É ruim ter inveja de alguém, mas um amigo meu, de longa data, a qual identidade não irei revelar nem sob uma dúzia de picanhas suculentas, tinha inveja de um colega de trabalho nosso, o Fernandinho. O meu amigo morria de inveja dele! Dava até pena. Para ele, o repórter Fernandinho era o exemplo de cara perfeito. Tinha todas as mulheres que queria ao seu redor sem quase falar uma frase por completa a elas. Mas como ele consegue? – o meu amigo vivia me perguntando e eu sempre largava alguma piadinha para mudar de assunto.
Se você é uma mulher e está lendo este texto acalme-me, por favor! O Fernandinho não era um homem exemplar segundo o conceito de perfeição de vocês. Por dia, beijava umas duas ou três, deixando outras em “banho-maria” para oscular no dia seguinte. Sem contar ainda nos trajes que vestia: calça jeans rasgadas, camisetas surradas que mais pareciam pijamas, bonés de abas retas para trás e quase uma dúzia de colares prateados no peito. Este definitivamente não é o cara perfeito – ao menos segundo o que vocês nos dizem sobre o cara ideal.
O meu amigo ficava apavorado com a facilidade do Fernandinho em conquistar novas mulheres. Quando chegávamos ao trabalho, lá estava o Fernandinho de papo e papo com a secretária, era o alvo preferido dele. Em menos de cinco minutos ele já atacava uma das repórteres ou até a responsável pela limpeza e pelos cafezinhos – que vivia bebericando a cada passada pela recepção. Um jeito de galã ordinário! Só podia ser isso. Talvez as mulheres se deixassem conquistar por aquele estilo pit-boy, metido à malvadão. Mas por quê? Por quê?
O Fernandinho não era nenhum modelo masculino, bem pelo contrário. Tinha um rosto comprimido e um furo no queixo. Seria o furo o queixo, aquele ítem recessivo da genética masculina herdada apenas pelos gens do pai o segredo da conquista daquele maledeto? Ao menos o Humberto Martins nas novelas da Globo conquistara todas as atrizes. O furo no queixo tinha um charme especial, um toque a mais. O meu amigo fica pensando naquilo o dia inteiro, às vezes, na hora de fazer a câmera no programa em que eu apresentava, tremia a câmera e a fazia sair de lugar. Ele ficava tão pensativo que se apoiava nela e se esquecia que estava gravando. Aquilo tinha virado uma obsessão e eu, como amigo que era na época, precisava ajudá-lo o quanto antes.
No final da gravação daquele dia todos deixaram o estúdio rapidamente para fazerem uma externa da visita do presidente Lula a Rio Grande. Desliguei os microfones, juntei as laudas e puxei um papo cabeça com o meu amigo:
- Visses a vítima de hoje do Fernandinho?
- A secretaria de novo! Eu não sei como ele consegue! Veste aquela jaqueta de couro de segunda toda amassada e aquele boné para trás! Eu não entendo! Não entendo mesmo!
- Calma, calma... Te garanto que ele é desse jeito porque alguma mulher deve ter dado um pé nele bonito, daqueles clássicos de novela!
- Mas o que me adianta saber disso? Eu só queria ter um pouco da lábia dele!
- De onde lábia se ele mal fala?
- Não sei, é jeito de dizer! Eu queria um pouco da malandragem, então... – falava o meu amigo com um olhar triste e pidão.
- Eu acho que posso te ajudar, mas preciso que também me ajudes a te ajudar! – falei a ele para ver se conseguia mudar um pouco a opinião dele e realmente fazê-lo acreditar que ele poderia ser um pouco do que o Fernandinho era. Ele topou na hora, mas com uma condição:
- Só não me pede para tirar o bigode!
Como que eu poderia ajudar ele se ele não queria tirar justamente o bigode? O meu amigo era um cara, digamos assim, como posso falar, deixe-me pensar, boa pinta, mas um pouco desgastado do tempo e também desatualizado: descuidado. Prometi, então tinha que ajudá-lo, mesmo com a condição do bigode. De imediato lhe avisei que iríamos trabalhar sábado pela manhã, mas trabalhar no caso dele e não em gravações de programas ou reportagens. Eu seria o diretor e o câmera também desta vez; ele o protagonista.
- Amanhã às 9h na esquina da Igreja do Carmo, ok?
- Combinado, Marquinho.
Ele era um dos poucos que me chamava de Marquinho - assim como me chamava o meu saudoso avô Ernani. Não importava o jeito do qual ele me chamava, importava é que ele havia topado com o meu plano de ajudá-lo. Ele estava perdido e realmente decidido a fazer qualquer coisa para aproximar-se de uma mulher, até porque ele mesmo com 26 anos no corpo não havia tido muitas experiências na vida. Usava calças marrons e camisetas listradas, quando não outras piores, acompanhadas com um surrado mocassim preto que mais parecia cinza. Dava dó!
Fui para casa pensando no que poderia fazer para ajudá-lo. Lembro que na época eu não estava namorando, mas não tinha problemas em estar solteiro. Tinha uma vida de solteiro tranqüila, já a do meu amigo... bem, se houvesse uma denominação para ao estado civil dele seria abandonado, solitário, repudiado.
No outro dia pela manhã lá estava ele com a cara ainda meio amassada e trajando uma camiseta de propaganda eleitoral de um vereador, a mesma calça jeans marrom e o velho mocassim de guerra. A roupa nem me incomodava mais, mas aquele bigode! Bem, era a condição dele. Tentaria fazê-lo mudar de opinião aos poucos quem sabe. Só que antes era preciso dar um banho de loja naquele indivíduo que, por sinal, era um trabalhador responsável.
Propus a ele irmos primeiro a uma loja de roupas e depois outra de sapatos. Ele topou. Chegando na primeira disse a ele para pegar as roupas que mais lhe convinha. Depois de uns dez, quinze minutos, veio o meu amigo com uma pilha de roupas empilhadas nos braços. Camisas florais esparrentas e outras calças marrons. Não acreditei. Tudo bem que ele não soubesse vestir-se ou tivera um estilo próprio, alternativo até, mas definitivamente aqueles trajes não seriam os mais adequados para ajudá-lo a aproximar-se de uma mulher.
Enquanto ele escolhera aquelas roupas, fiz a mesma coisa que ele. Escolhi algumas calças jeans mais esportivas, umas camisetas menos chamativas e umas camisas mais formais para ele experimentar. Ele chegou com aquela pilha de roupas e eu apenas troquei as pilhas com ele. A minha seleção pela dele e apontei com o dedo indicador no ar para o provador de roupas e sentenciei:
- Vai, vai e não reclama!
Não é que o meu amigo ficou com um visual mais atraente? Olha, ele ficou bem longe do Fernandinho e para melhor. Nada de jaquetas de couro e nem calças jeans rasgadas. Mas uma camisa nova sem muitas cores e sem propagandas de vereador com uma calça de cor casual lhe dera uma aparência rejuvenescedora. Uns cinco anos a menos, decerto. Estava ele na minha frente com uma camisa social azul claro com as mangas dobradas e uma calça jeans. Ora! Eu havia feito uma boa ação, mesmo que não entendendo nada cirurgicamente de moda.
Passamos no caixa e levamos aquele traje mais outras cinco camisas, três camisetas, quatro calças e outras pequenas coisas como cintos, cuecas e meias. Um banho de loja quase que por completo. Só faltavam ainda os sapatos e tênis novos para substituírem aquele mocassim dos anos 80. E o bigode...
Saímos dali e no caminho fui dando alguns conselhos para ele na hora de abordar uma mulher. Eu não era um Don Juan, mas sabia de algumas coisas infalíveis na hora do aborde.
- Cara! Mulher gosta de cara que as faça sorrir! Sorrir por nada, simplesmente fala alguma e tentar puxar o lado cômico da situação e pronto!
- Mas como assim? Vou lá e puxo uma piada?
- É mais ou menos por ai! Pensa que se ela te falar que gosta de pagode, fala um trechinho de um pagode que diga alguma coisa indiretamente. Ela vai sorrir por causa da mensagem! Ou até sorria por causa da tua desafinação ou seleção musical. Mas ao menos ela vai sorrir, entendeu?
- Sim, mas é que eu sou tímido. Muitas vezes eu até tenho vontade, mas não tenho confiança de chegar, entende?
- Só vais conseguir ter confiança se arriscares! Vamos entrar ai agora e comprar uns pisantes novos para ti...
Saímos da loja com quatro pares, dois de tênis e dois de sapatos. Mas o bigode ainda permanecia! Foi aí que um dos melhores exemplos instigantes me vieram a cabeça para lhe fazer mudar de idéia:
- Já compramos tudo e eu sei que falasses do bigode, mas...
- Não adianta nem falar no bigode! – tentou me pausar ele.
- Cara! Tu tens só 26 anos! Olha eu, não tenho nem 21 e quando deixo a barba crescer já pareço mais velho, mais experiente! – tentei convecê-lo.
- Ué, mas não és tu quem me diz que de deixar a barba crescer? Olha lá o Fernandinho! Sempre com a barba mal feita...
- Sim, sou eu mesmo! Mas é aí que está: tu só usas bigode e nem a barba deixas crescer. O Fernandinho não usa barba e nem bigode, só os deixa aparecer minimamente! Esse é o charme dele, não percebesse?
- Pois é, pois é...
- Vamos ao barbeiro agora mesmo e nem adianta dizer não. Já vamos aproveitar e dar um corte nesse teu cabelo aí que parece mais um ninho de querequexé!
Daquele salão, depois de uma meia-hora, saiu um cara totalmente diferente daquele que conhecia. O cara perfeito eu não sei se saíra, mas um cara remodelado e com a aparência em dia garanto que sim, com toda a certeza. Mas precisaríamos fazer o teste! Já que era sábado, o jeito era ir a uma festa para termos a confirmação de que a aparência também ajudaria nesse tipo de situação.
- Vamos sair hoje, às 23h passo na tua casa, beleza? – ordenei.
- Tá tá...
- E quero te ver vestir uma dessas roupas de hoje, nada de calça marrom ou mocassim, hein!
Passei na casa dele na hora combinada e, realmente, não acreditei quando ele abrira a porta de casa. O cara era outro! Agora sim dera para ver a harmonia no conjunto das roupas e o tapa no visual. Outro mesmo. Talvez o homem ideal agora: além de um câmera responsável, um cara com conteúdo e com uma aparência boa, bem vestido. Seria próprio para os tipos pretendidos pelas mulheres – ao menos os que elas costumam falar.
No caminho da festa lhe dei outros mais alguns conselhos e reforcei o de fazer uma mulher sorrir. Apresentei-lhe algumas amigas, lhe dei uma cerveja do bar do FlashRG e depois o perdi de vista. Até porque também estava solteiro e queria aproveitar a festa. Sei que lá pelas tantas da manhã avistei o meu amigo aos agarros com um rosto feminino conhecido. Era a secretária da TV onde trabalhávamos, o alvo preferido do Fernandinho, o galanteador pit-boy bebedor de cafezinho.
Dei carona de volta para os dois e fui de táxi, eu na frente sozinho e os dois lá atrás trocando telefones e combinando de almoçarem juntos na segunda-feira. Talvez ele não fosse o cara perfeito, mas havia se tornado o homem ideal para a nossa secretária. Na segunda-feira enquanto ele almoçaria com ela, eu tomaria o rumo das lojas e foi o que eu fiz, assumo.
É extremamente ruim quando as pessoas vivem só de aparência, mas que ela dá uma forcinha nessas horas para alguns, ela realmente dá. Ou vai me dizer que você mulher gostaria de um homem trajando calças marrons e mocassins preto-quase-cinza? Não responda! Afinal, há gosto para tudo e o seu cara perfeito, caso ainda não tenha chegado, deve estar por ai trajando roupas parecidas com as que o meu amigo usava. Caso ele já tenha chegado, deve estar usando algo parecido e sentado em a frente televisão com o controle remoto na mão, apoiando uma tigela de pipoca na barriga e com uma cervejinha na mesa ao lado da poltrona.
Lembre-se: a perfeição não existe, mas podemos fazer o melhor para nos aproximar dela. Ainda mais quando se corre o risco... de ficar solteiro!
Se você é uma mulher e está lendo este texto acalme-me, por favor! O Fernandinho não era um homem exemplar segundo o conceito de perfeição de vocês. Por dia, beijava umas duas ou três, deixando outras em “banho-maria” para oscular no dia seguinte. Sem contar ainda nos trajes que vestia: calça jeans rasgadas, camisetas surradas que mais pareciam pijamas, bonés de abas retas para trás e quase uma dúzia de colares prateados no peito. Este definitivamente não é o cara perfeito – ao menos segundo o que vocês nos dizem sobre o cara ideal.
O meu amigo ficava apavorado com a facilidade do Fernandinho em conquistar novas mulheres. Quando chegávamos ao trabalho, lá estava o Fernandinho de papo e papo com a secretária, era o alvo preferido dele. Em menos de cinco minutos ele já atacava uma das repórteres ou até a responsável pela limpeza e pelos cafezinhos – que vivia bebericando a cada passada pela recepção. Um jeito de galã ordinário! Só podia ser isso. Talvez as mulheres se deixassem conquistar por aquele estilo pit-boy, metido à malvadão. Mas por quê? Por quê?
O Fernandinho não era nenhum modelo masculino, bem pelo contrário. Tinha um rosto comprimido e um furo no queixo. Seria o furo o queixo, aquele ítem recessivo da genética masculina herdada apenas pelos gens do pai o segredo da conquista daquele maledeto? Ao menos o Humberto Martins nas novelas da Globo conquistara todas as atrizes. O furo no queixo tinha um charme especial, um toque a mais. O meu amigo fica pensando naquilo o dia inteiro, às vezes, na hora de fazer a câmera no programa em que eu apresentava, tremia a câmera e a fazia sair de lugar. Ele ficava tão pensativo que se apoiava nela e se esquecia que estava gravando. Aquilo tinha virado uma obsessão e eu, como amigo que era na época, precisava ajudá-lo o quanto antes.
No final da gravação daquele dia todos deixaram o estúdio rapidamente para fazerem uma externa da visita do presidente Lula a Rio Grande. Desliguei os microfones, juntei as laudas e puxei um papo cabeça com o meu amigo:
- Visses a vítima de hoje do Fernandinho?
- A secretaria de novo! Eu não sei como ele consegue! Veste aquela jaqueta de couro de segunda toda amassada e aquele boné para trás! Eu não entendo! Não entendo mesmo!
- Calma, calma... Te garanto que ele é desse jeito porque alguma mulher deve ter dado um pé nele bonito, daqueles clássicos de novela!
- Mas o que me adianta saber disso? Eu só queria ter um pouco da lábia dele!
- De onde lábia se ele mal fala?
- Não sei, é jeito de dizer! Eu queria um pouco da malandragem, então... – falava o meu amigo com um olhar triste e pidão.
- Eu acho que posso te ajudar, mas preciso que também me ajudes a te ajudar! – falei a ele para ver se conseguia mudar um pouco a opinião dele e realmente fazê-lo acreditar que ele poderia ser um pouco do que o Fernandinho era. Ele topou na hora, mas com uma condição:
- Só não me pede para tirar o bigode!
Como que eu poderia ajudar ele se ele não queria tirar justamente o bigode? O meu amigo era um cara, digamos assim, como posso falar, deixe-me pensar, boa pinta, mas um pouco desgastado do tempo e também desatualizado: descuidado. Prometi, então tinha que ajudá-lo, mesmo com a condição do bigode. De imediato lhe avisei que iríamos trabalhar sábado pela manhã, mas trabalhar no caso dele e não em gravações de programas ou reportagens. Eu seria o diretor e o câmera também desta vez; ele o protagonista.
- Amanhã às 9h na esquina da Igreja do Carmo, ok?
- Combinado, Marquinho.
Ele era um dos poucos que me chamava de Marquinho - assim como me chamava o meu saudoso avô Ernani. Não importava o jeito do qual ele me chamava, importava é que ele havia topado com o meu plano de ajudá-lo. Ele estava perdido e realmente decidido a fazer qualquer coisa para aproximar-se de uma mulher, até porque ele mesmo com 26 anos no corpo não havia tido muitas experiências na vida. Usava calças marrons e camisetas listradas, quando não outras piores, acompanhadas com um surrado mocassim preto que mais parecia cinza. Dava dó!
Fui para casa pensando no que poderia fazer para ajudá-lo. Lembro que na época eu não estava namorando, mas não tinha problemas em estar solteiro. Tinha uma vida de solteiro tranqüila, já a do meu amigo... bem, se houvesse uma denominação para ao estado civil dele seria abandonado, solitário, repudiado.
No outro dia pela manhã lá estava ele com a cara ainda meio amassada e trajando uma camiseta de propaganda eleitoral de um vereador, a mesma calça jeans marrom e o velho mocassim de guerra. A roupa nem me incomodava mais, mas aquele bigode! Bem, era a condição dele. Tentaria fazê-lo mudar de opinião aos poucos quem sabe. Só que antes era preciso dar um banho de loja naquele indivíduo que, por sinal, era um trabalhador responsável.
Propus a ele irmos primeiro a uma loja de roupas e depois outra de sapatos. Ele topou. Chegando na primeira disse a ele para pegar as roupas que mais lhe convinha. Depois de uns dez, quinze minutos, veio o meu amigo com uma pilha de roupas empilhadas nos braços. Camisas florais esparrentas e outras calças marrons. Não acreditei. Tudo bem que ele não soubesse vestir-se ou tivera um estilo próprio, alternativo até, mas definitivamente aqueles trajes não seriam os mais adequados para ajudá-lo a aproximar-se de uma mulher.
Enquanto ele escolhera aquelas roupas, fiz a mesma coisa que ele. Escolhi algumas calças jeans mais esportivas, umas camisetas menos chamativas e umas camisas mais formais para ele experimentar. Ele chegou com aquela pilha de roupas e eu apenas troquei as pilhas com ele. A minha seleção pela dele e apontei com o dedo indicador no ar para o provador de roupas e sentenciei:
- Vai, vai e não reclama!
Não é que o meu amigo ficou com um visual mais atraente? Olha, ele ficou bem longe do Fernandinho e para melhor. Nada de jaquetas de couro e nem calças jeans rasgadas. Mas uma camisa nova sem muitas cores e sem propagandas de vereador com uma calça de cor casual lhe dera uma aparência rejuvenescedora. Uns cinco anos a menos, decerto. Estava ele na minha frente com uma camisa social azul claro com as mangas dobradas e uma calça jeans. Ora! Eu havia feito uma boa ação, mesmo que não entendendo nada cirurgicamente de moda.
Passamos no caixa e levamos aquele traje mais outras cinco camisas, três camisetas, quatro calças e outras pequenas coisas como cintos, cuecas e meias. Um banho de loja quase que por completo. Só faltavam ainda os sapatos e tênis novos para substituírem aquele mocassim dos anos 80. E o bigode...
Saímos dali e no caminho fui dando alguns conselhos para ele na hora de abordar uma mulher. Eu não era um Don Juan, mas sabia de algumas coisas infalíveis na hora do aborde.
- Cara! Mulher gosta de cara que as faça sorrir! Sorrir por nada, simplesmente fala alguma e tentar puxar o lado cômico da situação e pronto!
- Mas como assim? Vou lá e puxo uma piada?
- É mais ou menos por ai! Pensa que se ela te falar que gosta de pagode, fala um trechinho de um pagode que diga alguma coisa indiretamente. Ela vai sorrir por causa da mensagem! Ou até sorria por causa da tua desafinação ou seleção musical. Mas ao menos ela vai sorrir, entendeu?
- Sim, mas é que eu sou tímido. Muitas vezes eu até tenho vontade, mas não tenho confiança de chegar, entende?
- Só vais conseguir ter confiança se arriscares! Vamos entrar ai agora e comprar uns pisantes novos para ti...
Saímos da loja com quatro pares, dois de tênis e dois de sapatos. Mas o bigode ainda permanecia! Foi aí que um dos melhores exemplos instigantes me vieram a cabeça para lhe fazer mudar de idéia:
- Já compramos tudo e eu sei que falasses do bigode, mas...
- Não adianta nem falar no bigode! – tentou me pausar ele.
- Cara! Tu tens só 26 anos! Olha eu, não tenho nem 21 e quando deixo a barba crescer já pareço mais velho, mais experiente! – tentei convecê-lo.
- Ué, mas não és tu quem me diz que de deixar a barba crescer? Olha lá o Fernandinho! Sempre com a barba mal feita...
- Sim, sou eu mesmo! Mas é aí que está: tu só usas bigode e nem a barba deixas crescer. O Fernandinho não usa barba e nem bigode, só os deixa aparecer minimamente! Esse é o charme dele, não percebesse?
- Pois é, pois é...
- Vamos ao barbeiro agora mesmo e nem adianta dizer não. Já vamos aproveitar e dar um corte nesse teu cabelo aí que parece mais um ninho de querequexé!
Daquele salão, depois de uma meia-hora, saiu um cara totalmente diferente daquele que conhecia. O cara perfeito eu não sei se saíra, mas um cara remodelado e com a aparência em dia garanto que sim, com toda a certeza. Mas precisaríamos fazer o teste! Já que era sábado, o jeito era ir a uma festa para termos a confirmação de que a aparência também ajudaria nesse tipo de situação.
- Vamos sair hoje, às 23h passo na tua casa, beleza? – ordenei.
- Tá tá...
- E quero te ver vestir uma dessas roupas de hoje, nada de calça marrom ou mocassim, hein!
Passei na casa dele na hora combinada e, realmente, não acreditei quando ele abrira a porta de casa. O cara era outro! Agora sim dera para ver a harmonia no conjunto das roupas e o tapa no visual. Outro mesmo. Talvez o homem ideal agora: além de um câmera responsável, um cara com conteúdo e com uma aparência boa, bem vestido. Seria próprio para os tipos pretendidos pelas mulheres – ao menos os que elas costumam falar.
No caminho da festa lhe dei outros mais alguns conselhos e reforcei o de fazer uma mulher sorrir. Apresentei-lhe algumas amigas, lhe dei uma cerveja do bar do FlashRG e depois o perdi de vista. Até porque também estava solteiro e queria aproveitar a festa. Sei que lá pelas tantas da manhã avistei o meu amigo aos agarros com um rosto feminino conhecido. Era a secretária da TV onde trabalhávamos, o alvo preferido do Fernandinho, o galanteador pit-boy bebedor de cafezinho.
Dei carona de volta para os dois e fui de táxi, eu na frente sozinho e os dois lá atrás trocando telefones e combinando de almoçarem juntos na segunda-feira. Talvez ele não fosse o cara perfeito, mas havia se tornado o homem ideal para a nossa secretária. Na segunda-feira enquanto ele almoçaria com ela, eu tomaria o rumo das lojas e foi o que eu fiz, assumo.
É extremamente ruim quando as pessoas vivem só de aparência, mas que ela dá uma forcinha nessas horas para alguns, ela realmente dá. Ou vai me dizer que você mulher gostaria de um homem trajando calças marrons e mocassins preto-quase-cinza? Não responda! Afinal, há gosto para tudo e o seu cara perfeito, caso ainda não tenha chegado, deve estar por ai trajando roupas parecidas com as que o meu amigo usava. Caso ele já tenha chegado, deve estar usando algo parecido e sentado em a frente televisão com o controle remoto na mão, apoiando uma tigela de pipoca na barriga e com uma cervejinha na mesa ao lado da poltrona.
Lembre-se: a perfeição não existe, mas podemos fazer o melhor para nos aproximar dela. Ainda mais quando se corre o risco... de ficar solteiro!
Um comentário:
Sinceramente, não me importo que o 'homem ideal' fique com a tijela de pipoca na barriga e com a cerveja do lado, desde que ele esteja ali pra assistir o jogo do Inter comigo! :D ahuioHOUIhuihUIHui
Claro que a aparência não é tudo, mas é uma parte importante... A beleza interior a gente conhece com o tempo, mas a exterior é que nos instiga a conhecer a pessoa.
Mas o 'cara perfeito'... É difícil de encontrar! Até porque o que eu mais acho legal é a imperfeição (sempre mais interessante). Não a imperfeição de caráter e sim a de jeito mesmo, que demonstra que a pessoa também erra as vezes.
O que seria dos relacionamentos se fossem realmente perfeitos? Completamente sem graça.
Aqui e ali uma briguinha, um ciúme não faz mal a ninguém, e dá um sabor especial ah qualquer affair. :)
Beijo Kito!!
=***
E bah, Fernandinho... Não é o estilo de 3/4 das mulheres. aaouiHIOUhoiuhuihui
Mas sempre tem as 'marias-boné' :D
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