sexta-feira, 16 de maio de 2008

Estradas Alternativas - Capítulo V

Carlos Alberto, um amigo das antigas, havia se mudado há alguns bons anos para Rio Grande e morava justamente no Parque Marinha. Um amigo de infância que acompanhara de perto e dividia momentos juntos sadios ainda na agora longínqua Alegrete. Mudara-se para a Noiva do Mar com a intenção de ganhar mais dinheiro, óbvio. Pretendia guiar os navios que entravam e saiam da Lagoa do Patos no Porto de Rio Grande. Gostava do mar, gostava mais ainda daqueles navios gigantes, carregados, chegando.

Mas o tempo e o pouco estudo de Carlos Alberto não lhe foram suficientes para chegar a um cargo mais recompensador. Virou pescador. Com algumas migalhas economizadas da lida com o campo, conseguira comprar um barquinho de pesca para garantir-lhe ao menos sobrevivência. Teve sorte nos primeiros meses. Faturou cinco vezes o dinheiro aplicado no investimento. No mês seguinte mais e mais. Porém, não era um bom administrador e acabou apostando em rinhas de galo e corridas de cavalo no já extinto hipódromo. Hoje em dia, depois de muitos anos trabalhando onde não queria e também fazendo bicos conseguira ao menos montar uma fruteira que funciona também como ponto de referência no Parque Marinha. E era lá que o velho Alaor iria repousar o corpo cansado.

Eram cerca de 7h e o sol agora já despontava seus raios através das nuvens. Um clima um tanto frio, mas suficiente para uma fungada de leve acompanhada de um bocejo longo, na verdade dois bocejos. Estava cansado e com dor nas costas. Carlos Alberto seria o seu destino. Sabia do velho amigo através das cartas que recebia quando ainda estava com Deise. Ficava feliz pelo amigo. Uma fruteira, uma mulher dedicada e dois filhos: um casal. Letícia e Lucas, ela com seis e ele com oito. Um exemplo para ele. Talvez até a vida que desejara ter ao lado de Maritza.

Lembrou de uma carta que recebera do amigo convidando-o para conhecer a sua nova casa em Rio Grande e contando da tal fruteira, o seu novo negócio. Uma fruteira na rua principal do bairro, bem na entrada: a Fruteira InternacionalAlaor já tivera muitos embates com o amigo por causa do time, mas apenas sorrira, balançando a cabeça, quando lera o nome na carta. Era uma fruteira que funcionava na garagem da casa. Uma casa singela, mas muito confortável, com poucos móveis e humildes decorações. Contara também da churrasqueira pequena que havia construído nos fundos da casa e que nos finais de semana convidava os vizinhos para uma churrasqueada, os seus novos amigos.

Mas 7h da manhã seria muito cedo para bater na casa do amigo. Será que devo? É melhor não! – pensou. Vou procurar a fruteira e vou esperar na frente, isso, é isso que vou fazer! – decidiu. E a Fruteira Internacional, independente do nome e da hora foi o destino do cavaleiro, depois de muitos e muitos quilômetros naquelas estradas alternativas e esburacadas que se acostumou a cavalgar.

Que sorte! Em menos de cinco minutos atravessara a estrada, seguira pela rua principal e a fruteira realmente estava lá. Preferiu não bater na porta. Desceu do cavalo e foi procurar uma torneira para matar a sede do companheiro. Achou. Uma torneira escondida rente ao muro da casa ao lado da garagem, onde funcionava a fruteira. Como não havia balde, levou Amanhento cuidadosamente pelo portão e com uma mangueirinha curta que estava presa ao bico da torneira, mirou a boca do amigo e por ali ficou, agachado, dando água para o pobre animal durante uns dez minutos.

Nesse meio tempo sentiu-se observado. Olhou para os lados e não vira ninguém. É coisa da minha cabeça! – respondeu mentalmente. Com as ferraduras de Amanhento fazendo téc téc téc! decerto que acordaria alguém naquela hora da manhã, ainda mais quando se invade uma casa para dar água a um cavalo. Logo um cavalo! Não era nem para um cachorro ou até mesmo para ele. Era um cavalo de meia tonelada suportada por apenas quatro e gastas ferraduras de ferro. Uma barulheira só.

De repente ouvira um barulho além daquele que a água fazia caindo no chão e da boca do cavalo. Preferiu não olhar para trás. Sua desconfiança por alguém o observando havia sido confirmada. Era um barulho de chave. Sim, era. Uma girada, duas giradas. Oouuu – balbuciou. Teria que olhar para trás de imediato. Escutara um nhéééé! saído das aberturas enferrujadas de uma porta. Teria que olhar. Teria, ao menos sobre os ombros. Girou o pescoço e por cima do ombro direito avistara uma mulher na porta trajando um baby doll rosa com algumas curvas e peças íntimas de fora. Uma mulher morena com os olhos ainda apertados pela luz do dia nascendo e também por tentar decifrar a cena que vira, tentando dar nitidez às suas retinas. Um olhar cruzado de rosto inclinado para o lado, um olhar intimidador, acompanhado por um par de braços: um esticado e o outro fazendo cachinhos na ponta do cabelo. Que cena! E a tal mulher, linda-linda-linda, calçava umas chinelas brancas e com o pé direito ficara batendo a pontinha dele no chão.

Alaor imediatamente ruborizou.




Ficou curioso? Pois é, isto aqui é pior que novela! Mas garanto que bem mais lucrativo! Confira amanhã no sexto capítulo do folhetim "Estradas Alternativas" a seqüência desta história.

Um comentário:

Anônimo disse...

nem preciso te dizer sobre a história, sabes o que eu acho sobre os teus textos! fiquei foi mais curioso ainda! o que posso afirmar é que essa foto ai, nossssaaaaa! a descrição bateu direitinho, só fiquei imaginando a cena! :>