Para uns, Pelé é o rei do futebol. Já para outros, o rei é Maradona e não há discussão. Os brasileiros são teimosos e malandros; os argentinos são teimosos e orgulhosos. Mas afinal de contas, quem está certo? O rei do futebol é Pelé ou Maradona? Ou os dois? Santa paciência! Mas acalme-se. Este texto não fala propriamente de futebol, não se preocupe.
A questão é muito simples, vamos analisá-la: ambos foram excepcionais jogadores de futebol. Um era destro, reinava nos dribles e pintava e bordava na grande e na pequena área; o outro era canhoto, tinha muita velocidade e a habilidade de poucos. O brasileiro era negro, tinha raça, literalmente falando, e muita malandragem na hora de passar pelos adversários: mais de mil gols; o argentino era branco, gostava de dribles secos e rápidos e não chegou nem perto dos mil gols do brasileiro.
Um, dedicou sua vida ao futebol. Jogou desde os dezessete anos na seleção brasileira do seu país e nunca teve nenhum envolvimento gritante que atrapalhasse a carreira. Envolveu-se com mulheres famosas, Xuxa, por exemplo, e mesmo assim não descarrilou por caminhos mais fáceis. Continuou firme, fazendo o que gostava – e fazia com prazer, muito prazer! De quebra, ganhava dinheiro, prestígio e firmava o seu nome como o melhor jogador de todos os tempos da história do futebol em todo o mundo.
O outro dedicou também sua vida ao futebol. Também jogou desde cedo na seleção argentina e, diferente do brasileiro, teve uma vida totalmente desregrada. Passou por times argentinos, italianos e espanhóis e nessas passadas deixou o futebol em segundo plano. Por mais que jogasse e fizesse gols outros caminhos começaram a ofuscar o brilho do seu futebol. Mulheres a reveria – muito mais do que o brasileiro – e um outro caminho, quase sem volta, muito pior: o uso de entorpecentes.
Não vou falar de futebol como havia prometido, não será mais tão necessário.
Duas pessoas e diferenças gritantes em aspectos de vida, ideologias e até em formas de lidar com assuntos extra-campo. Duas pessoas apaixonadas pela arte que faziam dentro das quatro linhas. Tinham prazer em trabalhar e saber que lá fora milhões estariam em êxtase pelo sucesso de seus trabalhos. Ganhavam dinheiro entre outras coisas para fazer o que mais tinham prazer na vida. Dois dons, dois talentos. Dois exemplos a serem seguidos – claro, com suas exceções. Dois homens, duas história. Dois mitos.
Os mitos na antigüidade eram exemplos de histórias sagradas, quem os possuía tinha o poder em mãos, literalmente. Os mitos eram objetos intocáveis ou fatos inquestionáveis, não eram submetidos a avaliações críticas ou sistemáticas através da ciência. Eles acabavam por explicar o mundo e os mistérios que faziam parte das histórias e lendas da crença dos povos e do conhecimento empírico deles.
Pelé ou Maradona são apenas exemplos recentes das duas, três ou até das quatro últimas gerações que os viram atuar ou souberam de suas famas futebolísticas e pessoais através das histórias contadas nos livros, jornais e costumeiramente na mídia. Ainda hoje, são dois mitos e não são apenas eles os responsáveis por esse rótulo. Eles também são o que são por causa das análises das pessoas para com o sucesso profissional deles. Pelé se fez mito pelo futebol e hoje goza pela conseqüência do mito jogador que criou. Já Maradona, se fez mito pelo futebol e se destrói na mesma situação devido ao rótulo não somente de craque, mas também como de um viciado em drogas.
Certos exemplos de mitos não acontecem apenas no cenário esportivo. Muitas são as áreas em que eles atuam como forma representativa de grupos devido às suas características ou ações de suas profissões ou atividades. Artes, política, música, enfim. Independente que as pessoas construam os mitos a partir de reflexões, sempre haverá outras pessoas para concordar ou discordar, já que cada pessoa observa o mundo de uma forma específica e, por conseqüência, acaba constituindo suas crenças e valores morais e éticos. Por essa razão, mesmo que os mitos rumem à eternidade pelas suas representações, eles podem sofrer constantes transformações devido ao caráter de formação da crença popular.
Os dois jogadores acabam mantendo suas histórias mitológicas ao passar das últimas décadas. Suas representatividades no cenário mundial decerto que sofrerão alterações em relação às suas histórias para com a atual e as próximas gerações. Pelé atualmente é garoto propaganda de atividades futebolísticas; não joga mais; faz comentários relativos às situações que envolvam a sua ex-atividade e é o criador da contestada Lei Pelé. Maradona também não joga mais profissionalmente; virou apresentador de programas televisivos e está sempre presente em escândalos envolvendo atitudes errôneas. Pergunto: qual a possibilidade de manterem suas imagens icônicas no cenário mundial?
Respondo-lhe com mucho gusto: eles, os mitos, acabam mantendo a ordem mundial. Suas representações oriundas das atividades que praticavam acabam não abalando suas ações errôneas na sociedade. Foram grandes jogadores de futebol e isso basta para as pessoas. Os brasileiros contestam o próprio Pelé por algumas declarações e, especialmente, pela criação da Lei Pelé que não trouxe nenhum benefício para o futebol brasileiro a não ser o dinheiro dos clubes estrangeiros por levarem os nossos jovens talentos para campos fora do Brasil. Os argentinos idolatram Maradona mesmo com suas atitudes erradas e ao mesmo tempo lhe cobram um melhor comportamento, como se fossem seus pais. Contraditório, não? Foram jogadores, tornaram-se ícones e viraram mitos verdadeiros e não lendas como a do coelhinho de Páscoa.
O lado bom disso é que a ciência pode confrontá-los para melhor compreendê-los a fim de analisar o que realmente acontece com eles e também com os envolvidos, ou seja, aqueles que os seguem e os contemplam. Porém, há o outro lado da moeda, o lado ruim. Pela crença que lhes é depositada pela crença popular, esse embate torna-se difícil, afinal, já que se são exemplos, por que confrontá-los? Por que desmitificá-los?
Sabe, certas coisas ninguém entende, muito menos os cientistas, ainda mais quando o assunto é futebol. E como todos sabem: futebol é uma caixinha de surpresas e, sendo assim, é preferível assistir e contemplar o belo dentro das quatro linhas. Caso as futuras gerações não venham a conhecer Pelé ou Maradona – o que é extremamente difícil, mas não impossível – mande-os no Estádio da Vila Belmiro, em Santos, ou na Bombonera, em Buenos Aires. Se ficar custoso ou inviável, mande-os ler este texto apenas para meio de informação da existência de dois grandes mitos, duas histórias distintas e, ao mesmo tempo, próximas de bons exemplos dentro do campo, apenas dentro do campo, é claro. Mesmo assim: mitos.
Cá entre nós: o brasileiro com os mil duzentos e oitenta e três gols é o melhor de todos os tempos mesmo, não? Nem a ciência explica os gols e aquela comemoração com um soco no ar em que o mundo parava por alguns segundos. Mito? Bem mais do que um mito, uma história real, com ruídos claro, mas uma história limpa, sem gols furtados com a ajuda da "mano de Dios".
A questão é muito simples, vamos analisá-la: ambos foram excepcionais jogadores de futebol. Um era destro, reinava nos dribles e pintava e bordava na grande e na pequena área; o outro era canhoto, tinha muita velocidade e a habilidade de poucos. O brasileiro era negro, tinha raça, literalmente falando, e muita malandragem na hora de passar pelos adversários: mais de mil gols; o argentino era branco, gostava de dribles secos e rápidos e não chegou nem perto dos mil gols do brasileiro.
Um, dedicou sua vida ao futebol. Jogou desde os dezessete anos na seleção brasileira do seu país e nunca teve nenhum envolvimento gritante que atrapalhasse a carreira. Envolveu-se com mulheres famosas, Xuxa, por exemplo, e mesmo assim não descarrilou por caminhos mais fáceis. Continuou firme, fazendo o que gostava – e fazia com prazer, muito prazer! De quebra, ganhava dinheiro, prestígio e firmava o seu nome como o melhor jogador de todos os tempos da história do futebol em todo o mundo.
O outro dedicou também sua vida ao futebol. Também jogou desde cedo na seleção argentina e, diferente do brasileiro, teve uma vida totalmente desregrada. Passou por times argentinos, italianos e espanhóis e nessas passadas deixou o futebol em segundo plano. Por mais que jogasse e fizesse gols outros caminhos começaram a ofuscar o brilho do seu futebol. Mulheres a reveria – muito mais do que o brasileiro – e um outro caminho, quase sem volta, muito pior: o uso de entorpecentes.
Não vou falar de futebol como havia prometido, não será mais tão necessário.
Duas pessoas e diferenças gritantes em aspectos de vida, ideologias e até em formas de lidar com assuntos extra-campo. Duas pessoas apaixonadas pela arte que faziam dentro das quatro linhas. Tinham prazer em trabalhar e saber que lá fora milhões estariam em êxtase pelo sucesso de seus trabalhos. Ganhavam dinheiro entre outras coisas para fazer o que mais tinham prazer na vida. Dois dons, dois talentos. Dois exemplos a serem seguidos – claro, com suas exceções. Dois homens, duas história. Dois mitos.
Os mitos na antigüidade eram exemplos de histórias sagradas, quem os possuía tinha o poder em mãos, literalmente. Os mitos eram objetos intocáveis ou fatos inquestionáveis, não eram submetidos a avaliações críticas ou sistemáticas através da ciência. Eles acabavam por explicar o mundo e os mistérios que faziam parte das histórias e lendas da crença dos povos e do conhecimento empírico deles.
Pelé ou Maradona são apenas exemplos recentes das duas, três ou até das quatro últimas gerações que os viram atuar ou souberam de suas famas futebolísticas e pessoais através das histórias contadas nos livros, jornais e costumeiramente na mídia. Ainda hoje, são dois mitos e não são apenas eles os responsáveis por esse rótulo. Eles também são o que são por causa das análises das pessoas para com o sucesso profissional deles. Pelé se fez mito pelo futebol e hoje goza pela conseqüência do mito jogador que criou. Já Maradona, se fez mito pelo futebol e se destrói na mesma situação devido ao rótulo não somente de craque, mas também como de um viciado em drogas.
Certos exemplos de mitos não acontecem apenas no cenário esportivo. Muitas são as áreas em que eles atuam como forma representativa de grupos devido às suas características ou ações de suas profissões ou atividades. Artes, política, música, enfim. Independente que as pessoas construam os mitos a partir de reflexões, sempre haverá outras pessoas para concordar ou discordar, já que cada pessoa observa o mundo de uma forma específica e, por conseqüência, acaba constituindo suas crenças e valores morais e éticos. Por essa razão, mesmo que os mitos rumem à eternidade pelas suas representações, eles podem sofrer constantes transformações devido ao caráter de formação da crença popular.
Os dois jogadores acabam mantendo suas histórias mitológicas ao passar das últimas décadas. Suas representatividades no cenário mundial decerto que sofrerão alterações em relação às suas histórias para com a atual e as próximas gerações. Pelé atualmente é garoto propaganda de atividades futebolísticas; não joga mais; faz comentários relativos às situações que envolvam a sua ex-atividade e é o criador da contestada Lei Pelé. Maradona também não joga mais profissionalmente; virou apresentador de programas televisivos e está sempre presente em escândalos envolvendo atitudes errôneas. Pergunto: qual a possibilidade de manterem suas imagens icônicas no cenário mundial?
Respondo-lhe com mucho gusto: eles, os mitos, acabam mantendo a ordem mundial. Suas representações oriundas das atividades que praticavam acabam não abalando suas ações errôneas na sociedade. Foram grandes jogadores de futebol e isso basta para as pessoas. Os brasileiros contestam o próprio Pelé por algumas declarações e, especialmente, pela criação da Lei Pelé que não trouxe nenhum benefício para o futebol brasileiro a não ser o dinheiro dos clubes estrangeiros por levarem os nossos jovens talentos para campos fora do Brasil. Os argentinos idolatram Maradona mesmo com suas atitudes erradas e ao mesmo tempo lhe cobram um melhor comportamento, como se fossem seus pais. Contraditório, não? Foram jogadores, tornaram-se ícones e viraram mitos verdadeiros e não lendas como a do coelhinho de Páscoa.
O lado bom disso é que a ciência pode confrontá-los para melhor compreendê-los a fim de analisar o que realmente acontece com eles e também com os envolvidos, ou seja, aqueles que os seguem e os contemplam. Porém, há o outro lado da moeda, o lado ruim. Pela crença que lhes é depositada pela crença popular, esse embate torna-se difícil, afinal, já que se são exemplos, por que confrontá-los? Por que desmitificá-los?
Sabe, certas coisas ninguém entende, muito menos os cientistas, ainda mais quando o assunto é futebol. E como todos sabem: futebol é uma caixinha de surpresas e, sendo assim, é preferível assistir e contemplar o belo dentro das quatro linhas. Caso as futuras gerações não venham a conhecer Pelé ou Maradona – o que é extremamente difícil, mas não impossível – mande-os no Estádio da Vila Belmiro, em Santos, ou na Bombonera, em Buenos Aires. Se ficar custoso ou inviável, mande-os ler este texto apenas para meio de informação da existência de dois grandes mitos, duas histórias distintas e, ao mesmo tempo, próximas de bons exemplos dentro do campo, apenas dentro do campo, é claro. Mesmo assim: mitos.
Cá entre nós: o brasileiro com os mil duzentos e oitenta e três gols é o melhor de todos os tempos mesmo, não? Nem a ciência explica os gols e aquela comemoração com um soco no ar em que o mundo parava por alguns segundos. Mito? Bem mais do que um mito, uma história real, com ruídos claro, mas uma história limpa, sem gols furtados com a ajuda da "mano de Dios".
Como um bom brasileiro teimoso e malandro falei inevitavelmente de futebol. Fora necessário, desculpe.
3 comentários:
Será que faz parte do estudo da prova de Pesquisa?!?! Gostei muito, pena que reconhecí minha incompleta resposta... faz parte!! Mito é assim, inquestionável por alguns, criticado por muitos! No método científico, deve ser testado sim, como parte do processo de investigação. Mais um excelente texto canhotinho PArabéns! bjuss
P.S. Td certo p sábado?
Como é estudioso esse Marcos Leivas! E é impressionante como tudo vira pauta pra ele! Até mesmo as questões científicas e filosóficas do professor TOninho! Boa análise, Marcos! Tenho certeza que a tua resposta na questão da referente a mitos foi a melhor da sala de aula! hehehe
Mais um ótimo texto dentro dos inúmeros que estão nesse blog!
Abraço
Não vi nenhum dos 2 jogar. Mas posso assegurar que pelé, não houve e nao vai ter igual. Maradona foi craque, sem sombra de dúvidas... mas melhor que Pelé...
"Se Deus viesse na terra jogar futebol,viria como Pelé"
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