O homem quando decide que quer casar é porque ele realmente tomou coragem de enfrentar um desafio. Um desafio dos maiores. Daqueles do tipo o de escalar o monte Everest pelo lado norte. Uma aventura de caminho difícil, às vezes, até mortal. Mesmo assim, estufa o peito e vai em frente. Uma obra da sensatez, ainda mais quando se tem 42 anos, mora-se com pais e namora-se por mais de 15 anos a mesma mulher. “Hora de sair de casa e constituir uma nova família!” – era o que a mãe do Gilberto, meu vizinho, sempre falava para ele.
O Gilberto era filho único. Com direito a Nescau e torradinhas pela manhã quando saía para o trabalho e sanduíches à noite quando chegava da faculdade. Uma vida regrada, metódica que a mãe do Gilberto, a dona Consuelo, fazia gosto de oferecer. Desde pequeno, quando ela o levava para a escola com a merendeira dos Power Rangers repleta de lanchinhos gostosos. Bem coisa de mãe. Lindo. O problema era isso continuar durante longos anos. Afinal, Gilberto já tinha 42 anos e não tomava vergonha na cara de tomar novo um rumo.
15 anos de namoro e a Stella não agüentava mais. Ela também era filha única, tinha cinco anos a menos que Gilberto. Ela, como toda mulher, imaginava um casamento com o homem mais bonito deste mundo. Não acreditava em príncipes, mas o Gilberto chegava bem perto. Ele era um cara bonito, charmoso. Sempre de barba feita, perfume atrás da orelhas, nos trinques. Para ela, perfeito. Ou melhor, quase. Só faltava que ele tomasse chá de iniciativa para sair de casa e a pedisse em casamento. Até porque 15 anos de namoro, sem muitas brigas, é um currículo invejável.
Tudo que é demais enjoa. Não só Stella pensava assim, todos terráqueos pensam desse jeito. Os que não pensam são porque pensaram demais, enjoaram, óbvio, e resolveram virar hippies. Depois de uma conversa com a sogra, num daqueles chás das cinco, chegariam a um determinante: colocariam Gilberto na parede. Nem a dona Consuelo agüentava mais, a mamãe querida teria invertido a situação. 42 anos de muito paparico. – Chega, ele precisa é de uma mulher no corpo! Uma mulher que cuide dele, porque eu daqui alguns anos não estarei mais aqui e vocês terão um ao outro! – resumiu a dona Consuelo. O que nem Stella pensaria em ouvir. Havia ganhado uma aliada. Uma forte aliada.
O plano era muito simples: dona Consuelo seria uma mãedrasta. Não lavaria mais suas roupas, não as passaria, não faria almoço e nem o esperaria com a janta pronta. Stella faria greve de tempo: sem tempo para cinemas, sem tempo para beijinhos e mão aqui e mão lá. Gilberto subiria pelas paredes e resolveria tomar uma providência. Haveria de tomar, Gilberto era corajoso. Um homem assaz inteligente, o orgulho da família Souza desde o prêmio de melhor ditado ainda na primeira série do ensino fundamental.
Mulheres, atenção! Homens quando não têm as coisas ou não as conseguem sobem pelas paredes. Não ter os paparicos da mãe e nem o carinho da namorada era motivo para não subir pelas paredes e sim escalar o monte Everest e pelo lado norte, o pior e mais mortal lado. Mas como? Como que Gilberto não teria a atenção das duas? Subitamente excluso. Como se o Simon expulsasse o centroavante goleador nos minutos decisivos da partida. Era perda total, era derrota na certa. Como ele iria sobreviver? Como iria trabalhar sem ter as camisas lavadas e passadas? Sem contar na falta de cuecas limpas! E o almoço e a janta? Por um tempo daria para gastar na lavanderia e fazer as refeições pelo Pimenta Americana. Mas seria muito gasto. E Stella? Só pelo telefone? Era muita sacanagem. Sacanagem maior era não ter nenhum tipo de intimidade com a namorada.
O Gilberto era filho único. Com direito a Nescau e torradinhas pela manhã quando saía para o trabalho e sanduíches à noite quando chegava da faculdade. Uma vida regrada, metódica que a mãe do Gilberto, a dona Consuelo, fazia gosto de oferecer. Desde pequeno, quando ela o levava para a escola com a merendeira dos Power Rangers repleta de lanchinhos gostosos. Bem coisa de mãe. Lindo. O problema era isso continuar durante longos anos. Afinal, Gilberto já tinha 42 anos e não tomava vergonha na cara de tomar novo um rumo.
15 anos de namoro e a Stella não agüentava mais. Ela também era filha única, tinha cinco anos a menos que Gilberto. Ela, como toda mulher, imaginava um casamento com o homem mais bonito deste mundo. Não acreditava em príncipes, mas o Gilberto chegava bem perto. Ele era um cara bonito, charmoso. Sempre de barba feita, perfume atrás da orelhas, nos trinques. Para ela, perfeito. Ou melhor, quase. Só faltava que ele tomasse chá de iniciativa para sair de casa e a pedisse em casamento. Até porque 15 anos de namoro, sem muitas brigas, é um currículo invejável.
Tudo que é demais enjoa. Não só Stella pensava assim, todos terráqueos pensam desse jeito. Os que não pensam são porque pensaram demais, enjoaram, óbvio, e resolveram virar hippies. Depois de uma conversa com a sogra, num daqueles chás das cinco, chegariam a um determinante: colocariam Gilberto na parede. Nem a dona Consuelo agüentava mais, a mamãe querida teria invertido a situação. 42 anos de muito paparico. – Chega, ele precisa é de uma mulher no corpo! Uma mulher que cuide dele, porque eu daqui alguns anos não estarei mais aqui e vocês terão um ao outro! – resumiu a dona Consuelo. O que nem Stella pensaria em ouvir. Havia ganhado uma aliada. Uma forte aliada.
O plano era muito simples: dona Consuelo seria uma mãedrasta. Não lavaria mais suas roupas, não as passaria, não faria almoço e nem o esperaria com a janta pronta. Stella faria greve de tempo: sem tempo para cinemas, sem tempo para beijinhos e mão aqui e mão lá. Gilberto subiria pelas paredes e resolveria tomar uma providência. Haveria de tomar, Gilberto era corajoso. Um homem assaz inteligente, o orgulho da família Souza desde o prêmio de melhor ditado ainda na primeira série do ensino fundamental.
Mulheres, atenção! Homens quando não têm as coisas ou não as conseguem sobem pelas paredes. Não ter os paparicos da mãe e nem o carinho da namorada era motivo para não subir pelas paredes e sim escalar o monte Everest e pelo lado norte, o pior e mais mortal lado. Mas como? Como que Gilberto não teria a atenção das duas? Subitamente excluso. Como se o Simon expulsasse o centroavante goleador nos minutos decisivos da partida. Era perda total, era derrota na certa. Como ele iria sobreviver? Como iria trabalhar sem ter as camisas lavadas e passadas? Sem contar na falta de cuecas limpas! E o almoço e a janta? Por um tempo daria para gastar na lavanderia e fazer as refeições pelo Pimenta Americana. Mas seria muito gasto. E Stella? Só pelo telefone? Era muita sacanagem. Sacanagem maior era não ter nenhum tipo de intimidade com a namorada.
Ele agüentou. Resistiu durante duas semanas e três dias. Pouco, sim. Mas ao menos tentou. Era corajoso. Tão corajoso que havia tomado a decisão: precisava alugar ou comprar um apartamento para sair de casa. Havia cansado da vida familiar. 42 anos morando sob o mesmo teto com os pais. Todos os dias. Inclusive quando algumas tias velhinhas, irmãs da dona Consuelo, espanholas de Madri, apareciam para fazer o Gilberto ceder sua cama e ter de dormir na sala. “É a hora! Preciso mudar daqui, não agüento mais!” – havia tomado sua decisão. Uma decisão difícil. Largar todo o conforto, mas poxa vida, decisão tardia. Ele poderia ter saído de casa com 30 anos, talvez. Namorava com Stella desde os 27 anos, três anos de namoro seriam suficientes para uma decisão mais convicta.
Gilberto fez tudo às escondidas. Comprou um apartamento de um quarto e aos poucos foi levando suas coisas para lá. Mobiliando-o, preenchendo a dispensa com pouca comida e muitos enlatados – até porque ele não sabia cozinhar. E assim foi indo, passo a passo. Porque é como diz o meu amigo Bruno: “Às vezes o ir devagar, é ir mais rápido!”. Sábio aforismo. Depois de quase o apartamento estar mobiliado, inventou uma janta surpresa na casa de Stella. Nem a sogrinha, a dona Eleonor esperava. Muito menos o velho capitão Goulart, o carrancudo Goulart. Strogonoff de coração e arroz à grega. De sobremesa, uma torta de chocolate para todos. E para Stella, a sonhada e doce aliança de noivado.
Lindo. O discurso nem se fala. O velho capitão Goulart balançou, seus olhos marejaram. A dona Eleonor, como toda mãe, pulava de alegria em cima de seu melhor sapato. Depois do velho e bom cafezinho na sala, após o jantar, Stella deixou Gilberto de papo com o sogro e correu ao telefone para contar a novidade. Mulheres adoram fazer isso. Os telefones viram meios de manchetes. Dona Consuelo, do outro lado da linha, apenas chorava, chorava, chorava. E Stella, a perseverante Stella, acabou chorando, chorando, chorando. Seu príncipe havia chegado, há mais de 15 anos. Claro, o cavalo branco de Gilberto, com certeza, havia sido trocado por algum Fiat 147 com o motor fundido, porque a demora foi grande. Mas, o plano mirabolante de Stella e dona Consuelo daria certo e com um pequeno grande presente.
Há mais de 15 anos Gilberto havia descoberto a segunda mulher de sua vida. A primeira, claro, dona Consuelo. A segunda, Stella. A nova geração de mamães do mercado. Em menos de um ano, Stella descobriria que estava grávida. O casamento foi organizado às pressas para seguir ao menos a tradição que o velho capitão Goulart fazia questão de seguir. A moradia na casa da dona Consuelo havia chegado ao final. Um ano de noivado, uma angústia enorme em marcar o casamento. De bônus, veio um neto, apressado, apressadinho. Talvez mais rápido e mais decidido que Gilberto. Ao menos, todos esperavam que puxasse a mãe. Viria ao mundo para consertar as coisas, um Schumacher. Depois do casamento, já teriam um lar, o apartamento comprado às escondidas. A grande surpresa de Gilberto serviria para o começo de uma nova história, a história de uma nova família.
Agora quem não sai do pequeno apartamento do corajoso Gilberto são as vovós Consuelo e Eleonor e o vovô, o velho e carrancudo Goulart. Aliás, ex-carrancudo. Porque agora, o velhote só quer saber do netinho, se desmancha em sorrisos. Até porque, já estava na hora das coisas e das pessoas mudarem. Sempre é hora de mudar. Enquanto o Gilberto, meu querido vizinho, não se muda daqui, fico escutando os choros do pequeno Guilherme. Todas as noites. Chorinhos, choramingões e gritinhos. Vai ser cantor o guri, decerto. E, quando for grandinho, vai ser mudar daqui. Porque ele não vai ser igual ao pai. Ele puxou a mãe. Vai ser mais rápido e mais decidido.
Assim espero. Obrigado. Amém.
6 comentários:
hauihaiuahiauha
Poh, 42 anos, esse é mimado...
(assim como uns e outros q conheço :D)
Adorei a historia e por um momento achei q ela iria ter um final ruim :(
Ainda bem q ele se decidiu... antes tarde do que nunca, como já diz o velho ditado ;)
beijinhosss
Essa Stella me lembra alguém... =) ahahhaa Perseverante, quando se trata de relacionamentos, antes de pensar na pouca atitude do Gilberto, ela pensava em como é bom estar com ele. Mas todo homem precisa dessa prensa mesmo, pra agir. Gostei de várias partes desse texto, principalmente as conclusões. Não... Principalmente do nome da moça apaixonada e sonhadora, e determinada. E mais ainda do final feliz, finalmente ela teria o companheiro que tanto esperou, ao seu lado, assumindo-a. =) é bom saber que teve uma Stella por aqui, e principalmente que vale a pena taaaanta espera, quando as coisas acontecem mesmo. E elas acontecem na hora certa, mesmo que no caso tenha demorado 15 anos (nossa, espero que o destino dessa Stella não demore tanto!! hehe) Beijão Marcos!! ;)
Rápida, decidida, mudar.... afff!! Como diria um personagem qualquer do pânico: corááááágemmm! Mas como sempre um texto muito bom, muito reflexivo para várias áreas de relacionamento! Pra mim caiu como uma luva, excelente pra rever pré-conceitos. Parabéns! bj
Poxa! Um Gilberto desses é um tipo abominável! Homem tem que ser decidido. Isso não é comportamento de homem de verdade. Como pode existir uma Stella com uma paciência dessas!? Se as Stellas não aturassem esses Gilbertos, as coisas seriam diferentes. Acreditas que eu conheci um "Gilberto" assim, lá da minha terra natal? Tiveram o mesmo final, casaram depois de 15 anos. A noiva já havia perdido todos os seus encantos e brilhos, tadinha!
Mas... esse Marquinhos, sem dúvida, é muito bom contador de histórias!
aaai adorei!
OIAEHIOHAEIOHAO
pooo 42 anos, e namorando a 15, niiinguém merece!
aaa kinhos cada dia que passa que me encaixo em algum detalhezinho dos teus textos.
to com saudade tua na real!
beeeijo amor meu HOAEIHOIA
(:
po... ta russo o caso do nosso amigo ahiahaihauiha
ótimo texto marquinhos, permite uma ótima reflexão sobre os valores e as decisões que temos que tomar...
abraço !
ps: muito boa a lancheira dos power rangers iahauiah
Postar um comentário