domingo, 20 de abril de 2008

Complicada e Perfeitinha


- Complicada e perfeitinha, cara!

Essa é a frase que o Dudu sempre resumiu aquela mulher. Vivia repetindo a mesma coisa. Dia sim e dia sim, sem folga, em certos períodos. Aquilo havia se tornado chato com o passar do tempo. Uma relação inconstante. Um dia tudo as mil maravilhas; no outro, vasos voavam dentro de casa e, nos últimos dias da relação, um acabou atravessando a janela e caindo no pára-brisas de um carro que estava estacionado na frente do apartamento.

A Regina não era violenta, não pense isso. Tinha um rostinho angelical e um sorriso de derrubar Daniela Cicarelli ou até a Aline Moraes. Uma boca grande e suculenta com os dentes emparelhados, lisinhos, límpidos. Aquele fora sorriso que dera ao Dudu na saída de uma festa noturna, o lugar do primeiro encontro dos dois. Nunca haviam se visto antes, muito menos se falado.

- Oi... – respondeu ele ao sorriso dela.
- Oi... – balbuciou ela.
- Estás esperando por alguém?
- Sim, estou esperando uma amiga para ir embora.
- E vocês estão de carro?
- Não, vamos pegar um táxi ali na esquina...
- Será que posso te oferecer uma carona?

Depois de uma reluta rápida a amiga chegou e ambas embarcaram naquele carro. Os três conversaram bastante, se conheceram melhor e boas risadas foram despejadas até o caminho da casa delas. Primeiro o Dudu largou a Carina, claro. Teria outras intenções, decerto. Um sorriso completo: tamanho e estética – um elemento harmônico que contemplava nas mulheres. Acreditava que um sorriso diria muito sobre a pessoa, especialmente nas mulheres. Precisava ter um tempinho a mais para conhecer melhor aquela mulher. Regina.

Ele fez o caminho maior até a casa dela. A distância da casa de Carina até a casa de Regina girava em torno de uns cinco minutos para ser percorrida. Ele observava cada resposta, cada gesto. Dudu levou quinze minutos. Tempo suficiente para saber que ela era geminiana, tinha 23 anos, cursava o último ano da faculdade de Letras, que tinha dois irmãos, um gremista e um colorado e que adorava freqüentar, de vez enquanto, barzinhos e festas com música tranqüila. Ela era o sonho de Dudu, encaixara como uma luva, diferente das mulheres solteiras de hoje em dia. Ele, mais do que nunca, precisava do número dela, uma mulher para casar talvez, para combinar um encontro, um chimarrão à tardinha ou até um cineminha numa quinta-feira.

- Pronto, estás entregue sã e salva!
- Nossa, sem palavras! Muito obrigada mesmo Eduardo...
- Podes me chamar de Dudu, viu?
- Tá certo... Então a gente se vê por ai, não?
– ela havia largado a deixa, deixado a bolinha picando e Dudu não titubeou:

- Então, anota meu número ai: 9-3-4-6-3-1-6-7.
- Anotei, vou te dar um toque e tu gravas o meu, ok?
- Beleza, prazer em te conhecer Rê!
- O prazer foi meu e muito obrigada...

Um beijinho e um abracinho. Outro beijo e outro abracinho. Nada rolou naquela madrugada. Mas algo havia despertado. Dudu havia sentido o arrepiozinho aquele que tanto escutava os outros sentirem. Regina também, decerto. Distribuiu um sorriso assim como se não quisesse nada no final daquela festa. Logo ela, uma durona com os sentimentos desde o término do último namoro. Havia amolecido. Talvez se tivessem trocado olhares antes, uma conversa mais profunda sem limite de tempo e tal. Mas não.

Depois de uma hora, Regina enviou uma mensagem de texto agradecendo Dudu pela carona. Ele respondeu a mensagem e ainda falou sobre ela, mas não do sorriso, havia observado algo mais relevante: o cheiro dela. Qual a mulher que não gosta de ser elogiada? Diferente dos outros tantos homens que miravam Regina, Dudu havia sido a exceção. Por mais que houvesse gostado daquele sorriso completo, falou do cheiro, do perfume doce e embriagante. Ela gostou e foi recíproca. Muito. E ele de novo. E ela mais ainda. Bem, o resto você já deve ter desconfiado como aconteceu na semana seguinte.

Em menos de um mês estavam namorando. As qualidades eram gigantescas e os defeitos minimizados ou não percebidos. Ele, um cara tranqüilo, um professor de educação física formado há dois anos e uma vida equilibrada, sem dívidas no comércio e um carro popular bem cuidado. Ela, uma mulher formanda, aparentemente tranqüila, trabalhando em um colégio e estagiando numa organização não-governamental de menores abandonados. Sem defeitos comportamentais pela vida regrada que levavam. Não apontavam os defeitos do outro. Isso até o terceiro mês de namoro.

Brigas começaram a acontecer. Desconfianças, brigas, ciúmes e outras picuinhas apareceram no namoro. Ela com ciúme das alunas dele da academia onde ele trabalhava. Desconfiança maior ainda pelos horários das aulas esporádicas, ocasionalmente noturnas. Aquela mulher, um mulherão, diga-se de passagem, inventando coisinhas infundadas que acabavam atrapalhando Dudu. A serenidade do início do namoro era interrompida por surtos de ciúme e desconfiança. Crises.

Dudu chegava ao trabalho cabisbaixo, triste mesmo. Poxa vida, logo Regina, uma mulher que havia sido tão próxima da mulher ideal para ele! Uma decepção de certa forma, pois ele realmente não dava indícios de que estivesse fazendo algo errado. Ciúmes e desconfianças eram infundados realmente. Complicada e perfeitinha, cara! – era o que ele reclamava sempre ao inseparável amigo Roberto. E o Roberto, sempre lhe dava o mesmo conselho:

- Agüenta firme, meu velho! Mulher assim e ainda mais com T.P.M. é um bicho de sete-cabeças! Se tu gostas mesmo dela, tenta entender e fazer de tudo para contornar a situação. Tenta abraçar ela, mesmo que ela fique lavando e lavando!

Depois de cinco, seis dias as coisas voltavam ao normal. Dudu contornava a situação e fazia de tudo. E conseguia. Era apaixonado por aquela mulher perfeitinha e ao mesmo tempo complicada. Era só sentir o perfume doce que acabava hipnotizado, esquecendo todas as palavras fortes e grosseiras que ela falava. A arma era abraçá-la segundo Roberto. Dudu seguia o conselho. Crises e crises consecutivas, abraços e abraços para fazê-la parar. Conseguia até quando ela estava naqueles dias sensíveis pelos quais as mulheres passam em certos períodos. Naquelas fases, mandava flores, levava cafés da manhã na cama e, da última vez, até cantou para ela. O ciclo de brigas chegava ao fim, finalmente.

A paz voltava a reinar entre os dois e Dudu chegara ao entendimento que, além da vida ser feita de fases, a sua relação com Regina funcionava do mesmo jeito. Precisaria ser forte de períodos em períodos e também fora deles quando ela resolvia dar uma de ciumenta. E para ter tranqüilidade e espírito leve para enfrentar essas situações, Dudu seguiu outro conselho do amigo Roberto e começou a fazer yôga, três vezes por semana; doze ou mais vezes ao mês. Tudo para alcançar a eutimia e, mais do que nunca, o equilíbrio no relacionamento com Regina. O que os homens não fazem pelas mulheres? É assim mesmo. Enquanto uns fazem yôga, dão presentes e agüentam certas situações, outros ainda seguem solteiros, dando caronas a outras complicadas e perfeitinhas deste mundo. Sorte da Regina e, claro, do Dudu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ahhh perfeito... daquele jeito que eu gosto de ler hehehe
É complicado né... relacionamentos sao complicados, no entantooooo maravilhosos.Queremos porque queremos viver uma historia de amor, nos sentimos completos e felizes e assim vai ser sempre, assim é o ser humano.
Uma coisa é a mais verdadeira de todas: quando a gente gosta de verdade, a gente arruma um jeito de perdoar, um jeito de nao se irritar, um jeito de nao levar tao a sério o humor de cão de alguns dias, a cara amarrada...
Amar alguém e estar com alguém que se gosta faz a gente se sentir leve...traz uma paz interior e uma alegria imensa.
Um dia todos nós acharemos a pessoa perfeita aos nossos olhos e ao no coração.
Beijao querido.

Unknown disse...

HUM...COMO VC ESTÁ SABENDO DO UNIVERSO FEMININO...RSRSRS.MAS VC TEM RAZÃO MULHERES SÃO REALMENTE COMPLICADAS, SEMPRE ARRANJÃO UM GEITINHO DE CHAMAR A ATENÇÃO, MAS NADA QUE UM BELO ABRAÇO, UM CARINHO BEM FEITO E PALAVRAS MELOSAS NÃO RESOLVAM.
MAS CUIDADO: NEM SEMPRE QUEREMOS OU SOMOS OQUE VOCÊ POSSA ESTAR IMAGINANDO.....
TE ADORO!!!
BJÃO!!!!!!!!!!!