A Dona Sônia depois de um longo e cansativo dia de trabalho passa no caixa eletrônico para sacar dinheiro. Dinheiro sacado, então vai às compras. Chega ao supermercado para comprar leite, pão e alguns outros produtos que as mulheres sempre acham necessário: cinco shampoos, cinco condicionadores, enfim. Encontra tudo o quê precisava e mais essas outras cositas extras. Compras feitas. Encara a fila do caixa e depois de 12 minutos esperando, chega a sua vez e começa o comum diálogo entre caixas e clientes:
- Boa tarde!
- Oi oi...
- Que tempo, né?
- Hoje ficou horrível! Tomara que faça sol amanhã!
- Pois é! Com esse tempo não seca nenhuma roupa!
Enquanto o diálogo vai rolando e as duas fazendo uma interação normal depois da gigante fila do super, a Dona Sônia finaliza:
- Quanto deu o total?
- Deu R$56 com 39, senhora!
- Ó...
A atendente recebe o dinheiro, R$57 reais. Pega as notas de R$5 e de R$2 reais e confere apenas a nota de R$50 reais, passando a unha na nervura da nota – um relevo e uma linha preta que dão autenticidade a nota – e percebe que a nota não tinha o tal relevo. Problema para a Dona Sônia. Passou a nota na luz negra para ver a marca d’água... e nada. Passou de novo a unha para confirmar e realmente não encontra a dita cuja. A senhora começara ficar vermelha, bochechas latejando da vergonha de carregar uma possível cédula de real falsa. Uma pessoa de boa índole, com ensino superior e sem antecedentes criminais. Ela responderia pelo crime dos outros. A atendente aperta a campainha do caixa, liga a luz vermelha e aguarda o gerente.
Com o passar dos anos e da evolução das técnicas de falsificação aprimoradas, a desconfiança das pessoas cresce de maneira ímpar, a ponto de colocá-las em situações pesadas de constrangimento por causa da pirataria realizada por outros indivíduos. Existem fábricas, sim, fábricas de fundo de quintal produzindo cédulas de real com uma grande qualidade. Tão boas ou até melhores que as produzidas na Casa da Moeda. Normalmente as cédulas de R$50 e de R$100 reais é que são as mais reproduzidas pelos piratas.
As mesmas notas que a Dona Sônia sacou do caixa, antes de irem para distribuição nas próprias caixas eletrônicas, são analisadas, conferidas à risca e a própria risca da nota para garantir o grau de legitimidade. Como que uma nota falsa foi parar dentro do caixa eletrônica daquele supermercado? A Dona Sônia não teria culpa, até porque não foi ela quem fabricou a cédula no fundo do quintal de sua casa.
Na lei brasileira, a prática da pirataria corresponde de quatro a cinco anos de reclusão em regime semi-aberto. Período esse que pode ser diminuído se o indivíduo falsificador tiver bom comportamento ou possuir segundo grau completo. Sem contar que o mesmo pode trabalhar na cadeia para diminuir os dias de pena, o tal do bom comportamento. Segundo Rodrigo Canelas, promotor de justiça do Estado de São Paulo, em entrevista ao Correio Braziliense, não existe mais a pirataria de fundo de quintal e sim a "pirataria romântica", ou seja, um tipo de crime organizado – algo a ver com o amor? Quem sabe indivíduos apaixonados pela atividade ilegal que exercem. Wow!
Tudo isso é muito engraçado. Por que na teoria e na prática o crime organizado nada mais é que o enfeite dado a uma meia-dúzia de seis ou sessenta que se reúnem para praticar brincadeirinhas ilegais. Matar, roubar, extorquir dinheiro e falsificar – o que já existe há muito e que praticamente nada se fez para acabar com as falsificações, especialmente das cédulas de real, sem contar nos milhares de outros produtos expostos descaradamente em camelôs e nas ruas das cidades. Se as fábricas de fundo quintal não existissem, a Dona Sônia não teria sofrido o constrangimento de ser confundida com uma falsificadora, uma pirata. Chegou ao supermercado, com o dinheiro retirado do caixa eletrônico e o usou vindo direto da máquina para pagar o montante da compra.
Depois de uns trinta minutos esperando e dialogando com o gerente do supermercado, conseguiu ser liberada, já que nada tinha de ligação com a nota falsa. A nota de R$ 50 reais fora aceita e ainda receberia os R$ 0,60 centavos de troco – porque o correto seria R$0,61 centavos, mas nenhum caixa dá o troco correto, sempre ignoram a moeda de um centavo, ainda existe no mercado e nos cofrinhos das pessoas – e as suas compras com os olhares desconfiados da caixa, do gerente e das pessoas que ali passaram nos trinta minutos de espera. Perdeu um centavo, passou vergonha por causa da nota falsificada da pantera, e saiu dali psicologicamente afetada pelo fato. Pessoas boas sempre acabam pagando pelas atitudes dos outros. É velha lei da vida que mais adiante dará o seu troco. Tão ultrapassada e desprezada quanto à lei brasileira e as moedas de um centavo.
- Boa tarde!
- Oi oi...
- Que tempo, né?
- Hoje ficou horrível! Tomara que faça sol amanhã!
- Pois é! Com esse tempo não seca nenhuma roupa!
Enquanto o diálogo vai rolando e as duas fazendo uma interação normal depois da gigante fila do super, a Dona Sônia finaliza:
- Quanto deu o total?
- Deu R$56 com 39, senhora!
- Ó...
A atendente recebe o dinheiro, R$57 reais. Pega as notas de R$5 e de R$2 reais e confere apenas a nota de R$50 reais, passando a unha na nervura da nota – um relevo e uma linha preta que dão autenticidade a nota – e percebe que a nota não tinha o tal relevo. Problema para a Dona Sônia. Passou a nota na luz negra para ver a marca d’água... e nada. Passou de novo a unha para confirmar e realmente não encontra a dita cuja. A senhora começara ficar vermelha, bochechas latejando da vergonha de carregar uma possível cédula de real falsa. Uma pessoa de boa índole, com ensino superior e sem antecedentes criminais. Ela responderia pelo crime dos outros. A atendente aperta a campainha do caixa, liga a luz vermelha e aguarda o gerente.
Com o passar dos anos e da evolução das técnicas de falsificação aprimoradas, a desconfiança das pessoas cresce de maneira ímpar, a ponto de colocá-las em situações pesadas de constrangimento por causa da pirataria realizada por outros indivíduos. Existem fábricas, sim, fábricas de fundo de quintal produzindo cédulas de real com uma grande qualidade. Tão boas ou até melhores que as produzidas na Casa da Moeda. Normalmente as cédulas de R$50 e de R$100 reais é que são as mais reproduzidas pelos piratas.
As mesmas notas que a Dona Sônia sacou do caixa, antes de irem para distribuição nas próprias caixas eletrônicas, são analisadas, conferidas à risca e a própria risca da nota para garantir o grau de legitimidade. Como que uma nota falsa foi parar dentro do caixa eletrônica daquele supermercado? A Dona Sônia não teria culpa, até porque não foi ela quem fabricou a cédula no fundo do quintal de sua casa.
Na lei brasileira, a prática da pirataria corresponde de quatro a cinco anos de reclusão em regime semi-aberto. Período esse que pode ser diminuído se o indivíduo falsificador tiver bom comportamento ou possuir segundo grau completo. Sem contar que o mesmo pode trabalhar na cadeia para diminuir os dias de pena, o tal do bom comportamento. Segundo Rodrigo Canelas, promotor de justiça do Estado de São Paulo, em entrevista ao Correio Braziliense, não existe mais a pirataria de fundo de quintal e sim a "pirataria romântica", ou seja, um tipo de crime organizado – algo a ver com o amor? Quem sabe indivíduos apaixonados pela atividade ilegal que exercem. Wow!
Tudo isso é muito engraçado. Por que na teoria e na prática o crime organizado nada mais é que o enfeite dado a uma meia-dúzia de seis ou sessenta que se reúnem para praticar brincadeirinhas ilegais. Matar, roubar, extorquir dinheiro e falsificar – o que já existe há muito e que praticamente nada se fez para acabar com as falsificações, especialmente das cédulas de real, sem contar nos milhares de outros produtos expostos descaradamente em camelôs e nas ruas das cidades. Se as fábricas de fundo quintal não existissem, a Dona Sônia não teria sofrido o constrangimento de ser confundida com uma falsificadora, uma pirata. Chegou ao supermercado, com o dinheiro retirado do caixa eletrônico e o usou vindo direto da máquina para pagar o montante da compra.
Depois de uns trinta minutos esperando e dialogando com o gerente do supermercado, conseguiu ser liberada, já que nada tinha de ligação com a nota falsa. A nota de R$ 50 reais fora aceita e ainda receberia os R$ 0,60 centavos de troco – porque o correto seria R$0,61 centavos, mas nenhum caixa dá o troco correto, sempre ignoram a moeda de um centavo, ainda existe no mercado e nos cofrinhos das pessoas – e as suas compras com os olhares desconfiados da caixa, do gerente e das pessoas que ali passaram nos trinta minutos de espera. Perdeu um centavo, passou vergonha por causa da nota falsificada da pantera, e saiu dali psicologicamente afetada pelo fato. Pessoas boas sempre acabam pagando pelas atitudes dos outros. É velha lei da vida que mais adiante dará o seu troco. Tão ultrapassada e desprezada quanto à lei brasileira e as moedas de um centavo.
6 comentários:
'É velha lei da vida. Tão ultrapassada e desprezada quanto à lei brasileira e as moedas de um centavo.'
Finalização incrível! :)
Ah, o que eu tinha pra comentar sobre o texto eu te disse no MSN neh, dae fica sem graça repetir tudo :P
A pitada de sarcasmo contrasta muito bem com o realismo da história.
Mas QUE mente brilhante é o Markito! ahUAHuiaH
Beijoo guri!
=**
Hum nao gostei da parte de que mulheres fazem compras básicas : comprado nada menos do que cinco shampoos, cinco condicionadores . Isso não é verdade , omitisse um ítem o creme pra pentear , esse tb entra na listinha meu caro . heheheh
Bom , mas vamos ao que interessa :
essa onda de falsificações é uma vergonha ,que causa certo constrangimento por tu saberes que existe isso . Dá medo de pagar algo com notas de R$50 e 100. Já pensou se é falsa e tu passas a maior vergonha?! Deprimente ao ponto que chegamos.
Besito amado
Marquinhos!
Apesar de atrasada, venho aqui dar meu comentário sobre alguns posts anteriores! :D
Lidos e relidos, agradeço a citação no post sobre a minha querida afilhada! hehehe!
Um beijão!
Adorei! adorei tudo, o jeito de escrever, o assunto (q a princípio não tinha me atraído) e principalmente o realismo que desse a história. Cheguei a sentir a vergonha pela Dona Sônia!! Juro que senti o frio na barriga, imaginando ela aguardando o gerente.´Palavras perfeitamente colocadas, idéia perfeitamente incitada na cabeça das pessoas que apesar de estarem cansadas de saber das falcatruas, cada vez mais comuns, acabam por esquecer da gravidade, com a ilusão do dia-a-dia que te chama atenção pra mil outros problemas. Parabéns pela escolha do tema e principalmente por saber expressá-lo de forma a nos fazer sentir, pensar e nos revoltarmos com tanta sujeira nesse país. :)~ beiju =)
Oi, Marquinhos!
Gostei da maneira como te expressas, com clareza, coerência e maturidade ao abordar o tema. Aliás, o tema lava o leitor a se tornar mais alerta em relação a essas situações inesperadas, que nos pegam desprevinidos e nos colocam numa posição tão constrangedora.
Encontrei um novo contador de histórias e o achei Genial! Parabéns!
Machista a parte das compras básicas das mulheres né? Mas não vou entrar em uma discussão dessas.
Tudo isso acontece porque as pessoas simplesmente aceitam falsificações, não falo em dinheiro, mas em outros produtos. Sei que é muito mais barato, eu não nego que compro produtos nos camelos, por exemplo, mas isso é uma forma de aceitar o falso.
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