E lá atravessava novamente a estrada com a térmica em uma das mãos. Cuidadosamente olhava para um lado e para o outro. E de novo. Seguia, com a cabeça baixa e ao mesmo tempo nas nuvens. O que pensaria Alaor em fazer aqueles trajetos alternativos? Tudo bem que tivesse medo de andar no acostamento por causa dos carros, mas qual o motivo lhe era impulsionado a percorrer quilômetros e quilômetros sem um destino fixo?
O cavalo o esperava, já sabia, já estava acostumado como funcionava aquele ritual de ir buscar água ou quando parava para almoçar ou jantar. Antes de seguirem viagem, retirava seus pertences e todo o equipamento do amigo: soltava-o para um banho de arroio ou riacho. Deixava-lhe solto, uma recompensa deveras agradável pela sua companhia e serviços prestados naquelas andanças, enquanto tomava o chimarrão em sua cuia de meio de litro. Depois de vinte minutos, assoviava e Amanhento já sabia que era hora de seguir viagem. Alaor colocava de volta os estribos e todos os pertences pendurados em pequenas bolsas que ficavam cutucando as ancas do cavalo. Montava em seu Amanhento e seguia aqueles caminhos que apenas ele conhecia. E seguia viagem, seguia e seguia, assoviando e cantarolando uma das músicas do amigo Gaúcho da Fronteira, a “Os Amores do Gaúcho”:
“E os que dizem que o gaúcho por machismo / Cuida o cavalo e descuida a sua amada / Mas mentira qualquer china sabe disso / Pois um gaúcho sem mulher não vale nada.”
Entre agudos e graves o velho Alaor demonstrava que algo em seu coração estava machucado. Uma briga conjugal quem sabe? Seria ele casado? Disso ninguém sabia. Será mesmo que ninguém? Ninguém seria curioso suficiente para questioná-lo daquelas andanças? Para toda reação, há uma ação. Sempre. É uma teoria física que não foge a regra em qualquer situação. O cavaleiro estaria na estrada por causa de uma prenda. Talvez um amor desgastado e terminado ou ainda à procura da futura dona de seus arreios desenhados de prata.
Era curioso, extremamente curioso, vê-lo para lá e para cá sem saber realmente o que ele procurava – disse um comerciante de beira da estrada da BR-734, próximo ao Povo Novo. Ainda falou que o Alaor parava sempre ali para um dedo de prosa e contava algumas coisas do seu passado, inclusive a história de Maritza, uma prenda que conhecera nos idos de 75, ainda em Alegrete.
“Ele me disse que a tal Maritza era uma mulher perfeita, amável aos cântaros. Enquanto me falava sobre a dita cuja, bebericava um licorzinho para aquecer-se do frio. Nem olhava para mim, ficava olhando o além e fazendo carinho no lombo do cavalo, o tal do Amanhento. Nunca vi cavalo mais bonito que aquele! E olha que pelas grandes distâncias percorridas, o bichinho deveria estar acabado, mas não” – falou o comerciante Fábio, desvendando em parte o mistério do cavaleiro misterioso.
Só poderia ser isso. As andanças pelas estradas alternativas tinham uma razão. Agora, um motivo palpável: Maritza. A tal prenda que o comerciante Fábio revelava. Poderia até ser outra mulher ou ainda outro motivo. Mas uma coisa é certa, haveria uma mulher na jogada. Um homem só faz loucuras pelas mulheres ou por um bom jogo de futebol. Por futebol, Alaor não andaria quilômetros, mas por algum rabo de saia ou ainda por um grande amor, decerto que sim. Era isso. Maritza. Sua Maritza. A prenda de sua adolescência que certamente lhe tirara as forças ao pensar nela.
Não era linda nem bonita tinha apenas um corpo bem delineado. Não servia para feia. Era o termo médio numa escala de beleza. Fábio ao reproduzir o diálogo do velho Alaor, fazia no ar as curvas de Maritza: um violão. Um violão pelo qual Alaor se apaixonou e carregou durante anos o amor incubado por tal prenda. Uma música que não vivera. Uma prenda que balançou o seu coração a ponto de fazer loucuras para procurá-la, ou não. Até porque nem o próprio Fábio sabia das andanças misteriosas do cavaleiro, nunca revelera a ninguém o motivo, a não pequenas histórias do passado, minúsculos indícios. Fábio sabia de Maritza e algumas outras coisas. Sabia mesmo que Alaor era gremista, pois o assunto em vigor sempre que o cavaleiro passava pelo Povo Novo era o futebol. Era gremista, um gremista de Alegrete, andarilho, apaixonado pelas andanças, por seu cavalo e, sobretudo, por um amor do passado de nome Maritza.
Mas a pergunta que não cala: qual seria o porquê daquelas intermináveis andanças do cavaleiro Alaor? Seria Maritza o motivo? Ele estava a procurá-la ou a esquecê-la?
Isso é o que você saberá amanhã no terceiro capítulo do folhetim “Estradas Alternativas”.
O cavalo o esperava, já sabia, já estava acostumado como funcionava aquele ritual de ir buscar água ou quando parava para almoçar ou jantar. Antes de seguirem viagem, retirava seus pertences e todo o equipamento do amigo: soltava-o para um banho de arroio ou riacho. Deixava-lhe solto, uma recompensa deveras agradável pela sua companhia e serviços prestados naquelas andanças, enquanto tomava o chimarrão em sua cuia de meio de litro. Depois de vinte minutos, assoviava e Amanhento já sabia que era hora de seguir viagem. Alaor colocava de volta os estribos e todos os pertences pendurados em pequenas bolsas que ficavam cutucando as ancas do cavalo. Montava em seu Amanhento e seguia aqueles caminhos que apenas ele conhecia. E seguia viagem, seguia e seguia, assoviando e cantarolando uma das músicas do amigo Gaúcho da Fronteira, a “Os Amores do Gaúcho”:
“E os que dizem que o gaúcho por machismo / Cuida o cavalo e descuida a sua amada / Mas mentira qualquer china sabe disso / Pois um gaúcho sem mulher não vale nada.”
Entre agudos e graves o velho Alaor demonstrava que algo em seu coração estava machucado. Uma briga conjugal quem sabe? Seria ele casado? Disso ninguém sabia. Será mesmo que ninguém? Ninguém seria curioso suficiente para questioná-lo daquelas andanças? Para toda reação, há uma ação. Sempre. É uma teoria física que não foge a regra em qualquer situação. O cavaleiro estaria na estrada por causa de uma prenda. Talvez um amor desgastado e terminado ou ainda à procura da futura dona de seus arreios desenhados de prata.
Era curioso, extremamente curioso, vê-lo para lá e para cá sem saber realmente o que ele procurava – disse um comerciante de beira da estrada da BR-734, próximo ao Povo Novo. Ainda falou que o Alaor parava sempre ali para um dedo de prosa e contava algumas coisas do seu passado, inclusive a história de Maritza, uma prenda que conhecera nos idos de 75, ainda em Alegrete.
“Ele me disse que a tal Maritza era uma mulher perfeita, amável aos cântaros. Enquanto me falava sobre a dita cuja, bebericava um licorzinho para aquecer-se do frio. Nem olhava para mim, ficava olhando o além e fazendo carinho no lombo do cavalo, o tal do Amanhento. Nunca vi cavalo mais bonito que aquele! E olha que pelas grandes distâncias percorridas, o bichinho deveria estar acabado, mas não” – falou o comerciante Fábio, desvendando em parte o mistério do cavaleiro misterioso.
Só poderia ser isso. As andanças pelas estradas alternativas tinham uma razão. Agora, um motivo palpável: Maritza. A tal prenda que o comerciante Fábio revelava. Poderia até ser outra mulher ou ainda outro motivo. Mas uma coisa é certa, haveria uma mulher na jogada. Um homem só faz loucuras pelas mulheres ou por um bom jogo de futebol. Por futebol, Alaor não andaria quilômetros, mas por algum rabo de saia ou ainda por um grande amor, decerto que sim. Era isso. Maritza. Sua Maritza. A prenda de sua adolescência que certamente lhe tirara as forças ao pensar nela.
Não era linda nem bonita tinha apenas um corpo bem delineado. Não servia para feia. Era o termo médio numa escala de beleza. Fábio ao reproduzir o diálogo do velho Alaor, fazia no ar as curvas de Maritza: um violão. Um violão pelo qual Alaor se apaixonou e carregou durante anos o amor incubado por tal prenda. Uma música que não vivera. Uma prenda que balançou o seu coração a ponto de fazer loucuras para procurá-la, ou não. Até porque nem o próprio Fábio sabia das andanças misteriosas do cavaleiro, nunca revelera a ninguém o motivo, a não pequenas histórias do passado, minúsculos indícios. Fábio sabia de Maritza e algumas outras coisas. Sabia mesmo que Alaor era gremista, pois o assunto em vigor sempre que o cavaleiro passava pelo Povo Novo era o futebol. Era gremista, um gremista de Alegrete, andarilho, apaixonado pelas andanças, por seu cavalo e, sobretudo, por um amor do passado de nome Maritza.
Mas a pergunta que não cala: qual seria o porquê daquelas intermináveis andanças do cavaleiro Alaor? Seria Maritza o motivo? Ele estava a procurá-la ou a esquecê-la?
Isso é o que você saberá amanhã no terceiro capítulo do folhetim “Estradas Alternativas”.
Um comentário:
Não sabia que estavas escrevendo assim, Marquinhos! Bacana.. linkado, já!
Quanto à dissertação.. nessas alturas não é de sorte que eu preciso mais, é de reza forte! :D
bjão!!
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