“Para cada encontro perfeito existem mil desencontros.”
Neste mundo repleto de pessoas desconfiadas, desconfiadas até com a própria sombra, nada mais comum do que apenas um encontro perfeito em inúmeros outros. O Lopes já devia estar chegando próximo ao encontro de número mil. Nunca contara os encontros, mas já se aproximava da sua grande chance de ter um encontro com uma pessoa que o completasse. Que soubesse o verdadeiro significado de ter um companheiro. Um companheiro fixo e fiel por mais semanas, mais de mês. Na verdade, por mais de anos e anos, sem mais desencontros.
Lopes tinha 52 anos e era um apaixonado pela vida. Morava sozinho na cobertura de um edifício da maior praia do mundo. Acordava todos os dias bem cedinho para ver o dia nascer. Preparava o fiel café preto acompanhado por um pão francês molhado com manteiga e por duas bananas. Acreditava que as duas bananas no café da manhã e duas à tardinha mantinham seus músculos rijos. Ele acreditava tanto no poder das bananas quanto no poder do amor. Largava a xícara suja na pia, escovava os dentes e partia rumo à cidade para ir trabalhar. Lopes era advogado e dava aulas no curso de Direito e Letras da FURG.
O encontro perfeito para Lopes não havia acontecido, tinha certeza disso. Até gostara de alguns encontros, mas o encontro perfeito, batia o pé que não o tinha realizado. Muitos desencontros. Ficava mirando as mulheres nos olhos, tentando as compreender o que passava por detrás daquelas retinas brilhantes. Umas o tinham como exemplo de homem maduro e experiente para apenas uma noite; outras apenas acreditavam que Lopes era um daqueles tarados de gostar da noite, das cervejas ou das sinucas; E algumas que não tinham assunto – Lopes detestava esse tipinho. Um advogado bem sucedido e professor de uma Universidade Federal não gostavam do vazio. Gostava de conteúdo, gostava de qualidade. Podia gostar disso e ter isso, mas a perfeição ou quase perfeição não havia se chegado para os lados dele.
Anos e anos de muitos happy hours com outros advogados, amigos e colegas professores da FURG. Às vezes, até os próprios alunos o convidavam para os churrascos das turmas. Lopes era um professor moderninho. Não apenas colaborava dando uma caixa de cerveja ou meia dúzia de fardinhos, como também ia aos churrascos e, certa vez, até atacara como assador. Foi neste dia que Lopes conseguira finalmente e excepcionalmente devido ao lugar onde estava ter o encontro quase perfeito. Perfeito se não fosse ele deixar a base sustentadora da churrasqueira cair e, por conseqüência, todos os espetos com as carnes fincadas caírem no fogo e no carvão. O encontro ainda não estava perdido, mas o churrasco sim.
Depois de tantos jantes italianos, portugueses e até japoneses – Lopes detestava comida japonesa com aqueles peixes crus quase vivos no prato, mas fazia o esforço de ir a esses restaurantes para agradar as acompanhantes – resolveu então fazer diferente, ter um encontro extraordinário, fora do comum. No dia do churrasco da turma de Direito, resolvera abandonar todos os moldes e formas de encontros passados e convidar uma aluna para acompanhá-lo. Precisava arriscar, precisava achar alguém que o completasse. Tinha 52 anos e estava mais do que a hora de apaixonar-se para valer. Ainda poderia ter filhos se achasse uma companheira mais nova ou talvez adotasse um ou dois. Adorava crianças.
O convite havia sido aceito. Quase toda a turma da Direito dançando o funk do "Créu", enquanto outros bebericavam cervejas e conversavam em rodinhas. Lopes estava fixo, atento, mais focado que um tubarão na hora da refeição, olhando para mais de dúzia de espetos com a carne. Foi quando ela entrou. Neste momento Lopes arrumava o apoio dos espetos para garantir que eles não caíssem. Pelo contrário, no momento que ela adentrou a garagem da casa onde estava sendo feito o churrasco da turma de Direito, Lopes perdeu os sentidos. Nunca havia sentido aquilo antes. Um arrepio da ponta dos dedos dos pés até a ponta do maior fio de seu cabelo preto agrisalhado. Perdeu tanto os sentidos que as forças lhe faltaram nas mãos e na mandíbula. Os espetos do churrasco se misturaram ao fogo e a boca dele parecia não fechar, como se fosse um bebê babão mirando alguém.
Lurdes. Esse era o motivo da desatenção de Lopes. Lurdes era acadêmica da faculdade de Direito. Era veterana no curso. Era a mais velha da turma e já havia sido aluna dele. Tinha 42 anos. 42 anos que o tempo esquecera-se de lhe causar a lei da física de que tudo que sobe, desce. Estava tudo em cima, nada down. A turma não vira o churrasco desabar no fogo, assim como Lopes. Lurdes entrou como se estivesse numa passarela, num desfile de modelos. Cumprimentou alguns e foi ovacionada por outros pela entrada triunfante. Um mar de acadêmicos aberto, cortado por Lurdes, que encarnava Moisés naquele momento. Ao fundo, a churrasqueira e Lopes, boquiaberto.
- Oi Professor, atacando de assador, então?
- Si-si-si-sim... – gaguejou Lopes, odiara gaguejar nos momentos mais decisivos.
- E vai sair alguma coisa daí? Estou faminta!
- Pois é, está quase no ponto olhe... – neste momento Lopes percebeu a vacilada que dera em deixar cair aquela base sustentadora dos espetos. – Meu Deus, caiu tudo! – explicou-se.
- E agora? O que farás? O que comeremos? – perguntou Lurdes.
- Está tudo perdido, ainda bem que eles não viram! – justificou-se.
- Tive uma idéia Lopes!
- Por favor, diga-a...
- Ligamos para a pizzaria daqui da esquina e pedimos uma dúzia delas. Ao menos ninguém irá passar fome pelo desleixo do assador!
- Ótima idéia Lurdes! Mas posso te pedir uma coisa?
- Claro, peça.
- Não me chame de Professor! Apenas Lopes ou Paulo, ok?
- Seu pedido é uma ordem, professor! Ou melhor, Paulo. Paulo é melhor.
Lopes o mirava com os olhos de um caçador. Um caçador à procura da melhor carne, uma carne de qualidade no primeiro olhar, no primeiro momento. Enquanto ela estava ao celular, voltara à realidade assistindo a realidade e pensando no futuro. Lurdes além de linda, tinha conteúdo. Lopes adorava mulheres decididas com idéias afloradas nos piores momentos. Lurdes era ela. Tinha certeza que era. E aquele arrepio? Nunca havia sentido. Nunca mesmo. Talvez aquele diferente encontro fosse o encontro perfeito. A frase que sua secretária do escritório de advocacia talvez estivesse realmente tomando forma. Forma de um futuro pretendido.
Em quarenta minutos a campainha tocou. Lopes e Lurdes foram correndo até a porta da garagem para receberem as pizzas. 12 pizzas! Um dinheirinho a menos na carteira de Lopes, mas uma companhia deveras agradável para um encontro despretensioso num lugar diferente, longe dos restaurantes italianos, portugueses e japoneses, em que arriscou suas fichas através de uma mensagem de texto do celular. Lurdes havia ido ao churrasco por causa dele ou por causa do churrasco de sua turma? Havia uma incógnita e Lopes precisava descobrir o quanto antes. Era persistente não só no amor, mas em qualquer questão. Acreditava que para tudo havia solução.
- Pessoal! Venham, está pronto! – chamou os alunos.
- Colegas, está na mesa! – reforçou Lurdes.
- Pizzas? E o churrasco, professor? – perguntou um dos alunos.
- O churrasco foi para o espaço, ou melhor, para o fogo! E tenho dito, o caso está encerrado! As pizzas são todas para vocês. Esta é a minha pena já cumprida!
Lopes precisava tirar Lurdes dali enquanto os alunos comiam as pizzas. Resolveu tentar, afinal, aquele arrepio não deveria ter sido em vão.
- Lurdes, vamos lá para fora enquanto eles comem?
- Vamos sim, deixa eu pegar só um pedaço da pizza, está bem?
- Cla-cla-cla-rooo. Claro – gaguejara de novo diante da resposta dela – ódio novamente por isso.
Foram para o jardim onde não havia mais ninguém. Afastaram-se do grande grupo e começaram a conversar a som de funks e músicas mais contemporâneas. Lopes, um advogado experiente com anos de lábia profissional, começara a despejar elogios a Lurdes. Lurdes, uma quase formada advogada, respondia meias-palavras recíprocas com sorrisos de meia-lua junto aos olhos puxados quase fechados de vergonha. Diferente dos outros encontros, a noite acabaria em pizza e não em um restaurante daqueles que Lopes conhecia bem. Lopes aprenderia que mudar a forma de agir sem esquecer o objetivo final é, às vezes, a melhor saída para se conseguir um encontro perfeito, ou melhor, quase perfeito.
Neste mundo repleto de pessoas desconfiadas, desconfiadas até com a própria sombra, nada mais comum do que apenas um encontro perfeito em inúmeros outros. O Lopes já devia estar chegando próximo ao encontro de número mil. Nunca contara os encontros, mas já se aproximava da sua grande chance de ter um encontro com uma pessoa que o completasse. Que soubesse o verdadeiro significado de ter um companheiro. Um companheiro fixo e fiel por mais semanas, mais de mês. Na verdade, por mais de anos e anos, sem mais desencontros.
Lopes tinha 52 anos e era um apaixonado pela vida. Morava sozinho na cobertura de um edifício da maior praia do mundo. Acordava todos os dias bem cedinho para ver o dia nascer. Preparava o fiel café preto acompanhado por um pão francês molhado com manteiga e por duas bananas. Acreditava que as duas bananas no café da manhã e duas à tardinha mantinham seus músculos rijos. Ele acreditava tanto no poder das bananas quanto no poder do amor. Largava a xícara suja na pia, escovava os dentes e partia rumo à cidade para ir trabalhar. Lopes era advogado e dava aulas no curso de Direito e Letras da FURG.
O encontro perfeito para Lopes não havia acontecido, tinha certeza disso. Até gostara de alguns encontros, mas o encontro perfeito, batia o pé que não o tinha realizado. Muitos desencontros. Ficava mirando as mulheres nos olhos, tentando as compreender o que passava por detrás daquelas retinas brilhantes. Umas o tinham como exemplo de homem maduro e experiente para apenas uma noite; outras apenas acreditavam que Lopes era um daqueles tarados de gostar da noite, das cervejas ou das sinucas; E algumas que não tinham assunto – Lopes detestava esse tipinho. Um advogado bem sucedido e professor de uma Universidade Federal não gostavam do vazio. Gostava de conteúdo, gostava de qualidade. Podia gostar disso e ter isso, mas a perfeição ou quase perfeição não havia se chegado para os lados dele.
Anos e anos de muitos happy hours com outros advogados, amigos e colegas professores da FURG. Às vezes, até os próprios alunos o convidavam para os churrascos das turmas. Lopes era um professor moderninho. Não apenas colaborava dando uma caixa de cerveja ou meia dúzia de fardinhos, como também ia aos churrascos e, certa vez, até atacara como assador. Foi neste dia que Lopes conseguira finalmente e excepcionalmente devido ao lugar onde estava ter o encontro quase perfeito. Perfeito se não fosse ele deixar a base sustentadora da churrasqueira cair e, por conseqüência, todos os espetos com as carnes fincadas caírem no fogo e no carvão. O encontro ainda não estava perdido, mas o churrasco sim.
Depois de tantos jantes italianos, portugueses e até japoneses – Lopes detestava comida japonesa com aqueles peixes crus quase vivos no prato, mas fazia o esforço de ir a esses restaurantes para agradar as acompanhantes – resolveu então fazer diferente, ter um encontro extraordinário, fora do comum. No dia do churrasco da turma de Direito, resolvera abandonar todos os moldes e formas de encontros passados e convidar uma aluna para acompanhá-lo. Precisava arriscar, precisava achar alguém que o completasse. Tinha 52 anos e estava mais do que a hora de apaixonar-se para valer. Ainda poderia ter filhos se achasse uma companheira mais nova ou talvez adotasse um ou dois. Adorava crianças.
O convite havia sido aceito. Quase toda a turma da Direito dançando o funk do "Créu", enquanto outros bebericavam cervejas e conversavam em rodinhas. Lopes estava fixo, atento, mais focado que um tubarão na hora da refeição, olhando para mais de dúzia de espetos com a carne. Foi quando ela entrou. Neste momento Lopes arrumava o apoio dos espetos para garantir que eles não caíssem. Pelo contrário, no momento que ela adentrou a garagem da casa onde estava sendo feito o churrasco da turma de Direito, Lopes perdeu os sentidos. Nunca havia sentido aquilo antes. Um arrepio da ponta dos dedos dos pés até a ponta do maior fio de seu cabelo preto agrisalhado. Perdeu tanto os sentidos que as forças lhe faltaram nas mãos e na mandíbula. Os espetos do churrasco se misturaram ao fogo e a boca dele parecia não fechar, como se fosse um bebê babão mirando alguém.
Lurdes. Esse era o motivo da desatenção de Lopes. Lurdes era acadêmica da faculdade de Direito. Era veterana no curso. Era a mais velha da turma e já havia sido aluna dele. Tinha 42 anos. 42 anos que o tempo esquecera-se de lhe causar a lei da física de que tudo que sobe, desce. Estava tudo em cima, nada down. A turma não vira o churrasco desabar no fogo, assim como Lopes. Lurdes entrou como se estivesse numa passarela, num desfile de modelos. Cumprimentou alguns e foi ovacionada por outros pela entrada triunfante. Um mar de acadêmicos aberto, cortado por Lurdes, que encarnava Moisés naquele momento. Ao fundo, a churrasqueira e Lopes, boquiaberto.
- Oi Professor, atacando de assador, então?
- Si-si-si-sim... – gaguejou Lopes, odiara gaguejar nos momentos mais decisivos.
- E vai sair alguma coisa daí? Estou faminta!
- Pois é, está quase no ponto olhe... – neste momento Lopes percebeu a vacilada que dera em deixar cair aquela base sustentadora dos espetos. – Meu Deus, caiu tudo! – explicou-se.
- E agora? O que farás? O que comeremos? – perguntou Lurdes.
- Está tudo perdido, ainda bem que eles não viram! – justificou-se.
- Tive uma idéia Lopes!
- Por favor, diga-a...
- Ligamos para a pizzaria daqui da esquina e pedimos uma dúzia delas. Ao menos ninguém irá passar fome pelo desleixo do assador!
- Ótima idéia Lurdes! Mas posso te pedir uma coisa?
- Claro, peça.
- Não me chame de Professor! Apenas Lopes ou Paulo, ok?
- Seu pedido é uma ordem, professor! Ou melhor, Paulo. Paulo é melhor.
Lopes o mirava com os olhos de um caçador. Um caçador à procura da melhor carne, uma carne de qualidade no primeiro olhar, no primeiro momento. Enquanto ela estava ao celular, voltara à realidade assistindo a realidade e pensando no futuro. Lurdes além de linda, tinha conteúdo. Lopes adorava mulheres decididas com idéias afloradas nos piores momentos. Lurdes era ela. Tinha certeza que era. E aquele arrepio? Nunca havia sentido. Nunca mesmo. Talvez aquele diferente encontro fosse o encontro perfeito. A frase que sua secretária do escritório de advocacia talvez estivesse realmente tomando forma. Forma de um futuro pretendido.
Em quarenta minutos a campainha tocou. Lopes e Lurdes foram correndo até a porta da garagem para receberem as pizzas. 12 pizzas! Um dinheirinho a menos na carteira de Lopes, mas uma companhia deveras agradável para um encontro despretensioso num lugar diferente, longe dos restaurantes italianos, portugueses e japoneses, em que arriscou suas fichas através de uma mensagem de texto do celular. Lurdes havia ido ao churrasco por causa dele ou por causa do churrasco de sua turma? Havia uma incógnita e Lopes precisava descobrir o quanto antes. Era persistente não só no amor, mas em qualquer questão. Acreditava que para tudo havia solução.
- Pessoal! Venham, está pronto! – chamou os alunos.
- Colegas, está na mesa! – reforçou Lurdes.
- Pizzas? E o churrasco, professor? – perguntou um dos alunos.
- O churrasco foi para o espaço, ou melhor, para o fogo! E tenho dito, o caso está encerrado! As pizzas são todas para vocês. Esta é a minha pena já cumprida!
Lopes precisava tirar Lurdes dali enquanto os alunos comiam as pizzas. Resolveu tentar, afinal, aquele arrepio não deveria ter sido em vão.
- Lurdes, vamos lá para fora enquanto eles comem?
- Vamos sim, deixa eu pegar só um pedaço da pizza, está bem?
- Cla-cla-cla-rooo. Claro – gaguejara de novo diante da resposta dela – ódio novamente por isso.
Foram para o jardim onde não havia mais ninguém. Afastaram-se do grande grupo e começaram a conversar a som de funks e músicas mais contemporâneas. Lopes, um advogado experiente com anos de lábia profissional, começara a despejar elogios a Lurdes. Lurdes, uma quase formada advogada, respondia meias-palavras recíprocas com sorrisos de meia-lua junto aos olhos puxados quase fechados de vergonha. Diferente dos outros encontros, a noite acabaria em pizza e não em um restaurante daqueles que Lopes conhecia bem. Lopes aprenderia que mudar a forma de agir sem esquecer o objetivo final é, às vezes, a melhor saída para se conseguir um encontro perfeito, ou melhor, quase perfeito.
Um comentário:
Lopes, heim.. o garanhão!!!
heheheeh :D
Tomara que ele tenha se dado bem e este tenha tido o encontro perfeito :)
Hmm estou louca para ler uma história com continuação em vários posts... é bom, instiga a curiosidade e a imaginação!!
Uma idéia para os próximos capítulos :D
beijos neguinhoo
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