Uma amiga minha conheceu um cara. Até ai tudo bem, mil maravilhas. O problema foi quando ele a convidou para ir a sua casa. Poxa vida, a primeira vez na casa de um quase-namorado nem sempre se tem confiança suficiente, mas se tem algumas más intenções até e, com certeza, ele também as tinha. A Liane relutou no começo e depois acabou aceitando até porque era coisa rápida, era coisa do William entrar em casa, tomar um banho – já que estava fétido do futebol – e rumarem para o churrasco da turma da faculdade da Liane. O problema não fora o banho ou as perversas intenções contidas de William, muito menos as de Liane. O problema maior era esperar no quarto de William. A Causa? Um tremendo pit-bull.
Na correria ao entrar em casa para não se atrasarem mais ainda para o churrasco, o William chegou pulando num pé tirando o calção; no outro tirava uma meia para evitar que a Liane ficasse reclamando mais e mais pelo atraso gerado pelo futebol. “Maldito futebol!” – pensava a Liane. Por essa corrida contra o relógio, o William se esqueceu de avisar a Liane do amigo dele, seu melhor amigo, de estimação. Um animal pet. Pet? Sim. Até porque um pit-bull de cinco meses ainda é pet. Porém, quando tem cinco anos e uma cabeça pesando quase dez quilos e um corpo musculoso de dar inveja a qualquer pastor belga, assusta. E assusta bem mais quando não se sabe que um brutamontes daqueles está solto pela casa.
O William correu para o banho, excluindo toda a possibilidade de persuadir a Liane à suas fantasias masculinas de uma quase-namorada visitando o seu quarto pela primeira vez. A Liane nem estava para isso, por mais que quisesse alguma coisa. Precisava chegar o quanto antes no churrasco, pois já estavam há mais de duas horas atrasados. Ela sentada na cama analisando cada detalhe do quarto. Fotografias, posters, playstation dois, enfim. Ele tomando banho de porta meio que aberta, meio que fechada assoviando uma música do Snoop Dog. A porta entreaberta do quarto. Mas que barulho é esse? E que sombra era aquela na porta?
- William, tem algo estranho aqui! – gritou a Liane, trazendo os pés para cima da cama em forma de proteção do barulho desconhecido que aumentava e a sombra que ficaria cada vez mais intensa.
- William! William! Me ajuuuuda! – gritava intensamente. Poderia ela fugir para o banheiro, mas preferiu tapar-se com as cobertas da cama de casal e proteger-se com os travesseiros. O William nem havia escutado os pedidos de socorro. Ela precisaria enfrentar aquilo sozinha.
O barulho de uma respiração investigativa aumentava vindo de algum desconhecido ainda na porta. A respiração de Liane ofegante, apavorada como se assistisse a um filme de terror. Cobria-se com o edredon e até a altura do queixo. Os travesseiros já estavam todos na volta dela, como se fosse barricadas para evitar a aproximação do desconhecido. Liane não tinha medo de ninguém, sempre enfrentara as pessoas com a maior cara de uma boa entendedora sarcástica. Porém, do desconhecido tinha medo. Assim como tinha medo da morte, encarava as coisas que lhe afligiam do mesmo medo. Acuando-se e precisando do braço de um homem para acalmá-la, assim como fazia com o seu Wilmar e a dona Maria Alice.
Liane estacionara mais brecada que um carro estacionado em uma rua íngreme. Não podia fazer nada. Sempre quando sentira medo ficava desse jeito. Sem reação alguma. Teria de encarar aquele desconhecido monstruoso que se aproximava pelo barulho e pela sombra agora já definida na porta do quarto. E quando entendeu o significado da sombra:
- Socoooooooooooooooooorro! – com muitas vogais. E nada do William escutar.
Aquele pit-bul bege com o fucinho esbranquiçado e molhado havia adentrado o quarto e partido em disparada para cima da Liane. Um cheiro diferente, decerto. Não conhecera ainda o cheiro de Liane. Precisava sentir de perto e dar suas boas-vindas. O bichano correu como se fosse mordiscar – mordiscar para um pit-bull, para nós humanos ele iria decepar o nosso braço – um pneu velho. A Liane continuaria gritando socorro, porém um socorro abafado pelas cobertas e pelos travesseiros. Nada de William escutar nada, até porque um homem quando toma banho nem escuta o resto do mundo. Só o celular, mas como esse não tocou, óbvio, não escutou.
Era o Ziggy, o pit-bull de estimação de William. Cinco meses tinha o danado e dera um susto desses na Liane. Ela segurava o edredon com todas as forças possíveis. O Ziggy o puxava para destapá-la. A Liane puxava mais ainda. E o Ziggy conseguia facilmente arrancar as cobertas. Pronto. O edredon, um cobertor e o lençol já haviam sido arrancados. Liane não possuía mais proteção alguma. Era ele e ela. Ela e ele. Ela acuada no espaldar da cama sem esboçar nenhuma reação. Mal respirava. Enquanto que ele, com as quatro patas em cima da cama, a olhava com um olhar norteado a ela, traiçoeiro. Deveras traiçoeiro. Dez segundos de troca de olhares. Ela pelo medo. Ele pela curiosidade e pelo real sentido de proteger o seu dono. Era chegada a hora do ataque.
Ele pulou na direção dela. Ela tentou proteger-se com as mãos. Ele tirou com a cabeça alguns dos travesseiros que ainda estavam a protegendo em forma de barricada. Ela conseguira segurar apenas um travesseiro para proteger ao menos o rosto. Sem sucesso. Ele tiraria o travesseiro de suas mãos como se pegasse tranquilamente um elefante entre os dentes. “Meu Deus, por favor, me ajude!” – suplicava mentalmente enquanto gritava aos choros e compulsivo desespero por ter um pit-bull a atacando, literalmente. Deus não a ouvira diretamente, mas talvez a castigasse por ter participado da cabulosa turma do 3° ano de 2003 do Colégio Santa Joana d’Arc, de Rio Grande.
Foi com um bote certeiro que o Ziggy, aquele bichano com cara de Jack Stripador e com o melhor olhar de morte de Chucky, o boneco assassino atacou a Liane. Atacou com intermináveis lambidas e carinhos. Sem sangue, sem mordidas e sem decepações. Sim, o Ziggy havia gostado de Liane. Parecia a conhecer de outros carnavais. Sabia que ela gostava do seu dono só pelo cheiro e pelo olhar que traçara rumando em uma análise de dez segundos o corpo de Liane. Só carinhos e lambidas. Nada mais que isso. Liane sorria agora, tranqüila por perceber que aqueles olhos de morte daquele pit-bull eram uma exceção perto dos pit-bulls que havia conhecido nas reportagens da televisão e nas histórias que o velho Wilmar contara sobre eles.
Na última semana se completou um ano do ataque de Ziggy. Por conseqüência, um ano de quase-namoro da Liane, ou melhor, da Lika e do William – sim, eles não assumem o namoro e são felizes mesmo assim. Ziggy, hoje, com um ano e cinco meses, continua dando pulos quando a Lika adentra o quarto do William. Ziggy tornou-se um filho para eles. O pai verdadeiro é o William, a “mãedrasta” é a Lika e ele, como bom filho que é, dorme no meio deles para fazer a ronda da noite. De quando em vez, serve até de psicólogo. Escuta lamentações, dá lambidas e, por incrível que pareça, sempre tem um bom plano para acabar com as brigas do casal. De recompensa, ganha atenção, carinho e muito chocolate. Chocolate sim, porque o Ziggy não tem espinhas e, para os pais, ele merece. São pais normais assim como os outros: acabam sempre atendendo as vontades dos filhos.
Na correria ao entrar em casa para não se atrasarem mais ainda para o churrasco, o William chegou pulando num pé tirando o calção; no outro tirava uma meia para evitar que a Liane ficasse reclamando mais e mais pelo atraso gerado pelo futebol. “Maldito futebol!” – pensava a Liane. Por essa corrida contra o relógio, o William se esqueceu de avisar a Liane do amigo dele, seu melhor amigo, de estimação. Um animal pet. Pet? Sim. Até porque um pit-bull de cinco meses ainda é pet. Porém, quando tem cinco anos e uma cabeça pesando quase dez quilos e um corpo musculoso de dar inveja a qualquer pastor belga, assusta. E assusta bem mais quando não se sabe que um brutamontes daqueles está solto pela casa.
O William correu para o banho, excluindo toda a possibilidade de persuadir a Liane à suas fantasias masculinas de uma quase-namorada visitando o seu quarto pela primeira vez. A Liane nem estava para isso, por mais que quisesse alguma coisa. Precisava chegar o quanto antes no churrasco, pois já estavam há mais de duas horas atrasados. Ela sentada na cama analisando cada detalhe do quarto. Fotografias, posters, playstation dois, enfim. Ele tomando banho de porta meio que aberta, meio que fechada assoviando uma música do Snoop Dog. A porta entreaberta do quarto. Mas que barulho é esse? E que sombra era aquela na porta?
- William, tem algo estranho aqui! – gritou a Liane, trazendo os pés para cima da cama em forma de proteção do barulho desconhecido que aumentava e a sombra que ficaria cada vez mais intensa.
- William! William! Me ajuuuuda! – gritava intensamente. Poderia ela fugir para o banheiro, mas preferiu tapar-se com as cobertas da cama de casal e proteger-se com os travesseiros. O William nem havia escutado os pedidos de socorro. Ela precisaria enfrentar aquilo sozinha.
O barulho de uma respiração investigativa aumentava vindo de algum desconhecido ainda na porta. A respiração de Liane ofegante, apavorada como se assistisse a um filme de terror. Cobria-se com o edredon e até a altura do queixo. Os travesseiros já estavam todos na volta dela, como se fosse barricadas para evitar a aproximação do desconhecido. Liane não tinha medo de ninguém, sempre enfrentara as pessoas com a maior cara de uma boa entendedora sarcástica. Porém, do desconhecido tinha medo. Assim como tinha medo da morte, encarava as coisas que lhe afligiam do mesmo medo. Acuando-se e precisando do braço de um homem para acalmá-la, assim como fazia com o seu Wilmar e a dona Maria Alice.
Liane estacionara mais brecada que um carro estacionado em uma rua íngreme. Não podia fazer nada. Sempre quando sentira medo ficava desse jeito. Sem reação alguma. Teria de encarar aquele desconhecido monstruoso que se aproximava pelo barulho e pela sombra agora já definida na porta do quarto. E quando entendeu o significado da sombra:
- Socoooooooooooooooooorro! – com muitas vogais. E nada do William escutar.
Aquele pit-bul bege com o fucinho esbranquiçado e molhado havia adentrado o quarto e partido em disparada para cima da Liane. Um cheiro diferente, decerto. Não conhecera ainda o cheiro de Liane. Precisava sentir de perto e dar suas boas-vindas. O bichano correu como se fosse mordiscar – mordiscar para um pit-bull, para nós humanos ele iria decepar o nosso braço – um pneu velho. A Liane continuaria gritando socorro, porém um socorro abafado pelas cobertas e pelos travesseiros. Nada de William escutar nada, até porque um homem quando toma banho nem escuta o resto do mundo. Só o celular, mas como esse não tocou, óbvio, não escutou.
Era o Ziggy, o pit-bull de estimação de William. Cinco meses tinha o danado e dera um susto desses na Liane. Ela segurava o edredon com todas as forças possíveis. O Ziggy o puxava para destapá-la. A Liane puxava mais ainda. E o Ziggy conseguia facilmente arrancar as cobertas. Pronto. O edredon, um cobertor e o lençol já haviam sido arrancados. Liane não possuía mais proteção alguma. Era ele e ela. Ela e ele. Ela acuada no espaldar da cama sem esboçar nenhuma reação. Mal respirava. Enquanto que ele, com as quatro patas em cima da cama, a olhava com um olhar norteado a ela, traiçoeiro. Deveras traiçoeiro. Dez segundos de troca de olhares. Ela pelo medo. Ele pela curiosidade e pelo real sentido de proteger o seu dono. Era chegada a hora do ataque.
Ele pulou na direção dela. Ela tentou proteger-se com as mãos. Ele tirou com a cabeça alguns dos travesseiros que ainda estavam a protegendo em forma de barricada. Ela conseguira segurar apenas um travesseiro para proteger ao menos o rosto. Sem sucesso. Ele tiraria o travesseiro de suas mãos como se pegasse tranquilamente um elefante entre os dentes. “Meu Deus, por favor, me ajude!” – suplicava mentalmente enquanto gritava aos choros e compulsivo desespero por ter um pit-bull a atacando, literalmente. Deus não a ouvira diretamente, mas talvez a castigasse por ter participado da cabulosa turma do 3° ano de 2003 do Colégio Santa Joana d’Arc, de Rio Grande.
Foi com um bote certeiro que o Ziggy, aquele bichano com cara de Jack Stripador e com o melhor olhar de morte de Chucky, o boneco assassino atacou a Liane. Atacou com intermináveis lambidas e carinhos. Sem sangue, sem mordidas e sem decepações. Sim, o Ziggy havia gostado de Liane. Parecia a conhecer de outros carnavais. Sabia que ela gostava do seu dono só pelo cheiro e pelo olhar que traçara rumando em uma análise de dez segundos o corpo de Liane. Só carinhos e lambidas. Nada mais que isso. Liane sorria agora, tranqüila por perceber que aqueles olhos de morte daquele pit-bull eram uma exceção perto dos pit-bulls que havia conhecido nas reportagens da televisão e nas histórias que o velho Wilmar contara sobre eles.
Na última semana se completou um ano do ataque de Ziggy. Por conseqüência, um ano de quase-namoro da Liane, ou melhor, da Lika e do William – sim, eles não assumem o namoro e são felizes mesmo assim. Ziggy, hoje, com um ano e cinco meses, continua dando pulos quando a Lika adentra o quarto do William. Ziggy tornou-se um filho para eles. O pai verdadeiro é o William, a “mãedrasta” é a Lika e ele, como bom filho que é, dorme no meio deles para fazer a ronda da noite. De quando em vez, serve até de psicólogo. Escuta lamentações, dá lambidas e, por incrível que pareça, sempre tem um bom plano para acabar com as brigas do casal. De recompensa, ganha atenção, carinho e muito chocolate. Chocolate sim, porque o Ziggy não tem espinhas e, para os pais, ele merece. São pais normais assim como os outros: acabam sempre atendendo as vontades dos filhos.
Hoje, o Ziggy é o verdadeiro amigo da Lika. Reforçando e retorcendo um pouco a máxima de que o cachorro é o melhor amigo do homem. Quer dizer, agora, são amigos das mulheres também.
5 comentários:
Maravilha....
Quando eu ja tava quase tendo um "troço", achando que o cachorrinho tinha atacado, veio o alivio... hehehe
É engraçado como temos medo do desconhecido ne??? muitas vezes nao remete quer nosso mal, no entanto temos aquele medo imenso, nao gostamos nem de pensar. Porem quando a vida nos poe frente a frente com os medos, receios, vemos que nao era exatamente como pensávamos...Pode nao ser uma maravilha, mas nao tao ruim qto imaginávamos.
Os medos até certo momento sao ótimos, de uma importância incrível, mas chega uma hora na vida que temos que nos desapegar a eles e viver a vida intensamente, viver o hoje como se fosse o último dia das nossas vidas e no final ter a certeza: eu vivi e bem.
Muito bom... adorei de verdade.
beijao amado.
Aiii, que bonitinhooo!!!
Mas lendo assim, ninguém nem acredita a pestinha que ele é quando quer e muito menos o que eu sofro tirando ele (com seus hm... 25kg? 30kg?) de cima da cama, enquanto ele tá lá atiraaaado e ocupando TODA ela, tudo isso escondida, enquanto o 'pai' dele não entra no quarto, só pra não dar TERREMOTOS! hahahahaha
Apesar da raça do bichano, ele é uma das criaturas mais dóceis que eu já vi. Rusna menos que muito humano, late só pra 'mostrar que é o xerife' (segundo o que diz o 'pai' dele) e morder... Bom, ele só morde PRA MACHUCAR quando morde os brinquedos dele! hehe
Ele sabe que eu sou a BOAdrasta dele e que tenho orgulho disso... E O NOSSO AMOR É TÃO LINDO! IRIRIRI hehehehe
Obrigada, Marcoooos! Só discordo de algo... Creio que ele nunca me condenaria por aqueles da turma de 2003! O Ziggy é um revolucionário. Creio que ele simplesmente me daria um sermão SENSATO e com apenas um olhar... hahahahah
Beijão! Ameio-te!
P.s.: Sobre o 'não-namoro'... Eu concordo plenamente com aquele texto, que já rodou quase toda internet e ninguém sabe ao certo o(a) autor(a), e que diz que 'a praga do século são os namorofóbicos'. Yes, nos somos!! hahaha
Marquinhos brigadão por passar no meu blog... Este texto tah muito legal, deixou todo mundo na expectativa de muito sangue mas na verdade o que aconteceu foi o que deveria acontecer sempre, os cães demonstrando um carinho e sendo correspondidos... Enquanto donos de pit-bulls continuarem a ensiná-los a atacar, as notícias serão as mesmas e casos como o da tua amiga serão raros ou pelo menos pouco comentados pois o que da audiência é sangue, bjus... e é ótimo ter qualidade em leitura....
haaaaaaaaaaaaa.. mto bom... m prendeu e olha que pra eu ler algo com mais de três linhas após uma aula do toninho é pq é mto bom bom... adorei o texto!
que venha o proximo!
beijos
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