sexta-feira, 27 de junho de 2008

Ela Sabia de Tudo - Capítulo XI


Francisco agüentava. E agüentava firme, pois sabia que não tinha moral nenhuma com a mulher. Aliás, até tinha, mas muito pouco. Desde que teve um affair com uma tal de Juliana que trabalhou na casa dos Martinatto nos idos de 1999, Adelaide não era mais a mesma. Dera uma chance ao marido sim, pois acreditava que as pessoas poderiam mudar com uma segunda chance. Mas não. Para um bom leitor, uma simples dica basta.

Tomava no peito cada conversinha da esposa com qualquer outro homem e mantinha-se rijo como um poste. Não atacava, não questionava e ficava bem quietinho. Era um major no trabalho, mas em casa, os escalões não funcionavam nessa ordem.

Em contrapartida, Adelaide nunca havia traído o marido. Nunca, nunquinha mesmo. Desde a sua transformação – motivada também pelo deslize do marido – alguns homens lhe deram cantadas baratas e até lhe enviaram rosas para o seu consultório, mas Adelaide não achava moralmente certo repetir o erro do marido. Não gostava de pagar na mesma moeda. Gostava de pagar com outra: o respeito.

Respeitava todas as pessoas como se elas fossem amigos íntimos de longa data. E com Renê era assim. Uma relação de amizade baseada no respeito e na boa convivência. Amigos há quase oito anos, desde quando Renê fora transferido para a portaria, substituindo outro amigo da médica, Carlos, um colorado fanático que hoje abre portas e distribui oi e olás na portaria de outro edifício.

A amizade com Renê se iniciou num dia de chuva do mês de agosto de 2000, quando o prestativo Renê a ajudara a colocar algumas malas no carro, debaixo de tamanho aguaceiro. Desde então, amigos. Simples assim. Tão simples quanto dois mais dois.

Mas Francisco não gostava muito de Renê. Nem por decreto máximo. O marido era um homem carrancudo, de cerzir a testa por qualquer motivinho aleatório que fosse contra seus achismos. Ciumento. Um homem ciumento. O típico homem possessivo. Em compensação, Renê, também era casado, fiel, e nunca havia levantando um dedo de cantadas ou conversinhas com segundas ou quintas intenções em relação à Adelaide. Ou seja, um ciúme infundado.

- Boa tarde dona Adelaide e essas ferinhas aí? Mais um para a família, é?
- Oi Renê, tenho que te contar... cada uma que me aparece!
- Qual o nome dele?
– perguntou Renê, se referindo ao labrador.
- Não é meu! Ele apareceu lá em casa. Acho que é da Helena, deve ter pulado o muro dos fundos. Estou indo lá entregar! – respondeu a médica.
- Que pena! Mas se ela não quiser mais, podes colocar o meu nome na fila, viu?
- Está bem! Vou indo lá, na volta quero tua ajuda!
– disse ela e repetindo, agora, baixinho, com uma voz quase que inaudível:

- A tua ajuda! Quero a tua ajuda!
- Claro, dona Adelaide!
– respondeu ele.

Decerto que ela contaria com a ajuda de Renê para decifrar o porquê daquele DVD ameaçador. Contaria-lhe da máquina de lavar louça aberta, das portas abertas e, especialmente, do nome do porteiro que havia sido citado em vários trechos das mensagens do homem mascarado.

Cerca de dez minutos depois, Adelaide estava de volta. E com os dois cachorros:

- Ué, não era dela o cachorro?
– perguntou Renê.
- Eu achei que era dela, mas o dela está lá. É igualzinho a esse, é baio. Da mesma altura e quase da mesma idade.
- Acho que a senhora ganhou um cachorro, hein?
- Não. Primeiro que senhora não Renê! E segundo, acho que és tu quem vai ganhar um cachorro!
- Mas que beleza! Eu quero mesmo, sem brincadeira!
- Então pega, é todo teu! Ele é muito obediente. Foi até lá sem coleira e me ouviu direitinho!
- Quero mesmo, mas só quando eu soltar. Pode ser?
- Claro, então façamos assim: eu vou ali em casa largá-los e volto aqui para te pedir aquela ajuda que havia te falado, ok?
- Combinado.

Adelaide seguiu ladeada pelos dois companheiros: Tobby e o labrador, agora, sem dono. Tobby do lado direito e o labrador do lado esquerdo. Deixaria os cachorros em casa e voltaria para continuar a conversa e contar das ameaças que havia sofrido.

Voltaria?





Confira amanhã na seqüência do folhetim "Ela Sabia de Tudo", aqui, no Palavra de Guri.

2 comentários:

Dani disse...

peguei a historia andando mas ate que deu pra entender. amizade entre sexos opostos existe, sim :) rumo ao ultimo semestre entao! vamos pirar EEEEE bjobjo

RACHEL . disse...

sim fiz o blog!
e gostei desses textos!
beijo Ki :)