sábado, 7 de junho de 2008

Um Casal Via Orkut


E tudo começou em 2004. Mais precisamente em janeiro daquele ano. Através do Orkut – na época, a nova mania dos brasileiros. Sim, tudo começou virtualmente. Luís Fernando e Gabriela. Luisinho e Gabi, depois de alguns meses, mas ai o lance já tinha evoluído e eles já estavam através do MSN combinandinho encontros e cineminhas regados a pipoca e muito refrigerante.

Na época, o Orkut nem tinha marcador de visitantes informando quem havia visitado os perfis das pessoas. O único mecanismo que marcava a visualização do perfil era o número de visitantes. O de Luís Fernando beirava noventa visitas diárias, já o da Gabriela, nossa!, parecia um conta-giros: passava sempre das cem visitas tranqüilamente. O motivo? Gabriela era modelo.

Ambos eram de Rio Grande e estavam no último do Ensino Médio dos seus colégios. Ele no Santa Joana d’Arc e ela no São Francisco. Não se conheciam nem de vista e nem de festas. Mas foi numa saída de colégio que tudo começou. O olhar bateu e a sorte soprou o nome da modelo nos tímpanos de Luis Fernando. A sorte tinha um nome: Thaís, a sua inseparável amiga. Eram amigas, já que Thaís, antes de ir estudar no Santa Joana d’Arc, havia estudado com Gabriela até a 3ª série no São Francisco.

- É Gabriela o nome dela. Gabriela Santos Parvilli. Procura nos meus amigos do Orkut que tu vais encontrar... – soprou a sorte em forma de Thaís.
- Vamos embora então? – disse o Luís.
- Uéh, eu chamo ela e te apresento...
- Não, deixa para amanhã!
- Medroso! Medroso!
- Apenas tímido... vamos, vem...
- e puxou a amiga pela mão.

Foram correndo embora para casa. Almoçaram juntos naquele dia na casa dele. Mas antes do almoço, claro: o Luis chegou derrubando a porta e quebrando o botão da campainha de tanta pressa para ligar o computador, conectar a Internet e logar no Orkut. A Thaís ficara para trás na hora que a Dona Ângela, mãe do Luís, abrira a porta. Ele um Schumacher, ela um Rubinho. Só o vulto dele, desacompanhado de bom dia ou olás.

- Isso é culpa de alguma mulher ou vontade de ir ao banheiro, Thaís? – perguntou Dona Ângela.
- A primeira opção, tia! A primeira opção... – respondeu Thaís.

Clique, clique, clique. Nome de usuário, senha. Carregando... Bem-vindo Luís Fernando Lapella! – anunciava o Orkut. Um clique na aba Amigos, t-h-a-í-s digitado no campo de procura, pronto: Enter. Encontrado: Thaís Silveira. Clique, clique. Outro clique na aba Meus Amigos. Gabriela Parvilli. Será que é com dois éles? – pensou. Arriscou. Nossa, era mesmo! Mais um clique trêmulo. Avistou 4351 scraps, 647 amigos, 362 fãs, 134 comunidades e 1754 scraps. Realmente, ela tinha muitos amigos e, talvez, fosse muito famosa por causa da modelagem. Um usuário popular no Orkut.

A Dona Ângela e a amiga Thaís ficaram na porta do pequeno escritório assistindo àquela cena, boquiabertas de vê-lo daquela maneira. Nunca, jamais haviam o visto daquele jeito, nem na época da primeira namorada, a Ana Paula.

Sim, ele viu e reviu todas as fotos do perfil de Gabriela. Futricou em quase todos os scraps deixados para ela. Olhou todas, todinhas as 134 comunidades. Identificou-se com mais da metade delas. Leu o perfil inteirinho, especialmente a descrição sobre ela: “Se tá zangada faz biquinho, se ta contente dá carinho, eu só te peço uma coisa, me deixa beijar a tua boca agora (...)”. Era uma provocação, mesmo que não fosse para ele ou até mesmo para ninguém. Mulheres gostam desse tipo de joguinho provocante e misterioso. Definitivamente não poderia deixar aquilo passar. Rolou um pouco mais a janela do seu navegador e viu o MSN. Pronto, nem preciso dizer o que aconteceu, pois você, esperto leitor, já adivinhou o que fez Luís Fernando.

O computador começou a ficar ligado todos os dias. A salinha do escritório vivia quente por causa do cooler da CPU. O MSN sempre online. A cada alerta um par de olhos direcionava o canto direito do monitor. Tãããn, tãããn – bipava o Messenger. E nada de Gabriela. Aquela modelo realmente era difícil. Uma mulher difícil. Luís adorava-as.

Quando chegou um dia, depois de muitas idas ao computador antes de ir para o colégio, uma tela de conversa ativa estava piscando. Aquele laranja piscando contornava o nome Gabriela na barra inicial. Gabriela, Gabriela, Gabriela. Os olhos de Luís brilhavam mesmo ainda fechadinhos pela impávida noite de sono. Inclinou-se, respirou fundo e clicou. A melhor notícia da semana, quiçá do mês ou do ano, viria naquela manhã de terça-feira na forma da seguinte frase:

- Oii! É o Luís amigo da Thaís?

Mas como que ela sabe que eu sou amigo de Thaís? – questionou-se mentalmente enquanto abria o seu melhor sorriso de trinta e dois dentes. Isso é coisa da Thaís! Essa guria vale ouro! – respondeu-se. Pensou um pouco e respondeu a sua melhor frase:

- Oi Gabi! Sou eu sim! Ela te falou de mim, é? – na primeira linha. Na segunda desejou apenas um bom dia e um beijo.

Deixou o computador ligado, virou as costas e foi tomar o café da manhã. Quando já dobrara em direção a cozinha escutou um alerta do MSN: tarãããn! E outro. Duas frases. Seria Gabriela? Ela mesma. Ela estava acordada e havia respondido quase de imediato.

Você tem dúvida que ambos faltaram à aula na manhã daquela terça-feira?

É bem assim que acontece. Essas despesas improdutivas viciam, mas também podem ser o elo entre duas pessoas ou até mais pessoas, desconhecidas ou não. Orkut, MSN, Fotologs e recentemente outras plataformas como o Blogger, o My Space e até o Twitter. Através delas, construímos muitos elos e unimos muitos pontos frios e quentes através de muitas ligações entre amigos, comentários e frases e nas redes sociais das quais fazemos parte.

Hoje, depois de mais de quatro anos daquela manhã de terça-feira, eles ainda estão namorando e usam todas as velhas e novas ferramentas do ciberespaço para manterem-se próximos durante a semana, já que ela faz Direito em Rio Grande e ele mora em Pelotas de segunda a sexta-feira, cursando Jornalismo e estagiando. E por causa dessa situação da distância, estabeleceram duas regras: não iriam brigar por ciúmes devido aos scraps e comentários de outras pessoas e que no final de semana quando os dois estivessem juntos, ao vivo, abdicariam dos computadores, com a exceção apenas dos trabalhos da faculdade. No mais, necas de pitibiriba.

Entenda: de quando em vez, vale à pena matar a aula para ficar de bate-papo no MSN ou futricando o Orkut alheio. Mas só de vez em quando!




* Texto escrito por mim e publicado na Revista Pixel, de Daniela Agendes, na edição de Junho de 2008.

4 comentários:

Secéu disse...

Belo texto, bem interessante! Até visitei o blog da autora, tem um conteúdo excelente por lá :)

E se não fosse o orkut e o msn nós dois teríamos perdido quase que totalmente o contato, somos exemplos vivos dos beneficiados pela tecnologia né? Haha! Beijo Kinhus, saudade!

Anônimo disse...

Texto da Dani?!Bah que massa!!Muito legal!!Mas tu misturou os textos de vocês ne?!Ou vocês escrevem muito igual!!hehehe!!bjos até segunda!!

Unknown disse...

Como assim??

A Lorena e a Secéu entenderam que o texto não é teu??

Pelo que eu entendi ele foi publicado na revista da tua amiga!

De qualquer forma achei ótimo! Um dia ainda vamos entender como o Orkut, o MSN, enfim, a Internet influenciou na relação das pessoas!

Eu adoro! Sou fã! As distorções, enganos, exageros são próprios das pessoas e não destas ferramentas!

O que sei é que vivia mandandando cartas e pendurada no telefone... Adoro manter contato, estar perto, saber das pessoas que gosto!

Adorei o casal!

Ana disse...

Ops! Usei o meu perfil do gmail!

:)