quinta-feira, 26 de junho de 2008

Ela Sabia de Tudo - Capítulo X


Adelaide não era uma mulher de se jogar fora. Não mesmo. Estava na “primeira fase dos enta”. Quarenta. Quarenta e seis. Cinco a menos que o marido. Era loira, era médica. Uma gastroenterologista. Uma médica que se mantinha jovial, independente da idade dos plantões da profissão. Freqüentava academias e até danças de salão. Uma mulher que ainda fazia alguns moleques do colégio Lemos Júnior suspirar quando passava pelas calçadas que fronteavam o colégio.

Gostava daquilo. Gostava muito. Muito mesmo. Mas só por causa que seu ego se preenchia com aqueles suspiros todas as manhãs quando retornava do consultório a pé ou quando saía para dar uma corrida no canalete da Salgado Filho. Pequenos, ainda moleques de quinze a vinte e dois anos, suspiravam pelas curvas ainda firmes e formas rijas de Adelaide que, de quando em vez, arriscava uma dessas calças coladinhas, das elásticas, que alguns atualmente chamam de Rala Bela ou Rala Moça.

- Que pernas! – elogiavam uns.
- Lindaaa! – gritavam outros.
- Gostosaaaa! – berravam alguns.

Era uma mulher decidida. Tanto que ao fazer quarenta anos decidiu mudar a sua vida e seus hábitos no dia-a-dia. Quem a olhava há seis anos, não diria ser a mesma mulher. Antes, cabelos com volume, com pontas duplas. Barriga sobressalente e pior: quase caída sobre as calças. Roupas dos anos oitenta com calças boca de sino e blusas com a gola até as orelhas, em plena primavera quase verão, sem contar os costumes desleixados em relação à alimentação.

No consultório, distribuía dicas e orientações para as suas pacientes que a procuravam no querendo curas de um dia para o outro quando os problemas eram dores estomacais, prisões de ventre e, por conseqüência, a tal da barriguinha indesejada.

Mas Adelaide mudou. Resolveu mudar. Via-se refletida em suas pacientes, com hábitos alimentares ruins e descuidada totalmente. Aos quarenta anos e deste jeito? É hora de mudar! – analisou-se no espelho, depois de uma consulta no final de 2002. Pá-pum!. Decidiu e mudou.

Rejuvenesceu.

Adelaide havia se tornado uma nova mulher. Uma médica, mãe de dois filhos e a administradora do lar já que Francisco pouco freqüentava em função do trabalho, do cargo de major. Começou trocando as frituras de pastéis e bifes por frutas e verdes. Mamões e mangas; alfaces e rúculas. Junto com a alimentação entrou para a academia e fazia de tudo que Vera, a personal trainner, indicava. Saía do consultório, pegava as crianças na escola, as largava na casa de dona Alzira, e seguia para os exercícios. Também mudou seus horários: acordava-se às 7h, corria das 7h30 às 8h30 e às 9h já estava prescrevendo Pariet e Motilium para seus pacientes com gastrites nervosas e refluxos.

Apesar de seu nome ter sido dado em homenagem à velha capital da Austrália Meridional, fundada em 1836, não ostentava mais ações tão antigas, desregradas. Em alguns anos, deixou de ser aquela mulher atrás de seu tempo que só se preocupava com os filhos e com as pacientes. Três anos com as novas regras já lhe foram suficientes para a nova Adelaide vigorar, a nova e também o novo capital da Benjamin Constant, da cidade de Rio Grande.

E hoje, com 46 anos - seis anos após a civilidade física, moral e social -, Adelaide, arranca suspiros de qualquer torcida. Da torcida dos garis e dos pedreiros que vivem fazendo competições de psius e assovios quando ela passa levantando as vassouras e os tijolos dos dois grupos. O marido não gosta nada, nada, mas tem que agüentar. Ainda mais quando ele a vê, de papo, com Renê, em algum dos portões do edifício Villwock.



Coitado do Francisco quando ver a sua esposa de papo, de banho tomado e, mais uma vez, com Renê no portão do Edifício Villwock. Isso é o que você saberá na seqüência deste folhetim, aqui, no Palavra de Guri.

Um comentário:

Narca disse...

Bah,deve ser muito bom para o ego mesmo "arrancar" elogios assim quando se é mais experiente, hehehe. Espero ser como a Adelaide, hihihi (apesar de que essa mudança poderia vir mais cedo, pelo vinte). :p