Sacudi, balancei e confesso que até cheirei. Não, não é o que você está pensando. Não pulei carnaval, nem dancei um pagodinho e muito menos fiz alguma coisa ilícita. Repeti o ritual. E de novo. Espirrei. Será que havia alguma coisa estranha sobre minhas mãos?
Uma embalagem com papel pardo com o meu nome alinhado à esquerda superior. Uma caligrafia que me era desconhecida. Letras de pauzinhos como diria a minha mãe. “Para Marcos”. Óbvio que aquele “para” não me mandou e nem me fez parar até porque estava sem um acento agudo no primeiro a. Era para mim mesmo.
- Ah Marcos! Já ia me esquecendo, isto, é pra ti! – alertou-me Ilvo, o porteiro.
- Pra mim? Quem deixou?
- Não sei te dizer, não foi no meu turno!
- Tá certo, obrigado!
- É meu trabalho...
- Boa noite Ilvo!
- Bom descanso Marquinhô! – respondeu ele.
Recebi o pacote e tomei o elevador, ignorando o aviso de verificar o inútil aviso se o mesmo encontra-se no mesmo andar, como sempre faço, e rumei para casa depois de um dia exaustivo. Aquela embalagem me fazia ter vários pensamentos soltos. Devaneios de certa forma. Seria aquele pacote algum tipo de vingança por alguma reportagem minha que tenha afetado alguém? Quem sabe uma brincadeira de algum amigo? Até porque faço isso com muitos dos meus amigos, seria normal até retrucarem.
Nunca se sabe!
Algo dentro daquela embalagem iria para lá e para cá quando eu enviesava o embrulho. Fiquei com medo até, vá que se fosse algo de ruim viesse a estourar com algum movimento? Hoje mesmo assisti a uma reportagem sobre uma bomba que explodiu em uma padaria no centro de Porto Alegre que o Bóris Casoy resumiu em “molecagem”. Por que não seria então uma bomba em minhas mãos? Aquela letrinha bonitinha poderia muito bem estar me conquistando para depois me mandar pelos ares.
Relutei em abrir. Cheguei ao sexto andar, abri a porta, premi o botão da luz e vim matutando milhões de coisas até a porta de meu apartamento. Lembrei do zagueiro da APA CMRL que lhe quebrei a tíbia em uma entrada maldosa – assumo – nos idos de 2000. Também recordei da brincadeira que fiz com uma vizinha em hotel na Praia do Cassino, onde urinei dentro de um par de luvas – sim, eu ainda fazia muitas molecagens. Cheguei a pensar também em alguma vingança de um vizinho meio tampinha que tive. Mas não, ao menos a portaria saberia me informar alguma coisa, pois o conhecem e me alertariam do perigo.
Abri a porta e deixei o pacote em cima da mesa da sala. Fui até o banheiro, fiz o número um, lavei as mãos – sim, lavei sim – e fui preparar uma janta rica em carboidrato e proteína magra. Aqueci a água, esperei uns cinco, seis minutos enquanto cortava uns pedaços de frango e os desfiava, e assim o tempo foi indo. Larguei o instantâneo macarrão na água e fui até a sala ligar a televisão para ouvir as piadas do CQC, na Band. Passei pelo pacote, olhei e senti um arrepio tinhoso correndo da minha nunca até as panturrilhas. Seria o arrepio um mau sinal?
Liguei a televisão e assisti a última entrevista do Repórter Inexperiente – o nome do quadro, pois ele é um repórter stand-up muito bom – Danilo Gentilli. Depois de o repórter entrevistar o Padre Quevedo, aquele do “no ecqziste”, voltei à cozinha. E o pacote ali, me esperando como um possível alvo. Assumo que senti medo, pois aquele papel pardo dava um ar sombrio para a embalagem.
Servi o macarrão, misturei com os pedaços de frango, cortei um tomate, servi um suco de uva e fui para a sala fazer um zapping nos canais da Net.
Nada me chamou atenção.
Voltei para o final do CQC e entre uma garfada e outra do meu macarrão, o danado do pacote me olhava como se fosse uma câmera de vigilância de banco. Eu enrolava o macarrão e ele me olhava. Não se mexia nem nada, mas a impressão era que ele me devorava com os olhos. Comecei a fazer uma retrospectiva das pessoas das quais havia comentado sobre surpresas e afins. Alguns nomes vieram à cabeça só que nenhum se encaixou com as últimas situações da minha vida pessoal. Seria então alguma ex-namorada querendo me fazer uma surpresa? “Nah, ex-namorada não é, pois nem chegou ainda o dia 12 de junho!” – pensei.
Terminei o meu macarrão e terminou o CQC. Hora de lavar louça da janta. Empurrei o quanto pude a hora de abrir o embrulho, empurrei como se fosse um carrinho de supermercado. Não consegui.
Uma curiosidade começou a me bater. O Santo da Curiosidade dos Jornalistas desceu dos céus e me fez largar a louça no meio. Abri a primeira gaveta e empunhei uma faca na mão esquerda, como se fosse um assassino. A faca em riste e eu com passos largos e firmes em direção ao pacote, pensando: “Quem mandou esse farabutto de pacote deve tá me seguindo, só pode!"
Peguei o embrulho e disse mentalmente: “É agora, já era!”. Coloquei a faca entre a fita adesiva que fazia o arremate e cortei. E alguma coisa lá dentro fez bum! escorrendo dentro da embalagem feito macarrão e batendo no mármore da minha mesa da sala. Fui mais devagar ainda. Calminho, bem calminho como não me é peculiar em momentos de curiosidade.
Abri a primeira dobra do papel pardo e não enxerguei nada. Tentei sentir algum cheiro. Fiz até uma artimanha que aprendi com o professor Orlando, de química, no saudoso Santa Joana d’Arc: balancei a mão perto da base do pacote para que o cheiro exalasse mais rápido e também para que eu não tivesse contato direto com o conteúdo.
Sem cheiro e nem cheiro de eu descobrir o que havia lá dentro.
Com os olhos apertadinhos feito um japonês, meti a faca com cuidado na outra aba do arremate. Pá-pum, cortei. E nada ainda. Apenas enxerguei uma outra embalagem branca dentro. Puxei as abas para cima, coloquei o indicador e o polegar entre o papel pardo e a caixa branca do embrulho e puxei vagarosamente, com a máxima destreza – não seria canhoteza mais adequado canhotos? – de um canhoto atrapalhado.
Pronto. O papel já havia sido tirado. Mas a dúvida ainda persistia. O que havia, agora, dentro daquela caixa branca? Uma pista havia sido dada: um logotipo da Farmácia da UCPel. Mesmo assim, ainda poderia ser uma sacanagem. Apertei o objeto, por cima da embalagem, que viajava sem cintos dentro da caixa. Uma coisa mole, molenga na verdade. Pensei no mais nojento, seria aquilo um punhado fezes? Descartei por não haver cheiro, mas que parecia, parecia.
Pulei para a próxima etapa de procurar outra pista, nada. Sem cartões nem bilhetinhos.
- Cazzo! – exclamei e bati na mesa.
Esqueci o medo do desconhecido e meti a faca como se estivesse cortando um pedaço de picanha. Abri a embalagem e virei a caixa em cima da mesa. Lá de dentro caiu uma embalagem de conteúdo azul.
- Và a fancullo! – reforcei o italiano na hora da raiva, usando o mesmo costume de meu avô.
Todo aquele medo por causa de uma embalagem azul que agora me olhava inofensiva, pedindo para ser usada. Aproximei-me dela como se a fosse empunhar e li na etiqueta:
“Escola de Farmácia UCPel – Manipulação e Drogaria: Loção refrescante de cânfora/alfa bisabolol – Uso Externo, contém 200ml”
Uma inofensiva embalagem de creme de cânfora para a minha dor nas costas. Vê se pode? Um marmanjão com 21 anos e alguns quebrados na cara com medo de uma embalagem de papel pardo recheada pela benção dos céus.
Até agora não sei quem me fez tamanha surpresa. Suspeito, sim. Desconfio também que essa pessoa andou lendo o texto que escrevi em junho de 2008, intitulado “Dor nas Costas”. Depois dessa, acho que vou escrever algum intitulado "Dez Barras de Chocolate" ou "À Procura da Monografia Perfeita".
Recentemente agradeci um malabarista, via texto, pela lição contra o meu preconceito por pedintes de rua - que bastante me ajudou a ver as coisas de uma maneira mais positiva. Hoje, agradeço você, leitor ou leitora, que me presenteou com um alívio temporário de cânfora para a minha dor nas costas.
Então, para não perder o bom costume:
- Muito obrigado, mesmo! Mas, na próxima vez, suba para tomar uma água ou comer uma pizza, ok?! Te aguardo!
Uma embalagem com papel pardo com o meu nome alinhado à esquerda superior. Uma caligrafia que me era desconhecida. Letras de pauzinhos como diria a minha mãe. “Para Marcos”. Óbvio que aquele “para” não me mandou e nem me fez parar até porque estava sem um acento agudo no primeiro a. Era para mim mesmo.
- Ah Marcos! Já ia me esquecendo, isto, é pra ti! – alertou-me Ilvo, o porteiro.
- Pra mim? Quem deixou?
- Não sei te dizer, não foi no meu turno!
- Tá certo, obrigado!
- É meu trabalho...
- Boa noite Ilvo!
- Bom descanso Marquinhô! – respondeu ele.
Recebi o pacote e tomei o elevador, ignorando o aviso de verificar o inútil aviso se o mesmo encontra-se no mesmo andar, como sempre faço, e rumei para casa depois de um dia exaustivo. Aquela embalagem me fazia ter vários pensamentos soltos. Devaneios de certa forma. Seria aquele pacote algum tipo de vingança por alguma reportagem minha que tenha afetado alguém? Quem sabe uma brincadeira de algum amigo? Até porque faço isso com muitos dos meus amigos, seria normal até retrucarem.
Nunca se sabe!
Algo dentro daquela embalagem iria para lá e para cá quando eu enviesava o embrulho. Fiquei com medo até, vá que se fosse algo de ruim viesse a estourar com algum movimento? Hoje mesmo assisti a uma reportagem sobre uma bomba que explodiu em uma padaria no centro de Porto Alegre que o Bóris Casoy resumiu em “molecagem”. Por que não seria então uma bomba em minhas mãos? Aquela letrinha bonitinha poderia muito bem estar me conquistando para depois me mandar pelos ares.
Relutei em abrir. Cheguei ao sexto andar, abri a porta, premi o botão da luz e vim matutando milhões de coisas até a porta de meu apartamento. Lembrei do zagueiro da APA CMRL que lhe quebrei a tíbia em uma entrada maldosa – assumo – nos idos de 2000. Também recordei da brincadeira que fiz com uma vizinha em hotel na Praia do Cassino, onde urinei dentro de um par de luvas – sim, eu ainda fazia muitas molecagens. Cheguei a pensar também em alguma vingança de um vizinho meio tampinha que tive. Mas não, ao menos a portaria saberia me informar alguma coisa, pois o conhecem e me alertariam do perigo.
Abri a porta e deixei o pacote em cima da mesa da sala. Fui até o banheiro, fiz o número um, lavei as mãos – sim, lavei sim – e fui preparar uma janta rica em carboidrato e proteína magra. Aqueci a água, esperei uns cinco, seis minutos enquanto cortava uns pedaços de frango e os desfiava, e assim o tempo foi indo. Larguei o instantâneo macarrão na água e fui até a sala ligar a televisão para ouvir as piadas do CQC, na Band. Passei pelo pacote, olhei e senti um arrepio tinhoso correndo da minha nunca até as panturrilhas. Seria o arrepio um mau sinal?
Liguei a televisão e assisti a última entrevista do Repórter Inexperiente – o nome do quadro, pois ele é um repórter stand-up muito bom – Danilo Gentilli. Depois de o repórter entrevistar o Padre Quevedo, aquele do “no ecqziste”, voltei à cozinha. E o pacote ali, me esperando como um possível alvo. Assumo que senti medo, pois aquele papel pardo dava um ar sombrio para a embalagem.
Servi o macarrão, misturei com os pedaços de frango, cortei um tomate, servi um suco de uva e fui para a sala fazer um zapping nos canais da Net.
Nada me chamou atenção.
Voltei para o final do CQC e entre uma garfada e outra do meu macarrão, o danado do pacote me olhava como se fosse uma câmera de vigilância de banco. Eu enrolava o macarrão e ele me olhava. Não se mexia nem nada, mas a impressão era que ele me devorava com os olhos. Comecei a fazer uma retrospectiva das pessoas das quais havia comentado sobre surpresas e afins. Alguns nomes vieram à cabeça só que nenhum se encaixou com as últimas situações da minha vida pessoal. Seria então alguma ex-namorada querendo me fazer uma surpresa? “Nah, ex-namorada não é, pois nem chegou ainda o dia 12 de junho!” – pensei.
Terminei o meu macarrão e terminou o CQC. Hora de lavar louça da janta. Empurrei o quanto pude a hora de abrir o embrulho, empurrei como se fosse um carrinho de supermercado. Não consegui.
Uma curiosidade começou a me bater. O Santo da Curiosidade dos Jornalistas desceu dos céus e me fez largar a louça no meio. Abri a primeira gaveta e empunhei uma faca na mão esquerda, como se fosse um assassino. A faca em riste e eu com passos largos e firmes em direção ao pacote, pensando: “Quem mandou esse farabutto de pacote deve tá me seguindo, só pode!"
Peguei o embrulho e disse mentalmente: “É agora, já era!”. Coloquei a faca entre a fita adesiva que fazia o arremate e cortei. E alguma coisa lá dentro fez bum! escorrendo dentro da embalagem feito macarrão e batendo no mármore da minha mesa da sala. Fui mais devagar ainda. Calminho, bem calminho como não me é peculiar em momentos de curiosidade.
Abri a primeira dobra do papel pardo e não enxerguei nada. Tentei sentir algum cheiro. Fiz até uma artimanha que aprendi com o professor Orlando, de química, no saudoso Santa Joana d’Arc: balancei a mão perto da base do pacote para que o cheiro exalasse mais rápido e também para que eu não tivesse contato direto com o conteúdo.
Sem cheiro e nem cheiro de eu descobrir o que havia lá dentro.
Com os olhos apertadinhos feito um japonês, meti a faca com cuidado na outra aba do arremate. Pá-pum, cortei. E nada ainda. Apenas enxerguei uma outra embalagem branca dentro. Puxei as abas para cima, coloquei o indicador e o polegar entre o papel pardo e a caixa branca do embrulho e puxei vagarosamente, com a máxima destreza – não seria canhoteza mais adequado canhotos? – de um canhoto atrapalhado.
Pronto. O papel já havia sido tirado. Mas a dúvida ainda persistia. O que havia, agora, dentro daquela caixa branca? Uma pista havia sido dada: um logotipo da Farmácia da UCPel. Mesmo assim, ainda poderia ser uma sacanagem. Apertei o objeto, por cima da embalagem, que viajava sem cintos dentro da caixa. Uma coisa mole, molenga na verdade. Pensei no mais nojento, seria aquilo um punhado fezes? Descartei por não haver cheiro, mas que parecia, parecia.
Pulei para a próxima etapa de procurar outra pista, nada. Sem cartões nem bilhetinhos.
- Cazzo! – exclamei e bati na mesa.
Esqueci o medo do desconhecido e meti a faca como se estivesse cortando um pedaço de picanha. Abri a embalagem e virei a caixa em cima da mesa. Lá de dentro caiu uma embalagem de conteúdo azul.
- Và a fancullo! – reforcei o italiano na hora da raiva, usando o mesmo costume de meu avô.
Todo aquele medo por causa de uma embalagem azul que agora me olhava inofensiva, pedindo para ser usada. Aproximei-me dela como se a fosse empunhar e li na etiqueta:
“Escola de Farmácia UCPel – Manipulação e Drogaria: Loção refrescante de cânfora/alfa bisabolol – Uso Externo, contém 200ml”
Uma inofensiva embalagem de creme de cânfora para a minha dor nas costas. Vê se pode? Um marmanjão com 21 anos e alguns quebrados na cara com medo de uma embalagem de papel pardo recheada pela benção dos céus.
Até agora não sei quem me fez tamanha surpresa. Suspeito, sim. Desconfio também que essa pessoa andou lendo o texto que escrevi em junho de 2008, intitulado “Dor nas Costas”. Depois dessa, acho que vou escrever algum intitulado "Dez Barras de Chocolate" ou "À Procura da Monografia Perfeita".
Recentemente agradeci um malabarista, via texto, pela lição contra o meu preconceito por pedintes de rua - que bastante me ajudou a ver as coisas de uma maneira mais positiva. Hoje, agradeço você, leitor ou leitora, que me presenteou com um alívio temporário de cânfora para a minha dor nas costas.
Então, para não perder o bom costume:
- Muito obrigado, mesmo! Mas, na próxima vez, suba para tomar uma água ou comer uma pizza, ok?! Te aguardo!
7 comentários:
MTO LEGAL!!!
SINAL Q VC É MTO QRIDO!!!
MAS Ñ PRECISAVA FICAR C MEDO.HEHEH
SE FOSSE EU JÁ TINHA ABERTO D PRIMEIRA SOU MTO CURIOSA...
QUANTO AO CHOCOLATE PODEMOS RESOLVER QUALQUER DIA.RSRSRS
BJÃO!!!!!!!!
O heim! surpresinha eh massa :D ainda bem q eu sei q esse tipo de texto tem pitadas de verdade e de invençao tua, entao eu sei q na verdade... tu abrisse na hoooooora! hauahu bjus!
Daniela!
Juro, demorei a abrir. Ele ficou me olhando e eu olhando para ele atravessado. Fiz a janta, jantei, fui lavar a louça e ai sim não agüentei mais de curiosidade! Confesso que fiquei "cabreiro"! hehe
Obrigado pelo comentário!
Beijo!
Hmmmm...
heheheheheheh
Auei o/
Mas q forma legal de escrever! Instigante. A curiosidade aumentou exponencialmente a cada frase lida. Em meio ao tentar decifrar o q era a tal embalagem vi pinceladas do teu eu e de fatos do dia a dia - se bem q bombas não fazem parte da rotina dos brasileiro, né?! Bem, adorei tua visita no meu blog, obrigada pelo elogio! Voltarei sempre!
Parece que a surpresa foi boa então...
Também acho que é um sinal de que és muito querido!!!
Beijosss!
Não sei quem FUI.
Verdade, pode ir lá na farma UCPel perguntar, vão confirmar certo!!!
=)
hahhahah To brincando, eu não teria uma idéia tão boa.
(se alguém mandar os chocolates, me convida??? =)
Beijos!!!!
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