Enquanto que tudo e também nada acontecia na casa de Paulinha, Alaor nem lembrara muito do amigo Amanhento que havia abandonado no pátio da casa da morena. Por prazer, o homem se esquece de tudo, até dos amigos. Doze horas depois, certamente o cavalo não estaria lhe esperando. As pessoas não têm paciência de esperar nem quinze ou vinte minutos em uma fila de banco, imagine um cavalo esperar pelo dono quase doze horas?
Amanhento bebeu sua água e comeu quase todos os arbustos verdes comestíveis do pátio da frente da casa. Comeu também os da casa ao lado e o da outra e também o da outra, claro. Depois de quilômetros de andanças, estava louco de fome. De uma casa em outra, pelo tempo que caminhara, seu organismo fizera a digestão, ou melhor dizendo pela lógica: tudo que entra alguma hora tem de sair. E saiu. A calçada do lado direito de quem entrava no Parque Marinha tinha um rastro de montões verdes, empilhados, seguidos e alguns até arrastados. Quem passasse por ali ou até do outro lado da rua sentiria de longe o fétido odor dos bolos fecais.
E esse era o motivo da campainha na casa de Paulinha.
- Bleeeem, bloooom! – gritava a campainha. E de novo:
- Bleeeeeeem, blooooooom! – com o dedo afogado no interruptor.
Alaor, lá dentro, embaixo do lençol torcia para que o querido monstrinho ao seu lado não acordasse ou se acordasse não o visse. Paulinha deveria estar com as mãos ocupadas, cortando uma cebola para aquele almoço tardio ou picotando o charque. E mais uma batida na porta, desta vez, acompanhada de gritos:
- Bleeeem, bloooom! Ô de casa!
Depois de três batidas na campainha, e a última acompanhada de gritos estridentes femininos, de repente, o monstro acordou e pulou da cama, correndo ensandecido até a porta principal da casa. Latidos e latidos. Sem sombra de dúvida, as preces de Alaor haviam sido atendidas. O cachorro havia saído da cama e agora poderia ele sair do quarto ou ao menos trancar a porta até bolar um novo plano de fuga da casa morena.
Era a dona Lurdes – sim, a esposa do amigo Carlos Alberto. A vizinha mais fofoqueira da quadra. O telejornal, a revista e o impresso em pessoa. Diziam que a dona Lurdes por ser a dona da Fruteira Internacional, um ponto de referência no bairro, sabia de tudo o que acontecia no bairro e nas proximidades dele. Era um jornal ambulante que perambulava para lá e para cá nos portões das casas vizinhas servindo de pombo correio e também de uma espécie de Sônia Abrão alternativa.
- Oi dona Paula, tudo bem?
- Claro Lurdes! Mas o que te traz aqui à uma hora dessas?
- Pois é, Paula! Desculpa estar te perturbando, mas o teu cavalo, bem como posso dizer...
- Não é meu não...
- Não? Mas ele estava no teu pátio desde hoje cedinho!
- É de um a-a-amigo... – quase titubeou ao falar amigo.
- Pois bem, que seja... ele defecou em toda a calçada do nosso lado. Os clientes da Fruteira e o pessoal do bairro ficaram reclamando do cheiro e também das crianças que nem puderam brincar pelas calçadas.
- Obrigado dona Lurdes, vou dar um jeito nisso, ok?
- Está bem... mas me conta querida, quem é o teu amigo hein?
- Até mais ver dona Lurdes – encerrou Paula com aquela conversa de porta e futricos.
Vizinhas realmente são pessoas muito informadas, bem como os porteiros, jornaleiros e até leiteiros em outros tempos. Com toda a razão o motivo da reclamação, mas por que cargas d’água, dona Lurdes já tinha que ficar sabendo do affair de Paula? Bem, ao menos ela havia servido de motivo para Alaor voar da cama e encerrar-se no quarto, esperando que Paula o salvasse daquele pit-bull de quase cinqüenta quilos.
Batera na porta e nada. De novo e a mesma coisa. Estava livre do cachorro, mas não da fome e do desejo de ter um maior diálogo com Paula. Quando pensava estar quase livre e, de quebra, ganhar um almoço temporão, mais essa da morena não escutá-lo pedir ajuda. Pensou em abrir a porta, porém relutou. Numa dessas o bichano fora mais forte e empurraria a porta e nhac! em suas canelas ou até em suas nádegas.
- Paulaaaaaaaa – gritava Alaor, com muitos a’s, clamando por atenção, por socorro.
Nada adiantara, pelo contrário, tudo pioraria em questão de um estralo de dedos: faltara luz. Não somente no Parque Marinha, bem como em toda a cidade do Rio Grande para uma manutenção da CEEE nos cabos de alimentação da cidade. Alaor estava às escuras, com os olhos estralados. Nem a singela luz vinda do horizonte já estrelado iluminava suficiente o quarto dos prazeres.
Agora o desespero realmente batera para valer: Alaor em território desconhecido, sem luz, com sede, com medo e com fome. Muita fome, mesmo.
Mais sobre esta história? Confira amanhã no décimo primeiro capítulo do folhetim "Estradas Alternativas". Chega a dar pena do Alaor, mas é a vida, ou melhor, a literatura!
Amanhento bebeu sua água e comeu quase todos os arbustos verdes comestíveis do pátio da frente da casa. Comeu também os da casa ao lado e o da outra e também o da outra, claro. Depois de quilômetros de andanças, estava louco de fome. De uma casa em outra, pelo tempo que caminhara, seu organismo fizera a digestão, ou melhor dizendo pela lógica: tudo que entra alguma hora tem de sair. E saiu. A calçada do lado direito de quem entrava no Parque Marinha tinha um rastro de montões verdes, empilhados, seguidos e alguns até arrastados. Quem passasse por ali ou até do outro lado da rua sentiria de longe o fétido odor dos bolos fecais.
E esse era o motivo da campainha na casa de Paulinha.
- Bleeeem, bloooom! – gritava a campainha. E de novo:
- Bleeeeeeem, blooooooom! – com o dedo afogado no interruptor.
Alaor, lá dentro, embaixo do lençol torcia para que o querido monstrinho ao seu lado não acordasse ou se acordasse não o visse. Paulinha deveria estar com as mãos ocupadas, cortando uma cebola para aquele almoço tardio ou picotando o charque. E mais uma batida na porta, desta vez, acompanhada de gritos:
- Bleeeem, bloooom! Ô de casa!
Depois de três batidas na campainha, e a última acompanhada de gritos estridentes femininos, de repente, o monstro acordou e pulou da cama, correndo ensandecido até a porta principal da casa. Latidos e latidos. Sem sombra de dúvida, as preces de Alaor haviam sido atendidas. O cachorro havia saído da cama e agora poderia ele sair do quarto ou ao menos trancar a porta até bolar um novo plano de fuga da casa morena.
Era a dona Lurdes – sim, a esposa do amigo Carlos Alberto. A vizinha mais fofoqueira da quadra. O telejornal, a revista e o impresso em pessoa. Diziam que a dona Lurdes por ser a dona da Fruteira Internacional, um ponto de referência no bairro, sabia de tudo o que acontecia no bairro e nas proximidades dele. Era um jornal ambulante que perambulava para lá e para cá nos portões das casas vizinhas servindo de pombo correio e também de uma espécie de Sônia Abrão alternativa.
- Oi dona Paula, tudo bem?
- Claro Lurdes! Mas o que te traz aqui à uma hora dessas?
- Pois é, Paula! Desculpa estar te perturbando, mas o teu cavalo, bem como posso dizer...
- Não é meu não...
- Não? Mas ele estava no teu pátio desde hoje cedinho!
- É de um a-a-amigo... – quase titubeou ao falar amigo.
- Pois bem, que seja... ele defecou em toda a calçada do nosso lado. Os clientes da Fruteira e o pessoal do bairro ficaram reclamando do cheiro e também das crianças que nem puderam brincar pelas calçadas.
- Obrigado dona Lurdes, vou dar um jeito nisso, ok?
- Está bem... mas me conta querida, quem é o teu amigo hein?
- Até mais ver dona Lurdes – encerrou Paula com aquela conversa de porta e futricos.
Vizinhas realmente são pessoas muito informadas, bem como os porteiros, jornaleiros e até leiteiros em outros tempos. Com toda a razão o motivo da reclamação, mas por que cargas d’água, dona Lurdes já tinha que ficar sabendo do affair de Paula? Bem, ao menos ela havia servido de motivo para Alaor voar da cama e encerrar-se no quarto, esperando que Paula o salvasse daquele pit-bull de quase cinqüenta quilos.
Batera na porta e nada. De novo e a mesma coisa. Estava livre do cachorro, mas não da fome e do desejo de ter um maior diálogo com Paula. Quando pensava estar quase livre e, de quebra, ganhar um almoço temporão, mais essa da morena não escutá-lo pedir ajuda. Pensou em abrir a porta, porém relutou. Numa dessas o bichano fora mais forte e empurraria a porta e nhac! em suas canelas ou até em suas nádegas.
- Paulaaaaaaaa – gritava Alaor, com muitos a’s, clamando por atenção, por socorro.
Nada adiantara, pelo contrário, tudo pioraria em questão de um estralo de dedos: faltara luz. Não somente no Parque Marinha, bem como em toda a cidade do Rio Grande para uma manutenção da CEEE nos cabos de alimentação da cidade. Alaor estava às escuras, com os olhos estralados. Nem a singela luz vinda do horizonte já estrelado iluminava suficiente o quarto dos prazeres.
Agora o desespero realmente batera para valer: Alaor em território desconhecido, sem luz, com sede, com medo e com fome. Muita fome, mesmo.
Mais sobre esta história? Confira amanhã no décimo primeiro capítulo do folhetim "Estradas Alternativas". Chega a dar pena do Alaor, mas é a vida, ou melhor, a literatura!
3 comentários:
OI MARQUINHOS!!!
TO ADORANDO O TEU FOLHETIM,TÁ BOM D+!!!FICO ANCIOSA PELO PROXIMO CAPITULO E COM UMA BAITA CURIOSIDADE D SABER O FINAL...
Ñ DÁ P ADIANTAR P OS AMIGOS O FINAL??RSRSRS
BRINCADEIRINHA!!!!
TE ADORO!!!!
BJÃO!!!!!!!
Bendita hora em que o Alaor foi cair em tentação, hein?? Desde então tudo tomou um rumo muito estranho...probrezinho!!! Hehehehe
Mal posso esperar para ler o próximo!!!
Beijos, beijos e beijoss!!!
Gosto do escuro...parabéns! bom texto. bj
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