Lauro virara o bloco de notas. Nossa! Lauro tremera na base. Era dela. Mas como poderia ser dela? Ela nunca havia dado um sinal recíproco de que ao menos conhecesse Lauro em todos os anos de trabalho naquela empresa. Muito menos um olá ou um bom dia. “Que letra bonita, bem desenhada” – analisava ele. Parecia um guri pimpão com sorriso de canto a canto da boca e com os olhos estralados lendo várias vezes a frase do bilhete:
“Topas uma pizza, hoje, às 21h, na La Pizza Mia? Se sim, deixa a resposta na minha mesa. Fabí”
Um bilhete de Fabíola. Os céus haviam atendido suas preces. Aquele mulherão quase da sua altura havia lhe dado atenção. De mulheres ousadas ele não esperava mais nada depois que conhecera a fúria avassaladora dos cabelos de Marcinha. Fabíola também? Não acreditava no que lia. Lia, lia e lia. Sentou-se e ficou analisando o bilhete no bloco de notas e mirando por cima dos óculos, através dos vidros de sua sala a sua tão longínqua Fabíola. Pensara no que falaria, na frase certa.
Tinha de responder, mas não sabia a frase certa. Quem sabe uma frase mais ousada? Ou uma frase mais comedida? Não sabia como era a voz de Fabíola muito menos do que gostara de ler. Talvez um David Coimbra ou uma Martha Medeiros? Não tinha idéia de como era sua voz. Quem sabe uma voz rouca e sexy como a de Daniela Cicarelli? Quiçá uma voz meiga como a da Mariana Ximenes? E qual seria o cheiro de Fabíola? Meu Deus! Ficava imaginando com o olhar estancado, parado. Sua cabeça voava, assim como o tempo.
Os pensamentos de Lauro lhe tiraram meias horas de seu horário trabalho que ainda nem terminara as jogadas de marketing de um produto para a linha culinária chamado Tampex. Uns saquinhos para tampar pratos com alimentos. Uma idéia adquirida de alunos da UCPel. Praticamente uma touca para a proteção de alimentos. Uma touca. “Como ficaria Fabíola com uma touca dessas banhando-se suavemente com uma esponja repleta de espuma?” – vagava o pensamento de Lauro. Não conseguia concentrar-se.
A solução seria escrever a resposta do bilhete. Talvez escrevendo a resposta com a confirmação do convite, as idéias relativas ao Tampex lhe fluíssem da cabeça. O que deveria escrever? Algo simples? Ousado? Nada disso. Escreveria a primeira coisa que lhe viesse à cabeça quando pensara em Fabíola. De primeira: pernas! Segunda tentativa: compridas! Não. Definitivamente não. Lauro carecia de uma frase, uma frase enxuta e direta. Bolinhas de papéis já alagavam a volta da cadeira. De repente o feeling lhe fez a cabeça:
“Eu quero. Eu vou.”
Uma frase simples e deveras sincerista. Lauro fazia jus a uma qualidade – ou defeito – que possuía desde guri dos tempos de Portuária: era sincero. Ao mesmo tempo em que aceitara o convite, fora incisivo e ambíguo no ato de querer. Nas entrelinhas estava a maior resposta. Lauro atacava como um redator-publicitário. O público-alvo era somente um. Único, ou melhor, única, porém de grandes dimensões.
11h45 confirmava o relógio. Hora do almoço. Essa era a hora de entregar o bilhete. O trabalho nem havia rendido. Nada de relatórios e nem estratégias para o produto inventado por aqueles acadêmicos. Todos tinham de ir embora. Lauro teria de esperar todos, inclusive a ardente Marcinha que havia lhe perturbado durante manhã. Ele sabia que tinha cutucado a onça com vara curta, mas, por enquanto, a onça estava adormecida esperando a melhor hora para o bote.
Marcinha, por ser estagiária, tinha o trabalho triplicado e, às vezes, até quadriplicado pelos pedidos dos funcionários efetivados. De quando em vez, nem iria para o almoço. 11h50 já marcava o relógio e nada da safardana ir embora. Lauro baixara a cabeça fingindo escrever, canalizando energias mentalmente para que ela fosse almoçar ou que, ao menos, fosse ao banheiro. Marcinha levantara-se cheia de documentos empilhados segurados pelo queixo. Finalmente estava indo embora, não para o almoço, talvez para o cartório. O importante é que saíra de lá.
Era chegada a hora de ser o carteiro de si próprio. Tarefa simples, abrir a porta, seguir com passos largos e largar o bilhete na mesa de Fabíola. Pá-pum. Vapt-vaput. Respirou fundo, abriu a porta e seguiu. Passo um, passo dois, passo três. Tudo tranqüilo. Faltava pouco para chegar. Um barulho de pessoa caminhando. Seria Marcinha? “Que praga essa ruiva!” – pensara. Acelerou o passo para chegar a tempo na mesa de Fabíola. Não adiantara. Os passos eram de César, o motoboy da empresa que havia chegado para recolher as entregas.
- Fala Doutor, tudo em riba? – Lauro não acreditava naquela intromissão na hora errada e no lugar errado.
- É César, muito trabalho!
- Quase morri hoje Doutor! Um caminhão quase me pegou na esquina da Marechal Floriano. Foi por pouco! – relatava o motoboy.
- Ah é? – falou pouco se importando do quase acidente de César.
- Mas vem cá Doutor! O senhor tá ligado naquela Fabí, naquele mulherão das pernas longas? – Lauro respirou fundo quando escutara o nome de Fabíola. E mais, não escutara apenas o nome, mas uma forma carinhosa, reduzida do nome de sua amada. Sentiu calafrios dos tornozelos até a nuca. E César ainda completaria:
- É uma deusa aquela comprida! Se eu pudesse levava ela para comer uma pizza e depois dava uns agarras nela! – Lauro matava César com os olhos, como se o motoboy fosse uma presa fácil, um ratinho de laboratório e como uma resposta daquelas bem sinceras foi enxotando César da sala, com a mãos por detrás do omoplata direito do motoqueiro:
- Ela é bonita realmente, mas não é para o teu bico, Césinha! – disse ironicamente.
- Já sei, já sei! O doutor tá pegando corpo então, não?
- Vamos indo, vamos indo. É hora de almoço!
Lauro saiu empurrando César com o braço em direção ao elevador. Antes de sair, fingira cair propositalmente o seu molhe de chaves em frente a mesa de Fabíola. Ao abaixar-se para pegar, colocara o bilhete rapidamente em cima da mesa. César nem percebera e continuara falando nas pernas de Fabí. Falava Fabí como se fossem íntimos. Talvez fossem na época de colégio ou quando pequenos. Agora não mais. Lauro não gostava nada daquilo, mas teria de agüentar. E agüentar mais ainda o término daquela imensa tarde de trabalho.
“Topas uma pizza, hoje, às 21h, na La Pizza Mia? Se sim, deixa a resposta na minha mesa. Fabí”
Um bilhete de Fabíola. Os céus haviam atendido suas preces. Aquele mulherão quase da sua altura havia lhe dado atenção. De mulheres ousadas ele não esperava mais nada depois que conhecera a fúria avassaladora dos cabelos de Marcinha. Fabíola também? Não acreditava no que lia. Lia, lia e lia. Sentou-se e ficou analisando o bilhete no bloco de notas e mirando por cima dos óculos, através dos vidros de sua sala a sua tão longínqua Fabíola. Pensara no que falaria, na frase certa.
Tinha de responder, mas não sabia a frase certa. Quem sabe uma frase mais ousada? Ou uma frase mais comedida? Não sabia como era a voz de Fabíola muito menos do que gostara de ler. Talvez um David Coimbra ou uma Martha Medeiros? Não tinha idéia de como era sua voz. Quem sabe uma voz rouca e sexy como a de Daniela Cicarelli? Quiçá uma voz meiga como a da Mariana Ximenes? E qual seria o cheiro de Fabíola? Meu Deus! Ficava imaginando com o olhar estancado, parado. Sua cabeça voava, assim como o tempo.
Os pensamentos de Lauro lhe tiraram meias horas de seu horário trabalho que ainda nem terminara as jogadas de marketing de um produto para a linha culinária chamado Tampex. Uns saquinhos para tampar pratos com alimentos. Uma idéia adquirida de alunos da UCPel. Praticamente uma touca para a proteção de alimentos. Uma touca. “Como ficaria Fabíola com uma touca dessas banhando-se suavemente com uma esponja repleta de espuma?” – vagava o pensamento de Lauro. Não conseguia concentrar-se.
A solução seria escrever a resposta do bilhete. Talvez escrevendo a resposta com a confirmação do convite, as idéias relativas ao Tampex lhe fluíssem da cabeça. O que deveria escrever? Algo simples? Ousado? Nada disso. Escreveria a primeira coisa que lhe viesse à cabeça quando pensara em Fabíola. De primeira: pernas! Segunda tentativa: compridas! Não. Definitivamente não. Lauro carecia de uma frase, uma frase enxuta e direta. Bolinhas de papéis já alagavam a volta da cadeira. De repente o feeling lhe fez a cabeça:
“Eu quero. Eu vou.”
Uma frase simples e deveras sincerista. Lauro fazia jus a uma qualidade – ou defeito – que possuía desde guri dos tempos de Portuária: era sincero. Ao mesmo tempo em que aceitara o convite, fora incisivo e ambíguo no ato de querer. Nas entrelinhas estava a maior resposta. Lauro atacava como um redator-publicitário. O público-alvo era somente um. Único, ou melhor, única, porém de grandes dimensões.
11h45 confirmava o relógio. Hora do almoço. Essa era a hora de entregar o bilhete. O trabalho nem havia rendido. Nada de relatórios e nem estratégias para o produto inventado por aqueles acadêmicos. Todos tinham de ir embora. Lauro teria de esperar todos, inclusive a ardente Marcinha que havia lhe perturbado durante manhã. Ele sabia que tinha cutucado a onça com vara curta, mas, por enquanto, a onça estava adormecida esperando a melhor hora para o bote.
Marcinha, por ser estagiária, tinha o trabalho triplicado e, às vezes, até quadriplicado pelos pedidos dos funcionários efetivados. De quando em vez, nem iria para o almoço. 11h50 já marcava o relógio e nada da safardana ir embora. Lauro baixara a cabeça fingindo escrever, canalizando energias mentalmente para que ela fosse almoçar ou que, ao menos, fosse ao banheiro. Marcinha levantara-se cheia de documentos empilhados segurados pelo queixo. Finalmente estava indo embora, não para o almoço, talvez para o cartório. O importante é que saíra de lá.
Era chegada a hora de ser o carteiro de si próprio. Tarefa simples, abrir a porta, seguir com passos largos e largar o bilhete na mesa de Fabíola. Pá-pum. Vapt-vaput. Respirou fundo, abriu a porta e seguiu. Passo um, passo dois, passo três. Tudo tranqüilo. Faltava pouco para chegar. Um barulho de pessoa caminhando. Seria Marcinha? “Que praga essa ruiva!” – pensara. Acelerou o passo para chegar a tempo na mesa de Fabíola. Não adiantara. Os passos eram de César, o motoboy da empresa que havia chegado para recolher as entregas.
- Fala Doutor, tudo em riba? – Lauro não acreditava naquela intromissão na hora errada e no lugar errado.
- É César, muito trabalho!
- Quase morri hoje Doutor! Um caminhão quase me pegou na esquina da Marechal Floriano. Foi por pouco! – relatava o motoboy.
- Ah é? – falou pouco se importando do quase acidente de César.
- Mas vem cá Doutor! O senhor tá ligado naquela Fabí, naquele mulherão das pernas longas? – Lauro respirou fundo quando escutara o nome de Fabíola. E mais, não escutara apenas o nome, mas uma forma carinhosa, reduzida do nome de sua amada. Sentiu calafrios dos tornozelos até a nuca. E César ainda completaria:
- É uma deusa aquela comprida! Se eu pudesse levava ela para comer uma pizza e depois dava uns agarras nela! – Lauro matava César com os olhos, como se o motoboy fosse uma presa fácil, um ratinho de laboratório e como uma resposta daquelas bem sinceras foi enxotando César da sala, com a mãos por detrás do omoplata direito do motoqueiro:
- Ela é bonita realmente, mas não é para o teu bico, Césinha! – disse ironicamente.
- Já sei, já sei! O doutor tá pegando corpo então, não?
- Vamos indo, vamos indo. É hora de almoço!
Lauro saiu empurrando César com o braço em direção ao elevador. Antes de sair, fingira cair propositalmente o seu molhe de chaves em frente a mesa de Fabíola. Ao abaixar-se para pegar, colocara o bilhete rapidamente em cima da mesa. César nem percebera e continuara falando nas pernas de Fabí. Falava Fabí como se fossem íntimos. Talvez fossem na época de colégio ou quando pequenos. Agora não mais. Lauro não gostava nada daquilo, mas teria de agüentar. E agüentar mais ainda o término daquela imensa tarde de trabalho.
Mas para suportar as horas que provavelmente se arrastariam, carecia antes de um rico almoço à base de carboidratos e proteínas. E, caso o destino o ajudasse, almoçaria talvez no mesmo restaurante onde as mulheres daquele Departamento costumavam almoçar, Marcinha e companhia. Inclusive Fabíola. Talvez lançasse alguns olhares maldosos e intencionais para ela. Era isso que iria fazer. Olhares sinceros. Mas antes, despistaria aquele insano motoboy.
Um almoço? Será que Lauro e Fabíola teriam o encontro antecipado? E Marcinha? Agiria depois daquela resposta de Lauro ou ficaria apenas analisando os movimentos dele? Isso é o que verá amanhã, no capítulo IV de "O Sincerista".
Um comentário:
Aii meu Deus, ele não deveria ter respondido, acho que é tudo uma pegadinha da marcinha... :(
Tá mas pensei melhor e até acho que deveria ter respondido... se não foi ela quem mandou o bilhete (Fabi) ela nem vai entender nada na resposta..
uiahaiuhaiau
beijinhosss
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