Aos cinco anos queremos ser bombeiro. Quando completamos oito anos optamos por ser jogador de futebol ou maquinistas. Já aos nove anos, deixamos de querer ser jogador ou maquinistas e escolhemos seguir pelo caminho da arquitetura ou, quem sabe, pelo da advocacia. Dois anos depois, aos onze anos, mudamos de novo e pretendemos: ser médicos ou donos de um banco. Aos quatorze anos começamos a amadurecer e as vontades finais começam a pairar sobre nossas cabeças, talvez seguir pelo caminho da comunicação, talvez o jornalismo ou uma faculdade de publicidade. Realmente, escolher uma profissão é algo extremamente cansativo, desagradável e desapontante.
Quando somos pequenos nem vemos o peso da responsabilidade que nossos pais têm em realizar suas atividades profissionais. De manterem a casa limpa e organizada assim como a relação conjugal deles. Sem levar em consideração o esforço que também fazem para pagar as contas da luz e da água; do gás, dos telefones, do IPTU da casa, do IPVA do carro e, claro, da mensalidade colegio. De nos paparicarem, de nos darem roupas novas e as vacinas no período correto. Nunca esquecendo também o dinheiro gasto na gasolina e no óleo do carro. E mais outras mil e uma funções que eles realizam, não esquecendo nunca da de cuidarem da gente e do nosso futuro.
Os anos voam e o sonho de ser isso ou aquilo vai deixando de ser utópico, ficando apenas mais selecionável. Deixamos de querer ser bombeiros por medo do fogo ou pelo medo de grandes alturas. Jogador de futebol até conseguimos ser empurrando com a barriga, mas abrimos mão de ser maquinistas pelo tédio das linhas paralelas nos guiando apenas por caminhos já trilhados por outros. A arquitetura é o ramo para quem gosta de planejamento estético e também de números e cálculos – deixamos de lado por causa da temida matemática. Já o caminho da advocacia, abandonamos por não gostar de mentir para livrar alguém culpado da pena humana em troca de alguns gordos honorários.
Aos onze anos deixamos de lado o sonho da carreira de medicina. Claro! Afinal, se o sangue nos enjoa e nos faz vomitar, decerto, esse não é o caminho mais correto. E imagine só: ser dono de um banco. Até podemos, mas para isso precisamos compreender bastante de administração, de conceitos econômicos, índices financeiros e fórmulas matemáticas e, por conseqüência, apelaríamos novamente para a matemática. Mais um sonho profissional deixado de lado. Nada de sentarmos atrás de uma mesa e colocar os pés para cima enquanto outros lidam com o que usamos para suprir nossas necessidades da vida globalizada.
Quatorze anos! A flor idade. Talvez uma idade em que a grande maioria dos jovens decida mais precisamente qual caminho deseja seguir. É o momento ideal de eliminar alguns daqueles sonhos profissionais de criança dos quais ainda tínhamos esperança de realizá-los. A fantasia de ser bombeiro é definitivamente deixada de lado. Assim como a esperança de fazer gols em gramados europeus, de levar vagões a um determinado destino, de traçar casas futurísticas para pessoas morarem. É a hora de deixar para outras pessoas o poder de defender casos impossíveis. É chegada a hora de largar os sonhos de dar mais saúde e esperança às pessoas, assim como também é a hora de decidir não querer guardar o dinheiro de outros em cofres de segurança máxima.
É tudo culpa do tempo. Transformamo-nos em nossos pais – ou em algum de nossos responsáveis, sejam eles avô, avó; tio ou tia. Nada é mais frustrante do que exercer uma profissão sem ter prazer ao executá-la. É como tirar um dez numa prova final colando toda a prova do colega. Uma fotocópia da primeira até a última questão. Por mais que haja êxito e felicidade na aprovação na passada de trimestre ou ano, no fundo, lá no fundinho no âmago, no cerne do nosso interior sensitivo, saberemos que depois de passada a euforia instantânea do prazer, não estaremos completos pela sensação de algo não realizado com nosso próprio esforço. Colar é coisa de criança, de adolescente. Todos algum dia já fizeram uma falcatrua dessas. Eu já fiz. Esse prazer instantâneo é exatamente como acontece nas escolhas profissionais. Sem ter certeza do que ser quer, se arrisca. Muitas vezes, se cai do cavalo.
Dia desses li um artigo antigo, da época de cursinho pré-vestibular do já longínquo 2004 – ano do meu primeiro carro – em que um tal de Stephen Kanitz falava sobre as duas decisões da vida de um adolescente: a escolha do cônjuge e a escolha da profissão a seguir. Escrevendo este texto parei para pesquisar sobre Kanitz, até porque na época não dei muita bola para o autor daquele artigo recortado da revista Veja, de 2002, e fotocopiado por um professor. Kanitz é administrador de empresas e nos últimos dez anos dedica-se a conferências. No artigo “Escolhendo uma Profissão”, conseguiu, de certo modo, me abrir os olhos a seguir o caminho de que mais gostava, por conseqüência, aquele que me garantia mais prazer em trilhá-lo.
Na hora em que li o artigo de Kanitz percebi que certos sonhos profissionais me fugiam de alcance devido ao grande grau utópico que apliquei em cima deles. Claro, não possuía mais nem uma mão cheia de caminhos a trilhar. De todos aqueles sonhos das fases infantil e pré-adolescente ainda mantinha dois deles: a faculdade de Jornalismo e a de Publicidade e Propaganda. E mais outra opção que aparecera com o tempo, a faculdade de Educação Física. Três caminhos, três possibilidades de sonho profissional do qual poderia desfrutar de gozo eterno se as realizasse com prazer.
O Kanitz tinha razão.
Dito e feito. Hoje sou jornalista e me orgulho muito da minha decisão. Perco horas – perder na teoria de alguns –, na verdade, as ganho, pois faço com prazer aquilo que aprendi durante anos dentro da Universidade Católica de Pelotas. Sem contar em tudo que aprendi fora da faculdade. Livros, artigos, pesquisas, eventos científicos, simpósios, colóquios, enfim. Pode parecer chato para alguns. Mas, para mim, não é. Assim como a matemática pode ser o êxtase para você, para mim é justamente o contrário. Certa vez um de meus professores disse: “Tens que ler aquilo do qual tenhas interesse, que tenhas tesão em ler em pleno sábado de madrugada, sabendo que poderias estar com os teus amigos aproveitando uma festa” – sábias e diretas palavras de Antonio Heberlê, o “Toninho”.
Sou um cara realizado por ter escolhido o rumo profissional correto. Ainda tenho muito que aprender. Pretendo ainda evoluir em meus estudos. Uma pós-graduação, mestrado e depois doutorado. Antes, irei cursar a faculdade de Publicidade & Propaganda para ter mais uma meta prazerosa cumprida. A Educação Física ficou em segundo plano. Faço a minha natação e jogo o meu sagrado futsal de quando em vez, apenas com os amigos. Mas, mesmo assim, posso afirmar que jogadores de futebol sempre seremos, homens e mulheres. Porque todo brasileiro tem um jeitinho diferente e maroto de saber defender e atacar nos piores momentos. Sabendo virar o jogo aos 47 minutos do segundo do tempo com um gol de barriga ou de nariz. Que seja assim também no campo das profissões. Se pintar algum problema, peça substituição. Não se envergonhe! Peça para sair e procure aquilo que te faça sentir tesão profissional em plena madrugada de sábado.
Te-são.
Quando somos pequenos nem vemos o peso da responsabilidade que nossos pais têm em realizar suas atividades profissionais. De manterem a casa limpa e organizada assim como a relação conjugal deles. Sem levar em consideração o esforço que também fazem para pagar as contas da luz e da água; do gás, dos telefones, do IPTU da casa, do IPVA do carro e, claro, da mensalidade colegio. De nos paparicarem, de nos darem roupas novas e as vacinas no período correto. Nunca esquecendo também o dinheiro gasto na gasolina e no óleo do carro. E mais outras mil e uma funções que eles realizam, não esquecendo nunca da de cuidarem da gente e do nosso futuro.
Os anos voam e o sonho de ser isso ou aquilo vai deixando de ser utópico, ficando apenas mais selecionável. Deixamos de querer ser bombeiros por medo do fogo ou pelo medo de grandes alturas. Jogador de futebol até conseguimos ser empurrando com a barriga, mas abrimos mão de ser maquinistas pelo tédio das linhas paralelas nos guiando apenas por caminhos já trilhados por outros. A arquitetura é o ramo para quem gosta de planejamento estético e também de números e cálculos – deixamos de lado por causa da temida matemática. Já o caminho da advocacia, abandonamos por não gostar de mentir para livrar alguém culpado da pena humana em troca de alguns gordos honorários.
Aos onze anos deixamos de lado o sonho da carreira de medicina. Claro! Afinal, se o sangue nos enjoa e nos faz vomitar, decerto, esse não é o caminho mais correto. E imagine só: ser dono de um banco. Até podemos, mas para isso precisamos compreender bastante de administração, de conceitos econômicos, índices financeiros e fórmulas matemáticas e, por conseqüência, apelaríamos novamente para a matemática. Mais um sonho profissional deixado de lado. Nada de sentarmos atrás de uma mesa e colocar os pés para cima enquanto outros lidam com o que usamos para suprir nossas necessidades da vida globalizada.
Quatorze anos! A flor idade. Talvez uma idade em que a grande maioria dos jovens decida mais precisamente qual caminho deseja seguir. É o momento ideal de eliminar alguns daqueles sonhos profissionais de criança dos quais ainda tínhamos esperança de realizá-los. A fantasia de ser bombeiro é definitivamente deixada de lado. Assim como a esperança de fazer gols em gramados europeus, de levar vagões a um determinado destino, de traçar casas futurísticas para pessoas morarem. É a hora de deixar para outras pessoas o poder de defender casos impossíveis. É chegada a hora de largar os sonhos de dar mais saúde e esperança às pessoas, assim como também é a hora de decidir não querer guardar o dinheiro de outros em cofres de segurança máxima.
É tudo culpa do tempo. Transformamo-nos em nossos pais – ou em algum de nossos responsáveis, sejam eles avô, avó; tio ou tia. Nada é mais frustrante do que exercer uma profissão sem ter prazer ao executá-la. É como tirar um dez numa prova final colando toda a prova do colega. Uma fotocópia da primeira até a última questão. Por mais que haja êxito e felicidade na aprovação na passada de trimestre ou ano, no fundo, lá no fundinho no âmago, no cerne do nosso interior sensitivo, saberemos que depois de passada a euforia instantânea do prazer, não estaremos completos pela sensação de algo não realizado com nosso próprio esforço. Colar é coisa de criança, de adolescente. Todos algum dia já fizeram uma falcatrua dessas. Eu já fiz. Esse prazer instantâneo é exatamente como acontece nas escolhas profissionais. Sem ter certeza do que ser quer, se arrisca. Muitas vezes, se cai do cavalo.
Dia desses li um artigo antigo, da época de cursinho pré-vestibular do já longínquo 2004 – ano do meu primeiro carro – em que um tal de Stephen Kanitz falava sobre as duas decisões da vida de um adolescente: a escolha do cônjuge e a escolha da profissão a seguir. Escrevendo este texto parei para pesquisar sobre Kanitz, até porque na época não dei muita bola para o autor daquele artigo recortado da revista Veja, de 2002, e fotocopiado por um professor. Kanitz é administrador de empresas e nos últimos dez anos dedica-se a conferências. No artigo “Escolhendo uma Profissão”, conseguiu, de certo modo, me abrir os olhos a seguir o caminho de que mais gostava, por conseqüência, aquele que me garantia mais prazer em trilhá-lo.
Na hora em que li o artigo de Kanitz percebi que certos sonhos profissionais me fugiam de alcance devido ao grande grau utópico que apliquei em cima deles. Claro, não possuía mais nem uma mão cheia de caminhos a trilhar. De todos aqueles sonhos das fases infantil e pré-adolescente ainda mantinha dois deles: a faculdade de Jornalismo e a de Publicidade e Propaganda. E mais outra opção que aparecera com o tempo, a faculdade de Educação Física. Três caminhos, três possibilidades de sonho profissional do qual poderia desfrutar de gozo eterno se as realizasse com prazer.
O Kanitz tinha razão.
Dito e feito. Hoje sou jornalista e me orgulho muito da minha decisão. Perco horas – perder na teoria de alguns –, na verdade, as ganho, pois faço com prazer aquilo que aprendi durante anos dentro da Universidade Católica de Pelotas. Sem contar em tudo que aprendi fora da faculdade. Livros, artigos, pesquisas, eventos científicos, simpósios, colóquios, enfim. Pode parecer chato para alguns. Mas, para mim, não é. Assim como a matemática pode ser o êxtase para você, para mim é justamente o contrário. Certa vez um de meus professores disse: “Tens que ler aquilo do qual tenhas interesse, que tenhas tesão em ler em pleno sábado de madrugada, sabendo que poderias estar com os teus amigos aproveitando uma festa” – sábias e diretas palavras de Antonio Heberlê, o “Toninho”.
Sou um cara realizado por ter escolhido o rumo profissional correto. Ainda tenho muito que aprender. Pretendo ainda evoluir em meus estudos. Uma pós-graduação, mestrado e depois doutorado. Antes, irei cursar a faculdade de Publicidade & Propaganda para ter mais uma meta prazerosa cumprida. A Educação Física ficou em segundo plano. Faço a minha natação e jogo o meu sagrado futsal de quando em vez, apenas com os amigos. Mas, mesmo assim, posso afirmar que jogadores de futebol sempre seremos, homens e mulheres. Porque todo brasileiro tem um jeitinho diferente e maroto de saber defender e atacar nos piores momentos. Sabendo virar o jogo aos 47 minutos do segundo do tempo com um gol de barriga ou de nariz. Que seja assim também no campo das profissões. Se pintar algum problema, peça substituição. Não se envergonhe! Peça para sair e procure aquilo que te faça sentir tesão profissional em plena madrugada de sábado.
Te-são.
4 comentários:
Ahhh esse texto foi escrito telepaticamente... só pode heheheh
Perfeito... A gente nao pode fazer uma coisa obrigados, ou pq as outras pessoas querem que a gente faça. Embora esse nunca tenha sido meu caso, eu havia escolhido a medicina pra fazer parte da minha vida e tava certa que seria isso. Mas um certo dia me chegou as maos o fato de cursar a psico. pensei,por hora nao me agradou, mas depois de um tempo resolvi me envolver com esse novo "projeto" que poderia gostar ou nao...
E a grande novidade é que to amando o que faço, começo a me apaixonar a cada dia que passa e creio que em breve estarei totalmente envolvida.
A vida é simples a gente que as vezes complica ela demais...o caminho tava na minha frente e eu nao queria ver ele.Também nao acredito em acaso.
Bem ate agora falei sobre mim aqui, que vergonha...
Mas marquinhos, teus textos estao cada vez melhores. Andei um tempo sumida por problemas tecnicos, mas agora to voltando...
beijao amado.
Entrei no teu blog para dar uma olhada nos textos e acabei sendo fisgado por esse! É exatamente o que o me pergunto diariamente. São dúvidas como essas que me atormentam. Mas é verdade, só vale a pena investir e tentar se é isso que te dá tesão. Por isso que estamos arriscando em um curso não tão popular ou de futuro certo. O importante é ser bom no que se faz, e é isso que tentamos conseguir.
Marquinhos, tuas crônicas nunca baixam o nível. Sempre excelentes. Próxima vez comento outras.
INCRIVEL COMO VC CONSEGUE ESCREVER SOBRE OS MAIS DIVERSOS ASSUNTOS COM TANTA SABEDORIA, Ñ TERIAS OUTRA PROFISSÃO A OCUPAR A Ñ SER A DE JORNALISTA VC NASCEU P ESCREVE!!!!!!!!!!
CONTINUE SEMPRE FAZENDO ESSAS CRONICAS MARAVILHOSAS Q NOS FAZ PENSAR E REFLETIR SOBRE OS MAIS DIVERSOS ASSUNTOS Q NESSE CASO UM DOS MAIS IMPORTANTE DE NOSSA VIDA "A PROFISSÃO Q IREMOS OCUPAR"!!!!!!!
BJÃO!!!ADORO VC!!!!!!!!
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