Todo homem precisa dar nome a um cachorro. Dar nome a um filhote se torna um dos primeiros passos da responsabilidade na vida masculina. Em conseqüência desse ato, de prêmio, ganha a fidelidade e o carinho de um amigo de quatro patas. E nada melhor que ganhar de Páscoa não ovos de chocolate, bombons e outros doces, mas um filhote de cachorrinho. Foi a melhor Páscoa de Teco, ou melhor, de Pedro.
Depois do primeiro cachorrinho, o Costelinha, ter sido atropelado por um carro em alta velocidade, Pedro havia decidido que não queria mais ter um cachorro ou uma cadela para substituir o amigo. Pedro sempre fora educado por seus avós que ninguém e nem nenhum objeto substitui algo ou alguém. E assim fazia jus a lição ensinada, cinco anos de idade e muita responsabilidade. Talvez um peso, talvez um presente da vida, já que seus pais o abandonariam fatalidades também da vida.
Nas Páscoas dos anos anteriores, o ritual era sempre o mesmo. Um caminho com pegadas de coelhinho na sala principal da fazenda levando até o cestinho repleto de chocolates caseiros e preparados de marmelo que a dona Zôila preparava de véspera e colocava ainda fresquinhos no cestinho após Teco ir dormir. Eram doces da melhor qualidade. Além de gostosos eram preparados com muito amor e carinho. Uma avó, uma mãe, um pai. Uma verdadeira amiga. Quatro papéis na figura de uma única pessoa.
2008 não seria um ano ao acaso, um ano igual aos outros. Tudo já havia sido muito diferente em outras comemorações. Natal, Ano Novo, Aniversário do Avô Tadeu. No Natal e Ano Novo, toda a família chegou de surpresa trazendo comida, presentes e muita alegria. Já no Aniversário de 90 anos do Vovô Tadeu, não só toda a família compareceu no sítio, como também os três dos quatros melhores amigos nonagenários de infância e adolescência do Seu Tadeu. Todas as surpresas foram realmente surpresas, nada combinado ou avisado com alguém da família. E a Páscoa, como seria?
O ritual parecia ser o mesmo. Mas a Páscoa havia caído num domingo! Domingo era dia de lida com o gado, de juntar as cacas das galinhas, limpar o chiqueiro. O Teco adorava essa função. Além da Páscoa, dos gostosos doces preparados pela vovó – sabia que eram preparados por elas, o coelhinho era ficção – ainda ajudaria os avós a fazer a manutenção do sítio. Sentia-se feliz, completo por fazer sua parte e aliviar o duro trabalho para os avós, especialmente para o Seu Tadeu, um homem nonagenário.
Na véspera, depois de assistirem ao Zorra Total, destinaram-se aos quartos para mais uma noite de repouso. Como dizia o Seu Tadeu: “Esticar a carcaça para mais um dia de vida!” – repetia isso todas as noites indo em direção ao quarto balançando levemente a mão esquerda devido a um leve derramo sofrido quando completara 86 anos. Teco já deitado, esperava a vovó Zôila para o beijinho de boa noite e uma rápida história. Mas justo naquela noite, ela havia demorado um pouco além do normal. E Teco não dormia sem o boa noite da vovó. Era um processo rotineiro, uma espécie de tranqüilizante para ele.
- Vovó, por que demorasses tanto hoje?
- Eu estava preparando a cenourinha para o coelhinho da Páscoa! – justificou a velhinha.
- Ãhhhmmm... e será que ele vai trazer chocolate e marmelo?
- Claro meu querido! Te comportasses bem... numa dessas ele até traga mais do que no ano passado!
- Mais? Será?
- Nunca se sabe, mas o coelhinho pode ser generoso! Se ele foi na casa de outra pessoa e não havia ninguém em casa?
- Mas vovó, tu sempre me falasses que todas as criancinhas ganham!
- Ai está! Todas as criancinhas! E se ele trouxe algum extra para um adulto?
- É verdade... Tomara que nenhum esteja em casa na hora que ele passar! – arquitetou o garotinho.
- Querido, é hora de dormir! Fecha os olhinhos que amanhã vai ser um domingo muito bonito!
- Tá bem vó, mas e a história de hoje?
- Já te contei da cadelinha que ajudou o coelhinho a entregar os ovinhos de Páscoa?
- Não... conta essa!
- Pois bem... Em um belo domingo de Páscoa, o coelhinho sentiu-se mal por entregar tantos ovinhos de Páscoa. Resolveu sentar encostado numa árvore para descansar alguns minutos antes de continuar a entrega dos ovos. Ele pegou no sono! Um sono pesado, um sono daqueles que o vovô tira quando faz a manutenção do sítio. De repente, uma cadelinha, pequenininha, mirrada, aproximou-se do coelhinho silenciosamente. Pata por pata. Cheirou os ovinhos de chocolate, as balas de goma, os confetes e tudo que o coelhinho estava carregando dentro de uma sacola laranja. Deitou-se ao seu lado e também tirou um soninho revigorante, já que também estava cansada. Dormiu um sono dos labradores. Duas horas depois, acordou e viu ainda o coelhinho dormindo, com uma aparência exausta, na mesma posição que o havia encontrado. Decidiu então cutucar o coelhinho para acordá-lo, já que a Páscoa haveria de se prejudicada pelo demasiado sono do orelhudinho. E nada dele acordar! Cutucou, latiu, puxou uma das orelhas e nada. O sono era tão pesado que ele desencostou-se da árvore, espreguiçou-se sem abrir os olhos e deitou no chão. “Mas como seria a Páscoa?” – pensou a cadelinha. Ela puxou a sacola laranja do pescoço do coelhinho e saiu arrastando a sacola pelo caminho de grama até o próximo sítio... Teco? Querido? Já dormiu?
Teco havia pegado no sono. Um sono com a melhor aparência de felicidade. Um descanso com o sorriso fixado no pequeno rosto do garoto. O melhor tipo de alegria e a melhor recompensa para a avó que acumulava papéis assaz responsáveis pela formação do pequeno. Dona Zôila ajeitou o travesseiro, puxou o cobertor até a altura do pescoço e saiu pé por pé do quarto, rumando até a sala, sem fazer nenhum barulho para acordá-lo com o ranger do chão de madeira.
Chegando à sala, arrumou os últimos detalhes da Páscoa. Um mexido de goiabada com queijo branco feito com o leite das vacas do sítio para o velho Tadeu, pendurado na ponta da lareira. Mais abaixo, próximo à poltrona verde, um embrulho cheio de furinhos com um bilhetinho com o nome do garoto. Uma caixa enorme que dava a entender através do papel que o encobria, ser uma casa de cachorro. Ao lado, uma sacola laranja transbordando de doces e outras guloseimas feitas pela dona Zôila. A surpresa estava pronta, agora poderia ir dormir ao lado do velho Tadeu.
Teco havia sido o primeiro acordar. Levantou-se, esticou-se e rumou a longos passos em direção à sala. Ele não acreditara quando avistara tal embrulho. Tudo passou por sua cabeça, mas a história da vovó Zôila havia virado realidade. Uma história que há dois anos atrás havia prometido não viver mais pela decepção da morte de seu amigo de quatro patas. “Uma casa de cachorro, gigante!” – exclamou e ainda: “Com porta e tudo!”
Ele deveria abrir a porta da casa? Um cachorro o esperaria? Foi o que fez. Não titubeou. Ao abrir a porta, um amiguinha, sim, uma cadelinha da raça labrador lhe atacava com carinho, com lambidas intermináveis de bom dia e de feliz Páscoa. Enquanto pela fresta da porta do corredor, que dava para a sala, o velho Tadeu e a dona Zôila, avistavam tal cena. Essa foi a melhor recompensa pela surpresa que haviam aprontado para o pequeno. Uma Páscoa diferente, totalmente diferente das dos anos anteriores.
- O teu nome vai ser Bisteca!
- Au Au Au... – latiu a filhote, parecendo concordar com a decisão.
Além das guloseimas caseiras preparadas pela dona Zôila, a Páscoa de 2008 acontecera de maneira linda, perfeita. A verdadeira alegria do pequeno garoto havia voltado. A responsabilidade de ter novamente um quatro patas de estimação havia sido retomada com a chegada de Bisteca – possivelmente a mesma cadelinha da história de Zôila –, que receberia um nome, traria mais alegria para a vida de Teco e seria uma fiel amiga durante anos e anos. A responsabilidade viria em forma de quatro patas, tão melhor quanto aos chocolates de Páscoa da vovó Zôila. A Bisteca não trouxe chocolates, mas trouxe consigo uma doce lição, vinda diretamente do sentimento Pascoal.
Depois do primeiro cachorrinho, o Costelinha, ter sido atropelado por um carro em alta velocidade, Pedro havia decidido que não queria mais ter um cachorro ou uma cadela para substituir o amigo. Pedro sempre fora educado por seus avós que ninguém e nem nenhum objeto substitui algo ou alguém. E assim fazia jus a lição ensinada, cinco anos de idade e muita responsabilidade. Talvez um peso, talvez um presente da vida, já que seus pais o abandonariam fatalidades também da vida.
Nas Páscoas dos anos anteriores, o ritual era sempre o mesmo. Um caminho com pegadas de coelhinho na sala principal da fazenda levando até o cestinho repleto de chocolates caseiros e preparados de marmelo que a dona Zôila preparava de véspera e colocava ainda fresquinhos no cestinho após Teco ir dormir. Eram doces da melhor qualidade. Além de gostosos eram preparados com muito amor e carinho. Uma avó, uma mãe, um pai. Uma verdadeira amiga. Quatro papéis na figura de uma única pessoa.
2008 não seria um ano ao acaso, um ano igual aos outros. Tudo já havia sido muito diferente em outras comemorações. Natal, Ano Novo, Aniversário do Avô Tadeu. No Natal e Ano Novo, toda a família chegou de surpresa trazendo comida, presentes e muita alegria. Já no Aniversário de 90 anos do Vovô Tadeu, não só toda a família compareceu no sítio, como também os três dos quatros melhores amigos nonagenários de infância e adolescência do Seu Tadeu. Todas as surpresas foram realmente surpresas, nada combinado ou avisado com alguém da família. E a Páscoa, como seria?
O ritual parecia ser o mesmo. Mas a Páscoa havia caído num domingo! Domingo era dia de lida com o gado, de juntar as cacas das galinhas, limpar o chiqueiro. O Teco adorava essa função. Além da Páscoa, dos gostosos doces preparados pela vovó – sabia que eram preparados por elas, o coelhinho era ficção – ainda ajudaria os avós a fazer a manutenção do sítio. Sentia-se feliz, completo por fazer sua parte e aliviar o duro trabalho para os avós, especialmente para o Seu Tadeu, um homem nonagenário.
Na véspera, depois de assistirem ao Zorra Total, destinaram-se aos quartos para mais uma noite de repouso. Como dizia o Seu Tadeu: “Esticar a carcaça para mais um dia de vida!” – repetia isso todas as noites indo em direção ao quarto balançando levemente a mão esquerda devido a um leve derramo sofrido quando completara 86 anos. Teco já deitado, esperava a vovó Zôila para o beijinho de boa noite e uma rápida história. Mas justo naquela noite, ela havia demorado um pouco além do normal. E Teco não dormia sem o boa noite da vovó. Era um processo rotineiro, uma espécie de tranqüilizante para ele.
- Vovó, por que demorasses tanto hoje?
- Eu estava preparando a cenourinha para o coelhinho da Páscoa! – justificou a velhinha.
- Ãhhhmmm... e será que ele vai trazer chocolate e marmelo?
- Claro meu querido! Te comportasses bem... numa dessas ele até traga mais do que no ano passado!
- Mais? Será?
- Nunca se sabe, mas o coelhinho pode ser generoso! Se ele foi na casa de outra pessoa e não havia ninguém em casa?
- Mas vovó, tu sempre me falasses que todas as criancinhas ganham!
- Ai está! Todas as criancinhas! E se ele trouxe algum extra para um adulto?
- É verdade... Tomara que nenhum esteja em casa na hora que ele passar! – arquitetou o garotinho.
- Querido, é hora de dormir! Fecha os olhinhos que amanhã vai ser um domingo muito bonito!
- Tá bem vó, mas e a história de hoje?
- Já te contei da cadelinha que ajudou o coelhinho a entregar os ovinhos de Páscoa?
- Não... conta essa!
- Pois bem... Em um belo domingo de Páscoa, o coelhinho sentiu-se mal por entregar tantos ovinhos de Páscoa. Resolveu sentar encostado numa árvore para descansar alguns minutos antes de continuar a entrega dos ovos. Ele pegou no sono! Um sono pesado, um sono daqueles que o vovô tira quando faz a manutenção do sítio. De repente, uma cadelinha, pequenininha, mirrada, aproximou-se do coelhinho silenciosamente. Pata por pata. Cheirou os ovinhos de chocolate, as balas de goma, os confetes e tudo que o coelhinho estava carregando dentro de uma sacola laranja. Deitou-se ao seu lado e também tirou um soninho revigorante, já que também estava cansada. Dormiu um sono dos labradores. Duas horas depois, acordou e viu ainda o coelhinho dormindo, com uma aparência exausta, na mesma posição que o havia encontrado. Decidiu então cutucar o coelhinho para acordá-lo, já que a Páscoa haveria de se prejudicada pelo demasiado sono do orelhudinho. E nada dele acordar! Cutucou, latiu, puxou uma das orelhas e nada. O sono era tão pesado que ele desencostou-se da árvore, espreguiçou-se sem abrir os olhos e deitou no chão. “Mas como seria a Páscoa?” – pensou a cadelinha. Ela puxou a sacola laranja do pescoço do coelhinho e saiu arrastando a sacola pelo caminho de grama até o próximo sítio... Teco? Querido? Já dormiu?
Teco havia pegado no sono. Um sono com a melhor aparência de felicidade. Um descanso com o sorriso fixado no pequeno rosto do garoto. O melhor tipo de alegria e a melhor recompensa para a avó que acumulava papéis assaz responsáveis pela formação do pequeno. Dona Zôila ajeitou o travesseiro, puxou o cobertor até a altura do pescoço e saiu pé por pé do quarto, rumando até a sala, sem fazer nenhum barulho para acordá-lo com o ranger do chão de madeira.
Chegando à sala, arrumou os últimos detalhes da Páscoa. Um mexido de goiabada com queijo branco feito com o leite das vacas do sítio para o velho Tadeu, pendurado na ponta da lareira. Mais abaixo, próximo à poltrona verde, um embrulho cheio de furinhos com um bilhetinho com o nome do garoto. Uma caixa enorme que dava a entender através do papel que o encobria, ser uma casa de cachorro. Ao lado, uma sacola laranja transbordando de doces e outras guloseimas feitas pela dona Zôila. A surpresa estava pronta, agora poderia ir dormir ao lado do velho Tadeu.
Teco havia sido o primeiro acordar. Levantou-se, esticou-se e rumou a longos passos em direção à sala. Ele não acreditara quando avistara tal embrulho. Tudo passou por sua cabeça, mas a história da vovó Zôila havia virado realidade. Uma história que há dois anos atrás havia prometido não viver mais pela decepção da morte de seu amigo de quatro patas. “Uma casa de cachorro, gigante!” – exclamou e ainda: “Com porta e tudo!”
Ele deveria abrir a porta da casa? Um cachorro o esperaria? Foi o que fez. Não titubeou. Ao abrir a porta, um amiguinha, sim, uma cadelinha da raça labrador lhe atacava com carinho, com lambidas intermináveis de bom dia e de feliz Páscoa. Enquanto pela fresta da porta do corredor, que dava para a sala, o velho Tadeu e a dona Zôila, avistavam tal cena. Essa foi a melhor recompensa pela surpresa que haviam aprontado para o pequeno. Uma Páscoa diferente, totalmente diferente das dos anos anteriores.
- O teu nome vai ser Bisteca!
- Au Au Au... – latiu a filhote, parecendo concordar com a decisão.
Além das guloseimas caseiras preparadas pela dona Zôila, a Páscoa de 2008 acontecera de maneira linda, perfeita. A verdadeira alegria do pequeno garoto havia voltado. A responsabilidade de ter novamente um quatro patas de estimação havia sido retomada com a chegada de Bisteca – possivelmente a mesma cadelinha da história de Zôila –, que receberia um nome, traria mais alegria para a vida de Teco e seria uma fiel amiga durante anos e anos. A responsabilidade viria em forma de quatro patas, tão melhor quanto aos chocolates de Páscoa da vovó Zôila. A Bisteca não trouxe chocolates, mas trouxe consigo uma doce lição, vinda diretamente do sentimento Pascoal.
Um comentário:
aaa não!
bisteca foi ótimo!
poo sumisse!
to com saudade tua tchê!
beeeijo kiiinhos!
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