segunda-feira, 7 de abril de 2008

O Sincerista - Capítulo I

Lauro era econômico. Não nas compras para a casa ou com os presentes para a família. Ele era econômico nas palavras. E por ser sintético e objetivo com elas, ganhara o apelido de “sincerista” na repartição de seu trabalho.

Tinha uma filha de oito anos do primeiro casamento. Sim, ele já tivera uma mulher. O motivo do término é aparente. Claro, a sua sinceridade. O desquite mais infantil da história dos casamentos curtos. Fora construído pelas palavras objetivas e, às vezes, até mal humoradas de Lauro. Palavras curtas, frases curtíssimas. Quase não fazia uso de muitos períodos na montagem de suas falas.

34 anos. Uma idade mediana para um homem com uma vida equilibrada. Um apartamento no centro da cidade. Um carro e uma moto na garagem e uma renda extra de um apartamento herdado do tio falecido há trezes anos. Estabilidade, diga-se assim. Uma vida estável. Sobras no final do mês para uma viagem de final de semana, sem se esquecer de pagar a pensão da filha e da esposa. Nesse ponto, Lauro não era sintético, fazia questão de estender o máximo possível para agradar a filha. Já, Lúcia, ainda tinha outras intenções. Ainda gostava dela, mas ela relutava em voltar.

A sinceridade de Lauro o atrapalhara desde pequeno. Nas rodas de amigos, não conseguia enturmar-se. Na hora de escolherem polícia ou ladrão, Lauro era polícia. Na hora do futebol, Lauro era goleiro. Detestava ser goleiro. Não conseguia ficar olhando o jogo. Não pelo de tomar uma bolada ou levar gols. Ficava com raiva de poder ver os erros dos amigos correndo para lá e para cá e nenhum deles o escutava quando lá debaixo das traves falava e reclamava de tudo que eles faziam. Inclusive quando faziam uma boa jogada. Galgava a passos largos para ter o apelido que tem hoje.

Na adolescência nunca se dera bem com nenhuma guria. Tivera uma namorada apenas. E uma namorada de que sente saudades até hoje. Sandrinha. Uma mulher de pernas sem fim e com a sinceridade igual à dele, na ponta da língua. Saíam pelo centro da cidade e ficavam analisando as pessoas. “Olha aquele ali, parece mais um caipira com aquela camisa xadrez!. “E aquele lá, do jeito que anda parece o Garrincha com aquelas pernas tortas!”. Assim foram, até o dia que Lauro abriu a boca na hora errada, no momento errado, dando a resposta errada:

- E-e-e-u...
- Tu o que, Lauro?

- Eu...
- Fala guri! Desembucha logo!
- Eu achei feia essa tua blusa.
- Como?
- Eu achei feia essa tua blusa
– repitira e ainda completara: - Parece mais uma cesta de frutas! Maças, pêras, laranjas, quase uma feira ambulante!
- Sai daqui, agora...

Lauro saiu e nunca mais vira a sombra de Sandrinha. A sua sinceridade dava mais indícios de que era hora de mudar ou, infelizmente, persistir no erro. Desde a despedida instantânea de Sandrinha, o cacoete da sinceridade lhe fazia coçar a língua. Os lábios e os dentes não eram páreo para ele. Se deixassem a bolinha quicando, Lauro, saía da defesa de bom ouvinte e emendava uma bicuda no ângulo:

- Você parece mais uma alma-de-gato com esse topete!

Com os passar dos anos foi perdendo amigos e fazendo inimigos. Vivia sempre sozinho pelos bares da cidade. Se quisessem encontrá-lo aos sábados à noite, Lauro estava sempre no Ponto Z, um bar localizado na Av. Major Carlos Pinto. Sozinho. Uma mesa com quatro lugares e apenas uma cadeira ocupada. Por ele. A solidão era a sua melhor amiga. E nem ela fora capaz de ajudá-lo a refletir e a diagnosticar o porquê de estar sozinho. Sem amigos, sem namorada e muito menos uma esposa.

O trabalho era o único lugar onde Lauro ainda preservara o ambiente social. Por mais que freqüentasse barzinhos, restaurantes e lugares movimentos, o Departamento de Marketing da empresa em que trabalhara era o lugar em que conseguir comportar-se. Ou quase sempre. Trabalhara numa sala só para ele, com ar-condicionado, frigobar, computador moderníssimo com direito à MSN e Orkut liberados. Um luxo para alguém que não conseguira segurar a língua dentro da boca.

Quando chegara ao trabalho, passava reto pelas pessoas. Poucas o conheciam pela educação de chegar a um ambiente e cumprimentar nem que fosse ao menos com um “oi” ou “olá”. Balançava a cabeça e seguia a passos largos rumo a sua sala no fundo do corredor. Passava pela Isabela das pernas tão cumpridas quanto a de sua ex-mulher e nem um oi ganhava. Por Letícia, a que usava terninhos de apresentadora de telejornal e nada de olás. Sem contar pela estonteante Fabíola de quase 1,80 de curvas bem delineadas. Muito menos uma balançada de cabeça. Ela era um desafio para ele. Ainda iria perturbar aquela mulher com a sinceridade que tanto lhe fizera observá-la através dos vidros de sua sala.

Em contrapartida ao difícil desafio de receber um cumprimento de Fabíola, havia uma estagiária que lhe fizera todos os favores e lhe dava todos os olás que esperava de Fabíola. Era Marcinha. Ela levava papéis a cada dez minutos para Lauro assinar. Insinuava-se toda. Esgueirava-se na mesa com as duas mãos inclinando o corpo para frente. Lauro olhava por sobre os óculos e seguia escrevendo. Lauro gostava de mulheres difíceis e não das atiradas. Marcinha era uma ruiva. Uma ruiva atirada. E como todos sabem, as ruivas têm fogo nas estranhas. Fazem de tudo para atrair um homem. Lauro perguntava-se interiormente se Marcinha insinuava-se por querer o cargo fixo ou que ela sentira algo mais ele. Talvez os cabelos grisalhos? Lauro precisava saber e assim, como um tiro de escopeta, levantou a cabeça e foi incisivo:

- Eu já vi teus peitos hoje! Fazes isso por que gostas de provocar um homem ou eu sou uma incógnita para ti pelo meu jeito tímido e de poucas palavras? – Marcinha não sabia o que falar. Mexeu no cabelo, enrolou uns dez centímetros de seus cachos cor de fogo e apenas sentenciou:

- Eu gosto de homens tímidos e tenho tesão por cabelos grisalhos como os teus!

Lauro a ficou mirando buscando alguma resposta pela sinceridade sintética que ela havia lhe dado. Não conseguira. Baixou a cabeça, verificou mais uma vez os documentos, agradeceu-lhe e a mirou indo embora balançando as cadeiras para lá e para cá com seus saltos altos e com terninho rosa avermelhado. Essa também era a cor das maças de seu rosto. Um rosto de vergonha. Vergonha essa que não passara desde os tempos da adolescência. Lembrara de Sandrinha no instante em que Marcinha batera a porta. Precisava dar o troco. Não iria ficar daquele jeito. Necessitava de uma resposta de bate-pronto, uma bicuda certeira como àquelas que Romário aplicou na Copa de 94 nos Estados Unidos. Deveria agir como ele: era receber, chutar e correr para o abraço.



O que Lauro poderia fazer para dar o troco na estagiária ruivinha? E Fabíola? Deveria usar de sua sinceridade para aproximar-se daquele mulherão de quase dois metros de altura? Dê os seus palpites e ajude a continuar esta história! Confira a seqüência dela amanhã, no segundo capítulo de "O Sincerista".

Um comentário:

Nati Leivas disse...

hahahahahaha :D

Gente sincera demais acaba machucando, porém, de menos tbm...

Acho que ele deveria deixa assim mesmo a resposta da estagiária e tentar não ser tão sincero a ponto de machucar fabíola, sincero a ponto de conquista-la :D

beijinhos e uma ótima semana