Eu avisei e avisei, mas ele não quis me escutar. Falei que ela não iria dar bola, sequer olhar para ele se ele continuasse perturbando-a toda hora com telefonemas, mensagens e outros contatos virtuais seguidos, somente para saber o que ela fazia, com quem ela estava e o que iria fazer. O ciúme era a arma letal para o final daquele namoro instantâneo já anunciado pelas atitudes de Lucas.
Ele era - e ainda posso dizer que é - um cara insistente. Definitivamente insistente. Não desistia de jeito nenhum das coisas, mesmo que estivesse errado, ainda mais quando o assunto envolvia mulheres. No Planeta, o nosso time de futebol de areia, Lucas jogava no meio-campo e, ao invés de organizar as jogadas para acionar o ataque do time, só marcava. Não era um meia de criação, virara um volantão da areia que recebera o apelido de Guiñazu dos companheiros de time. Marcar. Essa havia virado a função que Lucas se encaixara perfeitamente. No futebol e com as mulheres. Na verdade, no futebol nem tanto, mas mais certo por causa das mulheres.
A nova função adquirida nas areias da Praia do Cassino pulara para a vida real dele. Marcar. Só queria saber de marcar. Se tinha um encontro casual com alguma mulher, ligava, ligava e ligava. Se conhecia a amiga do amigo, já pegava o telefone e ligava, ligava e ligava. Marcação cerrada. O verdadeiro Guiñazu.
Uma coisa que as mulheres mais detestam é grude dos homens, ainda mais daqueles que nem são namorados ou pertencentes a outros cargos da vida conjugal. E para ser pior, homens que procuram demasiadamente as mulheres, com constância, acabam dando a elas autoconfiança e, por conseqüência, a oportunidade de se entregarem ou darem bola a qualquer outro concorrente da espécie que cruze à sua frente. Marcação demais acaba sendo o verdadeiro entrega jogo.
E Lucas começou a entregar.
Na noite de sexta-feira, depois do trabalho, resolvera ir a um bar com os amigos e jogar papo fora como fazia costumeiramente. Mas na noite daquela sexta-feira nada disso aconteceu. O papo não fluiu. Não porque Lucas estava cansado ou sem vontade de sair. Estava com todas as vontades do mundo, inclusive a de conhecer uma nova mulher. De preferência um mulherão que lhe chamasse atenção e que o fizesse sentir calafrios. E não é que o maledeto conheceu? Joana o nome dela. Sem muitas descrições de Joana, posso dizer que conhecê-la foi o começo de mais um fim.
O fim da cervejinha com os amigos. O encerramento das atividades futebolísticas de final de semana. O final dos encontros casuais. Foi término da vida de solteiro. Uma nova vida se iniciara na noite daquela sexta-feira. Assim, de repente, como uma estrela cadente cortando o céu. E do mesmo jeito chegaria ao fim pela marcação incessante de Guiñazu, ou melhor, de Lucas, o marcador.
Aquele namoro durou cerca de três meses. Contavam os dias apenas de namoro. Teriam três meses e uns cinco dias, talvez seis se ela não tivesse acabado com ele pelo telefone ou sete se ele não tivesse acabado pelo MSN. Términos não válidos daquele instantâneo namoro. Um namoro macarrão. Daqueles bem rápidos, deveras enrolados e com data de validade anunciada na embalagem por causa do ciúme de Lucas. A marcação era tanta, que Lucas chegava a ir até a manicure com Joana. Levava ela para cima e para baixo. Cuidava do que era seu e fazia certo, mas exagerava na dose.
Certo dia foi capaz de fazer campana em frente à casa de Joana para ver se realmente ela iria para o trabalho. Joana não dava motivos indiretos ou diretos para a desconfiança dele. Trabalhava manhã e tarde e, às vezes, no turno da noite. Uma enfermeira dedicada, apaixonada pelas crianças e pelos idosos. Lucas tinha ciúme até dos pacientes do hospital de que Joana lhe contara algumas histórias. Crianças e idosos. Isso era o fim.
De todas as brigas do casal eu servi de psicólogo e amigo-conselheiro. Todas. E em três meses foram muitas. Apenas três meses e em quase todos os dias recebia uma mensagem ou uma ligação de Lucas. O assunto era sempre o mesmo: ciúme. “Ela está me traindo!”. “Ela não me dá atenção!”. “Ela tem outro!”. Ciúme. E um ciúme infundado que era capaz de derrubar o Coliseu de Roma com um grito de salvação daquele mal. Era um ciúme doentio.
Do mesmo jeito que começou o primeiro encontro naquela mesa de bar, acabou também. E o motivo? Ciúme. Ciúme. Ciúme. E, por incrível que pareça, a marcação dessa vez não havia sido de Lucas e sim de Joana. Lá pela madrugada, uma loira estrondosa, capaz de fazer torcedores do Internacional e do Grêmio ou do Flamengo e do Botafogo darem as mãos e entoarem um o hino do outro co-irmão adentrou o bar. Lucas quase babava feito um bulldog torcendo o pescoço para trás a fim de seguir o andar da loira. Joana não falou nada. Simplesmente levantou-se silenciosamente e foi-se embora. Lucas, quando retornou o olhar para sua mesa, não a vira. Tentou ligar, deixar recados, mas nunca mais teve notícias dela. Joana partiu como uma borboleta que visita o peitoral de nossas janelas.
A lição que se tira do namoro instantâneo de Lucas e de Joana é a mesma que alguns técnicos de futebol deveriam tirar das invenções que andam aprontando em alguns dos clubes brasileiros: que a marcação em demasia pode trazer grandes prejuízos. Escalar um centroavante na lateral-esquerda, sendo que o time necessita fazer gols para se classificar, é um dos pecados mais imperdoáveis das quatro linhas. Já Lucas sabia onde errava e não tentava consertar, mudar. Ambos vêem onde erram e permanecem errando mesmo levando na cara. Marcação de mais e mudanças de menos. Alguma semelhança entre o namoro de Lucas e Joana e os técnicos de futebol deste Brasil?
Óculos escuros.
Ele era - e ainda posso dizer que é - um cara insistente. Definitivamente insistente. Não desistia de jeito nenhum das coisas, mesmo que estivesse errado, ainda mais quando o assunto envolvia mulheres. No Planeta, o nosso time de futebol de areia, Lucas jogava no meio-campo e, ao invés de organizar as jogadas para acionar o ataque do time, só marcava. Não era um meia de criação, virara um volantão da areia que recebera o apelido de Guiñazu dos companheiros de time. Marcar. Essa havia virado a função que Lucas se encaixara perfeitamente. No futebol e com as mulheres. Na verdade, no futebol nem tanto, mas mais certo por causa das mulheres.
A nova função adquirida nas areias da Praia do Cassino pulara para a vida real dele. Marcar. Só queria saber de marcar. Se tinha um encontro casual com alguma mulher, ligava, ligava e ligava. Se conhecia a amiga do amigo, já pegava o telefone e ligava, ligava e ligava. Marcação cerrada. O verdadeiro Guiñazu.
Uma coisa que as mulheres mais detestam é grude dos homens, ainda mais daqueles que nem são namorados ou pertencentes a outros cargos da vida conjugal. E para ser pior, homens que procuram demasiadamente as mulheres, com constância, acabam dando a elas autoconfiança e, por conseqüência, a oportunidade de se entregarem ou darem bola a qualquer outro concorrente da espécie que cruze à sua frente. Marcação demais acaba sendo o verdadeiro entrega jogo.
E Lucas começou a entregar.
Na noite de sexta-feira, depois do trabalho, resolvera ir a um bar com os amigos e jogar papo fora como fazia costumeiramente. Mas na noite daquela sexta-feira nada disso aconteceu. O papo não fluiu. Não porque Lucas estava cansado ou sem vontade de sair. Estava com todas as vontades do mundo, inclusive a de conhecer uma nova mulher. De preferência um mulherão que lhe chamasse atenção e que o fizesse sentir calafrios. E não é que o maledeto conheceu? Joana o nome dela. Sem muitas descrições de Joana, posso dizer que conhecê-la foi o começo de mais um fim.
O fim da cervejinha com os amigos. O encerramento das atividades futebolísticas de final de semana. O final dos encontros casuais. Foi término da vida de solteiro. Uma nova vida se iniciara na noite daquela sexta-feira. Assim, de repente, como uma estrela cadente cortando o céu. E do mesmo jeito chegaria ao fim pela marcação incessante de Guiñazu, ou melhor, de Lucas, o marcador.
Aquele namoro durou cerca de três meses. Contavam os dias apenas de namoro. Teriam três meses e uns cinco dias, talvez seis se ela não tivesse acabado com ele pelo telefone ou sete se ele não tivesse acabado pelo MSN. Términos não válidos daquele instantâneo namoro. Um namoro macarrão. Daqueles bem rápidos, deveras enrolados e com data de validade anunciada na embalagem por causa do ciúme de Lucas. A marcação era tanta, que Lucas chegava a ir até a manicure com Joana. Levava ela para cima e para baixo. Cuidava do que era seu e fazia certo, mas exagerava na dose.
Certo dia foi capaz de fazer campana em frente à casa de Joana para ver se realmente ela iria para o trabalho. Joana não dava motivos indiretos ou diretos para a desconfiança dele. Trabalhava manhã e tarde e, às vezes, no turno da noite. Uma enfermeira dedicada, apaixonada pelas crianças e pelos idosos. Lucas tinha ciúme até dos pacientes do hospital de que Joana lhe contara algumas histórias. Crianças e idosos. Isso era o fim.
De todas as brigas do casal eu servi de psicólogo e amigo-conselheiro. Todas. E em três meses foram muitas. Apenas três meses e em quase todos os dias recebia uma mensagem ou uma ligação de Lucas. O assunto era sempre o mesmo: ciúme. “Ela está me traindo!”. “Ela não me dá atenção!”. “Ela tem outro!”. Ciúme. E um ciúme infundado que era capaz de derrubar o Coliseu de Roma com um grito de salvação daquele mal. Era um ciúme doentio.
Do mesmo jeito que começou o primeiro encontro naquela mesa de bar, acabou também. E o motivo? Ciúme. Ciúme. Ciúme. E, por incrível que pareça, a marcação dessa vez não havia sido de Lucas e sim de Joana. Lá pela madrugada, uma loira estrondosa, capaz de fazer torcedores do Internacional e do Grêmio ou do Flamengo e do Botafogo darem as mãos e entoarem um o hino do outro co-irmão adentrou o bar. Lucas quase babava feito um bulldog torcendo o pescoço para trás a fim de seguir o andar da loira. Joana não falou nada. Simplesmente levantou-se silenciosamente e foi-se embora. Lucas, quando retornou o olhar para sua mesa, não a vira. Tentou ligar, deixar recados, mas nunca mais teve notícias dela. Joana partiu como uma borboleta que visita o peitoral de nossas janelas.
A lição que se tira do namoro instantâneo de Lucas e de Joana é a mesma que alguns técnicos de futebol deveriam tirar das invenções que andam aprontando em alguns dos clubes brasileiros: que a marcação em demasia pode trazer grandes prejuízos. Escalar um centroavante na lateral-esquerda, sendo que o time necessita fazer gols para se classificar, é um dos pecados mais imperdoáveis das quatro linhas. Já Lucas sabia onde errava e não tentava consertar, mudar. Ambos vêem onde erram e permanecem errando mesmo levando na cara. Marcação de mais e mudanças de menos. Alguma semelhança entre o namoro de Lucas e Joana e os técnicos de futebol deste Brasil?
Óculos escuros.
2 comentários:
adorei!
kiii to morrendo de saudade tuuua!
:~
beeeijo :)
aHUIOAhUAHuhauHUIhauihui
Eu conheço uma história igualzinha! Mas com ciúme até dos sogros... Que absurdo!
E a Joana tinha que ser logo enfermeira neh?! aHUIAha Tomara que eu não tenha a mesma sorte que ela de pegar um namorado assim... Confiança acima de tudo :)
Beijo Kito sumido!
=**
Postar um comentário