quinta-feira, 24 de abril de 2008

O Samba do Repórter Frio

Ele tem o samba no pé e a malandragem do molejo na cintura. Se tem uma festa que tenha música e, em especial, um sambinha é lá que ele estará, decerto. Não perde uma, dança de tudo. Pagode elétrico, pagode romântico, samba de breque, samba de gafieira e até samba-enredo. É um pé de valsa do samba o repórter Frio.

A profissão de repórter lhe dá prazer, gosta realmente do que faz, mas ela anda lhe tirando o tempo de dar aquelas dançadas nas noites. O repórter Frio faz o tipo daqueles homens cheios de charme nas noites. Cabelo raspadinho estilo Ronaldinho, camisa pólo, barba por fazer e sempre com um perfume caprichado atrás das orelhas para atrair o mulheril.

Dias desses, uma das raras vezes que conseguiu uma folguinha, depois de uma caprichada reportagem na TV UCPel no Theatro Sete de Abril resolveu que iria cair na farra e tirar a teia de aranha dos pés e da cintura. Qualquer festa seria a festa ideal para ele, queria é dançar. Era uma ocasião especial, comemorativa, teria que fazer diferente para realmente fazer aquela noite ser única e bem aproveitada.

Era sexta-feira, o sagrado dia de sair para bebericar umas cervejas de leve e cair na dança. Depois de muito tempo, finalmente iria sair. Correu para casa e tomou um banho daqueles bem demorados de lavar até o umbigo com cotonete. Preferiu não fazer a barba, para manter uma aparência bem informal – atrairia algumas mulheres, quem sabe. Escolheu a melhor camisa pólo, uma listradinha branca com verde. Deu uma passada nela com um ferro não muito aquecido para tirar a marca das dobras, vestiu e rumou para a gandaia de sexta-feira.

Saiu de casa sem destino e sem carteira, apenas com os documentos, duas passagens de ônibus, um preservativo e R$ 35 reais no bolso para algumas cervejas, talvez uns aperitivos e para o lanche pós-festa. Tomou um ônibus e seguiu para o centro, como de costume. Subiu, sentou-se num banco de dois lugares que estava vazio e foi batucando no encosto do banco da frente, já entrando no ritmo malevolente do sambinha que tanto adorava balançar as cadeiras.

O ônibus foi enchendo, pessoas foram subindo e preenchendo o vazio que ecoava o forte barulho do motor. Ninguém sentava ao lado do repórter Frio. Até cheirou-se para ver se estava tudo nos conformes e realmente estava, um cheiro de perfume amadeirado que seu tio lhe dera no Natal do ano passado. Espetacular. Mas espetacular mesmo era a loira que entrara no mesmo instante que acabava de fungar embaixo do braço para verificar a situação. Ela foi se aproximando, agarrando-se nos corrimões superiores. E vinha. Aproximava-se cada vez mais. Que loira! Continuou vindo. Será que ela vai sentar aqui? – pensou torcendo o repórter Frio. Ela caminhou mais um pouco, cambaleando pelo movimento do ônibus e disparou em direção a ele com uma voz melosa:

- Oi, posso sentar aqui?

O repórter Frio imediatamente sem gaguejar respondeu:

- É claro, baby! – adorava usar palavras meigas para com as mulheres.

Do seu bairro até o centro demoraria cerca de 20 minutos. Coisa rápida. Mas aquela conversa não havia sido rápida. 20 minutinhos ao lado daquela loira pareciam uma eternidade. A malandragem da cintura malevolente e dos pés de valsa pulou para a esperteza marota e charmosa do repórter Frio. O tímido repórter Frio dera lugar ao bom malandro e esperto Frio, honrando as tradições masculinas da família Frio. Na hora gostaria que todos os seus amigos, dos quais viviam lhe incomodando para arranjar uma namorada, lhe vissem de papo com aquela loira.

O destino estava soprando realmente para ele naquela dia. Uma ótima reportagem elogiada por todos os cabeças da TV UCPel, uma folguinha na escala de sábado, uma noite livre para fazer uma das coisas que mais gostara de fazer fora da vida profissional: dançar e estar grudado ao corpo de uma mulher, comandando a situação, jogando-a para lá e para cá ao ritmo da música.

Não conseguia tirar os olhos da loira! Enquanto conversam, Frio olhava nos olhos dela e privava-se de descer os olhos para as outras partes do corpo dela. Sabia que ela tinha seios fartos que ficavam ressaltados por ela estar sentada. Pernas longas, não muito grossas e um par de coxas firmes, nos quais queria até tocar sorrateiramente, sem querer querendo, mas resistia a olhar nos olhos dela. “Mulheres gostam quando os homens conversam olhando nos olhos, meu filho!” – falava o pai do Frio, mais conhecido por Galante no bairro onde moravam.

Ângela era o nome dela. Do grego, uma mensageira. Belo nome e sugestiva origem. A mensageira e o repórter. Havia de ter alguma ligação do destino naquele encontro casual no ônibus. O melhor ainda foi que ela também estava indo para uma festa, a tal da Reyclubatualmente já extinta. Preciso dizer qual foi o destino do repórter Frio naquela noite de sexta-feira? Esbaldaram-se dançando até altas horas da manhã e, claro, não só dançaram bem como também trocaram ósculos durante uma dança e outra, comeram um lanche na saída da festa e, mais, retornaram para suas casas no mesmo ônibus, bem juntinhos.

É assim que funciona: olhando nos olhos, com charme e muito diálogo que os homens conquistam as mulheres. O repórter Frio tinha um diferencial, sabia dançar. E dançava muito bem. Dizem que as mulheres gostam muito dos homens ousados e que saibam dançar. Pode até ser verdade, mas na noite daquela sexta-feira, a Ângela entrou na dança do Frio e, definitivamente, adorou e pediu bis.

7 comentários:

maira gatto disse...

hahahhha

adorei.

realmente homens que sabem danças são ótimos, ainda mais pra mulheres que nao sabem dançar como eu!

beijos marquitos adorei

Karina Peres disse...

"homens que sabem danças são ótimos, ainda mais pra mulheres que nao sabem dançar como eu!" (2)
hmm... de quem será que esse conto fala, heim? vamos pensar... d:

Andrey disse...

Que homenagem...
Estou sem palavras!!!
Nem se eu tivesse escrito ficaria tão real.Toda a história condiz com a realidade. A tua descr~ição sobre mim é assustadora de tão real, parecemos amigos de infância.
Muito Obrigado Marcos, até me emocionei.
Abraços do teu fã!!!!!

Amanda Lopes disse...

Dançar: algo que não faço a muito tempo... Tenho que falar com teu amigo Guilherme. Mas realmente homens que sabem dançar qtêm seu charme, aqueles que não sabem (como o Gui) também podem ter pois nunca vou me negar a ensinar pra ele...hehehe... O encaixe perfeito vem com o tempo junto com a descoberta do ritmo...
Bju

Margo Bueno Bendjouya disse...

ahhh
Que pena...
Ele adorava dançar, não era como uma pessoa que conheci que diz que não gosta de dançar, reclama da gandaia... por um momento senti um pouco de inveja da loira! de que me vale os cabelos se não desperto tanta emoção... hehehehehe
É mas tinha que ser loira...
e pelo jeito de deixar ofegante...
hehhehehhe
bjaooo queridinho!!! hhehehehe

MaxCirne disse...

Grande Andrey! Esse cara é realmente um pé de valsa, ou melhor, de samba!
Muito divertido o texto! Não pude deixar de comentar essa crônica!
Abração pros dois!

frigelar disse...

Esse é o meu irmão!!
Sempre um sucesso nos embalos da noite! Um show à parte!