segunda-feira, 5 de maio de 2008

O Redentor


A questão não é o time ao qual o herói em questão pertence. Sem cores, escudos, histórias ou títulos passados. Certamente tal pessoa só é o que é hoje por causa de outras pessoas envolvidas – até porque a sua atividade é fruto do coletivo e não da ação individual. O herói tem um nome. Um nome forte que originaria o apelido dentro as quatro linhas: Fernandão, no extremo da grandeza oriunda do aumentativo que lhe alcunharam.

Um herói no futebol se faz da noite para o dia. Ele pode ser o destaque salvador nos últimos minutos de jogo como também pode ser o responsável pelo comando de seu time durante os noventa e possíveis outros minutos além do tempo regulamentar.

Um herói é aquele que salva e não pede retorno por suas atitudes. É aquele que engrandece o time o qual defende. Corre, toca, chuta; perde, cai, sua. Dá o último fôlego de oxigênio e, às vezes, até o sangue por causa do amor que agrega ao jogo e carrega no coração. No lado esquerdo do peito e, claro, na ponta das chuteiras.

Um herói é o maestro que rege outros dez ou mais companheiros. Tão importante quanto o técnico. Mais, não é apenas o responsável pela harmonia entre as peças em campo e do mecanismo sistemático das notas geradas. Ele é o supremo na hora das afinações e das conclusões. Ele coordena, ele decide. Ele manda.

Um herói é um mito. Aquele que todos não esquecem depois de gerações e gerações. Pelé, Zico e até o contestado Maradona. Na história colorada, muitos deles. Inclusive os com “f” iniciando suas inesquecíveis alcunhas: Falcão, Figueroa e Fernandão. Este último você conhece ou já ouviu falar, não é?

Mas como um bom herói não vive só de altos, o herói em questão neste texto, viveu um dos momentos mais baixos, tristes da vida de um jogador de futebol. Tal herói fora culpado por uma bola entregue nos últimos minutos do segundo tempo da primeira partida da final do Campeonato Gaúcho de 2008. Esgotado, segurou a bola no meio-campo; perdeu-a. No contra-ataque o time adversário, de camisetas verdes, oriundo de Caxias do Sul, emplacaria o gol que daria boa vantagem na segunda partida da final que se realizaria no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. A casa fortalecedora onde o herói recuperaria suas forças após tal fato.

Depois de três derrotas no Gaúchão de 2008 para o time verde de Caxias do Sul, o time vermelho da capital gaúcha precisaria ir contra os últimos resultados e enfrentar os polentas como se nenhum retrospecto fosse negativo. Os colorados haviam tomado cinco gols em três gols e não tinham feito nenhum. Nenhum. Mais do que o gol necessário para levar o jogo para os pênaltis, os vermelhos precisariam de dois gols sem levarem nenhum, para conquistarem o trigésimo oitavo Campeonato Gaúcho da história. De quebra, deixariam a touca verde para outros companheiros, talvez até co-irmãos.

Por mais que nessas horas as pernas de alguns tremam e a de outras firmem como se fossem verdadeiras estacas, ainda as pernas de outros entrariam em sintonia com pensamentos rápidos, tão rápidos quanto às flechas certeiras dos índios tupiniquins no exótico jeito de capturar peixes em rios. Nessas horas é que um herói se faz presente. A necessidade pelo seu raciocínio e por seu empenho se torna o foco da atenção de milhares de torcedores que o observavam com o pensamento abalado, mesmo sabendo de toda a sua história no time da capital. Muitos títulos, inclusive o Mundial de Clubes, o mais importante da história do clube.

Em uma semana passaria de atual vilão a herói novamente. Recuperaria sua posição e seu apelido. A soberanidade viera assim, de modo implacável. Sem análises possíveis para tamanha façanha do herói e, sobretudo, de outros companheiros que em campo lembraram os áureos tempos do futebol avassalador e ofensivo da década de 70, quando outros craques, heróis e mitos entravam em campo tabelando a bola de cabeça e marcando inesquecíveis gols no gramado do estádio Beira Rio. Uma nova versão entraria em cena, bem como um novo apelido: o Carrosel Colorado.

Ensurdecedor e inesquecível. Quatorze jogadores colorados giravam em campo para fazer o Carrosel dar voltas constantes e jogadas perfeitas à procura do placar necessário. Movimentos matemáticos, sistemáticos. O jovem Danny Moraes de cabeça, o desjejum de Nilmar, a precisão no gol de falta de Alex, o cabeceio certeiro do zagueiro Índio que além do seu gol ainda fizera um gol contra que nem fora notado, pelo contrário, fora aplaudido como forma de incentivo por mais de 50 mil pessoas no estádio e outras milhares ligadas na televisão, na internet e também nos rádios.

Sim. Ele fez gol. Melhor, gols. Três gols. Galgou a passos longos e firmes a sua melhor performance nos últimos anos que ostentou a camisa de número nove. O velho capitão Fernandão. O mito Fernandão. O herói Fernandão. Um parágrafo só para ele, sim. Um parágrafo emocionado não pelo time que tenho no coração, mas pelo exemplo que tal demonstra ao mundo de que é possível dar a volta por cima. A redenção fora alcançada em virtude não apenas de seus três tentos no placar, como também os mais de dezesseis suados quilômetros que correra no pesado e encharcado gramado da Padre Cacique. Mais três no placar e mais três motivos para a torcida consagrá-lo e defini-lo como o redentor.

Mas não havia parado por ai. Outro herói de outras conquistas ainda mostraria sua qualidade e sangue frio na hora de cobrar um pênalti. Clemer, o goleiro. A segurança das defesas, das reposições e das orientações no ataque. Todos pediram de pé a sua presença na marca do pênalti. Andrézinho – que havia sofrido o pênalti – dera sabiamente o lugar ao goleiro. Posicionara a bola para o arqueiro, cumprimentara-o e apenas observaria-o. Uma escolha certa. Com uma linda cobrança, no estilo cavadinha, faria o oitavo gol da épica goleada colorada no dia 4 de maio de 2008. Dando números finais ao placar e fim ao jogo.

Uma tarde ímpar digna de palmas incessantes em o placar fora exatamente como o jogo se apresentou. 8 a 1, sem desperdícios colorados. Uma tarde chuvosa de gramado pesado onde quatorze jogadores colorados pisaram e carregavam em seu peito a camisa branca do time da Beira-Rio, uma camisa acostumada a títulos e a outros destaques e até heróis como fora Adriano Gabiru na final do Mundial contra aquele time espanhol. Uma camisa aos bravos e destemidos campeões impulsionados pela garra, paixão e tesão pelo o que fazem, enquanto nas arquibancadas, em frente às televisões e outros com os tímpanos no rádio, milhares torciam pelo sucesso do seu time do coração comandando pelo ímpar e multi-campeão Abel Braga.

O segredo da vitória nem os Deuses do futebol poderiam explicar como funcionara tal feito. Poderiam dar demonstrações talvez, assim como a que ocorrera no Beira-Rio, onde o coletivo dera resultados expressivos transformando Clemer; Índio, Orozco, Marcão; Bustos, Jonas, Danny Moares; Magrão, Alex, Andrézinho Guiñazu; Nilmar, Fernandão e Iarley em verdadeiros heróis, sem contar aqueles que estavam no banco de reservas e no departamento médico. O coletivo. É esse o segredo! O segredo da multiplicação de heróis e do melhor mecanismo nos campos de futebol do mundo.

É, o herói é o maestro, o mito e o destaque. E, às vezes, acaba sendo até o redentor. Um dia é a cobaia, no outro é extremo de importância. Assim é Fernando Lúcio da Costa, o craque número nove da camisa colorada, que regeu como qualificado maestro e capitão as outras estrelas coloradas. Exemplo não somente para os colorados, mas também um ícone para todas as representações das mais diversas áreas, pessoais e profissionais, de um homem batalhador que sabe demonstrar o seu potencial através de toques, chutes, cabeceios, desarmes, companheirismo e até das palavras, palavras de um homem e eterno guri.

Ele, o herói Fernandão, o capitão do Sport Club Internacional, o clube com maior número títulos da história rio-grandense e, agora, detentor do trigésimo oitavo título do Campeonato Gaúcho.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bah Marquinhosss, a vitória do NOSSO colorado realmente foi maestral, digna de um campeão mundial...Fiquei estarrecida de tantos gols!!!
;)
E quanto a um comentário que me fizeram semana passada, em relação a uma tal touca, te digo: Nem touca, nem cachecol nem pantufa...rsrsrs. E, não podemos nos esquecer que forão nove gols, não é?! Pois gol contra não vale!!!
Um beijo e saudações coloradas prá ti guri :)
"Colorado, colorado...nada vai nos separar somos todos teus seguidores para sempre EU vou te AMAR"...

Anônimo disse...

Tive que vir dar parabéns pelo 7x1! Dessa vez admito, mereceram... Mas como disse, foi 7x1... pq aquele 3º gol tava impedido! Ahhhhh, esse tava!
Huaihauihauihauihauihauiha
Beijos!

Anônimo disse...

Prefiro não comentar, fiquei emocionada. :P
E eu não posso chorar aqui na faculdade! hUIHAuiA
QUE ORGULHO DO NOSSO INTER!
Beijo Kito!!
=**