O telefone tocou. Ela atendeu com uma voz já de sono:
- Alô?
- Não desliga, eu só quero que me escutes... – respondeu a voz do outro lado.
Jaqueline pensou em desligar, pois não queria escutar os porquês de Gustavo. Já não agüentava mais as brigas do namoro desgastado de quase seis anos – estavam dando um tempo pedido por ela. Mas resolveu apenas escutar e sentou. Encostou-se na velha poltrona da família, que atravessava décadas, tapou-se com um chalé azul rendado por babadinhos brancos e pôs-se a ouvir. Sem falar nenhuma palavra, nenhum balbucio.
- A culpa não foi tua, nem minha – começou assim e por ai não mais parou até que, bem, você lerá mais adiante.
- O que eu sinto por ti, amor, não vai passar. Eu só queria voltar no tempo e tentar viver todo aquele início de novo. Quando a gente viajou nas férias do verão para Floripa. Quando fomos até o zoológico em Caçapava do Sul. Lembra do dia que a gente pegou chuva quando eu fui trocar o pneu? Aquele dia foi inesquecível, eu durmo e sempre acabo sonhando com aquele dia. Uma chuva forte e um temporal se armando. Eu ali sujando as mãos de graxa e de barro e tu descesses do carro me empurrando no asfalto e me abraçando com os maiores e melhores braços deste mundo. Foi lindo. Não sei o porquê, mas esses momentos estão vivos para mim. Sei que para ti também, mesmo que as mágoas das nossas brigas recentes sejam fortes e difíceis... – e ele interrompeu o monólogo:
- Amor, estás ai? Só faz um ar-rãm...
Apenas o silêncio responde acompanhado de uma respiração tênue do outro lado da linha. Ele continuou a monologar:
- Eu só queria te dizer que todas as vezes que eu fecho os olhos eu penso em ti. Não consigo mais trabalhar, não consigo mais estudar e muito menos ter paz. As pessoas aqui em casa perguntam toda a hora por ti. Isso me dá dor, me causa ainda mais tristeza em saber que eles sentem a tua falta e, me vendo triste, ficam perguntando se a causa és tu. A tua ausência me persegue. Sinto falta do teu cheiro, do teu beijo, dos teus carinhos. Sinto falta das coisas mais bobas, de comermos bolachinha recheada assistindo Malhação e depois a novela das seis. Sinto falta de te fazer cócegas nos teus pés e de fazer “abuuuu” na tua barriga. Sinto...
Uma pausa longa, talvez para engolir o choro ou pensar na frase mais conquistadora para fazer o tempo pedido por Jaqueline acabar definitivamente.
- Por favor, pensa nessas coisas! Te peço... Sei que nenhum de nós errou bruscamente. Erramos juntos. Deixamos o tempo e as pequenas brigas nos separar. Briguinhas tão fúteis como as que tínhamos na escola, quando pequenos. Nunca brigamos por nada sério. Sempre nos desentendemos e depois de cinco minutos estávamos bem, dando muitos beijinhos e talicoisa. Jura que tu não lembras? – perguntou Gustavo e, como resposta, depois de outra pausa longa, longa mesmo, apenas interrompida por heins para instigar uma resposta de Jaqueline, escutou:
- É claro que lembro, eu não te esqueci Gú...
Alguns soluços do lado masculino e lágrimas do lado feminino. Choraram. Choraram por mais ou menos um ou dois minutos, copiosamente, feito crianças. Choravam do arrependimento de não terem pensado antes de tomarem a decisão do término do namoro. Deixaram de lado as muitas boas lembranças, os laços criados com as duas famílias e tudo aquilo que os unia num encaixe perfeito desde o segundo ano do colegial. Deixaram de lado os sonhos que pretendiam realizar, o desejo do noivado e do casamento após o término dos mestrados. Deixaram de lado a vida que tinham já havia sido planejada, tudo por causa de brigas pequenas, brigas caseiras que todo casal deveria deixar de dar atenção.
- Jaque?
Em seguida de terminar o nome dela, a resposta veio em forma de tu-tu-tu. Ela havia desligado. Nada daquele monólogo havia sido aproveitado, muito menos os choros após todas as lembranças e coisas boas que haviam vivido através da fala de Gustavo.
Ele não acreditou. Empunhou o telefone, premeu o oito, o um, o dois, o quatro e assim por diante e ouviu:
- Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa... – não acreditou. Desligou e ligou novamente ouvindo então agora:
- O telefone chamado encontra-se ocupado no momento. Tente mais tarde! – anunciou uma voz eletrônica feminina.
Mais tarde? – pensou ele. Eu quero é agora. Eu preciso falar com ela agora. É a-go-ra! – respondeu para as paredes com o telefone erguido na mão direita.
Mas... ocupado? Será que ela está me ligando? – pensou novamente. Preferiu esperar. Sentou-se na cama, cruzou as pernas e colocou o telefone descansando sobre a cama. Esperou e esperou.
E o telefone não tocou.
Mais três, seis ou nove minutos. Gustavo nem sabia mais ao certo quanto tempo havia esperado. Sabia só de uma de coisa: precisava falar com ela, de novo. Carecia do término daquele tempo e do possível retorno do namoro. Necessitava resolver aquilo naquela noite fria de sexta-feira. Lembrou de alguns casos de amigos que haviam passado pelo mesmo problema de tempo. Frustrou-se de certo modo, pois nenhum havia retornado o namorado depois do tal pedido de tempo. Quem dá tempo é relógio! – martelava a frase do amigo João em sua cabeça, enquanto a espera pela ligação de Jaqueline era maior.
Tomou o telefone na mão e quando iria premer o botão das chamadas realizadas, o celular vibrou e tocou. Na tela do telefone: “Môr, chamando”. Em apenas um toque do botão verdinho e num movimento rápido, colocou o aparelho na orelha direita:
- Oi a... – atendeu ele, nem acabando a meiga alcunha quando ouviu a frase mais revolucionária do mundo:
- Eu só tenho apenas um minuto!
- Um minuto? Como assim?
- Pra dizer que te amo, seu bobo!
Um minuto seria talvez muito pouco tempo para ela falar, mas, às vezes, certas frases bem colocadas e algumas palavras pequenas carregadas de significados dizem muito mais do que vários capítulos reunidos da história de um completo romance.
- Alô?
- Não desliga, eu só quero que me escutes... – respondeu a voz do outro lado.
Jaqueline pensou em desligar, pois não queria escutar os porquês de Gustavo. Já não agüentava mais as brigas do namoro desgastado de quase seis anos – estavam dando um tempo pedido por ela. Mas resolveu apenas escutar e sentou. Encostou-se na velha poltrona da família, que atravessava décadas, tapou-se com um chalé azul rendado por babadinhos brancos e pôs-se a ouvir. Sem falar nenhuma palavra, nenhum balbucio.
- A culpa não foi tua, nem minha – começou assim e por ai não mais parou até que, bem, você lerá mais adiante.
- O que eu sinto por ti, amor, não vai passar. Eu só queria voltar no tempo e tentar viver todo aquele início de novo. Quando a gente viajou nas férias do verão para Floripa. Quando fomos até o zoológico em Caçapava do Sul. Lembra do dia que a gente pegou chuva quando eu fui trocar o pneu? Aquele dia foi inesquecível, eu durmo e sempre acabo sonhando com aquele dia. Uma chuva forte e um temporal se armando. Eu ali sujando as mãos de graxa e de barro e tu descesses do carro me empurrando no asfalto e me abraçando com os maiores e melhores braços deste mundo. Foi lindo. Não sei o porquê, mas esses momentos estão vivos para mim. Sei que para ti também, mesmo que as mágoas das nossas brigas recentes sejam fortes e difíceis... – e ele interrompeu o monólogo:
- Amor, estás ai? Só faz um ar-rãm...
Apenas o silêncio responde acompanhado de uma respiração tênue do outro lado da linha. Ele continuou a monologar:
- Eu só queria te dizer que todas as vezes que eu fecho os olhos eu penso em ti. Não consigo mais trabalhar, não consigo mais estudar e muito menos ter paz. As pessoas aqui em casa perguntam toda a hora por ti. Isso me dá dor, me causa ainda mais tristeza em saber que eles sentem a tua falta e, me vendo triste, ficam perguntando se a causa és tu. A tua ausência me persegue. Sinto falta do teu cheiro, do teu beijo, dos teus carinhos. Sinto falta das coisas mais bobas, de comermos bolachinha recheada assistindo Malhação e depois a novela das seis. Sinto falta de te fazer cócegas nos teus pés e de fazer “abuuuu” na tua barriga. Sinto...
Uma pausa longa, talvez para engolir o choro ou pensar na frase mais conquistadora para fazer o tempo pedido por Jaqueline acabar definitivamente.
- Por favor, pensa nessas coisas! Te peço... Sei que nenhum de nós errou bruscamente. Erramos juntos. Deixamos o tempo e as pequenas brigas nos separar. Briguinhas tão fúteis como as que tínhamos na escola, quando pequenos. Nunca brigamos por nada sério. Sempre nos desentendemos e depois de cinco minutos estávamos bem, dando muitos beijinhos e talicoisa. Jura que tu não lembras? – perguntou Gustavo e, como resposta, depois de outra pausa longa, longa mesmo, apenas interrompida por heins para instigar uma resposta de Jaqueline, escutou:
- É claro que lembro, eu não te esqueci Gú...
Alguns soluços do lado masculino e lágrimas do lado feminino. Choraram. Choraram por mais ou menos um ou dois minutos, copiosamente, feito crianças. Choravam do arrependimento de não terem pensado antes de tomarem a decisão do término do namoro. Deixaram de lado as muitas boas lembranças, os laços criados com as duas famílias e tudo aquilo que os unia num encaixe perfeito desde o segundo ano do colegial. Deixaram de lado os sonhos que pretendiam realizar, o desejo do noivado e do casamento após o término dos mestrados. Deixaram de lado a vida que tinham já havia sido planejada, tudo por causa de brigas pequenas, brigas caseiras que todo casal deveria deixar de dar atenção.
- Jaque?
Em seguida de terminar o nome dela, a resposta veio em forma de tu-tu-tu. Ela havia desligado. Nada daquele monólogo havia sido aproveitado, muito menos os choros após todas as lembranças e coisas boas que haviam vivido através da fala de Gustavo.
Ele não acreditou. Empunhou o telefone, premeu o oito, o um, o dois, o quatro e assim por diante e ouviu:
- Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa... – não acreditou. Desligou e ligou novamente ouvindo então agora:
- O telefone chamado encontra-se ocupado no momento. Tente mais tarde! – anunciou uma voz eletrônica feminina.
Mais tarde? – pensou ele. Eu quero é agora. Eu preciso falar com ela agora. É a-go-ra! – respondeu para as paredes com o telefone erguido na mão direita.
Mas... ocupado? Será que ela está me ligando? – pensou novamente. Preferiu esperar. Sentou-se na cama, cruzou as pernas e colocou o telefone descansando sobre a cama. Esperou e esperou.
E o telefone não tocou.
Mais três, seis ou nove minutos. Gustavo nem sabia mais ao certo quanto tempo havia esperado. Sabia só de uma de coisa: precisava falar com ela, de novo. Carecia do término daquele tempo e do possível retorno do namoro. Necessitava resolver aquilo naquela noite fria de sexta-feira. Lembrou de alguns casos de amigos que haviam passado pelo mesmo problema de tempo. Frustrou-se de certo modo, pois nenhum havia retornado o namorado depois do tal pedido de tempo. Quem dá tempo é relógio! – martelava a frase do amigo João em sua cabeça, enquanto a espera pela ligação de Jaqueline era maior.
Tomou o telefone na mão e quando iria premer o botão das chamadas realizadas, o celular vibrou e tocou. Na tela do telefone: “Môr, chamando”. Em apenas um toque do botão verdinho e num movimento rápido, colocou o aparelho na orelha direita:
- Oi a... – atendeu ele, nem acabando a meiga alcunha quando ouviu a frase mais revolucionária do mundo:
- Eu só tenho apenas um minuto!
- Um minuto? Como assim?
- Pra dizer que te amo, seu bobo!
Um minuto seria talvez muito pouco tempo para ela falar, mas, às vezes, certas frases bem colocadas e algumas palavras pequenas carregadas de significados dizem muito mais do que vários capítulos reunidos da história de um completo romance.
6 comentários:
Q liiindo! Eh bom reatar relacionamentos! aiuhauhuai ;)
Beijos, marcos
Em algumas partes do teu texto acabei me identificando, ainda bem que hoje tudo o que plantei estou colhendo com muita paz e tranquilidade.
Belas palavras Marquinhos,ah! e por falar em admiração, quero que saibas que além de colega de profissão és um "guri" admirável e que ainda vou ver voar muito alto.
Dizem que na faculdade vivemos momentos únicos...conhecemos pessoas queridas, especiais, profissionais de 'gabarito'. Te admiro e que a nossa estrela brilhe cada vez mais.
Será que esse ano a ECOS é dos Rio-grandinos? huiahuiahuiahuiahuia
óun! uma graça! :)
Valeu, Marquinhos, por ter lido lá no Solstícios. :D
Ahhh, se todos os finais fossem assim, como um início...
Adorei o texto!! Como sempre...
Andava sem tempo para, de fato, parar na frente do computador e relaxar lendo coisas boas!
Não te vejo mais. Acho que só pegando ou te dando carona pra falar ctg mesmo, né? :(
Beijos!
P.S.: Já notou que textos sentimentais são um sucesso entre as mulheres? É.. ainda não dá pra negar a nossa natureza (ir)racional.
Realmente, não há nada melhor do que poucas palavras ditas no momento certo.
O amor é bom ,mas um tanto complicado. Bom seria se todas as brigas de casais terminassem com um recomeço. :p
Beijosss!!!
Amigo, amigo meu...
Cada dia q passa tu escrever melhor.
Me faltam palavras (não sou tão bom com elas qnt tu és hehehe), mas de depender do jeito q tu escreves, o sucesso tá garantido :D
Abraaaaaaasssssss
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