domingo, 30 de março de 2008

A Casa 457 - Capítulo IV


“Porque que eu fui aceitar isso? Só eu mesmo!” – resmungava. Precisava ir até o final. Havia prometido para Zezé e para si mesmo que desvendaria o mistério da casa 457. Zezé deveria estar vendo Big Brother Brasil e apreciando a garbosidade de Pedro Bial enquanto ele ficara sob o sereno da úmida cidade de Rio Grande. Havia prometido e para acordos para ele eram como ordens judiciais, tinham de se cumpridas. Mas o que fazer? Duas pessoas no mínimo dentro da casa. Dois carros na rua. “Já sei!”teria ele chegado a uma boa idéia? Boa ou não, Louzada agora tinha um plano, uma nova estratégia.

Ele precisava ver as pessoas ou ao menos uma delas para conseguir alguma nova pista. Por conseqüência, precisaria chamar a atenção delas com a finalidade de que elas saíssem da casa. “Vou escrever um bilhete falando dos faróis, coloco por debaixo da porta, toco na campainha três vezes e bato uma vez com a mão na porta e saio correndo. É isso!” – planejou e assim o fez. Rabiscou um bilhete alertando-os dos faróis e atravessou a larga rua de um lado ao outro, correndo, com um pique de centroavante de dar inveja a Romário e Fenômenos.

Ofegou, sim. Mas, um sexagenário, estar metido numa indiada dessas por culpa da curiosidade é um troféu valiosíssimo ter um fôlego desses. Sem contar a ousadia e a cara-de-pau numa idade dessas. Colocou o bilhete por debaixo da porta conforme havia planejado. Encostou o ouvido na porta para verificar se o casal não estava por perto da porta. Nenhum barulho. Então tocou a campainha três vezes e deu uma batida com a mão na porta. Ao virar-se para correr em direção a lata de lixo, levara um susto. Um susto daqueles.

- Quem é o senhor? – abordava questionando o guardinha de rua.
- Eu? – respondeu Louzada.
- E tem alguém mais por aqui?
- Sou eu Lacerda, o Louzada!
– apresentava-se.
- Seu Louzada! Que roupa é essa?
- Vem comigo que eu te explico depois!

Louzada e Lacerda. Nome de dupla sertaneja, nada afinados decerto na música, mas alinhados na corrida em direção a lata de lixo para não serem descobertos em frente a casa 457. Ao chegar na atual base de ronda, Louzada explicou-se:

- Lacerda, é o seguinte! Estou tentando descobrir quem mora na casa 457 e tens que me ajudar!
- O senhor é corajoso! A boca pequena da casa 448
– referia-se a dona Maria Izabel – vive contando histórias assustadoras daí!
- Lacerda, tome jeito! Um homem barbado desses com medo de assombrações? Haja paciência!
- Seu Joaquim Louzada, me escute! Estou lhe dizendo, esta casa aí
– apontava com o indicador para a casa – tem alguma coisa muito estranha acontecendo. Hoje mesmo achei muito estranho, quase um milagre ter dois carros aqui na frente. Sai correndo lá da esquina com a Praça Tamandaré e vim aqui olhar. Isso não vai prestar!
- Escuta Lacerda! Nada de medos, meu guri. Olha a minha idade para a tua! Tens idade para ser meu filho! Tome tento e escute o meu plano: eu coloquei um bilhete por debaixo da porta avisando dos faróis ligados do gol vermelho e bati na campainha. Em alguns instantes um homem ou uma mulher vai aparecer para ir apagar os faróis. Nesse momento tu precisas estar ali na frente da porta para ao menos ver os rostos deles!
– ordenava o civil.
- Eu? Lá na frente deles? E falando com eles?
- Vou contar até três e tu corres daqui e faz o que eu disse. Senão, nada de águas para os teus cafés!


Louzada contou e Lacerda correu. Lacerda era um cearense cabra-nada-macho que viera para Rio Grande há mais de oito anos atrás para vender redes e colchas com outros quinze conterrâneos. O negócio não deu certo e então achou a boquinha de vigia noturno. Não dava nada para a profissão. Ficava as noites inteiras ouvindo a Rádio Gaúcha ou senão papeando com os motoboys da tele-entrega da quadra. Fez o que Louzada havia ordenado. Fez até melhor: encostou-se à parede da casa apoiando o corpo ao pé calcado na parede.

Enquanto ninguém aparecia Lacerda atolou os fones de ouvido nos tímpanos e ligou na Rádio Gaúcha. Desde que viera morar em Rio Grande havia virado gremista, simpatiza com o azul. Admirava o Falcão jogador e agora o Falcão comentarista, que mesmo sendo colorado sabia analisar precisamente as jogadas. Gostava também do “Professor” Ruy Carlos Ostermann pelas sábias análises. Aprendera até gostar mais de futebol por causa desses dois ícones do time futebolístico.

Aos poucos Lacerda foi cansando de ficar em pé e foi arriando-se tendo a parede como base. Quinze minutos depois já estava sentado na calçada. O vigia de Louzada estava se entregando aos braços de Morpheu, caindo de sono. Louzada ficava apenas vigiando. Rondas são chatas e causam tédio, às vezes. Os ápices da ronda da casa 457 já haviam acontecido bruscamente. Era o momento dos dois descansarem as pernas e esperarem por novos fatos. Louzada não contava com o sono repentino de Lacerda. Lacerda não contava com o aborde repentino de Louzada. Ou seja: Louzada estava sozinho de novo.

Na tentativa de acordar Lacerda, catou algumas pedrinhas junto ao meio-fio da calçada e lançou por cima da lata lixo mirando Lacerda. “Arrrrgh!” – lamentou-se. No terceiro lançamento acertara o carro, o golf verde-musgo. Um barulho ensurdecedor de alarme tomou conta da quadra. Lacerda? Lacerda ressonava ouvindo as últimas do esporte na Gaúcha. Até que no quarto lançamento Louzada o acertaria em cheio. Ao ouvir o alarme do carro disparando, Lacerda correu em disparada em direção a Praça Tamandaré e se sumiu na escuridão.

O alarme tocava e ninguém aparecia na porta da casa 457. O casal estaria ocupado e longe da porta central. O alarme disparando do golf verde-musgo e os faróis do gol vermelho ligados. Desperdício de bateria, desatenção ou esse seria mais sinal de que Louzada não deveria continuar com a investigação? Louzada continuaria mesmo sozinho, até porque estava sozinho antes do surgimento de Lacerda. A campainha e o alarme do carro e nem sinal. O alarme ainda atordoava os tímpanos e martelos de Louzada, assim como também os dos vizinhos. Espiadelas entre as cortinas, barulhos de venezianas sendo abertas para ver da onde vinha o barulho. Louzada continuava intacto na sua base. Perfeita base era que achara. Ganhara não só um bom lugar de visualização para a casa 457 como também uma sombra projetada da luz do poste em direção à lixeira, que era uma ótima camuflagem para manter-se longe dos olhos dos outros vizinhos.

Engano seu. Um carro da polícia dobraria em alta velocidade vindo da rua 24 de Maio, dobrando na rua Dezenove de Fevereiro. Do prédio da floreira, um casal octogenário milagrosamente havia escutado o alarme disparado do carro e ligou para polícia. Louzada tremera na base. Mesmo conhecendo alguns amigos da policia, depois de tanto tempo, não se safaria tão fácil se fosse achado. Um carro com alarme disparado, Louzada escondido atrás da lixeira e com trajes incomuns para serem trajados à noite e naquele lugar. Fortes indícios de incomodações para dona Zezé.

O carro da polícia havia parado cerca de cinco metros atrás do gol vermelho. Três carros agora. A pacata rua Dezenove de Fevereiro havia recebido bastante movimento numa só noite. Louzada permanecia intacto, não tinha para onde correr. Preferiu não aparecer para evitar desconfianças, corria risco de ser achado. Permaneceu na vigia com os olhos estalados atento a todos os movimentos da dupla de policiais que descera do carro. Primeiro olharam o gol vermelho com os faróis ligados e depois o golf verde-musgo com o alarme ainda disparado. Verificaram vidros, pneus e lataria. Nada de errado. Nenhum sinal de arrombamento. A dupla não chegou à conclusão alguma e ficaram conversando em frente à lateral tentando compreender o que estava acontecendo ali.

De repente o alarme parou. Louzada esticou o pescoço para ver se havia um outro homem por perto. Viu um vulto na janela da casa 457, mas não era suficiente. O homem ou a mulher da casa 457 havia apertado o controle do alarme do carro e controlado o alarme. Os policiais se olharam sem compreenderem nada. Apenas Louzada havia entendido. Tinha uma vantagem: possuía a visão maior da cena. Mas o maior problema ainda estava por vir. Não era a polícia que ainda ficava pé perto dos carros. O problema desta vez era o caminhão de lixo que havia dobrado na rua para o recolhimento dos lixos! E agora: para onde Louzada iria? Precisaria decidir o que fazer em fração de segundos. Espantaria os garis? O caminhão se aproximava cada vez mais. Esconder-se-ia novamente na floreira?

Um comentário:

Anônimo disse...

Pobre Louzada!
Espero que ele consiga desvendar esse mistério porque até eu estou curioso! E mais curioso ainda pq o autor deste blog não coloca o próxim capítulo no ar!!!

abraço meeeu!