segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Meu Vizinho Maluquete


Todas as profissões têm seus altos e baixos, mas a portaria do Ed. Villwock, definitivamente, é um trabalho dos bons para o Renê, mesmo que o salário não seja dos mais altos. Entre um abrir e fechar de portas e portões, o papo rolava solto com os amigos do ponto de táxi e com os moradores do condomínio, inclusive comigo. De muitos papos que gerariam bons capítulos para um livro, dia desses, ele me contou uma história daquelas de querer ser uma mosca para presenciar tais cenas do fato.

Porteiros poderiam ser ótimos jornalistas nas horas vagas de portaria, já percebeu isso? Às vezes eles são até mais informados que os próprios jornalistas do mercado. Sabem de tudo o que acontece na sua área, nos arredores dela e melhor ainda: não ficam repetindo um assunto já batido como atualmente estamos presenciando nas mídias brasileiras.

Moro no Ed. Villwock há mais de trezes anos e o Renê é um dos porteiros mais antigos do condomínio. É o xerife da zaga do Villwock Futebol Clube quando inventamos de bater uma bolinha com os moradores. Daqueles zagueiros centrais objetivos, sem muitos toques e com muitos chutões para longe. Por essas e por outras que por ser objetivo, é o melhor porteiro-contador de histórias que conheci até hoje. Tem o Amarildo também e a história do gambuzinho, mas essa eu deixo para um outro capítulo.

Descarreguei o carro e o Renê se aproximou com o carrinho para carregar as malas e sentenciou: - O maluquete arranjou uma mulher!na hora eu não acreditei. Duvidei, óbvio. O tal maluquete era um daqueles filhinhos de mamãe de mais de 45 anos de idade que mal tomava banho, andava com bermudas dos anos 80, daquelas listradas de veludo e com elástico na cintura e os antigos, mas confortáveis, chinelos Rider. O visual era de apavorar. Usava um óculos com aquelas armações que o Jô Soares costuma usar, de hastes grossas e negras. Claro, óculos daquele tipo no Jô Soares fica charmoso e combina com estilo, mas no meu vizinho: uma aberração tremenda, ainda mais com o conjunto da obra.

Em 13 anos morando no Villwock nunca havia o visto com alguma mulher, a não ser a sua mãe – que também apresentava um comportamento deveras estranho. Outra vez, peguei a minha avó, a dona Maurêa, conversando com a mãe do maluquete no hall do prédio e escutei a frase que eu não pensara escutar de alguém adulto e ainda mais com a idade dela:

- Eu só tomo banho às quartas-feiras e quando falta água é um alívio!

Como isso? Decerto era por isso que o meu vizinho maluquete teria aquele comportamento de criança mimada e até um tanto quanto atrofiado psicologicamente. O Renê desmanchava-se rindo contando várias histórias dele. Mas a da mulher! Era uma daquelas histórias inacreditáveis, nem contando três, seis ou nove vezes se acreditaria ainda mais conhecendo tal figura durantes anos. Porém é dessas figuras que acabamos tendo as maiores surpresas deste mundo.

- Ele chegou aqui de táxi às 6h da manhã acompanhado de uma mulher. Não era nem bonita e nem feia, digamos que normal e para ele isso já seria até muito!
- E ele desceu com ela?
– perguntei curiosamente interrompendo a história do Renê.
- Calma, calma! Ele ficou dentro do carro por uns vinte minutos e eu só cuidando. O taxista na frente e os dois lá atrás. Eu na guarita, sentado, só cuidando ele e a tal mulher...
- Vinte minutos? Imagina o quanto ele não pagou de bandeira!
- Pois é, achei estranho! Mas é aí que está parte da surpresa! Fui falar com o taxista que é aqui do ponto da Benjamin e ele me contou que tem um acordo com o maluquete e com a mãe dele em levá-los a determinados lugares. Só usam o táxi dele.
- Sim, mas independente do acordo imagina a paciência do taxista?
- Ele dava gorjetas gordas e como eles moram aqui em frente ao ponto de táxi, o táxi serve como ponto de encontro para o maluquete dar uma namorada com alguma mulher.
- Mas e a tal mulher, Renê? Fizeram alguma coisa no carro?
- Não, nada! – negativou o Renê.
- Mas como não?
- Eles já tinham feito
– depois de uma pausa de três segundos ele completou:

- No motel!

O maluquete havia realmente achado uma mulher. Que surpresa! Imagino-o no trabalho dele, no atendimento no sistema público! Com aquele jeito estranho que mal falava uma palavra por completo, como poderia conversar com alguém no balcão de informações? Como seria com uma mulher? Devia ficar matando cachorro a psiu do que conquistar realmente uma. Certa vez ele aparecera até na televisão numa reportagem da RBS sobre as grandes filas nos atendimentos da cidade. Ele era famoso!na verdade, nem tanto. No mesmo dia que saiu a reportagem, o Renê brincou com ele falando do aparecimento na TV, foi a primeira vez que o maluquete manteve um diálogo de mais de duas frases e também a primeira vez que mostrara os dentes quase da cor ouro para o sortudo do Renê – ou nem tanto.

Depois de ouvir a história de que o maluquete havia se encontrando às escuras com aquela mulher, talvez até mais de uma, me dirigi até o hall do prédio para tomar o elevador. Apertei o botão do elevador e esperei, esperei e esperei. Bati na porta até para ver se apressava alguém. Para a minha surpresa, quando o elevador chegou, quem é que estava no elevador? A mãe dele! O elevador num cheiro à mofo e a naftalina misturados com um cheiro de água de aquário passada dos três meses, daquelas verdes cheias de limo. Ela desembarcou, mas o cheiro ficou. Horrível.

Dei boa tarde e não recebi boa tarde de volta. Já estava acostumado, paciência. Empurrei o carrinho para dentro do elevador e apertei o botão do oitavo andar, louco para chegar em casa depois de horas na estrada. O elevador parou e parou justamente no segundo andar. Não acreditei. Seria um complô ou castigo por ter escutado algumas histórias dele? Ele embarcou no elevador e o cheiro aumentou. Um elevador pequeno com duas pessoas e um carrinho daqueles de supermercado. Iria percorrer seis andares ainda até o meu destino com o maluquete garanhão e bem porcalhão e fétido ao meu lado.

De cabeça baixa o tempo todo também nem me respondeu ao boa tarde que dei quando ele entrara no elevador. Fiquei imaginando: como que uma mulher pode se interessar por alguém assim? Será que a mulher não seria uma mulher da vida? Só podia ser isso, mas precisava colocar o meu faro jornalístico e usar das informações porteirísticas dos meus amigos Renê e também do Amarildo.

À noite, desci até a portaria e fui dar um dedo de prosa com o Amarildo. As minhas suspeitas haviam sido confirmadas. O maluquete realmente pagava mulheres para alguns minutos de prazer, mas, além dos encontros dentro do táxi e dos motéis com as mulheres da vida, o meu querido vizinho era também um pé-de-valsa, um dos mais conhecidos dançarinos das boates e festas noturnas de Rio Grande – sem querer querendo também descobri que era ele o homem do meu prédio que uma amiga da minha mãe havia dançado em uma dessas festas e não havia descoberto o nome. Vê se pode?

Na verdade, depois dessas descobertas com a ajuda do Renê e do Amarildo sobre as histórias do tal maluquete, realmente entendi que para todo pé cansado sempre haverá um sapato velho – pago ou não pago – para satisfazer as vontades de um homem. E, às vezes, até ao contrário acontece, assim como uma vizinha minha, uma loira sexagenária falida daqui do prédio que também anda aprontando dessas e até outras bem cabulosas. Bem, mas isso é história para um outro capítulo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Enqto eu só vivo em casas ao lado de postos de gasolina, tu tens um vizinho estranho em todo lugar que moras. Cada um com seu Karma! Hauihauihauihauiha
Menos mal que postos não falam, nem fedem...
Só que infelizmente explodem.. Hauihauihauihauiha
Beijos!

Anônimo disse...

ô bicho porco hein?! banho é tao bom !!!
vizinhos sao complicados né? eu que o diga os meus sao parentes... ueheuhueheu
Claro que o caso dele era complicado de encontrar uma namorada, esposa e tal pq ele fede(heuehuehu) mas acho que todo mundo acaba encontrando alguém , pode demorar ou nao... mas sempre chega.
Não perdi minhs esperanças, um dia ha de chegar ueheuehuheu.
Beijoooooooooooooo