Um final de relacionamento conjugal é um drama. Daqueles bem melodramáticos que costumamos ver as sinopses nas bundas dos DVDs nas prateleiras das locadoras. É um mexe aqui, um mexe ali e há sempre uma lembrança. Uma foto, uma pulserinha do Senhor do Bonfim de recordação ou até um anel de lata já bebida. Tudo lembra o dito cujo ou a dita cuja. No caso do Paulinho, era a dita cuja, ou melhor dizendo: a dona Camila.
Com o tempo, perceberam que o amor ou a paixão havia enfraquecido. O namoro começou a ficar desgastado. Sempre as mesmas coisas, os mesmos programas. Até a ida ao cinema havia perdido o encanto. É aquela coisa de repetição: se repetirmos uma roupa dois ou três dias seguidos, alguém vai nos notar, nem que seja pelo cheiro fétido vindo das axilas, mas vão notar. Isso é lei.
O Paulinho era um cara de gênio arisco. De opiniões fortes que acabavam gerando polêmica no grupo de amigos ou nas rodas de discussão de sala de aula. Já a Camila, tinha também um gênio complexo, mas passava por cima dele para agradar o namorado. Virava e mexia e lá estava ela com uma surpresinha ou com um presente. Uma janta, um carinho. Deveras carinhosa, não era possessiva e dedicada sempre até na hora das mais duras decisões.
No começo do namoro moravam em cidades diferentes. Ele em Porto Alegre, ela em São Leopoldo. Com a necessidade de a Camila ir para a faculdade todos os dias, resolveu arrumar as malinhas, pegar suas vinte e duas necessaires – porque mulheres são vaidosas e Camila não fugia do grande do grupo – e ir de mala e cuia para Porto Alegre, na sua primeira habitação. Morando com a irmã. Juntou o útil ao agradável: a faculdade, a irmã e mais a presença diária do namorado. Abriu mão da companhia família, visto que ela já estava acostumada em ficar longe, desde o intercâmbio que havia feito no 2° ano colegial para Roma, na Itália.
Festinhas com os amigos, viagens com a família, cineminhas, DVDs tapados de edredons até as cabeças. Programas de namorados e namorados apaixonados. Era o exemplo de um casal para os amigos – e ainda continuam sendo porque ninguém acreditara ainda que os dois se separaram.
- Não acredito, o Paulinho terminou com a Camila? Ou foi ela quem acabou com ele? – questionava a Laura, uma das amigas dos casal ao telefone com a Bruna.
- Pois é! Eu não acreditei! Foi assim: pum! De repente olhei o Orkut e vi que os dois tinham acabado, foi ai que a minha até então suspeita se confirmou quando ele veio falar no MSN comigo para conversar, desabafar e tal. Tudo tão repentinamente, muito estranho! Segundo ele, foi consenso entre eles – disse a comentarista Bruna.
A barra que ambos passaram para decidir a situação do namoro, ninguém ficou sabendo. Aparentemente, para o grande grupo, todos nem percebiam os atritos internos do casal. O que é muito bom imagine a situação num restaurante: o Paulinho pede camarão, mas a Camila quer peixe. Nunca entravam em atrito, sempre resolveram os pormenores no diálogo, na base da conversa. Neste caso do restaurante, para não se exaltarem na frente dos outros, usaram o método SMS, as velhas mensagens de texto para se comunicarem e não externarem a situação para os amigos na mesa.
Depois do término, foi uma barra. Aí sim foi a verdadeira barra. As fotos foram a parte mais difícil. Ambos tinham fotos por todos os cantos da casa, inclusive em seus quartos. A dor no peito era como se um barbeiro cortasse nossa barba e tirasse um naco de carne junto. Tudo bem. Cito um exemplo feminino: a depilação deve doer tanto quanto isso também, especialmente a parte da virilha. Choros e dor na hora de retirar as fotos dos murais e dos porta-retratos. Um choro só, uma emoção externada que as mães dos dois espiavam pelas portas entreabertas dos quartos e resolveram não atrapalhar aquele momento de dor, de término, de passagem de retorno à vida solteira. Paulinho sofrera igual ou bem mais que Camila, o gênio explosivo havia sumido.
A decisão partiu dos dois. Dessa vez, a situação não foi resolvida por mensagem de texto. Foi na conversa mais uma vez. Muito bonito e civilizado. Uma conversa que já vinha durando mais de semanas, sempre olho no olho, ao vivo e a cores como as tevês da década de 60 que chegaram ao Brasil. A despedida havia sido um consenso, um consenso de semanas, como se o julgamento demorasse dias a ser resolvido e novos fatos aparecessem para condenar e decretar a penalidade máxima dos acusados: o término do namoro.
A forma da despedida de Paulinho e Camila se torna uma exceção aos relacionamentos atuais entre jovens adolescentes. São exceções de personalidades corretas e respeitosas um com o outro. Nunca se importaram com o que os outros achavam das manias que construíram e cultivavam juntos. Preocupavam-se mais com as suas consciências, eram os juízes das questões do dia-a-dia. E assim determinaram a sentença final: seriam sempre amigos, raros. Verdadeiros amigos. Também como pena escutariam, durante o tempo necessário para esquecer a dor, uma canção do sábio Alemão Ronaldo, “A despedida”:
“Os livros são seus
Os discos são meus
Já que tem que ser assim
Quero que fique com o jardim”
Com uma base começou e com a mesma base acabou. Na base do diálogo. Sempre ele. Presente em primeiro lugar nas mesas de bar, em cantos de festa e, claro, nas relações interpessoais.
Com o tempo, perceberam que o amor ou a paixão havia enfraquecido. O namoro começou a ficar desgastado. Sempre as mesmas coisas, os mesmos programas. Até a ida ao cinema havia perdido o encanto. É aquela coisa de repetição: se repetirmos uma roupa dois ou três dias seguidos, alguém vai nos notar, nem que seja pelo cheiro fétido vindo das axilas, mas vão notar. Isso é lei.
O Paulinho era um cara de gênio arisco. De opiniões fortes que acabavam gerando polêmica no grupo de amigos ou nas rodas de discussão de sala de aula. Já a Camila, tinha também um gênio complexo, mas passava por cima dele para agradar o namorado. Virava e mexia e lá estava ela com uma surpresinha ou com um presente. Uma janta, um carinho. Deveras carinhosa, não era possessiva e dedicada sempre até na hora das mais duras decisões.
No começo do namoro moravam em cidades diferentes. Ele em Porto Alegre, ela em São Leopoldo. Com a necessidade de a Camila ir para a faculdade todos os dias, resolveu arrumar as malinhas, pegar suas vinte e duas necessaires – porque mulheres são vaidosas e Camila não fugia do grande do grupo – e ir de mala e cuia para Porto Alegre, na sua primeira habitação. Morando com a irmã. Juntou o útil ao agradável: a faculdade, a irmã e mais a presença diária do namorado. Abriu mão da companhia família, visto que ela já estava acostumada em ficar longe, desde o intercâmbio que havia feito no 2° ano colegial para Roma, na Itália.
Festinhas com os amigos, viagens com a família, cineminhas, DVDs tapados de edredons até as cabeças. Programas de namorados e namorados apaixonados. Era o exemplo de um casal para os amigos – e ainda continuam sendo porque ninguém acreditara ainda que os dois se separaram.
- Não acredito, o Paulinho terminou com a Camila? Ou foi ela quem acabou com ele? – questionava a Laura, uma das amigas dos casal ao telefone com a Bruna.
- Pois é! Eu não acreditei! Foi assim: pum! De repente olhei o Orkut e vi que os dois tinham acabado, foi ai que a minha até então suspeita se confirmou quando ele veio falar no MSN comigo para conversar, desabafar e tal. Tudo tão repentinamente, muito estranho! Segundo ele, foi consenso entre eles – disse a comentarista Bruna.
A barra que ambos passaram para decidir a situação do namoro, ninguém ficou sabendo. Aparentemente, para o grande grupo, todos nem percebiam os atritos internos do casal. O que é muito bom imagine a situação num restaurante: o Paulinho pede camarão, mas a Camila quer peixe. Nunca entravam em atrito, sempre resolveram os pormenores no diálogo, na base da conversa. Neste caso do restaurante, para não se exaltarem na frente dos outros, usaram o método SMS, as velhas mensagens de texto para se comunicarem e não externarem a situação para os amigos na mesa.
Depois do término, foi uma barra. Aí sim foi a verdadeira barra. As fotos foram a parte mais difícil. Ambos tinham fotos por todos os cantos da casa, inclusive em seus quartos. A dor no peito era como se um barbeiro cortasse nossa barba e tirasse um naco de carne junto. Tudo bem. Cito um exemplo feminino: a depilação deve doer tanto quanto isso também, especialmente a parte da virilha. Choros e dor na hora de retirar as fotos dos murais e dos porta-retratos. Um choro só, uma emoção externada que as mães dos dois espiavam pelas portas entreabertas dos quartos e resolveram não atrapalhar aquele momento de dor, de término, de passagem de retorno à vida solteira. Paulinho sofrera igual ou bem mais que Camila, o gênio explosivo havia sumido.
A decisão partiu dos dois. Dessa vez, a situação não foi resolvida por mensagem de texto. Foi na conversa mais uma vez. Muito bonito e civilizado. Uma conversa que já vinha durando mais de semanas, sempre olho no olho, ao vivo e a cores como as tevês da década de 60 que chegaram ao Brasil. A despedida havia sido um consenso, um consenso de semanas, como se o julgamento demorasse dias a ser resolvido e novos fatos aparecessem para condenar e decretar a penalidade máxima dos acusados: o término do namoro.
A forma da despedida de Paulinho e Camila se torna uma exceção aos relacionamentos atuais entre jovens adolescentes. São exceções de personalidades corretas e respeitosas um com o outro. Nunca se importaram com o que os outros achavam das manias que construíram e cultivavam juntos. Preocupavam-se mais com as suas consciências, eram os juízes das questões do dia-a-dia. E assim determinaram a sentença final: seriam sempre amigos, raros. Verdadeiros amigos. Também como pena escutariam, durante o tempo necessário para esquecer a dor, uma canção do sábio Alemão Ronaldo, “A despedida”:
“Os livros são seus
Os discos são meus
Já que tem que ser assim
Quero que fique com o jardim”
Com uma base começou e com a mesma base acabou. Na base do diálogo. Sempre ele. Presente em primeiro lugar nas mesas de bar, em cantos de festa e, claro, nas relações interpessoais.
9 comentários:
Ahhh, é bom quando é um consenso... Doloroso mas é sempre melhor.
Consegui grandes amigos depois dos namoros, claro, com suas exceções (nem tudo é perfeito), mas os amigos que me restaram valeram mais a pena...
Triste que algumas pessoas não entendem que é melhor seguir sozinho do que mal acompanhado, ou, bem acompanhado mas sem amor. Aí nem o comodismo do dia-a-dia ajuda. :)
Beijooo Kito!
=**
Coisa boa essa de manter a intimidade do casal só entre eles. gostei da historinha. beso
Usando o Twitter pra promover o blog? :D Que inteligente. Bom texto tb. Engraçado, eu sempre achei que tu fazias PP.
Olha eu aqui outra vez!!
Redundante e repetitiva: ""Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós." (Antoine de Saint-Exupery)
Nada mais sofrido e doloroso que o fim de um relacionamento. Aquela velha frase "Tudo está bem quando acaba bem..." aqui não tem vez!
Sábio daqueles que preferem assim, 'na base do diálogo', que não se tentam pelas recaídas, que são convictos... Eu não sei. Praticamente nunca consegui ser assim. Infantilmente ás vezes preferia terminar sem falar... A vontade que dá é se mudar de malas (com as 12323423423 necessaires, claro!) e cuia para a Órbita de Uano (meu lugar de origem), pra nunca mais ver aquele ser. Uma vontade de fugir, de se esconder... Que estúpido da minha parte! O bom é quando fica aquele carinho, quando rola aquela nostalgia ao encontrar algo que era daquela pessoa ou lembrar de algo bom da pessoa... O sentimento, por fim, acaba por calar-se. A gente fugindo ou não.
Meu último 'fim' de relacionamento foi horrendo, vergonhoso. E acabou por não ser fim. Foi uma parada brusca, uma pausa...
Fiquei remoendo angústias, mágoas e MUITO rancor por muito tempo. E, apesar de tudo, a música que ele me mandou escutar quando 'voltamos' se encaixa perfeitamente com o texto aqui...
"Leve com você só o que foi bom...
Ódio e rancor não dão em nada! Nada...
Ouço aquele som, lembro de você, como acabou...
Mas, não tem nada não! Só guardo o que foi bom no meu coração.
O amor é como o sol, sabe como renascer!
Sinto o calor de mais um verão, tudo ganha cor e nada vai valer lamentar a dor.
Nós temos que seguir em frente, a vida não parou.
Vai ser difícil esquecer tudo que passou, mas são as quedas que ensinam a cultivar o nosso amor...
E pensar no nosso futuro. E pensar no nosso futuro..."
Bommm...Muito bom! Fim de relacionamento é assim, um chora de cá, o outro de lá...até que estejam consolando suas lágrimas nos ombros de alguém que nada tem a ver com o romance! Fica a saudade, a lembrança, de um momento, do cheiro, da chuva, das flores e do beijo roubado mas consentido...Ai nostalgia...
"Você surgiu e juntos conseguimos ir mais longe...você dividiu comigo a sua história e me ajudou a construir a minha!"
É, pena que não é assim com todo mundo.
Pena q as pessoas não se respeitam, não conseguem ter dialogos....
Mas ainda bem q esse casal ai conseguia ter, mas é uma pena eles não terem dado certo..
Pareciam tão felizes...
É isso ai marquinhossss
beijaooo queridao
Hmmm... Passei por tanta coisa nesse texto. Outras tão opostas, mas fim de namoro é algo delicado demais. Momentos de reflexão, sempre individuais, pois por mais que os teus amigos estejam ao lado, querendo ajudar, só mesmo no silêncio da noite, sozinhos, é que conseguimos ver bem o que aconteceu. E demora, as vezes demora demais. Mas é importante respeitar esse momento. Acho difícil esse concenso, mas também triste, quando acontece, pois é sinal de que o amor foi deixando o relacionamento, aos poucos. Todo mundo precisa de um tempo pra repôr o pé no chão e entender, que daqui pra frente, é cada um por si. Deixamos o apoio da mão dada, parece que não saberemos mais caminhar sozinhos. Desequilíbrio. Mas aos pouquinhos as coisas vao clariando, e
"A cada dia o sol brilha mais."
Até que ele ilumina outras formas, outros rostos, outras situações.
Daí a gente descobre que não precisa ser feliz só uma vez na vida, e perde um pouco (ou muito) do medo de que nunca mais terá momentos especiais, do tipo ver filme tapado de edredom, com aquela pessoa que a gente gosta tanto... :)
e aí... recomeçar... confiar... se entregar, de novo, pq se não for assim, é porque ainda não é a hora.
bjo bjo ;)
e só um curtinho...
Óbvio que eu ia comentar nesse né? Adoro teus textos romanticos!!
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