Todos os dias, nós alunos do saudoso Instituto Cristo Rei, presenciávamos a mesma cena na hora da saída: a velha carrocinha do Tio do Sorvete estacionada bem na frente da porta. Lá ficava ele esperando, apoiado no guidon improvisado da carrocinha, ostentando um sorriso contido no rosto, um tanto escondido por um imponente bigode que preservava talvez desde sua adolescência.
Quando estávamos em aula e escutávamos a buzina, fom! fom! foooom! – nesta mesma seqüência – já sabíamos que ele estava chegando e trazendo os sorvetes e picolés fabricados no fundo de quintal de alguma casa do BGV. Era um código que funcionava, uma tática de marketing das mais simples e que nos conquistava. Do troco do lanche do intervalo, o R$ 1 real de troco ficava no estojo, aguardando como destino o bolso do mais conhecido por Tio do Sorvete e menos conhecido por Satil.
O sucesso daqueles picolés e sorvetes eram avassaladores. Talvez mais conhecidos e bem sucedidos do que a praga do Pogoboll ou dos Cavaleiros do Zodíaco da época. Morango, uva, abacaxi, acerola, maça, caramelo, chocolate preto, chocolate branco e até o especial: o de banana. Era espetacular. Nem a Kibon ou a Nestlé tinham aquele sabor – e até hoje creio que não inventaram o tal picolé de banana.
Com o passar das estações, quando chegava o inverno, o Tio do Sorvete não vendia a mesma quantidade dos saborosos produtos, óbvio. Investia em outras guloseimas e produtos mais adequados para serem vendidos no inverno. Na primeira vez que o vimos na saída com uma cachorrinha de pipoca não acreditamos e o abordamos para saber o motivo. Em poucas palavras ele resumiu aquilo que ainda não tínhamos muita noção com oito, nove anos de idade:
- Culpa da inflação!
Inflação? Mas que diabos é isso? O Ítalo, antenado que era, resumiu para o resto do grupo que a inflação era uma taxa que nós pagávamos – na verdade os nossos pais, não? – em cima do preço total do produto. Esperto ele, muito. Mesmo assim, ficamos sem entender e acabamos experimentando as pipocas do Tio do Sorvete, agora também da Pipoca e do Amendoim. Uma delícia. Continuamos seus clientes por muito tempo, até que chegada a primavera ele inovou e mudou mais uma vez o tipo de produto.
Churros? A galera na hora da saída ficou em dúvida, se entreolharam, balbuciaram algumas palavras devido à surpresa e... correram para a volta da carrocinha do Tio do Sorvete, da Pipoca e Amendoim e agora também do Churros. Uma fila indiana se formou depois da ordem dele para nos organizarmos a fim de sermos atendidos. Uns 12 ou 13 na fila. Um espetáculo. E a fila crescia mais e mais. Éramos dependentes dos produtos do Tio Satil, o marketing em pessoa na hora de pensar nos negócios.
Tivemos a surpresa no primeiro ano das trocas dos produtos, mas nos anos seguintes já estávamos preparados para a troca das iguarias fabricas por ele. Carrocinhas diferentes e preços atrativos sempre nos chamavam a atenção. Um dinheirinho economizado no intervalo e um lanchinho garantido na saída. Viu só? Tínhamos a noção de economia desde pequenos, o colégio realmente nos ensinava além das aulas de matemática com o querido e saudoso Professor Armando.
Sustentamos o Tio das Guloseimas praticamente durante uns quatros anos na hora da saída do Instituto Cristo Rei. Durante esse tempo saíamos correndo, nos atropelando, para comprarmos daquele afro-descendente risonho, de pulôveres coloridos listrados no inverno e de camisetas de propagandas políticas no verão, sempre ostentando bonés de lojas de tintas independente da estação. Ele não era calvo, disso sabíamos.
Nos quatro anos iniciais – sim, porque depois ele acompanhou a nossa muda para outros colégios em conseqüência do nosso colégio não ter o Ensino Médio – o preço das iguarias nunca subia. Os preços eram de R$ 0,50 centavos para picolés de frutas, churros e amendoins e de R$ 1,00 para os picolés de chocolate e pacotes grandes de pipoca doce ou salgada, sem contar nas balas e chicletes que não ultrapassavam os R$ 0,10 centavos. Depois quando nós, seus fiéis clientes, nos mudamos para o Santa Joana d’Arc, os preços de todas as guloseimas aumentaram. E sabe qual foi a resposta dele quando o abordamos sobre o aumento?
- Culpa da inflação!
A nossa dependência pelas guloseimas continuou até o final do terceiro ano, claro, crescemos com aquilo e tentamos manter até quando podíamos. O Tio do Sorvete – independente dos outros produtos vendidos – também fora vítima da inflação dos insumos para fabricar suas relíquias doces e salgadas no fundo do seu quintal. De tão famoso, até comunidade no Orkut criaram. Talvez pelo deslumbre do sucesso, dizem por aí que ele pisou em cascas de banana e derrapou, assediando uma criança, mas até hoje nada foi confirmado e ele continua por ai vendendo seus doces e salgados pelas saídas dos colégios de Rio Grande.
Assim como o aumento de 10% no preço da gasolina e de 15% no preço do óleo diesel, até o Tio do Sorvete também sofria com a crescente nos valores dos insumos para as suas iguarias. E, hoje, assim como naquela época, continuaremos dependentes, porém, desta vez, já temos ciência do que é e de como funciona a maledeta da inflação brasileira. Como um holocausto, ela atinge a tudo e a todos. Até o Tio do Sorvete...
Quando estávamos em aula e escutávamos a buzina, fom! fom! foooom! – nesta mesma seqüência – já sabíamos que ele estava chegando e trazendo os sorvetes e picolés fabricados no fundo de quintal de alguma casa do BGV. Era um código que funcionava, uma tática de marketing das mais simples e que nos conquistava. Do troco do lanche do intervalo, o R$ 1 real de troco ficava no estojo, aguardando como destino o bolso do mais conhecido por Tio do Sorvete e menos conhecido por Satil.
O sucesso daqueles picolés e sorvetes eram avassaladores. Talvez mais conhecidos e bem sucedidos do que a praga do Pogoboll ou dos Cavaleiros do Zodíaco da época. Morango, uva, abacaxi, acerola, maça, caramelo, chocolate preto, chocolate branco e até o especial: o de banana. Era espetacular. Nem a Kibon ou a Nestlé tinham aquele sabor – e até hoje creio que não inventaram o tal picolé de banana.
Com o passar das estações, quando chegava o inverno, o Tio do Sorvete não vendia a mesma quantidade dos saborosos produtos, óbvio. Investia em outras guloseimas e produtos mais adequados para serem vendidos no inverno. Na primeira vez que o vimos na saída com uma cachorrinha de pipoca não acreditamos e o abordamos para saber o motivo. Em poucas palavras ele resumiu aquilo que ainda não tínhamos muita noção com oito, nove anos de idade:
- Culpa da inflação!
Inflação? Mas que diabos é isso? O Ítalo, antenado que era, resumiu para o resto do grupo que a inflação era uma taxa que nós pagávamos – na verdade os nossos pais, não? – em cima do preço total do produto. Esperto ele, muito. Mesmo assim, ficamos sem entender e acabamos experimentando as pipocas do Tio do Sorvete, agora também da Pipoca e do Amendoim. Uma delícia. Continuamos seus clientes por muito tempo, até que chegada a primavera ele inovou e mudou mais uma vez o tipo de produto.
Churros? A galera na hora da saída ficou em dúvida, se entreolharam, balbuciaram algumas palavras devido à surpresa e... correram para a volta da carrocinha do Tio do Sorvete, da Pipoca e Amendoim e agora também do Churros. Uma fila indiana se formou depois da ordem dele para nos organizarmos a fim de sermos atendidos. Uns 12 ou 13 na fila. Um espetáculo. E a fila crescia mais e mais. Éramos dependentes dos produtos do Tio Satil, o marketing em pessoa na hora de pensar nos negócios.
Tivemos a surpresa no primeiro ano das trocas dos produtos, mas nos anos seguintes já estávamos preparados para a troca das iguarias fabricas por ele. Carrocinhas diferentes e preços atrativos sempre nos chamavam a atenção. Um dinheirinho economizado no intervalo e um lanchinho garantido na saída. Viu só? Tínhamos a noção de economia desde pequenos, o colégio realmente nos ensinava além das aulas de matemática com o querido e saudoso Professor Armando.
Sustentamos o Tio das Guloseimas praticamente durante uns quatros anos na hora da saída do Instituto Cristo Rei. Durante esse tempo saíamos correndo, nos atropelando, para comprarmos daquele afro-descendente risonho, de pulôveres coloridos listrados no inverno e de camisetas de propagandas políticas no verão, sempre ostentando bonés de lojas de tintas independente da estação. Ele não era calvo, disso sabíamos.
Nos quatro anos iniciais – sim, porque depois ele acompanhou a nossa muda para outros colégios em conseqüência do nosso colégio não ter o Ensino Médio – o preço das iguarias nunca subia. Os preços eram de R$ 0,50 centavos para picolés de frutas, churros e amendoins e de R$ 1,00 para os picolés de chocolate e pacotes grandes de pipoca doce ou salgada, sem contar nas balas e chicletes que não ultrapassavam os R$ 0,10 centavos. Depois quando nós, seus fiéis clientes, nos mudamos para o Santa Joana d’Arc, os preços de todas as guloseimas aumentaram. E sabe qual foi a resposta dele quando o abordamos sobre o aumento?
- Culpa da inflação!
A nossa dependência pelas guloseimas continuou até o final do terceiro ano, claro, crescemos com aquilo e tentamos manter até quando podíamos. O Tio do Sorvete – independente dos outros produtos vendidos – também fora vítima da inflação dos insumos para fabricar suas relíquias doces e salgadas no fundo do seu quintal. De tão famoso, até comunidade no Orkut criaram. Talvez pelo deslumbre do sucesso, dizem por aí que ele pisou em cascas de banana e derrapou, assediando uma criança, mas até hoje nada foi confirmado e ele continua por ai vendendo seus doces e salgados pelas saídas dos colégios de Rio Grande.
Assim como o aumento de 10% no preço da gasolina e de 15% no preço do óleo diesel, até o Tio do Sorvete também sofria com a crescente nos valores dos insumos para as suas iguarias. E, hoje, assim como naquela época, continuaremos dependentes, porém, desta vez, já temos ciência do que é e de como funciona a maledeta da inflação brasileira. Como um holocausto, ela atinge a tudo e a todos. Até o Tio do Sorvete...
3 comentários:
Poh pior eu acho q todo mundo conhece o tio!! e esse papo de criancinha ai pfff se fosse mesmo verdade o tio tava preso já faz horas, pois coisa mais fácil seria achá-lo em caso de uma queixa... As pessoas deveriam pensar um pouco mais antes de dizer essas coisas hehehe bom bacana o texto me fez lembrar de fato o tio mesmo...
Abração Marcos
hauiaHIUAhiuahIUOHAouihauIHAUI
Não tem quem não conheça o tio do sorvete! Sério! Só não sei como ele consegue estar em 532 lugares ao mesmo tempo, porque ele tava sempre na saída do Helena Small e depois na do Bibiano de Almeida, fora quando eu não o via nas saídas de outros colégios vendendo aqueles ricos produtos que eu adoraaaava! Porém, um belo dia ele me trovou e eu nunca mais cheguei perto dele. '¬¬ Mas eu não sou a criança assediada do teu texto! aHUAIhuaiHUAI
Bah, figuras assim não tem valor! Não por serem pessoas boas ou não, e sim porque marcam toda a nossa infância de uma forma singela. Quem diria que a gente iria se lembrar sempre do 'tio do sorvete'? :)
Beijo Kito!!
=***
To perdido, cara!!
sinceramente, não lembro de tais palavras atribuidas a minha pessoa!! Mas é bom lembrar que sempre estive "antenado", como disse... hehehehe
Cara, tu tens uma memória de dar inveja. Lembro de alguns lances sobre nossas saídas da escola, geralmente cada um para um lado, em busca de seus pais a espera na porta. Estudamos juntos por 3 anos, foram anos incríveis. Esquecer posso até esquecer desses anos, mas dos amigos e mais que isso do irmão que és vc, nunca esquecerei...
Parabens, pelo texto!!!
abraços
Postar um comentário