “naqueles dias”? Pedro sim. Era um gentleman que aos poucos perderia a paciência pelo comportamento militar de Mariana.

Havia tido belos dias de praia no verão de 2005. Pedro havia ido surfar umas três ou quatro vezes. O normal para Pedro seriam todos os dias do verão, mesmo que não houvesse ondas boas. Nadava para um lado e para o outro. O carnaval de 2005 havia chegado. Pedro adorava participar dos blocos de carnaval de rua. Não foi a nenhum. Os amigos sempre faziam concentrações com churrascos regados a cervejas. Pedro? Em casa vendo televisão com a família. Os bailes de carnaval? Você sabe, a resposta é a mesma.

Mariana acabaria perdendo Pedro aos poucos. Era estressada, impaciente. Nada tolerante. Não compreendia ninguém, o mundo girava em torno do seu umbigo. Tudo tinha que ser do seu jeito. Se não, não. Pedro era tranqüilão, adorava a companhia dos amigos, da família. Mariana não. Não e nada e nenhum. Um tempo ruim, um mar flat, sem ondas, sem vida que quando a tempestade de brigas chegava, meu Deus!, o mar ficava storm e sempre foi assim que Pedro tirava proveito. Sabia lidar com marés fortes e quebradeiras. Com Mariana? Fácil, fácil. A transformava numa ondinha mixuruca, daquelas de beira de praia. Marola.

Naquela tarde de carnaval, depois de uma ligação de mais de duas horas, em que Mariana descarregava um balde de stress em Pedro, ele apenas dizia: “- Aham.”, “- Beleza”. Concordava, a deixava mais irritada. Ele não tinha culpa. Não tinha mesmo. Nunca havia errado ou dado motivos reais à Mariana durante os cinco anos de namoro. Aquele dia seria diferente. Era carnaval.

Depois de aliviar o tpm, despejando em Pedro todas os berros e gritos, desligou o telefone na cara de Pedro, sem ao menos um tchau ou explicação. Feio, muito feio. Perderia a razão de tudo. Mulheres com tpm fazem isso. É um ato normal, mas repito: feio. Falta de educação. 50% de perdão pelo período, 50% de conseqüências negativas para o namoro. E foi o que aconteceu. Pedro pegou o carro, armou o deck e partiu em disparada para a praia. Lá iria ele começar o seu carnaval de 2005, inesquecível, por sinal.

Praia, areia, pôr-do-sol e o melhor swell do dia. Com séries triplas, tubulares, sem muita força, mas surfáveis. Ondas demoradas, daquelas que se podem fazer batidas para pegar velocidade. Ondas cristalinas naquele mar calminho. A praia vazia, deserta. Todos estariam se arrumando para os bailes de carnaval. Pedro tirou a prancha do deck, colocou na areia, passou aquela parafina com cheirinho de tutti-frutti, alongou, fechou o carro, escondeu a chave em cima do pneu direito traseiro e correu em direção ao mar. Uma seqüência que Pedro conhecia e tinha prazer de fazer. Meia hora de surf, dez ondas. Uma hora, mais de vinte. Pedro sorria, batucava um Jack na prancha esperando a próxima onda da série.

Quase 30 ondas, a recompensa perfeita pelas duas horas ao telefone com Mariana. Entre uma série e outra, um carro escuro havia parado ao lado da Weekend branca de Pedro. De longe, Pedro avistou e cuidou o mesmo ritual que o surfista fazia - os surfistas fazem isso, assim como os jogadores de futebol quando se preparam para entrar em campo. Aquele surfista entrara correndo no mar, meio desajeitado. Remava torto, sem sentido. Desnorteado. Era uma mulher, uma e não um surfista. Ela foi se aproximando depois de alguns minutos. Driblou duas ou três ondas, tomara vaca de outras cinco ou seis e:

- Oi Pedro!
- Iai... (uma longa pausa) Lu! Desde quando tu surfas?
- Eu aprendi, lembra que eu te prometi?
- É, eu tentei de ensinar mas tu tinhas medo do mar.
- Fiz umas aulinhas na guarderia e vim aqui treinar um pouquinho!
- Em pleno carnaval e tu na praia? Que milagre!
- Isso foi quando a gente namorava...
- É verdade! Poxa já vai fazer cinco anos e pouco, não é?
- O tempo passa rápido, voando!
- Olha a ondaaaaaaaaa Lu!
- Woooooow!
- Essa foi por pouco! Risos.
- Acho que já deu por hoje, já faz mais de duas horas de mar! Tô murcho!
- Eu também!
- Mas tu recém chegasses, já queres sair?
- Na verdade, eu não vim surfar Pedro...

E do mar saiu um reencontro. Uma obra do mar do vai e vem das ondas. Talvez um novo guia na vida de Pedro, um velho novo par. A inseparável dupla da escola, da faculdade. As orações para a Iemanjá e Netuno deram certo. O mar perfeito e a companhia tranqüila: Lú, de Luísa, a alma gêmea de Pedro que apareceria novamente em sua vida. E foi ali, na beira da praia, que mais uma história antiga de amor foi trazida pelo mar. Simples e pura. Iluminados pelo pôr-do-sol e já observados pela lua naquela praia desértica. Agora era a vez de Pedro errar com Mariana depois de cinco anos de namoro, mas, porém, todavia, havia Luísa. Ah a Luísa! Inseparável Luísa. Essas coisas do amor são assim, ainda mais quando o mar toma as rédeas da situação. O vai e vem das ondas faz milagres ao coração, ainda mais no carnaval.

5 comentários:

Anônimo disse...

gostei.
textinho pos carnaval!
AEIOHEOIHAOIEHOIAHEOIAHEOIAHEOIA
muito bom.
e o sono nao ta permitindo tecer maiores comentários!
beeijo (:

Anônimo disse...

HUmm
Gostei ... interessante e realista.
A vida se resume muitissimas vezes a um ciclo... um vai e vem de ondas , de amores , de paixoes.
E isso é muito bom quando nos traz coisas boas , coisas que fazem bem aos nossos corações. Esse texto nos mostra uma coisa : que nunca sabemos o que pode acontecer , qual rumo será dado em nossas vidas , que aquilo que pensavamos que nunca mais iria acontecer , pode sim se tornar realidade em algum dia desses.

Beijaooo pra ti !!

Anônimo disse...

marquinhos se dá pouco falo ai iuahiahihauia

Jennifer Azambuja de Morais disse...

Isso realmente acontece. Mas será que Pedro esqueceu Mariana?? Será que a Lu não seria só uma fuga de instantes?? Pelo rumo da história, acredito que Pedro mereça ser feliz com alguém que o valorize. Mas só o coração dele pode dizer. E as ondas do mar que guiarão ele.

Anônimo disse...

Vim dar uma olhada nos textos mais antigos. Gostei muito desse, me faz lembrar de situações familiares, sensações, previsões que a gente não vê. Já fui meio que uma Mariana, que não ve que aos poucos vai perdendo o amor "perfeito". Ela não via, não sabia o quanto ele era especial, pq de perto a gente esquece. E se deixa levar pela rotina... Mas então, surge uma nova oportunidade de vida pra ele, pq como já disseram aqui, e como o proprio título diz: a vida é um eterno vai e vem.. e mais do que isso, uma eterna surpresa. Só quando a gente menos espera é que acontece. ;)