quarta-feira, 14 de maio de 2008

Estradas Alternativas - Capítulo III


Um homem só desiste uma mulher quando ela não o olha nos olhos, esconde os olhares através de pequenos desvios ou ponto fixos, que servem como escapatórias quando precisam inventar alguma história. Seria Maritza uma mulher dessas? Alaor decerto preferira seguir sua vida com outras prendas, tomando rumos de outras querências. E fez isso.

Segundo Fábio, amigo de Alaor, o cavaleiro tivera um relacionamento com outra mulher, Deise, mas de que não havia falado muitas coisas. Havia lhe dito que era uma rapariga de muitas qualidades, mas um defeito dos grandes: era colorada. Mas um defeito superado pelos anos de convívio. Trezes anos de muitas aparadas de bigode e bombachas bem passadas. Treze anos de convivência conjugal com todos os tpm’s possíveis. Se a mulher brasileira tem expectativa de vida de 75 anos e tem em média 400 períodos em vida, Alaor havia suportado treze anos, repito: tre-ze anos. Um campeão.

Não havia cansado depois daqueles treze anos de muitos conflitos pré-menstruais. O motivo da briga que causou a separação era simples: Alaor detestava ser chamado de burro. E Deise fazia isso. Quando seu homem chegava em casa depois da lida do campo, com as botas sujas e com o chapéu com marcas suor, ia entrando em casa desesperado por uma água quente para tomar o velho mate. Ela tanto insistia todos os dias:

- Homem de Deus, já não te disse para não entrar em casa com as botas sujas desse jeito? Burro! Não aprende nunca! Burro!

Burro. Burro. Burro. Aquela palavra ficava martelando a sua cabeça como ele a lançasse contra a parede. Que raiva dessa mulher! – pensava. Não tomava nenhuma providência e nem mudava suas ações no dia seguinte. Teimoso. Era sempre a mesma história de burro para cá e burro para lá. Não levantava um dedo para ela, baixava a cabeça como se aceitasse aquilo e rumava para o banho, antes passava no quarto, pegava o radinho e sintonizava em rádios castelhanas. Adorava músicas castelhanas. Ao som delas refletia durante o banho, enquanto Deise preparava a janta e limpava o rastro de barro e pequenos arbustos que Alaor tinha trazido presos nas esporas.

Ficava ali cantarolando e assoviando. Pensava no que? Em quem? Decerto, o pensamento do velho cavaleiro só podia ter um nome: Maritza. Compará-la com Deise em pensamento. Uma era boa no fogão; a outra se destacava nos dotes pessoais. Enquanto Maritza lhe chama de meu negro, Deise lhe afundara buraco adentro com aquele burro quando fazia algo errado. Ah se fosse a Maritza! Que saudade! – Alaor pensara e sorrira instantaneamente banhando-se por uma água morna quase fria, vinda do chuveiro de ferro. Ela era seu verdadeiro amor. Sua “nêga”, como gostava de chamá-la.

Não dera nem dois meses e numa bela manhã de sol, em pleno amanhecer, em vez de ir trabalhar, pescara silenciosamente do armário algumas roupas e saíra sorrateiramente da casa habitada por ele, Deise e uma dúzia de cachorros. Malditos cachorros pensaria depois na hora de abandonar a casa. Latidos e pulos de bichos sinceros, mas que naquele momento seriam desnecessários para a fuga. Alaor! Estás ai? Esses latidos são para ti? – gritou uma voz ainda vestida de sono de dentro da casa.

Alaor resistiu por mais uma semana e sempre quando saíra para trabalhar pensava duas vezes: “Será que devo? Será que vale a pena? Na verdade queria voltar no tempo e dar o amor mais perfeito para Maritza. Sentia-se culpado. Sim, sentia-se muito culpado. Afinal, ele havia abandonado Maritza depois de uma crise de ciúmes por causa do irmão dela que aparecera de repente enquanto Alaor estava às voltas com Amanhento para trocar-lhe as ferraduras. Fora uma cena de cinema: chegara em casa e vira Maritza abraçada a um homem e dando giros constantes de alegria. Não titubeou: lançou-lhe uma ferradura na cabeça do cidadão e enxotou-o de lá aos tiros e gritos. Tiros. Um deles atingira a canela de Matias. Atirou sem piedade, piedade nenhuma.

Tinha ficado cego. Não escutou sua amada e muito menos Matias que lhe suplicava atenção. Atacou e atirou como um soldado guerrilheiro e ganhou, por opção, o vazio em seus braços logo após abandonar o ninho de amor dos dois. Simplesmente por causa do irmão de Maritza, Alaor a largaria no mundo e começaria a seguir outros rumos, encontrando a tal Deise de quem até se apaixonara, mas depois dos tais treze anos, aqueles meses e aquela semana extra, sentira o gosto amargo do repudio. Largou-a numa noite de inverno, já que nos dias não conseguira. Preferira a lua como a sua guia e a estrada e o velho Amanhento como seus companheiros. Não era burro, definitivamente não era.




Mas qual seria ainda a razão para o velho Alaor estar na estrada? Abandonara um amor e uma paixão. Estaria à procura de outra prenda ou de alguém do passado? Em qual querência iria parar? Isso é o que você saberá no próximo capítulo do folhetim “Estradas Alternativas”.

Um comentário:

Narca disse...

Mas o Alaor tá mexendo muito com minha imaginação!!!! Hehehehe
Tô curiosa pra saber o que o leva a sair por aí sem destino, será mesmo a Maritza?? Aiii, já imaginei muitas coisas!!!
Beijossss pra ti!!
Tô esperando o próximo capítulo!!!