domingo, 9 de março de 2008

Cidade Grande


A grande maioria das pessoas das quais converso seguidamente me diz da imensa vontade de sair de suas cidades natais e rumarem aos grandes centros. Aceitável, visto que moram em cidades do interior onde nem sempre há toda a estrutura para um futuro promissor, ao menos profissional. “Eu quero ir morar na capital. Quero um emprego bom, ganhar bastante dinheiro e com o tempo comprar um apartamento. Só depois quero voltar para cá” – me disse esses dias um amigo, grande amigo. Eu apenas comentei: "É, faz o que tens vontade! Mas planos tão sonhadores não funcionam assim não, cara! É preciso ter base, ao menos, uma formação superior para conseguires uma condição de vida aceitável!”

Morei em Rio Grande durante 18 anos da minha vida. Concluí o Ensino Médio no Colégio Santa Joana d’Arc – mesmo com alguns probleminhas no 3° ano – em 2003 e em seguida passei no vestibular para Jornalismo. Comecei a maratona Rio Grande-Pelotas indo e vindo todos os dias, enfrentando quase duzentos quilômetros diários. Santa paciência! Até que decidi morar em Pelotas, na cidade da minha faculdade. Abri mão de morar com a família, da qual sinto saudade e só a vejo nos finais de semana. Hoje moro em Satolep e pretendo ficar ainda mais uns três anos até acabar outra faculdade e uma pós-graduação ou mestrado, simultaneamente. São planos, apenas planos. Planos não tão utópicos. Diria: “Planos tranqüilitos”.

O meu amigo, muito do teimoso que é, ainda não mudou de idéia. Quer porque quer morar em Curitiba, na capital, na cidade grande. Cidade frenética comparada ao ritmo de vida levada em Rio Grande. Trânsito intenso de extintos retornos nas avenidas. Porém, qualidade de vida muito melhor, incomensuravelmente melhor – levando-se em consideração que é bem mais caro levar a mesma vida de Rio Grande em Curitiba com as mesmas cifras que o mantém em Rio Grande. O cara é sonhador! Respeito isso e o respeito muito por sua conduta. Iria até lá para visitá-lo caso os planos dele se tornem realidade. Pena é que ele nem acabou a faculdade e enfrenta condições não muito favoráveis de largar o lar para realizar os planos.

Entenderia que lá em Curitiba ele pudesse conseguir um emprego legal que pagasse o básico de um salário de capital. Ao menos que o pagasse em dia, já seria de grande valia para ele. Para ele. Sem festas, sem exceções, sem exageros; sem uma faculdade concluída, sem roupas lavadas, sem os animais de estimação; sem os amigos por perto, sem a comida da avó. Sem família. É a velha máxima de abrir mão de algumas coisas para poder ganhar outras. É o limpa-limpa no armário, é o mexe-mexe nos sentimentos. Se ao menos ele acabasse a faculdade! Ai sim seria outra história. Teria base, teria fundamento, pois somente a prática não leva a nada, nos dias de hoje, quando não se tem a parte teórica, ou seja, uma formação superior.

Oportunidades surgem a cada instante, sonhos são realizados aleatoriamente em qualquer lugar deste mundo. Com ajuda de milagres ou não. As pessoas fazem por onde as vontades e metas se realizarem, por isso os planos dão certo. O que é preciso é correr atrás, sem passar por cima de ninguém, respeitando o espaço e o livre arbítrio de cada um. Sem passar por cima das pretensões dos outros. Não adianta é ficar esperando as coisas virem até nós. Preguiça é pecado capital. Garanto que o Marquês de Maricá (1773-1848), um político malandro carioca – apenas malandro carioca! – compreendeu isso e fez uma ótima relação quando disse: “A preguiça gasta a vida, assim como a ferrugem consome o ferro”. Bonito.

Pode ser utópico eu pensar: “Sem passar por cima de ninguém, respeitando o espaço e o livre arbítrio de cada um”. Mas, como eu ainda tenho o coração aberto e, além disso, acredito em milagres, creio que quando as pessoas correm atrás e fazem por merecer, numa dessas até os planos do meu amigo riograndino acontecem. Ele é tão malandro quanto o Marquês de Maricá para formular teorias e tão teimoso quanto para perceber a realidade da vida em frente ao seu par de olhos castanhos esverdeados. Só que uma coisa eu garanto que ele não faz e nem bebe das fontes pecaminosas: o corriqueiro e feio pecado da preguiça.

Ele corre atrás, ele merece.

3 comentários:

Anônimo disse...

See Here or Here

Anônimo disse...

Ahhhh, ir embora do ninho...
Muito bom! A liberdade que a gente sempre desejou, a nossa vida guiada por nós mesmos... Mas muito ruim quando se pensa no aconchego de casa e no calor dos braços dos pais... Isso não tem preço.
Não sei se volto pra RG quando terminar a faculdade, e nem se saio de Pelotas, mas uma coisa é certa: até lá eu ainda tenho que aprender muito. :)
Beijo Kito! Saudade de falar contigo!
=***

Anônimo disse...

Pois é, o bom e velho aconchego da nossa casa, ou melhor da casa de nossos familiares, pq em breve ela deixará de ser nossa, crescemos, montamos o nosso cantinho e seguimos com a nossa vida, essa é a lei maior...

Sonhos, são ótimos pra rejuvenecer a alma, limpa-la, acalma-la... e deixa-la feliz qnd é possivel que eles se tornem reais...

Eu sou sonhadora, e um dos meus sonhos passados, se tornou real hoje, lutei até conquista-lo (ou
reconquista-lo) e hoje a minha felicidade está completa..

Assim como o teu amigo, sou sonhadora e tenho vontade de sair da minha cidade... mas por enquanto são só planos, sonhos... mas quem sabe um dia, se eu fizer por merecer...

P.S caso tenha algum erro de digitação a culpa é de um tal de teclado rosa... to apanhando demais pra escrever nele... cravo os dedos nele pras teclas funcionarem...

beijinhosssss