quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Reencontros



Gostei muito da nova música “Lembrar de Amar” da banda Manitu. Nas minhas pesquisas musicais pela web, a banda foi uma das minhas gratas surpresas entre tantas outras das mais diversas partes do país. No meu iPod tem o cd inteiro deles. Sei toda a seqüência e letras das músicas. Porém, essa última música realmente me fez balançar a ponto de escrever um texto sobre tudo que acorreu pela minha cabeça quando a ouvi pela primeira vez. Parecem àquelas paixões à primeira vista, sabe? Foi assim com essa música. A primeira ouvida marcou e fez-me voltar no tempo e perceber certos reencontros importantes da minha vida.

“Todo momento ganha uma trilha musical especial” - aprendi isso com o meu pai. Na época, o cd ainda não era tão popular. O pai sempre me mostrava fitas cassetes de bandas que ele tinha gravado da rádio e dizia:

“- Esta música foi quando eu e a tua mãe fizemos um ano de casados!”.
“- Já esta aqui a tua mãe chorava quando escutava e me abraçava!”.
“- Escuta esta, escuta! Foi quando eu e a tua mãe comemos a primeira pizza neste apartamento!”.

E eu ficava ali, uma criança de sete anos, uma bolinha gorda, com a cabeça apoiada nas mãos e os cotovelos apoiados na mesa. Escutando a letra e tentando entender o sentido de cada palavra e de cada batida da música. Ficávamos horas escutando àquelas fitas enquanto ele arrumava a coleção de chaveiros num quadro verde, enorme, que ficava pendurado na parede da sala de jantar.

Semanas depois, em mais uma sessão de música, ele foi além da fitas cassetes e abriu o baú de relíquias: mostrou-me a coleção de LP’s dele – os extintos, mas ainda cultuados longplays, bolachões cinco vezes maiores que um cd normal com músicas dos dois lados. Eram raridades para o meu pai. Tão raros que ficavam escondidos em um armário da sala de janta, na única porta que sempre ficava trancada para ninguém ousar em mexer. Mas, eu, filhão, único tive o prazer. Lá estava eu em frente aos tesouros musicais dele. Uma poeira danada e na minha frente toda a discografia dos “Beatles”. Naquela tarde quase noite, o empoeirado toca-discos voltou a funcionar. Aprendi ali que o tal dos “Beatles” era uma banda legal e que fazia um som trick-trick rolimãsegundo o meu pai, é claro.

Assim como foi um momento de reencontro do meu saudoso pai com as músicas que embalaram a adolescência dele – e até os anos de casado com minha mãe –, esses reencontros acontecem com qualquer pessoa. Com o casal de namorados apaixonados que tremem quando escutam sua trilha musical e lembram-se do primeiro beijo. Com um grupo de amigos que foi ao Planeta Atlântida e guardou uma música que marcou algum momento ou um show especial de alguma banda na Sede Campestre da Saba. Acontece também com nossos amigos, nossas avós e também é assim com os nossos queridos porteiros. Vivem cantarolando para passar o tempo com assovios, entre um abrir e fechar de portas. Qualquer som se torna especial, às vezes, até o silêncio é o melhor companheiro. Nossa vida é marcada por reedições, por reencontros. Pelo sentimento de saudade que se esconde no começo e aumenta com o passar do tempo.

Um reencontro que marcou muito para mim foi em 2004, quando meu avô paterno, o Ernane, voltou de uma cirurgia realizada em Porto Alegre. Eu jurei que ele não voltaria pelo estado de saúde o qual se encontrava. E lá estava o meu velhinho guerreiro! Sentado com uma camiseta promocional super-antiga do Grêmio, de 1995, que dizia: “Agora o leite vai azedar! Grêmio x Palmeiras”. De braços abertos, do jeito contido dele, me esperando depois de ter passado por uma operação extremamente complicada. Infelizmente ele me deixou três meses depois. Ainda guardo a grande maioria das perguntas que ele fazia quando algum amigo chegava. Esse é um reencontro que eu espero ansioso um dia fazer, mas daqui a muito tempo, sei que ele está em boas mãos com o Carinha lá em cima.

Depois de algum tempo, os reencontros são capazes de apagar mágoas e detalhes que ficaram pendentes no passado. O tempo ajuda a consertar as falhas de comunicação entre duas, três, quinze ou mais pessoas. O afastamento traz a sensação de liberdade, de desprendimento. Porém, ele funciona como um remédio que com o tempo vai ficando ineficaz. Cura ou faz uma ferida maior. Em seguida, a reação alérgica mais próxima é a saudade. Palavrinha pequena e de grande significado. Mostrando que o passado vivido valera à pena. Não importando o tempo de duração e sim a intensidade dos momentos bons ou ruins perto das pessoas, das ações ou dos sentimentos.

Reencontro com um amigo de infância depois de anos sem vê-lo. Reencontro com a primeira professora do ensino fundamental. Reencontro espiritual. Reencontro com a paz interior e com o amor próprio. Reencontro com o vendedor de picolé da esquina da escola. Reencontro com o dentista. Reencontro com aquela prima mirrada que virou modelo. Reencontro do atacante com os gols. Reencontro com a ex-namorada. São muitos os reencontros na vida. Eles acompanhados ou não de trilhas que os tornem inesquecíveis. Cada reencontro tem uma seqüência lógica do comportamento humano: pernas bambas; em seguida os olhos lacrimejados e, por último, os sorrisos incontroláveis. Cada reencontro reedita uma velha história e traz um novo incentivo para o dia-a-dia das pessoas. É como se mais um parágrafo fosse adicionado ao texto. A retrospectiva ganha cor novamente e novos capítulos ganham roteiros para se vivenciar novas histórias. Reeditadas e reencontradas sempre pelo prazer de que: lembrar de amar é o melhor remédio para o bem da alma, do coração e é claro, de todo o mundo.



7 comentários:

Dani disse...

"tempo, tempo, tempo, mano velho...! tempo amigo, seja legal, conto contigo, pela madrugada...!"
hehehe mto legal essa reflexao... o tempo faz cada milagre que te digo :]
beijo

Mirela disse...

Éééé... Alguns reencontros eu prefiro esquecer ahAhiuaHIAUhuai
...É, pensei demais com esse texto. melhor deixar pra lá :/
=*

Anônimo disse...

É impossivel ler algum texto teu e não parar pra pensar... E em seguida, não te admirar mais ainda :)! Tu sempre usa as palavras adequadas e cada dia me orgulho mais de tá mais próxima de ti DE NOVO.. Nossa amizade seria mais um reencontro, não? O reencontro do gurizinho do flash e da moreninha feiosinha que incomodava na volta, haha, hoje o quase Jornalista Marcos Leivas e da loirinha que aspira a jornalista também, mas ainda não chegou nem aos pés do querido amigo ;)!
Beijo enorme pra ti!

Anônimo disse...

É reencontros são assim...
A vida leva coisas, mas tempos depois traz de volta...
Ciclos que se encerram, novos começam...
A nossa vida é como o mar,ondas que vão e voltam.
Eu tbm vivi um reencontro esses dias: pernas tremendo (e eu quase cai), braços tão tremulos tbm que chagava a ser visivel e o coração numa batita extremamente acelerada que se encontrava quase na boca...

Bom era isso..
Adoro os teus textos, continua assim q irás longe.

beijos com carinho :P

Xico Zanetti disse...

Sempre bom reencontrar coisas que te fazem bem.. um amigo de infancia, um parente distante, uma fita k7 que te lembra infancia (balao magico, trem da alegria, xuxa) cm eu e a tati estavamos relembrando alguns dias atras..
Somos do tempo que relembramos fitas k7.. nossos pais relembram o vinil... nossos filhos relembrarao o CD.. e nossos netos os DVDs.. e depois? Quanto mais o tempo passa, mais parecemos tolos perto da tecnologia que nos circunda...

Torço pela tecnologia... mas que ela nunca apague aquilo que não é mais físico, e sim da única máquina que escapa do avanço da tecnologia: a memória humana.

Anônimo disse...

tá seguinte, me vi em quase todo o texto, na parte do pai com as fitas, me vi sentadinha dentro do carro com meus 8 anos escutando Pink Floyd e achando o máximo.
como disse a secéu ali paro penso penso e penso, e acho o máxiimo tá conversaaando³ contigo de novo.
beeijo da fotogenica das unhas legaais.

Jennifer Azambuja de Morais disse...

Não sei o tempo nos cura ou nós curamos o tempo. Hehehehehe... è os reencontros marcam a nossa vida, pois na verdade ela é feita de reecontros. Não interessa se foi bom ou ruim, mas sim que nos fez refletir aquele momento, aquela situação. As pernas bambas ou a raiva por estar vendo acabam fazendo parte de nosso crescimento. Viva o seu reencontro Marquinhos, não o deixe escapar nunca....