quinta-feira, 10 de abril de 2008

O Sincerista - Capítulo IV

- Nos falamos amanhã então Césinha!
- Tá certo doutor! Qualquer coisa é só ligar...
- Está bem...
- Se ver a Fabí, manda um beijão pra ela, viu?

Lauro fez que não escutou e seguiu em direção ao restaurante, o Plaza Grill, que ficava há duas quadras da empresa. No caminho ia divagando interiormente sobre como agiria no restaurante. Como de costume, iria sentar sozinho, pois não conseguia relacionar-se com alguém devido às respostas sinceras ou talvez mal humoradas que disparara contra os colegas que tentavam aproximar-se dele em ocasiões anteriores. Antes de conquistar Fabíola e dar troco em Marcinha, tinha que conquistar a confiança dos colegas de trabalho. Mas como faria isso de uma hora para outra? Necessitava daquilo mais como o oxigênio vital, para que a aproximação de Fabíola se tornasse uma conseqüência e não uma causa aparente.

Duas quadras caminhadas com o pensamento nas nuvens e ao mesmo tempo nas suas teorias laurianas. Chegaria ao restaurante, pegaria a folha de consumação e daria o mais largo sorriso para algum colega de trabalho. Talvez o Sérgio, mais conhecido por “Queixinho”, que era um gordinho careca da parte de criação do Departamento, que havia contratado há alguns meses. Um homem gente fina, bem educado e muito simpático. Os gordinhos normalmente são simpáticos e “Queixinho” não fugia à regra. Era com ele que iria sentar, estava decidido.

Chegando ao restaurante, respirou fundo algumas vezes seguidas. Inspirou e expirou. Inspirou e expirou. Inspirou e expirou. Havia aprendido isso com a ex-mulher, um exercício inicial da preparação da yôga. O professor de yôga dela dizia que isso fazia bem para o diafragma e para o organismo em situações envolvendo tensão. Aquela respiração ofegante, forçada, aqueceu Lauro e trouxe um pouco de confiança para ele. Superou a timidez e entrou distribuindo oi, olás e bom dias. Um milagre daquela respiração, decerto.

Mesas lotadas e uma fila imensa. Esperava na fila procurando uma mesa vaga, mas procurava mais ainda a mesa de Queixinho. Queixinho tinha esse apelido pelo rosto largo e bolachudo que fazia com que o queixo mal existisse. Um pedacinho só de queixo escondido por alguns fiapos de uma barba mal crescida e pelo excesso adiposo no rosto. Ufa!, lá estava ele, no fundo, em uma mesinha de dois lugares, atrás de quem? De Fabíola e outras três mulheres do Departamento. Os olhos de Lauro reluziram e bateram continência naquela direção, como se Fabíola fosse um General. Não titubeou. Levantou o braço direito e acenou discretamente. Nem ela, nem Queixinho avistaram o sinal. Repetiu o gesto. De novo. E de novo. Sem respostas.

Desistiu da fila e foi com o prato em punho driblando mesas, pedindo com licenças e dando outros olás. Todos das mesas que o conhecia se olhavam intrigados com o estranho comportamento daquele sincerista das palavras curtas e, de quando em vez, mal humoradas. Como assim? Simples, Lauro havia mudado. Conseqüência daquela respiração das mulheres, daquela respiração do yôga. Sem contar nas mulheres que não saíam de sua cabeça: Marcinha e Fabíola. Uma pela vingança a outra pela paixão ou talvez amor. Queixinho estava ao fundo atracado em um prato daqueles dignos de prêmio de quem come mais, daqueles pratos capazes de serem confundidos com montanhas. Mas na frente dele, ostentando um visual de dar inveja a qualquer outra mulher, estava Fabíola. Com os cabelos largados por cima do ombro, um terninho de fazer qualquer homem babar. Delicada. Delicada até ao cortar os alimentos do prato e levá-los à boca. Lauro analisava isso de longe, tendo como norte o gordinho, mas ganhando uma regalia ao ver a sua linda Fabí. Fabí, ele podia sim chamá-la assim. César, o motoboy, não.

Foi aproximando-se da mesa de Queixinho que nem o vira chegar. Há dois metros, menos que isso talvez, estava a mesa dela. A mesa dela! Qual seria o seu comportamento? Não poderia titubear em dar um olá ou fazer um comentário positivo em relação às quatro mulheres e não apenas para ela. Mulheres gostam de ser destacadas, inclusive quando um grupo é elogiado e não apenas uma mulher do grupo. Fabí era o foco, mas as outras precisavam ser elogiadas ou destacadas, mesmo que não os merecessem. Lauro tinha que concentrar-se. Lembrou-se da respiração e começou: inspirou e expirou, inspirou e expirou, inspirou e expirou e:

- Bom dia, lindas mulheres!

Todas se olharam entre si. Fabíola havia ficado surpresa com o aborde de Lauro. Logo ele, um tímido, fã das respostas curtas e diretas, excluído do grande do grupo por causa daquelas frases, havia tomado coragem de cumprimentá-las? Quanta ousadia! Durante o dia-a-dia nunca dera um oi. Por que logo no restaurante? Fabíola foi a única a responder o cumprimento:

- Bom dia Lauro, como estás? – Lauro não acreditara no que havia escutado. A voz dela era linda. Uma voz suave e tão doce quanto um pote de mel. Inspirou e expirou respondendo:

- Estou bem, faminto por um bom prato de comida!
- Mas porque ainda não te servisses?
- Estou sem mesa infelizmente...
– falou já pensando em um possível convite.
- Meninas, vocês se importam se ele sentar aqui conosco? – perguntou Fabí para as outras mulheres da mesa, que responderam com um sim duvidoso com as cabeças e pequenos balbucios positivos.

Lauro estava nas nuvens e ao mesmo tempo suando em cântaros. Já até havia se esquecido do gordinho. Mas tinha uma saída temporária para aliviar a tensão; precisava ir ao buffet para carregar o prato.

- Meninas, vou me servir! Querem alguma coisa? – falou o cavaleiro Lauro.
- Não... – respondeu Veridiana.
- Não, obrigada! – falou Jaqueline.
- Traz uma polenta para mim? – pediu Raquel e Fabíola aproveitando a deixa completou: - Pega uns três ovinhos de codorna para mim? Lauro muito solícito despejou um sonoro e alegre “- Claro...” – com direito a reticências e tudo.

Encarou quase dez minutos de espera na fila do buffet. Ao meio-dia, o Plaza Grill sempre lotara por causa do grande movimento das pessoas que saem do trabalho e almoçam no centro. O restaurante parecia mais um formigueiro de tanta gente. Lauro nem se importava mais com o calor e com os empurra-empurras. Tinha Fabí e outras três colegas de trabalho. Colegas e amigas de Fabí. Talvez fossem amigas dele também, caso os dois começassem a sair juntos. Saírem juntos! Era isso que pensava. Não conseguia tirar isso de sua cabeça. No almoço um pré-encontro, à noite, um encontro para valer a pena por todos aqueles anos de espera. Rico bilhete aquele de Fabí.

Enquanto enchia o seu prato, as quatro mulheres da mesa 65, Fabí e companhia faziam análises e críticas ao comportamento de Lauro.

- Mas como ele está diferente! Eu nunca havia escutado a voz dele desde que cheguei à empresa! – comentou Jaqueline.
- Ele é assim... Vocês sabem, ele tem um apelido lá...
- Qual é?
– perguntou Jaqueline.
- Sincerista. “O Sincerista!” – respondeu Raquel com uma voz de Pavarotti.
- Mas por que isso, Jaque?
- Ele sempre largou meias palavras e frases curtas. O problema nem era falar pouco, era a sinceridade dele em falar as coisas. Ele não tinha meias palavras. Se tinha que falar a pior coisa do mundo, ele resumia e falava na cara mesmo. Lembra o Roberto? Aquele da bundinha empinada e das camisas pólo esquisitas?

- Sim... o que foi despedido do setor de criação?
- Isso! O Roberto foi flagrado fumando maconha no almoxarifado da empresa duas vezes. Na terceira, o Lauro chegou na cara dele e disse poucas e boas frases sinceras para ele e o demitiu na mesma hora. Em seguida, contratou o Queixinho, o gordinho aqui detrás.
- Nossa, é muito bom isso num homem. Até porque ele já passou dos trinta e aprendeu muita nesta vida. Qual mulher que não quer um homem desses?
- Lauro chegara por trás sem que Jaqueline percebesse e falou a frase mais acertada dos últimos anos de diálogos com as mulheres:

- Eu conheço algumas que não gostam de homens sinceros. Preferem ser enganadas e humilhadas. E eu solteiro, vê se pode isso? Elas não sabem o que estão perdendo! Jaqueline ficou sem palavras, mais colorada que o molho da massa italiana de seu prato. Enquanto Fabí, com a cabeça baixa, olhara de canto de olho para ele com um sorriso longo com os lábios grudados. Daqueles sorrisos capazes de esconder palavras e frases de segunda ou terceiras intenções. Será que aquele sorriso escondera alguma coisa? Será que era ela a mulher perfeita, ou quase perfeita, para Lauro?




Qual será o desfecho dessa história? Fabíola estava dando suas cartadas, comendo pelas beiradas... E por onde andaria Marcinha? Faça suas apostas! Confira o desfecho desta história, amanhã, no capítulo final de "O Sincerista". O final pode ser surpreendente...

Um comentário:

Nati Leivas disse...

aiii mas que coisa, esse bendito fim não chega nunca...
Estou morrendo de curiosa :)
Para hj, não tenho nada a opinar :D
só curiosidadde a demonstrar..

beijoss